• Nenhum resultado encontrado

II. INTEGRAÇÃO DA AMAZÔNIA À ECONOMIA NACIONAL

II.3. Mudanças no estado de fronteira na Amazônia

A fronteira em seu sentido original refere-se à divisão de duas partes distintas, assim, significando o limite concreto ou imaginário de espaços físicos determinados. No entanto, Turner (1896) ao explicar a ocupação da fronteira nos Estados Unidos (a marcha para o oeste) como

ponto de partida para formação da identidade nacional norte americana, não só propõe a adaptação ao conceito como passou a influenciar diretamente o debate acerca da ocupação de novas terras, incorporando o processo social como elemento do alargamento de um território.

A fronteira, para Turner (1896), tem como princípio a existência de terras livres a serem ocupadas, essas servindo como o lugar da liberdade, o espaço da individualidade e de oportunidades ilimitadas. O autor atrela à fronteira dois fatores importantes para a consolidação da nação norte-americana: o primeiro, a consolidação de uma nacionalidade complexa devido às diferentes experiências vivenciadas na fronteira; o segundo, a contribuição da fronteira para evolução da democracia porque a condição do individualismo fez-se mais forte que a intervenção do governo na fronteira.

Nesse sentido, Turner considera que a democracia norte-americana está fundamentada na experiência da fronteira ao Oeste. Destacando, “but the most important effect of the frontier hás been in the promotion of democracy here and in Europe. The frontier individualism has fron the beginning promoted democracy” (TURNER, 1896: 30). A análise vai mais adiante, afirmando que devido às “terras livres”, foi garantido ao oeste dos Estados Unidos trilhar o desenvolvimento. O autor afirma “the existence of an area of free land, its continuous recession, and the advance of American settlement westward explain American developement” (TURNER, 1896: 18).

Embora Turner tenha chamado atenção para a importância da fronteira na formação da nação, pode-se afirmar que o autor negligenciou a importância das comunidades indígenas e o fato do Oeste americano já possuir algumas cidades fundadas por franceses e espanhóis, assim, desconsiderou no processo as sociedades existentes antes da grande marcha (SILVA, 2007: 284).

O rompimento do local, em prol do nacional, gerou custos elevados para determinadas culturas e sociedades pretéritas à marcha da “civilização”. A fronteira assume caraterísticas de um território de conflitos e litígios em que se inserem relações de poder e sobre o mesmo espaço passam a coexistir interesses diversificados, em contextos históricos diferenciados.

No caso brasileiro, convêm considerar a fronteira como território onde há contradições socioespaciais e ações transformadoras do capitalismo sobre produtores familiares, comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, caracterizando sua forma autoritária. “Logo, considera-se a fronteira capitalista como uma invenção para justificar representações simbólicas,

culturais e ideológicas contra as territorialidades dos índios, dos negros, dos ribeirinhos, dos posseiros” (SILVA, 2007: 286).

Contrariamente à visão de fronteira como espaço democrático, Velho (1979: 94) ao estudar a Amazônia, mostra o efeito da fronteira sobre a sociedade e critica o estado de fronteira aberta, além de apontar os problemas quando a fronteira se fecha. O autor propõe o uso da expressão – “fronteira aberta”, porém controlada. Isso para, justamente, caracterizar a presença do capitalismo autoritário34 como propulsor da dinâmica que se estabelece no território em expansão.

Na mesma perspectiva, Martins (2009) afirma que.

Turner, certamente, não é a melhor referência para pensarmos a complicada conflitividade da fronteira [...], o caso da frente de expansão brasileira, como provavelmente o caso de outros países, não correspondendo à idílica suposição de fronteira é o lugar de concepções e práticas democráticas de autogestão e liberdade, na medida em que o homem da fronteira estaria menos sujeito aos constrangimentos da lei do Estado, e mais sujeito à própria iniciativa na defesa de sua pessoa, de sua família e de seus bens (MARTINS, 2009: 32-33).

Para Martins (2009: 10), a fronteira se constitui um cenário de intolerância, ambição e morte, os confins onde se estabelece a degradação do outro. Somente a existência do outro, autóctone da fronteira é que viabiliza a existência de quem domina, tendo com isso o caráter litúrgico e sacrificial, portanto, a “fronteira do humano” – “lugar [...] onde se observam os conflitos e dificuldades próprias da constituição do humano no encontro de sociedades que vivem no seu limite e no limiar da história”.

