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Não fica claro se o justificante é pai ou avô de Camilo Henrique, pois no decorrer do processo aparecem as

E, Cametá se apresentará ao Chefe Civil e Comandante Geral d’aquela Villa e mais adjacentes, e de assentarem em que ocasião é o propósito para fazer algum

35 Não fica claro se o justificante é pai ou avô de Camilo Henrique, pois no decorrer do processo aparecem as

Antonio de Sta. Brízida [?] Capitãoe Comandante desta Vila, Valendo-se da sua Autoridade vingou-se em mandar recrutado para 1ª Linha desta Província, o único filho do suplicante que lhe servia de amparo por nome Camillo Henrique, por ter o suplicante remetido a concubina do mencionado Brizida por nome Filizarda ao Coronel Comandante Mor Va [vila] da Vigia João Henrique de Mattos, que em viagem o tirou do poder do com doutor Sendo o dito suplicanteJuiz de Paz do 1º Distrito desta mesma Va [vila] e portanto sirva-se V.S. mandar que se admita a dita justificação e depôs de finda se lhe entregue apropria daqui (APEP, FDJ, Juízo de Paz, Autos de Justificação, Maracanã, 1840) [Grifos nosso].

No mesmo dia (15 de outubro de 1840) as testemunhas foram notificadas para depor nos autos, o que aconteceu no dia seguinte na casa de residência do juiz de paz. As testemunhas nesse processo são: Clemente Antonio Lisboa, homem branco, 26 anos, casado, natural da Vila de Cintra e na mesma residente, Tenente da 4ª Companhia Policial estacionada na dita Vila, vive de suas agencias; João da Fonceca Pereira, branco, 22 anos, casado, natural da Vila de Cintra, e na mesma residente, vive de suas agencias; e Manoel Raymundo da Piedade, branco, 20 anos, solteiro, natural da Vila da Vigia, e presentemente residente em Cintra, vive de suas agências. As três testemunhas concordam em seus depoimentos, afirmando que sabiam por ver que era verdade o que alegava o justificante João Antônio de Figueiredo.

No testemunho de Clemente Antonio Lisboa, quando lhe é perguntado sobre os itens da petição de João Antonio de Figueiredo, disse que sobre o primeiro item da justificação “sabia, por ter visto, que tudo que o justificante havia alegado era verdade”. Ao terceiro item, disse que “sabia por ver, que o que o justificante mencionava, neste item, era verdade”. Ao quarto disse que “sabia por ver, e presenciar que tudo quanto se acha mencionado neste item que era a inteira verdade”. E nada mais disse, assinando seu testemunho.

No testemunho de João da Fonseca Pereira, quando lhe é perguntado sobre os itens da petição de João Antonio de Figueiredo, disse que “ao primeiro que era verdade o que alegava neste item. Ao segundo, disse que “era mui bem certo o que mencionava neste item”. Ao terceiro item disse que “sabia de inteira verdade que o dito justificante nunca se incluiu no Partido dos Rebeldes nesta dita Villa e suas procissões, que em quanto relativamente a seus

filhos nada sabia por serem moradores no Distrito de Salinas” [Grifos nosso]. Ao quarto

item, disse que “sabia de ciência certa que tudo quanto o dito justificante alega tudo era Verdade, era verdade. E nada mais disse, assinando seu depoimento.

No testemunho de Manoel Raymundo da Piedade, quando lhe perguntado sobre os itens da petição de João Antonio de Figueiredo, disse que ao “Primeiro que sabia por ver que é verdade o que alega neste item”. Ao segundo disse que “também sabia por ver que era verdade o que menciona neste item”. Ao terceiro disse que “sabia por ter visto que também é

certo o que alega neste item”. Ao quarto disse que também “sabia de ciência física, que tudo o alegado neste item que era verdade”. E nada mais disse, assinando seu testemunho.

Além dos testemunhos, está incluído no processo um atestado de Jose Paulo da Costa, Vigário Interino da Freguesia de S. Miguel de Cintra, sobre a conduta de Camilo Henriques, filho [neto?] do justificante, feito em 13 de outubro de 1840. No atestado anexado ao processo, Jose Paulo da Costa, Presbítero Secular, Vigário Interino da Freguesia de S. Miguel de Cintra, atesta ao conhecimento de quem o documento chegar, que é verdade que Camilo Henriques, filho [neto?] de João Antonio de Figueiredo, todos seus Paroquianos, é inegavelmente o único encosto de seu avô [pai?], pois é quem o ajuda no trato da lavoura, nunca foi vadio ou imorigerado, antes, muito obediente à todas as autoridades constituídas, e se necessário for, faz juramento de Pároco para provar que diz a verdade.

