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Estágio 4: integração externa

2.8 Mudanças no ambiente logístico

A literatura especializada em estratégia organizacional aponta Chandler (1962), como o primeiro a desenvolver estudos sobre ajuste mútuo entre as estratégias empresariais, suas estruturas e o ambiente externo. O autor observou que o ambiente influenciava e alterava a estrutura e as estratégias das empresas e que as estratégias também influenciavam o meio externo, modificando-o. O efeito circular sugere uma retroalimentação, que é observada também no ambiente logístico; mudanças que vêm ocorrendo no meio externo têm alterado estratégias logísticas e também o desenho da cadeia de suprimentos, sendo que o ambiente também recebe influência das inovações ligadas à logística e à cadeia de suprimentos.

Christopher (1999) considera que o ambiente logístico vem sendo alterado (1) pela grande valorização do serviço ao cliente, (2) pela compressão do tempo, (3) pela globalização da indústria e (4) pela integração organizacional.

Lucro Despesas gerais e administrativas Marketing Logística Custos indiretos Mão-de-obra Materiais Lucro Despesas gerais e administrativas Marketing Logística Custos indiretos Mão-de-obra Materiais Tarifas

O serviço ao cliente tem sido apontado por uma série de autores da logística como a principal fonte de valor adicionado para a empresa, principalmente em mercados de commodities, em que o consumidor não diferencia mais atributos físicos e tecnológicos de produtos concorrentes. Ele é definido por Christopher (1999) como “um fornecimento constante das utilidades de tempo e lugar”. O autor frisa que empresas que lograram reconhecimento pela excelência dos serviços, alcançando assim vantagem sobre a concorrência, são aquelas em que o gerenciamento logístico é prioritário. A finalidade principal de qualquer sistema logístico é a satisfação dos clientes (CHRISTOPHER, 1999, p. 18). Ballou (2001, p. 77) observa que é o sistema logístico que estabelece o nível de serviço ao cliente, uma vez que esse serviço é resultado de todas as atividades logísticas ou do processo da cadeia de suprimentos. Sendo assim, é de extrema importância o conhecimento das necessidades dos mercados aos quais a empresa se dirige para, após isso, preocupar-se com soluções logísticas de baixo custo (figura 9).

Figura 9: Identificação das necessidades de clientes precede sistema logístico

Fonte: Christopher (1999, p. 37).

Em relação à compressão do tempo, observa-se que os ciclos dos produtos estão cada vez menores. A demanda por entregas ágeis ocorre em cada elo da cadeia de suprimentos, é alavancada pelo consumidor e propaga-se até os fornecedores iniciais. Christopher (1999) avalia dois conceitos de prazo existentes, com os quais a empresa deve se preocupar em reduzir: o ciclo do pedido e o ciclo desde a aquisição até o dinheiro em caixa. O primeiro é o tempo decorrido desde o pedido até a entrega do produto ao cliente e o segundo é o tempo decorrido entre a transformação de um pedido em caixa, que é o período total em que o capital de giro

Identificar necessidades de serviços dos clientes Definir objetivos de serviço aos

clientes

fica comprometido, da aquisição de materiais até o pagamento pelo cliente (figura 10). Este prazo está diretamente relacionado com o comprimento do fluxo da cadeia de suprimentos, pois ao longo dele os recursos estão sendo consumidos e o capital de giro precisa ser, muitas vezes, financiado (Christopher, 1999, p. 140).

Figura 10: Componentes de um ciclo de pedido do cliente

Fonte: Ballou, 2001, p. 82.

A globalização da indústria é um desafio para o gerenciamento logístico. Ela significa, entre outras coisas: comprar e vender em diversos locais do mundo; aumento de clientes e pontos de vendas; crescimento do número de fornecedores; aumento das distâncias percorridas; alta complexidade operacional, englobando legislação, cultura e modais de transporte (Fleury, 2000, p. 28). Uma empresa global deve se esforçar em buscar formas de alcançar vantagem de custo de padronização atendendo às demandas locais de acordo com suas variações.

ARMAZÉM Composição e processamento dopedido Transmissão de pedido do cliente Entrega do pedido CLIENTE Loja varejista Transmissão de itens de pedido em aberto FÁBRICA Processamento e montagem do pedido a partir do estoque

ou da produção

Entrega expressa do pedido Transmissão do

pedido Processamento e montagem do pedido Tempo de aquisição de estoque adicional Tempo de entrega a. Consolida ção do pedido b. Transmiss ão do pedido para armazéns c.Preparação do conhecimento de embarque d. Liberação de crédito e. Montagem do pedido no armazém f.Se faltar no estoque, tempo adicional para obter estoque na planta g.Tempo de embarque a partir do armazém h.Tempo de embarque a partir da planta i. Processamento do embarque para o cliente

Quanto à integração organizacional, Christopher (1999) observa que é muito difícil obter um fluxo de materiais completamente integrado e voltado para o cliente enquanto houver as tradicionais divisões funcionais e hierárquicas rigorosas.

Nessas organizações convencionais, os gerentes de materiais gerenciam os materiais, enquanto que os de produção gerenciam a produção e os de marketing, gerenciam o marketing, embora essas funções sejam componentes de um sistema que precisa de algum planejamento ou orientação geral (Christopher, 1999, p. 21).

Van Hoek, Commandeur e Vos (1998) citam outros fatores que vêm ocasionando a mudança de desenho de cadeias de suprimentos internacionais. Entre eles, a maior transparência do mercado e menor fragmentação, devido à remoção gradual de barreiras de comércio e investimentos internacionais. A unificação européia é um exemplo: fazer comércio dentro dela tornou-se mais liberalizado com eliminação de barreiras de transporte, controle de fronteiras, políticas fiscais, legislação e finanças. Esses esforços incrementam a possibilidade de racionalização das estruturas de manufatura e logística comuns, no caso, européias.

Em segundo lugar, a crescente variação da demanda e a incerteza de tempo e lugar associados a ela têm feito com que as empresas busquem com urgência capacidade de resposta e, simultaneamente, eficiência em custos. Há um movimento em direção a um mercado de customização12 em massa.

O terceiro fator citado por Van Hoek, Commandeur e Vos (1998), são os avanços na tecnologia de informação, que capacitam as organizações a um controle mais rígido das cadeias internacionais de suprimentos. Os sistemas de informação mais avançados permitem redução nos custos associados ao controle de materiais e possibilitam respostas rápidas aos pedidos dos consumidores. “[...] as tecnologias de informação modernas podem agora 'orquestrar‘ a revolução de operações de um sistema empurrado para um sistema puxado [...]” (Hoek et al., 1998, p. 34).