A fronteira, dessa forma, é caracterizada pelos conflitos entre diversos sujeitos territoriais, tornando-se assim um espaço dinâmico de contradições. Martins (2009) ao usar a expressão fetichizada faz a explicitação sobre o que há implícito na definição de fronteira:

Fronteira é, na verdade, expressão de uma complicada combinação de tempos históricos em processos sociais que recriam formas arcaicas de dominação e formas arcaicas de reprodução ampliada do capital, como a escravidão, bases da violência que a caracteriza. As formas arcaicas ganham vida e consistência por meio de cenários de modernização e, concretamente, pela forma dominante da acumulação capitalista, racional e moderna (MARTINS, 2009: 12-13).

O autor apresenta duas categorias distintas que dinamizam a fronteira: a primeira, frentes de expansão, marcada pela mobilização de grupos em busca de terra sem a intermediação

34

Por “capitalismo autoritário” tem-se o entendimento como forma que faz prosseguir a acumulação primitiva por meio da subordinação da produção dos não capitalistas. Conferir a obra Capitalismo autoritário e campesinato (1979 de Otávio Guilherme Velho.

do capital na tentativa de garantir a sobrevivência, seria o movimento de expansão territorial, invariavelmente, resultante do massacre das populações nativas, sua drástica redução demográfica e até seu desaparecimento; a segunda, frentes pioneiras, definida economicamente pela presença do capital na produção e na exploração capitalista da terra, significando indução à modernização, à formulação de novas concepções de vida, à mudança social, em que se cria o novo, uma nova sociabilidade fundada no mercado e na contratualidade das relações sociais (MARTINS. 2009: 135).

O estudo da fronteira, a partir dessas categorias (frente de expansão e frente pioneira) expressa o processo de expansão capitalista sobre o território com consequências perversas, espoliação e dominação de grupos em detrimento da expansão do capital em novas áreas. Principalmente, no caso brasileiro devido à necessidade de agregar valor ao capital por intermédio da renda da terra assegurando a reprodução ampliada. Segundo Martins (2009: 26) isso ocorre “recriando mecanismos de acumulação primitiva, [...] dependente da mobilização de meios violentos e especulativos para crescer em escala”, reproduzindo o capital, comparado a outros investimentos, com melhores rentabilidades e retendo parcelas maiores da mais-valia realizada.

A fronteira expõe conflitos de distintas concepções de ocupação do espaço e uso dos recursos disponíveis. Sob a égide do projeto civilizatório de uma sociedade capitalista que afirma o poder de determinados grupos sociais sobre territorialidades preexistentes ou em constituição na determinação de representações simbólicas do desenvolvimento social único e idêntico.

Constitui-se na fronteira, portanto, o conflito, a instabilidade, a conquista e a resistência em função das relações de tempos distintos. Martins (2009: 155) considera que essas relações fazem com que o atrasado apareça como o diferente, não tendo o sentido de passado, mas sim o de contradição em uma sociedade diversificada. Nessa análise e como de fato acontecem, as relações mais avançadas não corróem, nem necessariamente destróem as relações ditas “diferentes”, elas cooptam e se apropriam das relações como forma de garantir o seu projeto de desenvolvimento.

É importante ressaltar a afirmação feita por Hébette e Marin (2004) ao frisarem que, É essencial ter consciência e não se deixar distrair do fato de que a fronteira não se constitui e não se estrutura como fenômeno autônomo, nem no que se convencionou chamar de fase pioneira, nem na fase de expansão. A fronteira faz parte de uma totalidade social que transcende; ela é a franja de um sistema em expansão e, portanto, não pode, em hipótese nenhuma, ser entendida dissociada

dele. A interpretação da fronteira (e da colonização, que é uma das suas formas institucionais) não dispensa a referência à organização sociopolítica e econômica global e tem de apelar para as suas características, em particular às de seu pólo econômico-político e ideologicamente dominante [...]. A fronteira se expande e evolui por fases, como reflexo da evolução do sistema35, quer dizer, do capital (HÉBETTE e MARIN, 2004: 76).

Tal entendimento respalda o fato da Amazônia ser compreendida por muitos pesquisadores, como fronteira. Ao integrá-la ao restante do território nacional, são engendradas relações descompassadas e sobreposição de um modelo de sociedade em relação às dinâmicas autóctones.

