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MUNDO INDUSTRIAL

No documento Gisela Maria Coelho de Sá (páginas 47-50)

4.OS MUNDOS POSSÍVEIS

4.6 MUNDO INDUSTRIAL

O “mundo Industrial” ou ordem de eficácia surge a partir de Saint Simon no seu livro

“O sistema industrial”, no qual o valor dos sujeitos é aferido a partir do grau de eficácia do seu trabalho.

Palavras-chave: eficácia, performance, produtividade, padronização.

No “mundo industrial” os professores tentam provar a sua eficácia na dupla tarefa

que têm a cargo: educar e instruir os alunos.

«Aqui, o modelo de justificação industrial aparecia intimamente ligado à valorização do futuro, em detrimento de um passado já ultrapassado, mas associava-se ao modelo de justificação doméstica ligado à valorização da crença da modificação interior dos indivíduos.» (Resende, 2003, p.462)

O “mundo industrial” é aquele em que encontram lugar os objectos técnicos e os métodos científicos. Devemos ter em conta que, ao contrário daquilo que pode ser sugerido pela terminologia utilizada, este mundo não se inscreve totalmente nos limites da empresa. Por outro lado e inversamente, o funcionamento da mais industrial das empresas não poderia ser compreendido a partir unicamente do recurso a aspectos deste mundo, mesmo se a noção de produção eficaz assentasse em investimentos funcionais que retiram a respectiva justificação da ordem industrial.

Este é um mundo em que, à semelhança aliás do mundo mercantil, a ordem convencional que o suporta se encontra relativamente obscurecida pelo peso de algumas das suas figuras e objectos. É prova notável disto, o tratamento dado aos objectos e às técnicas que os encerra numa relação instrumental e directa com a natureza e que deixa na sombra, correlativamente, as convenções que suportam o acordo sobre o facto científico e a instrumentação técnica (Latour).

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A ordenação do mundo industrial repousa sobre a eficácia dos seres, sobre a sua performance, a sua produtividade, a sua capacidade de assegurarem uma função normal, que responda utilmente a certas necessidades. Tal funcionalidade, segundo Boltanski e Thévenot, exprime-se numa organização que implica uma articulação sincrónica com outros seres numa determinada temporalidade. A eficácia inscreve-se, aliás, na ligação entre uma causa e um efeito determinados. O bom funcionamento dos seres prolonga o presente num futuro, abrindo assim a possibilidade de uma previsão. A forma de coordenação industrial sustenta assim uma equivalência entre situações presentes e situações futuras e constitui

uma temporalidade. O amanhã é o que importa: “as máquinas de amanhã”, “o operário de amanhã”, “a organização de amanhã”.

A qualidade dos grandes, seres funcionais, operacionais ou profissionais (quando se trata de seres humanos), exprime assim a respectiva capacidade de se integrarem nos mecanismos e engrenagens de uma organização, ao mesmo tempo que a sua previsibilidade e fiabilidade garante projectos realistas para o futuro.

As pessoas estão em estado de pequenez quando não produzem utilidade, quando são improdutivas, fornecem pouco trabalho, em razão do seu absentismo, por exemplo, ou da sua condição de inactivos, desempregados ou “handicaped”. São-no ainda quando fornecem um trabalho de má qualidade, quando são ineficazes, desqualificados, inadaptadas ou estão desmotivadas. As coisas são pequenas quando são subjectivas. Os seres também são pequenos quando, em vez de estarem abertos ao futuro, guardam a marca do passado, permanecendo pouco evoluídos, estáticos, rígidos, inadaptados.

A ordem industrial está posta em questão numa situação não óptima, como quando se constata que a programação da produção não optimiza os custos. Esta situação potencialmente litigiosa encerra uma disfunção, um problema, uma avaria, um acidente.

A dignidade das pessoas, o traço da natureza humana sobre o qual repousa a ordem industrial, é um potencial de actividade. Esta capacidade exprime-se num trabalho, que é o pôr em prática a energia de um homem de acção. Investir nas capacidades e energias humanas, é o melhor meio de conseguir a eficácia económica. Por consequência, a ausência de utilização das potencialidades humanas disponíveis é um atentado grave à dignidade das pessoas.

As pessoas possuem, num “mundo industrial”, uma qualificação profissional (sendo frequentemente o termo “profissional” utilizado como substantivo para designá-las), ligada à

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sua capacidade e à sua actividade. Sobre esta escala de qualificação repousa uma hierarquia dos estados de grandeza, marcada pelas competências e as responsabilidades.

Nas relações de trabalho e nos sistemas de remunerações, as qualificações formais que exprimem esta grandeza industrial opõem-se tanto a uma avaliação mercantil que resultaria imediatamente de um serviço prestado, quanto a uma avaliação doméstica apreciando a autoridade de uma pessoa.

Os objectos de um mundo industrial são instrumentos, meios, mobilizados para uma acção que se apresenta como uma tarefa produtiva. A fabricação de produtos põe em obra as matérias-primas e a energia, as máquinas e os métodos. O corpo é o utensílio primário,

que trabalha no esforço e os objectos da natureza industrial prolongam a eficácia deste trabalho.

Os objectos da natureza industrial contribuem para moldar um espaço no qual os efeitos se transportam em função de mecanismos. O espaço organiza-se de tal maneira que as zonas distantes ou estranhas à acção, segundo uma topografia doméstica, serão tratados como um ambiente a partir do momento em que as ligações funcionais tenham sido estabelecidas. As diversas acções são integradas num mesmo plano homogéneo, regulado por eixos, linhas directoras, dimensões, graus, níveis. Os objectos são postos em relação neste espaço com a ajuda de listas ou de inventários tratáveis por lotes. O espaço mensurável é projectável sobre uma folha de papel onde se joga uma parte da prova, graças à confecção de grelhas, estados, gráficos, esquemas, organigramas, enquadramentos, contabilidades, quadros de bordo. Os instrumentos de medida que contribuem são verdadeiramente máquinas a situar no espaço. Eles padronizam ao produzir, a partir de uma definição e de um inquérito, os objectos em boa e devida forma, cuja função pode ser apreendida por critérios ou características. Não existe corpo que não possa ser tomado nestas medidas e inscrito na ergonomia da tarefa a cumprir.

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II PARTE

No documento Gisela Maria Coelho de Sá (páginas 47-50)