• Nenhum resultado encontrado

Ao realizar este estágio no âmbito do Mestrado em Ciências do Mar-Recursos Marinhos foi possível desenvolver inúmeras competências, aperfeiçoar técnicas e alargar conhecimentos na área de Biologia e Ecologia Marinhas. Assim, em análise, creio que os objetivos traçados foram cumpridos com sucesso, nomeadamente:

1) Contactar com a realidade de trabalhar num aquário público

O estágio foi realizado no Oceanário de Lisboa, mais do que uma vez considerado o melhor aquário a nível mundial pelo site TripAdvisor, realizando as funções de aquarista. Isto permitiu não só ter a oportunidade de contactar com a realidade deste tipo de trabalho, mas também poder fazê-lo num contexto de elevada exigência e notoriedade. Foi assim possível aprender a realizar o trabalho de aquarista numa instituição com muito boas instalações, excelentes profissionais e altos padrões de qualidade, que beneficiaram muito a minha formação.

2) Adquirir conhecimentos de aquariologia e sistemas de suporte de vida (SSV)

Ao longo do estágio foi possível alargar significativamente os conhecimentos que possuía na área de aquariologia e SSVs, nomeadamente sobre as diversas componentes de um SSV, as suas diferenças, vantagens, e cuidados de utilizações particulares para cada sistema. Esses conhecimentos vieram complementar a minha formação em Ciências do Mar, solidificando os já adquiridos.

Durante este processo tive frequentemente de recorrer às fontes bibliográficas disponíveis, tendo-me apercebido ao contactar com os aquaristas que a literatura específica existente nesta área é relativamente escassa (destacando-se a obra do autor Martin Moe) mas, apesar disso, bastante completa.

Contudo, e apesar de neste estágio ter adquirido competências de aquariologia e SSVs, tenho consciência da importância de continuar a aprofundar os meus conhecimentos nesta área, que pretendo seguir profissionalmente.

3) Familiarização com o trabalho de aquarista e o seu papel no cuidado animal.

Este estágio de oito meses de duração permitiu a minha participação em três das principais áreas do ODL: Habitats, Galerias e Quarentena. Em cada uma delas a comunicação com os aquaristas foi essencial para adquirir conhecimentos teóricos e

78

práticos sobre aquariologia e sobre a atitude de um aquarista para cuidar dos animais que tem à sua responsabilidade.

Estou por isso muito grata pela diversidade de tarefas que me foi possível realizar, pois os sistemas existentes nas três áreas são bastantes diferentes entre si, bem como os cuidados a ter com os animais dos diferentes aquários, de diferentes espécies e em diferentes situações (será diferente se um animal está em exposição ou na Quarentena, por exemplo).

4) Ganhar conhecimento relativo a diferentes grupos de animais, nomeadamente invertebrados, peixes, aves e mamíferos.

Como o ODL possui um número impressionante de espécies na sua coleção, ao passar pelas áreas representativas dos vários oceanos tive o privilégio de contactar com muitas espécies diferentes. A familiarização com os SSVs, parâmetros de qualidade da água, alimentação e manutenção de cada aquário permitiram-me de facto aprender mais sobre os diferentes grupos de animais e as suas necessidades biológicas e ecológicas. Sinto por isso que a minha bagagem de conhecimentos relativa a animais marinhos foi largamente ampliada.

5) Entender como garantir e melhorar o bem-estar dos animais marinhos.

Através do contacto próximo com aquaristas dedicados aos animais, da pesquisa bibliográfica sobre bem-estar animal em aquários públicos e da elaboração dos casos de estudo que apresento na parte final deste relatório, foi possível aprender mais sobre este tema que sempre despertou o meu interesse, e que tem também suscitado curiosidade e preocupação por parte do público que frequenta zoos e aquários. Embora exista um grande número de estudos científicos sobre o bem-estar animal em cativeiro, estes referem-se normalmente a animais de zoo, sendo a bibliografia relativa ao bem-estar em aquários mais escassa, particularmente para alguns grupos de animais como os invertebrados, peixes, anfíbios e répteis. Paralelamente surgem as questões éticas sobre a manutenção de animais em cativeiro (mais exacerbadas quando se trata de animais de grande porte), questões éticas essas que sublinham ainda mais a importância de garantir o bem-estar dos animais que mantemos cativos. Para isso é necessário garantir uma gestão eficiente, apoiada em instalações e recursos adequados, operacionalizados por profissionais bem preparados.

