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3.3 O contexto

3.3.1 O município de Horizonte

O município de Horizonte está localizado na Região Metropolitana de Fortaleza, distando 42 km da capital cearense. Sua área geográfica é de 191,9 km², dividida em quatro distritos: Aningas, Dourado, Queimadas e Sede. Os limites geográficos são: Norte – Aquiraz e Itaitinga; Sul- Pacajus; Leste – Cascavel e Pindoretama; Oeste – Itaitinga e Guaiuba. A principal via de acesso ao município é a BR-116, que o atravessa em toda a sua extensão, e ao longo da qual se desenvolveu o centro da cidade.

Figura 1- Mapa do município de horizonte

Fonte: IPECE (2012)

Em seus vinte e sete anos de história, Horizonte alcançou um importante patamar em termos de economia, despontando como a quinta maior potência econômica do Estado do Ceará, tomando como referência a renda per capita (R$ 18.052, no ano de 2010) e oitava maior potência, tomando como referência o Produto Interno Bruto (R$ 995.679.000, no ano de 2010). Esta colocação justifica-se pela implantação de um polo industrial no território municipal, viabilizado pelos investimentos realizados pela prefeitura em termos de infraestrutura, pela implantação da lei de incentivos fiscais, pela proximidade com Fortaleza, pela presença da BR 116 (que é uma das principais vias de escoamento da produção), situando-se, assim, em uma posição estratégica para implantação das indústrias. Além destas questões, soma-se a posição estratégica para travessias pelo Oceano Atlântico, que facilita o acesso à América do Norte e Central, pela proximidade com o Aeroporto Internacional Pinto Martins e com o Complexo Portuário do Mucuripe (47,8 km), assim como com o Porto de Pecém (89,9 km).

De acordo com o IBGE o município conta, atualmente, com uma população estimada em cerca de 60.584 habitantes (IBGE, 2014)40 e com um parque industrial composto por mais de 40 indústrias, no qual predominam os

40Quanto à distribuição da população em zona rural e urbana, o município apresenta os seguintes

setores têxteis, de calçados, de granito e de automotivos, e mais de mil estabelecimentos comerciais, gerando juntos cerca de 20 mil empregos diretos41.

Todo esse contexto que engloba a geração de emprego e renda tem influenciado um acentuado movimento migratório, no qual famílias de cidades circunvizinhas mudam para Horizonte na expectativa de inserir-se no mercado de trabalho, chegando a representar a chegada de cerca 5,8 novos habilitantes por dia, entre os anos de 2000 e 2010 (segundo dados do IBGE). O impacto desse movimento migratório pode ser visualizado através do crescimento da densidade demográfica apresentado nos censos populacionais, correspondentes a este mesmo período, que saltou de 176,91 hab./km² para 344,96 hab./km² (IPECE, 2012).

O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico, influenciados pelos fatores acima expostos, têm vindo acompanhados de problemas sociais. Várias famílias que mudam de suas cidades em busca de uma ocupação que gere renda para sua sustentação encontram um contexto desfavorável à inclusão no mercado de trabalho.

A cada dia as exigências relativas ao perfil dos profissionais se tornam maiores e mais excludentes, se considerado o nível de escolaridade de grande parte da população. Fica difícil imaginar como uma pessoa analfabeta, por exemplo, possa ter chances de inserção no mundo do trabalho sem dominar o que hoje é considerado indispensável a qualquer cidadão: a leitura.

De acordo com o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE, 2012), a taxa de analfabetismo funcional para pessoas com mais de 15 anos em Horizonte praticamente se encontra estacionada no recorte histórico compreendido entre os censos realizados nos anos 2000 e 2010, quando foram apresentadas respectivamente as taxas de 28,18% e 26,54%.

Para promover a universalização da educação básica, o município de Horizonte vem investindo continuamente na estruturação de seu parque escolar, contando hoje com 16 Centros de Educação Infantil; 29 Escolas de Ensino Fundamental, das quais 05 funcionam em Tempo Integral; 01 Centro de Educação de Jovens e Adultos (atualmente abdicado à Secretaria de Educação do Estado do

41 Segundo dados do IPECE, a grande tendência do município em relação a postos de emprego está

situada sucessivamente: na indústria - 14.742 empregos formais, na administração pública - 1.802, no comércio - 1.354, na prestação de serviços – 864, na agropecuária – 573 e na construção civil – 408.

