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Níveis da gestão: estratégias de descentralização

A NOB 2005 regula o Sistema Único de Assistência Social, pressupondo o

compartilhamento, o co-financiamento, alicerçando-se na cooperação técnica entre

os três níveis de governo.

A gestão descentralizada visa a produzir relações sintonizadas entre União, estados, municípios e DF para concretização do pacto federativo na dinamização do sistema. Essas instâncias governamentais se estruturaram para realizar uma gestão hierarquizada, fortalecendo o município, ente próximo do cidadão, com possibilidades de produzir respostas mais rápidas de proteção social. Contraditoriamente, porém, essa proximidade, também, é capaz de alimentar relações de dependência, conduzidas historicamente pelo clientelismo político, em que o favor e a benesse se constituem moedas de barganha e troca. Não se pode, pois, afirmar que, ao se colocar serviços na proximidade dos cidadãos, necessariamente, se obtenham ganhos sociais e políticos almejados. É verdade que o processo de luta política, trabalhado coletivamente, pode tornar a população mais exigente no sentido de reclamar e exigir direitos, superando a idéia da dádiva que ainda hoje permeia a assistência social.

a) Gestão da União

Atendendo às conformações do pacto federativo, a União tem a incumbência de coordenar, formular e implementar a PNAS/SUAS devendo observar as deliberações das conferências nacionais e do Conselho Nacional de Assistência Social. As atribuições do órgão gestor nacional previstas na NOB (2005) envolve a regulação e coordenação dos benefícios da prestação continuada, dos pisos de proteção social básica e especial; a orientação, a regulação e o gerenciamento do financiamento da assistência; a articulação com as políticas econômicas e setoriais; o apoio aos estados e municípios na implantação de programas e projetos de proteção social básica e especial; a proposição das diretrizes para prestação de serviços, inclusive da relação entre o público e o privado; formulação da política de recursos humanos 65, além do desenvolvimento de estudos e pesquisas que visem a

65 Discutiu-se no ano de 2006 a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos, mobilizando

aperfeiçoar o trabalho; propõe o desenvolvimento do sistema de informação para uso mais ágil do planejamento, do controle e da avaliação da política no País.

b) Gestão dos estados

Compete aos estados realizar a coordenação, organização e monitoramento

do sistema estadual de assistência social; apoiar tecnicamente os municípios na

estruturação e implantação dos sistemas municipais de assistência social; proceder à coordenação da revisão do BPC no Estado; oferecer condições, para estruturação da CIB; co-financiar a proteção social básica; definir uma política de monitoramento, avaliação, capacitação e informação; apoiar tecnicamente a implantação dos CRAS; gerir recursos federais e estaduais para os municípios não habilitados; alimentar e manter atualizadas as informações da Rede SUAS; promover a implantação e co- financiamento de consórcios públicos para proteção especial de média e alta complexidade pactuada na CIB e deliberada no CEAS; definir os municípios para construção das unidades de referência regional; realizar a política de recursos humanos de forma gradual; propor e co-financiar projetos de inclusão produtiva, de capacitação dos gestores, profissionais e conselheiros; participar do Plano de Ação no sistema SUAS-WEB66 e apresentar relatórios da gestão (BRASIL, MDS, NOB/SUAS, 2005).

O FNAS repassa recursos para construção e implantação de unidades de referência regional de média e alta complexidade, para projetos de inclusão produtiva de abrangência regional e capacitação dos gestores, conselheiros e prestadores de serviços; oferece apoio técnico para desenvolvimento da gestão (campanhas, aquisição de material informativo, computadores e desenvolvimento de sistemas), para ampliar o Sistema Estadual de Assistência Social e instalar o Sistema de Informação, Monitoramento e Avaliação.

c) Gestão Municipal

A gestão municipal descentralizada envolve três graus da gestão: inicial, básica e plena.

66 SUAS-WEB é uma ferramenta informatizada utilizada pelo MDS para operacionalizar as

transferências de recursos federais para estados e municípios “on-line”. O uso do SUAS-WEB permite que o Poder municipal acesse seus planos de ação, cadastre seus programas e se capacite a receber os repasses automáticos, sem burocracia. <www.mds.gov.br>

• A gestão inicial é prerrogativa dos municípios que não se habilitaram à gestão básica e plena, por isso permanecem recebendo recursos do FNAS oriundos da série histórica67 transformados em piso básico de transição e piso básico de média e de alta complexidade I68. A partir desse nível da gestão e nos demais, o município deve possuir Plano, Conselho e Fundo Municipal de Assistência Social, porquanto as alocações da proteção social básica serão repassadas do FNAS para o FMAS; compete, também, a essa gestão, alimentar e manter atualizadas as bases de dados dos subsistemas e aplicativos da Rede SUAS; elaborar o Cadastro Único das Famílias de acordo com os critérios da Bolsa-Família; preencher as exigências do Sistema SUAS/WEB e o relatório de gestão. Essa gestão recebe recursos para o PETI, o combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, enquadrando-se na modalidade de piso básico de transição, de média e alta complexidade I. A prioridade, porém, é a atenção especial realizada na proteção social básica efetivada nos CRAS. Até o final de 2006, estavam funcionando no País 2.200 CRAS, com uma previsão de aumento de um CRAS para mais 1004 municípios (BRASIL, MDS, 2006).