Atesto aquém a verdadeiro conhecimento desta chegar em como é verdade que Camilo Henriques, neto de João Antonio de Figueiredo, todos meus Paroquianos é inegável que o mencionado moço é o único encosto de seu avó, pois que é quem o ajuda no trato [?] da lavoura, nunca foi vadio, imorigerado[?], antes muito obediente a todas as autoridades constituídas: É o que posso atestar, e afirmar se necessário for com juramento de Pároco [...] [Grifos nosso].

Também está anexado ao processo uma cópia do ofício do Comandante Militar João Henrique de Mattos, enviado em 02 de outubro de 1840, em resposta ao ofício do justificante enviado em julho do mesmo ano, sobre a remessa de umas mulheres prostitutas que existia na Vila.

Neste caso, João Antônio de Figueiredo tenta provar que além dele, seu filho [neto?] também não possuía nenhum envolvimento com os cabanos, e que tudo não passava de uma perseguição de cunho pessoal, pelo fato do justificante ter denunciado às autoridades superiores, que o capitão da vila tinha uma prostituta como concubina. E para se vingar, o dito capitão usou da sua autoridade e retirou-lhe o poder de juiz de Paz da vila, além de recrutar para o Corpo Policial seu neto [filho?] e único amparo de sua velhice. O objetivo do justificante é provar que foi vítima de abuso de autoridade e perseguição pessoal por parte do Capitão e comandante da Vila de Cintra Cezario Antonio de Sta. Brízida e que seu neto [filho?] não podia ser recrutado, uma vez que, o justificante acha-se avançado em idade e só tinha esse neto [filho?] como amparo para cuidar da sua velhice e do trabalho da lavoura.

No caso mencionado acima, temos a reclamação de um ex-Juiz de Paz, retirado do seu cargo pelo Capitão e comandante da Vila. Sua reclamação baseia-se no argumento de que o dito capitão estava usando de sua autoridade para prejudicá-lo, não apenas destituindo-o do

cargo que possuía (juiz de paz), mas principalmente, retirando o único amparo que possuía na velhice.

O que podemos subtrair deste caso é a indignação de João Antônio de Figueiredo quando o Capitão da vila de Cintra Cezario Antonio de Sta. Brízida, acusou o justificante e seu neto [filho?] de terem se unido aos cabanos, e se utilizando desta alegação, recrutou para a Guarda Policial seu único filho [neto?]. Contudo, sendo Camilo Henrique o único amparo de seu avô [pai?], este não poderia ser recrutado. Neste caso, o que podemos observar é um recrutamento indevido ou mesmo ilegal, uma vez que, não poderia separar da família filhos únicos, e é supostamente isso que o justificante quer provar, que o recrutamento do seu neto [filho?] não apenas foi ilegal como também foi uma forma de vingança contra ele, por ter denunciado o dito Capitão da vila de Cintra para o Comandante Militar Mor da vila da Vigia, e como o Capitão não podia recrutar o justificante, pois era avançado em idade, retirou-lhe seu único filho [neto?] que era quem o ajudava nos trabalhos da lavoura.

O que podemos também observar neste caso é a possibilidade de interpretação da lei como poder adquirido. Ou seja, o comandante militar acreditou ter recebido através da lei a autoridade necessária para justificar suas ações. Pois, a lei transformava os comandantes militares em representantes legais de vilas e freguesias com todos os demais moradores sujeitos aos seus comandos. Neste contexto, as ações desse comandante militar podem ser entendidas a partir da interpretação que ele faz da lei e como ela está relacionada com sua experiência social. Ou seja, como ele pode ter se utilizado da lei para defender seus interesses pessoais.

Da mesma forma, o denunciante também pode ter se apropriado da noção de lei para justificar sua noção de justiça, pois sua ação de denunciar abusos de poder praticados pelo comandante de sua vila pode significar uma tentativa de resgate da autoridade retirada dele pelo dito comandante.

A autoridade que possuíam os comandantes militares foi dada pelo próprio Andrea, quando assumiu a presidência da província do Pará, retirando alguns oficiais do Exército para comandar os maiores distritos da província. A atitude tomada por Andrea deveu-se ao fato dele acreditar que as atribuições dadas aos juízes de Paz eram imensas, e estes últimos “faziam da província uma espécie de agregado de pequeninos Estados” sem dependência uma das outras” ou mesmo do Governo, “quase independentes de qualquer outra autoridade”36.

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