79

Uma das formas mais simples para avaliar o bem-estar em aquários públicos é a observação do comportamento dos animais, um indicador não invasivo da condição em que estes se encontram, sendo possível detetar precocemente sinais de stresse ou doença, que poderão depois ser revertidos.

Como explanado neste relatório, existem múltiplas variáveis que influenciam o bem- estar dos animais, sendo a sua implementação dependente de vários fatores como determinações legais, diretrizes nacionais e internacionais, os recursos disponíveis e até a criatividade dos aquaristas. Mas estando garantidas as necessidades ambientais, fisiológicas e assegurados os devidos cuidados veterinários, é importante proporcionar aos animal um ambiente que assegure as também as suas necessidades sociais e forneça estímulos cognitivos adequados. Nesse contexto, o enriquecimento ambiental é uma ferramenta inestimável para melhorar a qualidade de vida dos animais e garantir o seu bem-estar duradouro.

CONCLUSÃO FINAL

Analisando globalmente este período de estágio concluo que tive uma experiência muito positiva e enriquecedora, tendo as minhas expetativas sido cumpridas, ou mesmo ultrapassadas.

A supervisão foi adequada e cuidada, dando-me a possibilidade de trabalhar com aquaristas muito experientes e disponíveis para contribuir para a minha formação multidisciplinar na área da aquariologia. Estou muito grata pela oportunidade e pelo contributo para o meu desenvolvimento profissional e pessoal, pois trabalhar em equipa é sempre uma oportunidade para desenvolver soft-skills, essenciais em todas as áreas profissionais.

Pelo exposto, sinto-me privilegiada por ter estagiado num aquário público premiado, que desempenha um papel tão importante na conservação e investigação na área da biologia e ecologia marinhas. Durante este estágio o trabalho de aquarista deixou de ser para mim uma utopia, estando agora muito consciente da responsabilidade que assume quem tem ao seu cuidado animais, aos quais tem o dever de proporcionar bem-estar.

80

REFERÊNCIAS

AITAG (2014). Giant Pacific Octopus (Enteroctopus dofleini) Care Manual. Association of Zoos and Aquariums, Silver Spring, MD.

Alba, A. C., Leighty, K. A., Pittman Courte, V. L., Grand, A. P., & Bettinger, T. L. (2017). A turtle cognition research demonstration enhances visitor engagement and keeper-animal relationships. Zoo Biology, 36(4), 243–249. doi:10.1002/zoo.21373

Boness, D. (1996). Water quality management in aquatic mammal exhibits. In D. Kleiman, K. Thompson & C. Baer (Eds.), Wild Mammals in Captivity: Principles and techniques (pp. 231–242). Chicago: University of Chicago Press.

Burghardt, G. M. (2013). Environmental enrichment and cognitive complexity in reptiles and amphibians: Concepts, review, and implications for captive populations. Applied Animal Behaviour Science, 147(3–4), 286–298. doi: 10.1016/j.applanim.2013.04.013.

Cole, J., & Fraser, D. (2018). Zoo animal welfare: The human dimension. Journal of Applied Animal Welfare Science, 21(1), 49-58. doi: 10.1080/10888705.2018.1513839

Corcoran, M. (2015). Environmental enrichment for aquatic animals. Veterinary Clinics of North America: Exotic Animal Practice, 18(2), 305–321. doi: 10.1016/j.cvex.2015.01.004

Correia, J. P. S., Maurício, F. D., Rosa, R. M., Marçal, T., Campino, N. S., Silva, L., & Morato, T. (2018). Capture, husbandry and long-term transport of pilotfish, Naucrates ductor (Linnaeus, 1758), by sea, land and air. Environmental Biology of Fishes, 101(6), 1039-1052. doi: 10.1007/s10641-018-0757-8

CTAG (2018). Seabirds (Alcidae) Care Manual. Silver Spring, MD: Association of Zoos and Aquariums.