Ceará); 02 Escolas de Ensino Médio; 01 Centro de Atendimento Educacional Especializado e 01 cursinho pré-vestibular (destinado aos alunos egressos da Escola Pública).

No que se refere à Educação de Jovens e Adultos, das 29 escolas que compõem o parque escolar, apenas duas oferecem esta modalidade de ensino de modo presencial, sendo ambas localizadas na zona urbana do município. Considerando o total de escolas existentes no município e a quantidade de escolas que ofertam EJA, é possível verificar que a prioridade dada pela Secretaria Municipal de Educação é, claramente, aos alunos em idade regular.

Pelo processo de retração da oferta de EJA à população, o município deixa de cumprir com sua obrigação legal de garantir a educação como um direito público e subjetivo, não promovendo o processo de elevação da escolarização da população com idade superior a 15 anos. Tal fato implica diretamente na compreensão de que o planejamento das ofertas de matrícula pela gestão municipal, não tem considerado o seu próprio contexto, marcado pelas demandas de qualificação profissional para a população jovem e adulta, que se constitui como condição para inserção dos mesmos no mercado de trabalho.

Sem qualificação profissional, sem emprego e sem ter para onde voltar, várias famílias passam a se sustentar em subempregos, caracterizados pela informalidade e pela inconstância. As precárias condições de vida, às quais essas pessoas são submetidas, colocam-nas em situação de vulnerabilidade social, caracterizada por mazelas como desemprego, pobreza, violência, trabalho infantil, prostituição, riscos à saúde, entre outros.

O crescimento da violência urbana pode ser expresso através da evolução das taxas de homicídio do município entre os anos de 1999 e 2011, que apresenta a partir de 2006 um significativo crescimento, que chega no ano de 2010 a superar os dados do próprio país, como apresenta a figura a seguir:

Figura 2 – Evolução do número de homicídios em Horizonte (1999 a 2011)

Fonte: DeepAsk (2014).

A análise deste contexto implica, logo de saída, na fragilidade de interlocução entre as políticas públicas das diferentes áreas que ao invés de promover processos de fortalecimento da intersetorialidade, parecem distanciar-se desta perspectiva.

O acompanhamento das políticas sociais municipais, além de ser realizado pelas diferentes secretarias, conta com o controle social realizado pelos diferentes conselhos de direitos existentes. São eles Conselho Municipal de Educação, Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Conselho Municipal de Assistência Social, Conselho Municipal de Saúde, Conselho Municipal dos Direitos do Idoso; Conselho de Alimentação Escolar; Conselho do FUNDEB; Conselho Comunitário de Desenvolvimento Social e Conselho de Segurança Alimentar. O trabalho desses colegiados é, teoricamente, essencial para a elaboração, implementação e avaliação das políticas públicas desenvolvidas no município dentro de cada uma das áreas de atuação dos mesmos.

Apesar de ter a qualidade de sua gestão reconhecida publicamente com os Prêmios Selo Unicef – Município Aprovado (em todas as edições) e pelo razoável

Índice de Desenvolvimento Humano de 0,6 (em relação ao Ceará que é de 0,8), é possível identificar no contexto municipal sérios desafios à gestão. Destaco dois indicadores relativos à atenção básica em saúde para ilustrar tais desafios: o crescimento da mortalidade infantil por diarreia em crianças menores de 2 anos de idade, no qual é possível verificar o percentual de 8 por mil nascidos vivos no ano de 2009, em relação ao percentual de 1,4 por mil nascidos vivos no ano de 2006; o percentual de cobertura da população pelo serviço de atenção básica em saúde que caiu de 94% no ano de 2004, para 81% no ano de 2009 (DATASUS, 2014).

É possível visualizar a partir dessa sucinta aproximação com a realidade local, que o desenvolvimento econômico de um município não corresponde necessariamente ao desenvolvimento humano e à efetivação dos direitos sociais. Estes se constituem, ainda, como um desafio para a gestão municipal de Horizonte.