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A primeira narrativa datada dos anos de 1970 começa por mostrar as transformações que Ivaiporã teve antes de atingir a categoria de município. Aparece pela primeira vez a ideia de “sertão”, que teria sido “desbravado” pelos “pioneiros” seus primeiros habitantes.

Na sequência é apresentada a discussão sobre o nome da localidade que primeiramente foi denominada “Queimada”, mas devido a imposição de parte dos seus habitantes teria mudado para “Cruzeiro”, e este último não tendo aceitação pela maioria foi substituído por “Sapecado”, devido a queimada de roças, que teria deixado a terra “chamuscada” onde hoje se encontra a sede do município. Com a criação do distrito passou o local a se chamar Ivainópolis. (PROENÇA NETTO, 1970).

Mas o ponto de partida para o surgimento de Ivaiporã, inicia na segunda metade do século XIX, no ano é 1853. De acordo com Padilha, (1988) foi em 02 de Dezembro de 1853 que um senhor chamado José de Lima teria efetuado a venda de uma área denominada “Imóvel Ubá” ao senhor Manoel Soares da Silva Lima, tendo as taxas de transação sido pagas na Coletoria da cidade de Guarapuava, município onde residia o comprador. Este último teria

registrado suas terras dentro das exigências do Artigo nº 91 do Regulamento do Decreto nº 1.300 em 30 de maio de 1854. Era uma enorme área de terras de 83.000 alqueires paulistas5 situada na margem esquerda do Rio Ivaí, desse rumando a serra até um rio que corre para Vila Rica do Espírito Santo, e deste acima até frontear o Salto Grande, onde havia principiado a divisa. (PADILHA, 1988).

Na sua reconstrução cronológica, Padilha mostra que 05 de dezembro de 1899, Manoel Soares da Silva Lima teria vendido essas terras ao Dr. João Fordie, e este em 20 de julho de 1912 vendeu para o Sr. Alberto Landsberg. (PADILHA, 1988). Em 02 de Maio de 1924, Alberto Landsberg vendeu a propriedade para a Sociedade Territorial Ubá Ltda. conforme a escritura pública registrada em Guarapuava. (PADILHA, 1988).

A Fazenda Ubá constituía uma área de 83.000 alqueires paulistas, tendo como proprietários as seguintes empresas e pessoas: Sociedade Civil Agrícola Lunardelli Ltda., Espólio de Max Wirth, Francisco Otaviano Cardoso, Durval Silveira Corrêa, Hermes Vivan da Silva, Bráulio Santos e a Sociedade Territorial Ubá Ltda., esta última detentora da área. (PADILHA, 1988).

Os diretores da Sociedade Territorial Ubá Ltda., os irmãos e sócios Leovigildo Barbosa Ferraz e Bráulio Barbosa Ferraz, eram experientes em colonização. Haviam prestado inúmeros serviços ao “progresso” do Estado, sendo fundadores e colonizadores das cidades paranaenses de Cambará, Andirá, Cornélio Procópio e Leópolis. (PADILHA, 1988).

Segundo Padilha, (1988) até 1938 o Governo do Estado do Paraná recebia anualmente os respectivos impostos do imóvel da Sociedade Territorial Ubá Ltda. Mas a partir de 1939, o Governo do Estado do Paraná, sob regime de Intervenção Federal, no comando do Interventor Manuel Ribas, contestou a legitimidade do domínio da Sociedade Territorial Ubá Ltda., sobre as terras do Imóvel Ubá. Desse ano em diante passou a dispor das mesmas como “devolutas” e pertencentes ao Estado.

A vasta área de terras considerada como das mais férteis do país, passou a atrair atenção de “desbravadores” dos mais longínquos pontos do Paraná e do Brasil. Estes adentravam no “sertão bruto” como “posseiros” e iniciavam pequenas plantações para a sobrevivência. (PADILHA, 1988). Em 1941, de acordo com Padilha (1988), o senhor Horacio Felix da Paz e seu irmão Joceli Felix da Paz, procedentes de Cerro Azul-PR, chegaram nesta região e iniciaram a formação de lavouras, e em 1942 deu-se a chegada do “saudoso pioneiro”

Pedro Pereira da Silva, conhecido como Pedro Cunha, que iniciou a formação do Bairro dos Cunha. Ainda em 1942 chegariam na localidade os irmãos Sebastião e Henrique Paulino.