• Na gestão básica, o município assume a proteção social básica da

assistência social, cabendo ao gestor a responsabilidade de sua organização local,

devendo assumir a prevenção de situações de risco por meio do desenvolvimento das potencialidades e aquisições; alocar recursos próprios orçamentários no FMAS e criar a unidade orçamentária das ações de proteção social básica; estruturar os CRAS, dotando-os de estrutura física e equipe de profissionais etc. O município alimenta e mantém atualizadas as bases de dados dos subsistemas e aplicativos da Rede SUAS (sistema de informação) e o cadastro único das famílias em vulnerabilidade social e risco (critérios do Programa Bolsa-Família); participa da gestão do BPC, integrando-o à Política de Assistência Social; institui o plano de monitoramento e avaliação das ações de proteção social própria e da rede prestadora de serviços, articulado com o sistema estadual e federal, integrando-se à rede SUAS-WEB; elabora o relatório da gestão.

67 Recursos da série histórica dizem respeito àqueles que os municípios faziam jus por meio dos

convênios com a ex-LBA destinados a idosos, crianças, adolescentes, deficientes, constituindo-se em ações continuadas.

No repasse de recursos financeiros, os municípios passam a receber o piso básico fixo e o piso básico de transição, dotações para erradicação do trabalho infantil e combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes; os recursos da série histórica são transformados em piso de transição de média complexidade e de alta complexidade l.

O órgão gestor municipal é o propulsor de programas, projetos e serviços socioassistenciais de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, de promoção dos beneficiários do BPC e dos programas de transferência de renda, assumindo a vigilância quanto aos direitos violados no território. Existem, hoje, no País 3.632 municípios em gestão básica, constituindo 65,3% do total de municípios (BRASIL, MDS/CIT, 2006).

• Na gestão plena, o município está habilitado a desenvolver todas as ações de proteção social básica e proteção social especial l e ll, sejam elas financiadas pelo Fundo Nacional de Assistência Social, por meio do repasse fundo a fundo, ou, ainda, as que sejam provenientes de isenção de tributos, em razão do Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social (BRASIL, MDS/NOB, 2005).

Para alcançar a gestão plena, o município aloca recursos próprios orçamentários no FMAS, cumprindo, assim, o co-financiamento para ações de proteção social básica e especial; estrutura a secretaria executiva do CMAS com profissional de nível superior, apresenta o plano de inserção de acompanhamento aos usuários do BPC e o diagnóstico das áreas de vulnerabilidade e risco a partir de pesquisas; estabelece pactos de resultados, instala e coordena o sistema municipal de monitoramento e avaliação das ações da assistência social por nível de proteção; mantém na coordenação do FMAS funcionário ou servidor da Secretaria Municipal de Assistência Social ou congênere; elabora e executa a política de recursos humanos.

Com a gestão plena, cabe ao município identificar e reconhecer as entidades inscritas no CMAS para vinculá-las ao SUAS; ampliar o atendimento especializado por meio dos CREAS; alimentar e manter atualizados os dados para o sistema de informação da REDE SUAS; implantar e alimentar o cadastro único das famílias vulneráveis; participar da gestão do BPC; executar programas e projetos de inclusão produtiva; instituir o sistema de monitoramento e avaliação da assistência social;

preencher o plano de ação estabelecido pelo SUAS-WEB; apresentar relatório da gestão (prestação de contas); promover a capacitação dos gestores, conselheiros e prestadores de serviços que devem ser previstos no Plano Municipal de Assistência Social; prestar os serviços de proteção social básica e especial no local, ou ofertados de forma regionalizada e co-financiado e formar pactos de resultados com a rede prestadora de serviços, mediante indicadores sociais, previamente, estabelecidos para os serviços de proteção social.

Os municípios em gestão plena recebem incentivos advindos da União, tais como recursos para Erradicação do Trabalho Infantil, Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; recursos repassados mediante a série histórica na alta e média complexidade, agora transformados em Piso de Transição da Média e Alta Complexidade l. O município deve, necessariamente, participar com recursos próprios para programas e projetos que visem à inclusão produtiva; proceder à habilitação de pessoas idosas e deficientes (avalia socialmente esses segmentos para processar o requerimento do beneficio junto ao INSS); ajustar com a União as ações relativas à revisão do BPC e participar da capacitação de gestores, conselheiros, profissionais da rede socioassistencial promovidos pelo estado e União. A gestão plena no Brasil é alcançada, apenas, por 346 municípios, com um índice de 6,2% do total69 (BRASIL, MDS/CIT, 2006).

Ressaltamos, assim, a hierarquização e as definições de competências da gestão do sistema descentralizado, que se inscreve na lógica do Pacto Federativo Brasileiro, exigindo que União, estados, municípios e DF se organizem segundo critérios compartilhados, não dispensando a sociedade como partícipe do processo. Esta evidencia a instituição da Política de Assistência Social como política de Estado.

69 Do total de 5.563 municípios, 354 ainda são “não habilitados”, segundo a NOB 95, significando uma

não-organização segundo o sistema, mantendo-se nos mesmos moldes anteriores de funcionamento (informações obtidas no site da CIT em dezembro de 2006).

3.7 Instâncias de pactuação, deliberação e articulação da Política