Ao discutir a Amazônia, Cruz (2006: 65) chama atenção para a necessidade de se dever explicar o intenso processo de “modernização”, consequência da integração da região ao resto do território nacional e como esse processo de incorporação à economia nacional promove o avanço da sociedade nacional sobre as populações indígenas e as populações tradicionais não indígenas já territorializadas, moldando as condições existentes. De modo a enfatizar:

[...] que o entendimento da Amazônia como fronteira indica a preocupação econômica dos processos que modelam o espaço regional; o impacto do modo de produção capitalista e de suas formas recentes de reprodução nas organizações espaciais anteriores e a necessidade de explicar o desenvolvimento desigual e combinado no interior do território nacional (TRINDADE, 2002, citado por CRUZ, 2006: 66).

A consolidação de fronteiras no interior do Brasil, em especial na Amazônia, se fez expandindo o capital pelo território ora excluindo ora submetendo os que não estavam atrelados ao capital. Assim, caracterizando a marcha do capital, com o objetivo de incorporar novos espaços de produção capitalista e a máxima ampliação do mercado. Desse modo, precisa-se ponderar que as contradições assumem dinâmicas específicas nas diferentes regiões apesar de serem inerentes à própria inserção do Brasil no sistema capitalista mundial.

No caso da Amazônia, em particular, “caracteriza a ausência de organizações sociais preexistentes capazes de resistir a novas apropriações, resultando no ritmo acelerado e na extensão em que se processa sua transformação” (BECKER, 1998: 8; BECKER e EGLER: 2010: 211) e as formas facilitadas que o capital encontra para transpor as resistências pontuadas que foram e são estabelecidas em seu percurso.

Em outras palavras, a fronteira é o espaço da expectativa de reprodução ampliada para praticamente todos os atores em jogo, mas onde há incerteza

35

quanto a essa reprodução, na medida em que as ações sociais respondem a orientações políticas e valorativas e não só aos constrangimentos econômicos, condição que lhe atribui valor dinâmico e estratégico (BECKER, 1986: 67).

Por esse prisma, a fronteira se constitui como a acumulação desigual de tempos sociais, o que levou Silva (2007: 291) a afirmar ser “o encontro de temporalidades distintas de cada grupo social com seus diferentes modos de participação na expansão territorial do capitalismo sobre o território brasileiro”. Nesse sentido, acontecem na Amazônia expressões das contradições mais profundas enraizadas na estrutura da sociedade brasileira.

A situação da Amazônia não deve ser analisada como se aquela região constituísse uma sociedade à parte em relação ao conjunto da sociedade brasileira. [...] O que existe, é uma sociedade nacional em que a reprodução do capitalismo constitui cada vez mais um processo tenso que se expressa na proliferação de conflitos no campo e na cidade. [...] A região amazônica se destaca como área diretamente subordinada por esse processo conflituoso, como uma espécie de região problemática (MARTINS, 1991: 61).

A Amazônia, fronteira, foi dotada por perspectivas políticas e econômicas para transformar o território em uma área de livre movimento dos projetos econômicos e, consequentemente, expandir o capital e os interesses globais, tornando-se assim uma reserva estratégica de riquezas para o capital que faz uso para a produção de superlucros, “seja pela exploração das drogas do sertão, seja como fronteira passível de apropriação e valorização do capital investido na compra de terras, seja como província mineral, seja como fronteira agropecuária” (PAULA, 2008: 17).

Para Becker (1990) o importante é ter claro que a fronteira amazônica apresenta especificidade em relação aos demais casos paradigmáticos, pois apresenta características muito próprias: a) já nasce heterogênea, constituída pela superposição de frentes de variadas atividades com o povoamento e a produção relativamente modestos b) já nasce urbana e tem ritmo acelerado de urbanização; c) o Governo Federal tem papel fundamental no planejamento e no volume de investimentos estruturais.

Neste sentido, faz-se importante retomar a reflexão de Carvalho (1984: 171) para quem a fronteira foi entendida como reguladora da intensificação do capital na agropecuária, sobremaneira condicionada como resultado do processo de expansão do capitalismo brasileiro.