Dawkins, M. S. (1988). Behavioural deprivation: A central problem in animal welfare. Applied Animal Behaviour Science, 20(3–4), 209–225. doi: 10.1016/0168- 1591(88)90047-0

81

Delbeek, J. C., & Sprung, J. (1994). The reef aquarium: A comprehensive guide to the identification and care of tropical marine invertebrates (1st ed). Coconut Grove, Fla: Ricordea Pub.

EAZA (2013). The Modern Zoo: Foundations for Management and Development (2nd ed). Amsterdam: EAZA Executive Office.

FAWC (1993). Second Report on Priorities for Research and Development in Farm Animal Welfare. London: DEFRA.

FAWC (2009). Farm Animal Welfare in Great Britain: Past, Present and Future. London: Farm Animal Welfare Council.

Fernandez, E. J., Tamborski, M. A., Pickens, S. R., & Timberlake, W. (2009). Animal– visitor interactions in the modern zoo: Conflicts and interventions. Applied Animal Behaviour Science, 120(1–2), 1–8. doi: 10.1016/j.applanim.2009.06.002

Fraser, D., Weary, D. M., Pajor, E. A., & Milligan, B. N. (1997). A scientific conception of animal welfare that reflects ethical concerns. Animal Welfare, 6, 187-205. Frediani, K. (2009). The ethical use of plants in zoos: Informing selection choices,

uses and management strategies. International Zoo Yearbook, 43(1), 29–52. doi: 10.1111/j.1748-1090.2008.00067.x.

Green, T.C. & Mellor, D. J. (2011). Extending ideas about animal welfare assessment to include 'quality of life' and related concepts. New Zealand Veterinary Journal, 59(6), 263-71. doi: 10.1080/00480169.2011.610283.

Greenway, E., Jones, K., & Cooke, G. (2016). Environmental Enrichment in Captive Juvenile Thornback Rays, Raja clavata (Linnaeus 1758). Applied Animal Behaviour Science, 182, 86-93. doi: 10.1016/j.applanim.2016.06.008.

Hofer, H. & East, M. (2012) Stress and immunosuppression as factors in the decline and extinction of wildlife populations: concepts, evidence, and challenges. In Aguirre, A., Ostfeld, R. & Daszak, P (Eds.), New Directions in Conservation Medicine: Applied Cases of Ecological Health (pp 82-107). Oxford: Oxford University Press.

Hoy, J. M., Murray, P. J., & Tribe, A. (2009). Thirty years later: Enrichment practices for captive mammals. Zoo Biology, 29(3), 303–316. doi: 10.1002/zoo.20254

82

Huntingford, F. A., Adams, C., Braithwaite, V. A., Kadri, S., Pottinger, T. G., Sandoe, P., & Turnbull, J. F. (2006). Current issues in fish welfare. Journal of Fish Biology, 68(2), 332–372. doi: 10.1111/j.0022-1112.2006.001046.x.

Kakaç, S., & Pramuanjaroenkij, A. (2012). Heat exchangers: Selection, rating, and thermal design (3rd ed). Boca Raton, FL: CRC Press.

Makecha, R. N., & Highfill, L. E. (2018). Environmental enrichment, marine mammals, and animal welfare: A brief review. Aquatic Mammals, 44(2), 221–230. doi: 10.1578/AM.44.2.2018.221

Maple, T., & Perdue, B. M. (2013) - Zoo animal welfare. Berlin: Springer.

Maslow, A. H. (1943). A theory of human motivation. Psychological Review, 50(4), 370–396. doi: 10.1037/h0054346

Mason, G., & Burn, C. (2011). Behavioural restriction. In M. Appleby, J. Mench, I. Olsson, & B. Hughes (Eds.), Animal Welfare (2nd ed., pp. 98–119). Wallingford: CABI Publishing.

