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Municipalização do licenciamento ambiental em Pernambuco

2.3 DESCENTRALIZAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO LICENCIAMENTO

2.3.3 Municipalização do licenciamento ambiental em Pernambuco

A municipalização do licenciamento ambiental no Estado de Pernambuco iniciou-se em fevereiro de 2009 a partir da assinatura do Convênio de Cooperação Técnica entre a Prefeitura do Município do Recife, e o Governo do Estado de Pernambuco através da CPRH. Este convênio tinha como objeto a cooperação técnica e institucional entres as partes assinantes com o objetivo de estabelecer procedimentos e formas de cooperação inerentes ao licenciamento ambiental, fiscalização e monitoramento das atividades de competência do município.

Vale ressaltar, conforme já abordado em itens anteriores que não há, tampouco existia, uma obrigatoriedade legal de celebrar este tipo de convênio para que os municípios possam realizar o licenciamento ambiental municipal, entretanto as assinaturas desses convênios se tornavam marcos para a gestão ambiental municipal que formalizavam politicamente cooperação técnica com o Estado para a descentralização do licenciamento ambiental. Conforme elencado no Quadro 3, quatorze municípios assinaram convênio de cooperação

técnica com o Estado desde então. Os convênios possuíam em média dois anos de validade. Quadro 4 - Municípios que celebraram Convênio de Cooperação Técnica com o Estado.

Município Data de assinatura do convênio

Recife Outubro de 2009

Petrolina Julho de 2010

Bonito Agosto de 2012

Serra Talhada Dezembro de 2013

Ipojuca Janeiro de 2014

Cabo de Santo Agostinho Janeiro de 2014 São José da Coroa Grande Fevereiro de 2014

Caruaru Março de 2014 Gravatá Julho de 2014 Paulista Setembro de 2014 Paranatama Março de 2015 Igarassu Março de 2015 Xexéu Março de 2015

Jaboatão dos Guararapes Março de 2015

Fonte: CPRH, 2017.

A partir de 2011, ano da edição da Lei Complementar nº 140 (BRASIL, 2011) o número de municípios pernambucanos que passaram a assumir sua competência para o licenciamento ambiental aumentou. Destacasse que o número de municípios que assinara o Convênio de Cooperação Técnica com a CPRH não condiz necessariamente ao número atual de municípios que realizam o licenciamento ambiental no Estado de Pernambuco.

Conforme já discutido nos itens anteriores a Lei Complementar reconheceu a competência municipal para o licenciamento ambiental de impacto local, mas deixou a definição de tipologias que se enquadrem como impacto local para serem definidas pelos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente através de resoluções posteriores considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. Até a presente data o Conselho Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco ainda não publicou tal Resolução.

Para Struchel (2016) esta atribuição conferida aos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente fere o pacto federativo e o princípio da autonomia municipal uma vez que não caberia ao Conselho de Meio Ambiente, órgão colegiado e vinculado ao poder executivo a definição de tipologias de impacto ambiental o que invadiria o exercício da competência ambiental municipal promovendo insegurança à atuação dos entes municipais. A autora citada chama atenção ainda para o fato de que muitas vezes os conselhos estaduais são presididos por cargos ligados ao Governo do Estado e geralmente são aparelhados e compostos por maioria de representantes dos governos o que afasta a isonomia e imparcialidade de suas decisões. Na mesma direção, Farias (2013) afirma que na prática a competência

administrativa municipal foi passada para os Estados que passam a decidir o quanto desejam centralizar ou descentralizar as atribuições de acordo com interesses políticos.

A trajetória da definição do impacto local em Pernambuco pelo Consema/PE, tem sido longa e conflituosa. Seu início ocorreu em 2015 a partir da instituição de um Grupo de Trabalho (GT) composto por representantes das seguintes entidades:

• Membros que integraram o GT desde sua constituição: CPRH; SEMAS; Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA/PE); Mesorregião do Agreste - Prefeitura Municipal de Santa Maria do Cambucá; Prefeitura da Cidade do Recife; Representante das Entidades Sindicais dos Trabalhadores Urbanos – Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Agricultura e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco (SINTAPE) Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (SEDEC/PE). • Membros que integraram o GT, mas saíram ao longo do processo: Mesorregião Zona

da Mata - Prefeitura Municipal de Tamandaré; Mesorregião da Região Metropolitana do Recife - Prefeitura da Cidade do Paulista e Universidade de Pernambuco. c) Membros Convidados: Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça em defesa do Meio Ambiente; Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA/PE); Mesorregião do Sertão - Prefeitura Municipal de Petrolina. A primeira reunião do referido GT ocorreu em 18/06/2015, após dois anos de trabalho, ao todo 23 reuniões, foi levada a plenária do CONSEMA/PE, em sua 50ª Reunião Extraordinária realizada no dia 01/09/2017, a primeira proposta da Resolução que não foi votada, uma vez que conselheiro pediram vistas para poderem decidir sobre tal proposta. Nesta ocasião ficou acordado que os interessados poderiam encaminhar sugestões para que o GT avaliasse a sua pertinência. Foram necessárias mais 7 reuniões do GT para análise das contribuições e em 14/12/17, última reunião do CONSEMA/PE em 2017, foi apresentado na plenária o texto da Resolução, Anexo 2, que foi aprovado, entretanto sem o Anexo que elenca as tipologias de impacto local. Na referida reunião não houve tempo hábil para apresentação e deliberação sobre o Anexo da Resolução uma vez que o mesmo é bastante extenso. A apresentação e deliberação do Anexo da Resolução ficaram programadas para a primeira reunião do Consema no ano de 2018, que ainda não tem data para ser realizada.

O principal conflito vivenciado na elaboração da Resolução que define o impacto local em Pernambuco, que como visto já se entende há mais de dois anos e envolveu 30 reuniões do GT, concentra-se na divergência de opiniões entre os parâmetros utilizados para a definição das tipologias de impacto local.

impacto local seja apenas a localização do empreendimento ou atividade. Deste modo, a localização das atividades ou empreendimentos nos limites municipais seria parâmetro suficiente para que os municípios possam licenciar independente da tipologia, porte e natureza das mesmas.

Os contrários a este posicionamento, em geral representantes do governo do Estado, alegam que o empreendimento ou atividade estar instalada em determinado município é necessário para que seja enquadrado como causador de impacto local, mas não é condição suficiente para tal enquadramento. Na mesma direção alegam que o porte do empreendimento deve ser levado em consideração uma vez que quanto maior a atividade ou empreendimento maior a probabilidade de que os impactos ultrapassem os limites municipais, sendo então competência Estadual. Tal argumento é bem fundamentado uma vez que o meio ambiente não encontrasse confinado nos limites municipais e os impactos advindos de tais tipologias extrapolam o território municipal. Provavelmente o melhor parâmetro a ser utilizado poderia ser a bacia hidrográfica ou até mesmo o bioma no qual a tipologia encontra-se situada.