• Nenhum resultado encontrado

Uma hora depois já havíamos transporto oito corredeiras e cachoeiras, deixando para trás, direita e à esquerda, nesse percurso, e a trechos mais ou menos distantes, as casas de vários moradores, dos quais o penúltimo chamava-se Marcelino. Ficamos em sua casa apenas alguns instantes. O último em que paramos para fazer pouso, foi o Diniz. Dai para diante já não havia mais moradores civilizados. Esse fora o mais ousado.

O sítio do Diniz é belamente situado, correndo para isso o próprio rio que se alarga e endireita numa extensão muito antes de alcançar a casa, e continua assim até bem mais adiante entre margens baixas, já descampadas pelo braço humano.

Sobre a margem direita, numa planura de onde o mato fora eliminado a foice, a machado e fogo, estava situada a casinha toda de madeira pintada de branco.

Alguns ranchos para depósitos seguiam-se para a retaguarda, tudo cercado por plantações e pastagens

O Diniz devia ter entre 40 a 45 anos. Era casado com uma mulherzinha muito simpática, viva e bastante corajosa para acompanha-lo a uma região tão longínqua selvagem e perigosa, abandonando a família em S. Paulo, e com ela todas as comodidades que o sertão não podia dar. Dois filhos piazótes e três camaradas compunha, todo o pessoal do sítio.

Havia 4 para 5 anos que ali estava, e seu trabalho havia sido recompensado pela produção de milho, feijão, arroz, cana de açúcar, batatas, várias qualidades de abóboras, além de hortaliças e da pastagem para duas vaquinhas que lhes forneciam bom leite. Possuia uma junta de bois carreiros para o arado e uns três burros para o serviço de cangalha. A casinha, para sertão, era até muito bôa, porem me pareceu muito abafada e pequena. Pensei na boa dose de energia e maluquice do Diniz ao arrostar com semelhante trabalho, deixando o convívio dos seus e o conforto que poderia ter, arrastando consigo uma pobre mulher para, tão longe, viver essa vida de selvagem!. (MURICY, 1975, p. 157-158 grifos nossos).

Figura 17: Rio Ivaí – Salto das Ariranhas-corredeiras

Figura 18: Confluência do rio Ivaí ou S. Luis (à esquerda na fotografia) com o rio Corumbataí ou Mourão (ao centro). Á direita, zona onde estavam situadas as ruinas de Vila Rica.

Figura 19: Planta da viagem ao paiz dos jesuítas

2.7

As negociações das terras da Fazenda Ubá

Em 19 de maio de 1899, Manoel Soares da Silva Lima, na Vila e Distrito de Ipiranga, Comarca de Ponta Grossa, reconhecido pelo próprio Escrivão do Juizo Distrital, servindo de Tabelião pela lei, Augusto Frederico Bahls, faz um translado de procuração9 ao capitão João Alberto Munhoz e João Fordie, perante as testemunhas Augusto Victor Modesto, Eduardo Romblsperger, Manoel Cordeiro Portella, Antonio Puglia e August Koening:

(...) para disporem como entenderem e melhor lhes convier, de uns terrenos citos no logar denominado Salto Grande do Rio Ivahy, hoje conhecido por Salto do Ubá, no Districto de Therezina, que elle outorgante adqueriu por posse feita antes de mil oitocentos e cincoenta e quatro, promoverem a approvação dos autos de legitimação, da referida posse, feita em mil oitocentos e setenta e oito, tirar em seus proprios nomes o respectivo titulo, pagar todos os direitos e dispezas da approvação fazendo cessão a seus direitos procuradores de todos esses terrenos excerto de cinco mil hectares deles que ainda lhe fica pertencendo, depois de tudo verificado na dita legitimação e aprovação, não sendo elle outorgante responsável por quaesquer despeza, as quaes correrão por conta explosiva de seus procuradores e legitimos cessionarios dos quaes recebem a quantia de um conto de reis, pela dita cessão, dando-lhes desde já todo direito e acção que tinha nos ditos terrenos, sem que os ditos seus procuradores tenham obrigação de prestar-lhe conta a respeito porque as dá por prestada com plena e geral quitação, figurando, de hora em diante os seus ditos procuradores como legítimos cessionarios, sujeitos unicamente aos direitos divididos pela transmissão da propriedade.

Em 22 de novembro de 1899 Manoel Soares da Silva Lima realizou o registro de suas terras em conformidade com o Decreto Nº 1 de 8 de abril de 1893, artº 100 e seguintes. Registrava-se como proprietário e residente em Terezinha. A propriedade denominada Salto Grande conhecida por agora por Salto do Ubá, fora adquirida por compra feita a José de Lima em 1853, estando situada no distrito de Terezina no município e comarca de Guarapuava. Era um terreno de terras lavradias e pastagem, com divisas: “descendo do dito salto pelo Rio Ivahy abaixo e confrontando com o rio Corumbatahy”. Confinava com os rios Ivaí e Corumbataí e com terras devolutas. Metade da área era cultivada e a outra metade era inculta. Havia cultura de cana de açúcar, milho e feijão. As benfeitorias eram diversas casas, paióis, curais e cercas. Haviam diversos ribeirões e arroios. A estrada era a que se dirigia para Guarapuava e

9 Registrado no Livro de Notas Nº 1 f. 32v. Transcrição do Primeiro Translado. Procuração. Terezina, 31

de maio de 1899. Escrivão Manoel Vieira de Godoy.

Publico Instrumento de Procuração registrado no Livro de Notas, fls. 4v, 5 e 5v do Ipiranga, em 19 de maio de 1899. Escrivão do Juízo Distrital, servindo de Tabelião pela lei, Augusto Frederico Bahls.

Terezinha, sendo esses seus centros de consumo mais próximos. Pagou emolumentos devidos em 28 de novembro de 1899. Esse registro foi feito por despacho do Governador do Estado em 24 de novembro de 1899.

Em 01 de dezembro de 1899 sob o Nº 52 exercícios de 1899, no valor de 704 mil réis registrado as fls. 35 recebia de João Fordie referente à transmissão de propriedade sobre 8 contos de réis. Pelo agente fiscal Francisco Xavier dos Santos. Em 05 de dezembro de 1899 é realizada o 2º Translado de escritura pública de compra e venda10 do terreno que fazia como vendedor Manoel Soares da Silva Lima e como comprador João Fordie. Dizia ser senhor e legítimo possuidor de um terreno de cultura denominado Fazenda Ubá, pelo preço de 8 contos de réis. Testemunhas Adolpho Munhoz Rocha e Antonio Puglia. E em 9 de dezembro de 189911, João Fordie declarou o imóvel Salto do Ubá, em demarcação, característico de cultura e pastagem, confrontando com os rios Ivaí e Corumbataí e terrenos nacionais.

10 Livro de Notas. Nº 2.025, fls. 66v. Registro de Documentos sob Nº 5 fls. 87v 89.

11 Registro Geral de Imoveis, Hipotécas, Títulos e Documentos, etc. 1º Oficio. Comarca de Guarapuava.

Figura 20: Extracto para registros de terras pertencentes a Manoel Soares da Silva Lima do Salto do Ubá

Figura 21: Registro Nº 69. fls. 26 verso e 27