A partir daqui a narrativa corrobora com a de Proença Netto de 1970. Nessa narrativa a origem da denominação Queimada teria sido oriunda de uma queimada de um vasto taquaral para formar as lavoras dos senhores Sebastião Paulino e Henrique Paulino. Já a narrativa da denominação Cruzeiro teria sido originada por diversas famílias em 1945 por conta de um cruzeiro edificado por Henrique Paulino que indicava o local para formação do primeiro cemitério. (PADILHA, 1988).

Mesmo com o fim do governo do interventor Manuel Ribas em 1946, continuava a proibição de transcrição do competente registro de imóveis de qualquer título, continuado as terras como devolutas, facilitando assim a entrada de “posseiros” rotulados de colonizadores. (PADILHA, 1988).

Em 1948 Francisco Jacob Goedert e Ludovico Merico conseguiram permissão do Estado a autorização oficial para providenciar a vinda de colonizadores do Estado de Santa Catarina. Com inúmeros sacrifícios conseguiu trazer 200 famílias que teriam sido assentadas na região. (PADILHA, 1988). Com a entrada desses posseiros, a Sociedade Territorial Ubá Ltda. foi obrigada de acordo com Padilha, (1988) a cientificá-los da ilegalidade de suas posses e consequentemente a retirar os mesmos da área.

Proença Netto, (1970) narra essa questão dos posseiros como dificuldades vencidas pelos diretores da Sociedade Territorial Ubá Ltda, os senhores Leovigildo e Bráulio Barbosa Ferraz. Dificuldades estas impostas pelos “posseiros” que não queriam entregar as terras, das quais se julgavam de direito. De acordo com Proença Netto, (1970) alguns tinham a intenção de fato em legalizar as propriedades, por compra ao Governo do Estado, havendo até o pagamento de algumas prestações. Outros havia fixado nessas terras sem nada fazer para adquirí-las e iam devastando-as com queimadas sucessivas.

Com a situação litigiosa das terras e sob a chefia de Francisco Jacob Goedert, José Caetano Marques, Teodoro Martins Rodolfo e Ludovico Merico, foram efetuadas algumas prisões de pessoas ligadas a companhia colonizadora, o que teria obrigado o deslocamento de um Batalhão da Polícia Militar do Estado para acalmar o ânimo dos “revoltosos”. (PROENÇA NETTO, 1970).

Proença Netto, (1970) afirma que a “revolução” tinha finalidade de atrair a atenção do Governo do Estado, mas essa atenção trouxe resultados negativos para os “revolucionários”, acelerando o desfecho e pronunciamento da justiça favorável a Sociedade Territorial Ubá

Ltda. no acordo com o Estado do Paraná e a sentença do Juiz de Direito da Comarca de Pitanga, Dr. José Elias Kuster, que o homologou.

Os “revoltosos” tinham o estimulo e encorajamento do advogado Dr. Roberto Barroso Filho, conhecido como “Barrosinho”, que segundo informações obtidas por Proença Netto, (1970) teria conseguido intentos, arrancando dos habitantes da região, vultosa soma em dinheiro a fim de manter as posses.

[...] muitas famílias ficaram sem teto, sofrendo prejuízos irrefragáveis ao serem despojadas.

Muitas lavouras foram cortadas e queimadas, muitos ranchos e moradas de colonos foram transformados em cinzas. Como é natural e lógico, depois da tempestade vem a bonança! Encerrado o litígio, abriram-se os horizontes para a paz e prosperidade que perduraram desde 1953, quando Ivainópolis principiou a ensaiar seus primeiros passos para projetar no cenário comercial e industrial, como uma das regiões mais progressistas do hemisfério. (PROENÇA NETTO, 1970, p. 26-27).

Nas narrativas de Padilha (1988) e (1994), ainda vamos encontrar as ideias de “vazios selvagens”.

1.2.2 Poloneses e ucranianos em Ariranha do Ivaí