Para Loureiro (2009), ao se referir ao movimento e à dinâmica da fronteira no século XXI considera que:

não podem ser entendidos simplesmente como se toda mudança se reduzisse a um novo traçado da mesma; agora não é um simples desdobramento espacial da fronteira dos anos 1970/80. Trata-se muito mais de uma apropriação dos recursos naturais com vistas ao enriquecimento individual ou empresarial, e menos que oposição entre terra de trabalho e terra de negócio, como foi no passado recente. E ainda o trabalhador sem-terra assume um papel secundário ou mais subordinado ainda (LOUREIRO, 2009: 83).

Os interesses globais articulados aos interesses do capital somente se fizeram possíveis por causa da mediação do Estado. Dessa forma, a fronteira se torna espaço estratégico, por excelência, do Estado que se dedicou na rápida estruturação e controle para integrá-la ao mercado de grandes capitais internacionais. Os recursos naturais, tanto florestais quanto os minerais e os projetos agropecuários foram usados como meios de alavancar as empresas capitalistas.

A verdade é que a Amazônia não é mais a mesma dos anos 1950-60. Ao longo do tempo ela foi sendo apropriada pelo desenvolvimento capitalista e configurada para favorecer a acumulação de capital. Com isso, não só acontece „a degradação dos outros‟, como dos recursos naturais em benefício do lucro e a permanência dos capitais nacionais e internacionais no território.

Tanto que os momentos atribuídos a resultados positivos na economia da Amazônia, estiveram atrelados a estímulos externos e subordinados aos centros dinâmicos do capitalismo brasileiro. “O aparente crescimento não atendia e beneficiava os residentes no território, mas sim, pessoas localizadas fora dele” (SANTOS, 1989: 27). Para Léna & Oliveira (1991: 11) essa configuração caracteriza a sobreposição da dinâmica da fronteira sobre o desenvolvimento regional, ou seja, os agentes econômicos de origem externa acarretando rupturas e traumas na população local ao invés de se ter o desenvolvimento conduzido pelas populações locais.

De acordo com Picoli (2006: 42) a maioria dos projetos incentivados pelo governo tem origem na produção de mais miséria na região, ao invés de assentar as famílias, desapropriaram e provocaram a violência. Para o autor, “as vítimas da investida capitalista são as áreas dos povos originários, dos posseiros e dos pequenos proprietários de terras, bem como áreas de preservação ambiental e militar”.

Dessa forma o modo de produção capitalista acarreta alterações nas estruturas internas, não conduzindo à melhoria das populações locais, mas possibilitam melhores condições para o capital, facilitando a apropriação de resultados cada vez maiores na exploração do

território, constituindo os loci das regras concorrenciais e da valorização do capital por meio da “coerção imposta com a integração” (BRANDÃO, 2007: 75).

No movimento do capital para estabelecer um espaço único de sua própria valorização, a transposição dos limites por determinação das dinâmicas capitalistas, desfigura a fronteira. Tendo a derrocada da autonomia, nunca reconhecida, mediante sua vinculação aos ditames da economia nacional e mundial. Assim, vai deixando de ser „a fronteira‟ ou pelo menos tendendo ao seu fechamento.

O fechamento para Silva (1981: 117), não é na “utilização produtiva do solo, mas sim por não ter mais terras livres, terras sem donos”. Entende-se tal situação, principalmente, depois das delimitações das Unidades de Conservação, em que restringiram a apropriação das terras e dificultaram os acessos às novas áreas, podendo dizer que a política fez escasso um bem abundante de maneira que a pressão recai sobre os produtores desprovidos de condições econômicas, os quais são induzidos pelo capital a venderem suas áreas. Nesses termos, ao mesmo tempo em que se mitiga a degradação ambiental provoca o acirramento do conflito pela terra nas área agricultáveis da Amazônia.

A intervenção direta e heterônoma configura o território no qual o capital impõe a determinação das relações, mantendo as desejadas e se criando outras novas, como forma de se expandir. Ao invés de ser fechada, a fronteira passa a ser moldada. A desfiguração da antiga fronteira, por assim dizer, faz parte do processo imposto pelas dinâmicas externas ao alegar a promoção do desenvolvimento, na verdade, promove o envernizamento de relações necessárias para o processo concentrador e expansivo que o capital imprime.