Mason, G., Clubb, R., Latham, N., & Vickery, S. (2007). Why and how should we use environmental enrichment to tackle stereotypic behaviour? Applied Animal Behaviour Science, 102(3–4), 163–188. doi: 10.1016/j.applanim.2006.05.041 Maynard, L. (2018). Media framing of zoos and aquaria: From conservation to animal

rights. Environmental Communication, 12(2), 177–190. doi: 10.1080/17524032.2017.1310741

Mellor, D. (2016). Updating animal welfare thinking: Moving beyond the “five freedoms” towards “a life worth living.” Animals, 6(3), 21. doi: 10.3390/ani6030021

Mellor, D & Reid, C. (1994) Concepts of animal well-being and predicting the impact of procedures on experimental animals. In R. Baker, G. Jenkin & D. Mellor (Eds), Improving the Well-Being of Animals in the Research Environment. Glen Osmond: Australian and New Zealand Council for the Care of Animals in Research and Teaching.

MMTAG (2019). Sea Otter Care Manual. Association of Zoos and Aquariums, Silver Spring, MD.

83

Mohan, P. & Aiken, A. (2004). Water Quality and Life Support Systems for Large Elasmobranch Exhibits. In M. Smith, D. Warmolts, D. Thoney & R. Hueter (Eds.), The Elasmobranch Husbandry Manual: Captive Care of Sharks, Rays and their Relatives (pp. 69–88). Ohio: Ohio Biological Survey.

Moe, M. A. (2009). The Marine Aquarium Handbook: Beginner to Breeder (3rd ed). Plantation, Fla: Green Turtle Publications.

Moe, M. A. (1995). The Marine Aquarium Reference: Systems and Invertebrates (5th ed). Plantation, Fla: Green Turtle Publications.

Näslund, J., & Johnsson, J. I. (2016). Environmental enrichment for fish in captive environments: Effects of physical structures and substrates. Fish and Fisheries, 17(1), 1–30. doi: 10.1111/faf.12088.

OIE (2018). Terrestrial Animal Health Code. (27th Ed). Paris: World Organisation for Animal Health.

Powell, D., Wisner, M., & Rupp, J. (2004) Design and Construction of Exhibits for Elasmobranchs. In Smith, M., Warmolts, D., Thoney, D. & Hueter, R. (Eds), The Elasmobranch Husbandry Manual: Captive Care of Sharks, Rays and their Relatives (pp 53-67) Ohio: Ohio Biological Survey.

PTAG (2014). Penguin (Spheniscidae) Care Manual. Silver Spring, MD: Association of Zoos and Aquariums.

Rodrigues, N., Correia, J., Pinho, R., Graça, J., Rodrigues, F., & Hirofumi, M. (2013). Notes on the Husbandry and Long-Term Transportation of Bull Ray (Pteromylaeus bovinus) and Dolphinfish (Coryphaena hippurus and Coryphaena equiselis). Zoo Biology, 32(2), 222–229. doi: 10.1002/zoo.21048.

Rose, P. E., Nash, S. M., & Riley, L. M. (2017). To pace or not to pace? A review of what abnormal repetitive behavior tells us about zoo animal management. Journal of Veterinary Behavior, 20, 11-21. doi:10.1016/j.jveb.2017.02.007

Swaisgood, R. R., & Shepherdson, D. J. (2005). Scientific approaches to enrichment and stereotypies in zoo animals: What’s been done and where should we go next? Zoo Biology, 24(6), 499–518. doi: 10.1002/zoo.20066.

Tonkins, B. M., Tyers, A. M., & Cooke, G. M. (2015). Cuttlefish in captivity: An investigation into housing and husbandry for improving welfare. Applied Animal Behaviour Science, 168, 77–83. doi: 10.1016/j.applanim.2015.04.004.

84

WAZA (2015). Caring for Wildlife: The World Zoo and Aquarium Animal Welfare Strategy. Gland, Switzerland: WAZA Executive Office.

Webster, J. (2016). Animal welfare: Freedoms, dominions and “a life worth living.” Animals, 6(6), 35. doi: 10.3390/ani6060035.

Young, R. J. (2003). Environmental enrichment for captive animals. Oxford, UK: Blackwell Science Ltd.

85