• Nenhum resultado encontrado

SUMÁRIO

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Questões ambientais nas organizações

2.1.6 Mudanças climáticas

A média global da temperatura na superfície da Terra apresentou um aquecimento de cerca de 0,85°C no período entre 1880 e 2012. Emissões atmosféricas de gases do efeito estufa (GEE) têm crescido devido ao crescimento econômico e populacional desde a era pré-industrial, levando a altas concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso que têm sido apontadas como as causas dominantes mais prováveis do aquecimento observado (Intergovernmental Panel on Climate Change [IPCC], 2014).

A continuidade de emissões de GEE em patamares inadequados pode ampliar o aquecimento e aprofundar mudanças de longa duração no sistema climático, dentre as quais a acidificação dos oceanos (IPCC, 2014). A repetição de padrões de emissões de GEE das últimas décadas pode aumentar a probabilidade de ocorrência de eventos severos, difusos e irreversíveis que impactem população e ecossistemas (Döll & Romero-Lankao, 2017; IPCC, 2014).

É preciso reduzir as emissões de GEE para evitar a ocorrência dos maiores impactos das mudanças climáticas. Em 2006, o custo dessa redução foi estimado em cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, ao passo que as estimativas de danos advindos da inação eram dimensionadas em valores entre 5% e 20% do PIB mundial (Stern, 2006).

Visando a reduzir e limitar as emissões de GEE nos países desenvolvidos e em transição para o capitalismo foi celebrado o Protocolo de Quioto da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC, em inglês) em 1997. Pelo Protocolo foram instituídos os mecanismos de Comércio de Emissões, Implementação Conjunta e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) para facilitar que as metas acordadas fossem atingidas (United Nations Framework Convention on Climate Change [UNFCCC], 1998).

O MDL prevê que um país desenvolvido ou uma economia em transição para o capitalismo possa comprar reduções certificadas de emissões (RCEs) resultantes de projetos desenvolvidos em país em desenvolvimento que tenha ratificado o Protocolo, como é o caso do Brasil (MMA, 2017b; UNFCCC, 1998).

As RCEs podem ser abatidas das metas dos países desenvolvidos ou em transição para o capitalismo desde que o projeto seja validado por Entidade Operacional Designada (EOD), aprovado pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC) e submetido ao Conselho Executivo da UNFCCC para registro (MMA, 2017b; Torres, Fermam, & Sbragia, 2016).

A estratégia a ser adotada para mitigar riscos das mudanças climáticas é reduzir as emissões de GEE, mas também tomar medidas para adaptação às novas realidades climáticas (IPCC, 2014; Stern, 2006; Sussams, Sheate, & Eales, 2015), promover a redução dos custos de mitigação e desenvolver caminhos para o desenvolvimento sustentável que sejam resilientes às mudanças climáticas (IPCC, 2014).

Existem desafios tecnológicos, econômicos, sociais e institucionais que, se bem endereçados, podem reduzir as emissões de GEE e limitar o aquecimento a 2°C em relação ao nível pré-

industrial (Fankhauser & Stern, 2016; IPCC, 2014), que foi estabelecido como limite superior no Acordo de Paris sob a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, instância de negociação de políticas nacionais em mudanças climáticas (UNFCCC, 2015). É possível obter crescimento econômico e combater as mudanças climáticas. Contudo, essa abordagem deve ser impulsionada por inovação limpa e investimentos que gerem novas possibilidades de crescimento e de empregos. Nos países emergentes os investimentos ocorrerão na construção de cidades, infraestrutura e sistemas energéticos que devem ser realizados já em baixo carbono (Fankhauser & Stern, 2016).

São estimados investimentos da ordem de 100 trilhões de dólares para limitar o aumento da temperatura média global a 2°C em relação ao nível pré-industrial, conforme Acordo de Paris. Esses investimentos ocorrerão em prédios e construção urbana, estradas, ferrovias, portos e novos sistemas energéticos (Fankhauser & Stern, 2016).

As organizações têm interesse em contribuir para a redução das mudanças climáticas, pois seus impactos afetarão cadeias de valor de vários setores, capacidade de resiliência e adaptação, padrões de trabalho e até mesmo sistemas de governança dos quais essas organizações dependem (Howard-Grenville, Buckle, Hoskins, & George, 2014).

As cadeias de valor serão afetadas pela substituição de combustíveis fósseis por fontes de baixo carbono. As organizações deverão rever suas cadeias de suprimentos, parcerias com produtores primários e seus processos produtivos para torná-los mais eficientes e com menor pegada de carbono. Além disso, deverão adotar os conceitos da economia circular para recuperar e reutilizar materiais, energia e água, como ocorre com os sistemas naturais (Howard-Grenville et al., 2014).

Com limitada capacidade de predição de impactos das mudanças climáticas tanto sobre a sociedade (Döll & Romero-Lankao, 2017) quanto sobre as operações das organizações, tem sido observado o crescimento acelerado dos investimentos em tecnologias limpas e também dos seus pedidos de financiamento pelas organizações (Howard-Grenville et al., 2014).

A necessidade de uso eficiente de energia e outros recursos levará à descentralização e dessincronização de atividades. Colaboradores passarão a trabalhar remotamente para evitar transporte ou trabalharão em horários alternativos para evitar congestionamentos. Também a produção tende a ser descentralizada para diversos centros populacionais como forma de reduzir emissões de GEE na logística (Howard-Grenville et al., 2014).

Os projetos necessários para antecipar e responder as mudanças climáticas demandarão estrutura de governança que contemple participação das partes interessadas no processo decisório (Döll & Romero-Lankao, 2017; Howard-Grenville et al., 2014). Um exemplo é a construção de geradores eólicos em terra que requereria engajamento de possíveis públicos afetados pelo projeto no processo decisório de sua execução (Howard-Grenville et al., 2014). Projetos em mudanças climáticas podem gerar múltiplos benefícios simultaneamente. Por um lado, essa característica é positiva, pois traz diversos benefícios com somente um investimento exatamente em época na qual as questões ambientais decaíram na agenda política em função da conjuntura econômica. Por outro lado, é uma característica negativa, visto que exige estrutura de governança complexa para gerenciar múltiplos objetivos (Sussams et al., 2015).

O cenário institucional em que ocorrem os projetos em mudanças climáticas é amplamente amparado em estudos econômicos e técnicos, como visto acima, mas também em arcabouço legal. Em âmbito nacional, a matéria é disciplinada pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), Lei n. 12.187, de 29 de dezembro de 2009 (Lei n. 12.187, 2009), e pelo Decreto n. 7.390, de 9 de dezembro de 2010 (Decreto n. 7.390, 2010). No âmbito do estado de São Paulo, é disciplinada pela Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), Lei n. 13.798, de 9 de novembro de 2009 (Lei n. 13.798, 2009), e pelo Decreto n. 55.947, de 24 de junho de 2010 (Decreto n. 55.947, 2010).

Não é objetivo desta dissertação fazer um levantamento pormenorizado de todas as legislações estaduais e municipais em mudanças climáticas. No entanto, destacam-se para construção de um arcabouço legislativo nacional as contribuições das políticas de mudanças climáticas dos Estados de Amazonas (Lei ordinária n. 3.135, 2007), Goiás (Lei n. 16.497, 2009), Paraná (Lei n. 17.133, 2012), Santa Catarina (Lei n. 14.829, 2009) e do Município de São Paulo (Lei n. 14.933, 2009).