A Amazônia, realmente, assume um novo papel como território dinamizador da lógica capitalista, metaboliza as relações em seu interior para valorização do capital. Essa situação, segundo Santos (1989: 27) ocorre devido à “perspectiva econômica do capitalismo” iniciar sua operação no território impregnando a sociedade com uma visão de mundo, suas escalas de valores e novos padrões morais de conduta, com isso velhas hierarquias são rompidas. Retiram-se as resistências por meio da cooptação e do convencimento para o interior do mundo do capital, tendo a partir desse momento muito mais a concorrência e os interesses intercapitalistas presentes do que com as dinâmicas produtivas locais.

Loureiro (2009: 74) afirma em sua obra que a fronteira se constitui com novos aspectos, transformada em “fronteira de commodities” voltada para o mercado internacional em que o processo se iniciou com três produtos: madeiras, ferro e alumínio em lingotes.

O fulcro da questão é que a Amazônia deixa de ser a fronteira caracterizada pela dualidade (o conflito de lógicas entre capitalista e o camponês), como frisaram Becker (1990); Martins (2009); Costa (2000); e Pandolfo (1994). Sobretudo por ocorrer em alterações com a presença e determinação do modo de produção capitalista, dentre elas: a) o rompimento da condição de “ilha” voltada para o exterior; b) a constituição de uma indústria mineradora, atrasada, mas que modificou as relações; c) a urbanização da floresta, com núcleos desestruturados, mas importantes para as mudanças de funcionamento da dinâmica regional (LOUREIRO, 2009).

Compreende-se a Amazônia e o desenvolvimento do capitalismo no seu interior como superposição de fronteiras. Essas não como um fenômeno somente espacial e histórico, de confrontação cultural e ideológica, mas, principalmente, caracterizada pela expansão econômica que se faz configurando formas adversas de fronteiras determinadas pelo tempo imposto e exigido pelo capital.

Diferente do ocorrido no passado que esperavam a abertura de novas áreas pelos colonos ou incentivo governamental às áreas, atualmente, estão sendo abertas por empresários, especuladores e agentes diversos do capital que se instalam por conta própria e avançam sobre a floresta.

Os novos agentes da fronteira encarregam-se de fazê-la eles próprios. Ao lado da lucratividade, já que os custos pelos danos ambientais não são cobrados, outro atrativo para a aquisição de terras na Amazônia é o seu preço inferior aos de outros pontos do país (LOUREIRO, 2009: 84).

A Amazônia mais do que fronteira do território se configura como um território de fronteiras estimulado pela mobilização de diferentes modos de produzir. Marcada por traços de arcaísmo, mas não menos eficientes na valorização do capital, conseguindo baratear os custos dos capitais constantes e variáveis pela apropriação dos meios de produção e com a superexploração do trabalhador, assim, favorecendo a acumulação de capital.

Picoli (2006: 79) retrata que o processo de colonização decorrido nas últimas décadas na Amazônia foi agressivo, repressivo e extensivo. De modo que transformaram os povos

tradicionais em mercadoria36, os quais passaram a vender sua força de trabalho aos diferentes tipos de projetos capitalistas existentes.

Os capitalistas ao se instalarem na Amazônia não respeitaram o direito do outro à terra. Questionados sobre a usurpação, recorriam ao Estado e às leis protecionistas que contribuem para a expansão capitalista. Neste sentido, Loureiro (2009: 83) afirma que “são os grandes negócios que passam a mover a fronteira e não mais o pequeno produtor familiar, que nesse novo contexto, fica obscurecido, tentando sobreviver nos interstícios do movimento e das pressões do capital internacional”.

A mudança no perfil de fronteira, ou melhor, a consolidação de um território de fronteiras determina diretamente mudanças nas ações dos sujeitos territoriais, entendendo que esses passam a ser em maior ou menor grau determinados pela expansão dos negócios, sejam ligados ao mercado local ou internacional, já que as relações ultrapassaram o espaço interno do país.

[...] essas práticas são resultado de um Estado que trata de maneira diferente os posseiros e os grupos econômicos. Não se trata de um Estado omisso, mas conivente e, historicamente, colocado a serviço dos grupos econômicos, que fazem o papel de reprodução da classe burguesa por meio das representações políticas na última fronteira de colonização (PICOLI, 2006: 85).

O contexto criado e a dinâmica estabelecida fazem o Estado se interessar em valorizar o capital e se não abandona o pequeno produtor familiar estabelece políticas duais de