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O poder deliberativo dos conselhos e das conferências

3.7 Instâncias de pactuação, deliberação e articulação da política de

3.7.1 O poder deliberativo dos conselhos e das conferências

Instituídos desde a LOAS (1993), os conselhos são órgãos de deliberação da Política de Assistência Social e têm caráter permanente70. Fazem parte da estrutura de gestão nas esferas de governo e são nomeados: a nível nacional (CNAS), estadual (CEAS), Distrital (CASDF) e municipal (CMAS), devendo receber apoio material, técnico e financeiro das respectivas secretarias onde estão situados. Em sua estrutura organizacional, os conselhos resguardam a paridade da representação entre governo e sociedade civil; em relação à primeira representação, os membros são indicações governamentais, incluindo 01 (um) representante do estado e 01 (um) dos municípios, enquanto, na segunda, seus membros são escolhidos pela sociedade civil com representações de usuários, entidades e organizações prestadoras de serviços socioassistenciais e segmentos profissionais que trabalham no setor, preservando a participação da sociedade nas decisões da política. Os conselhos alicerçam suas ações em regimento interno, zelando para o cumprimento da PNAS em todo o Território nacional.

Como o Conselho Nacional já foi tratado, anteriormente, deter-nos-emos sobre os conselhos estaduais e municipais.

O Conselho Estadual de Assistência Social (CEAS) tem a prerrogativa de acompanhar, controlar e deliberar acerca da política estadual, em consonância com a PNAS e as diretrizes emanadas das Conferências de Assistência Social; do Plano Estadual de Assistência Social e suas adequações; do Plano de Capacitação de Recursos Humanos; da proposta orçamentária das ações financiadas e alocadas no Fundo Estadual de Assistência Social (FEAS); dos critérios de partilha e de transferência de recursos estaduais destinados aos municípios; do Plano de aplicação do FEAS, acompanhando, inclusive, a execução orçamentária e financeira dos recursos; e o relatório da gestão. Além disso, o CEAS tem a incumbência de acompanhar e controlar a política, atuar como órgão de recurso dos CMAS e CIB, garantir padrões de qualidade da rede socioassistencial do Estado e agir no sentido de cancelar registros de organizações e entidades que descumprirem a aplicação de recursos.

70 Por caráter permanente, entende-se que os conselhos são órgãos que funcionam sem interrupção,

não podendo ser extintos por medida governamental ou unilateral de nenhuma instância; somente por aprovação em lei, é possível extinguir-se um conselho dessa natureza.

Os CMAS têm suas competências definidas na LOAS e na NOB / SUAS, devendo aprovar: o Plano Municipal se Assistência Social, a proposta orçamentária dos recursos das ações assistenciais alocadas no FMAS e o plano de aplicação do FMAS; acompanhar a execução orçamentária e financeira e controlar a implementação da política municipal, o alcance dos resultados e pactos estabelecidos com a rede de assistência social prestadora de serviços; inscrever e

fiscalizar as organizações e entidades no âmbito do município; regular a prestação

dos serviços no âmbito municipal, tendo como parâmetros as normas emanadas do CNAS e as diretrizes da Conferência Municipal de Assistência Social; propor cancelamento de registro de entidades que descumprem os princípios da LOAS ou que firam as regras de aplicação de recursos.

Os CMAS empenham-se na otimização do funcionamento do Sistema Descentralizado da Assistência Social para garantia da proteção social no espaço sócio-histórico local, onde as necessidades humanas são mais visíveis e se efetivem a segurança, a proteção e a autonomia dos cidadãos.

Cabe aqui corroborar a importância desses órgãos junto à sociedade:

O engajamento dos Conselhos no processo de formulação, fiscalização e controle da política assistencial pode e deve ir além de uma participação meramente formal, já que a LOAS atribui mais poder de decisão a estes órgãos colegiados (Conselhos) do que ao Poder Executivo em si mesmo [...] os conselhos possuem a prerrogativa de intervir nas proposições governamentais, e de aprovar, ou não, a proposta governamental (BOSCHETTI, 2003a, p. 148).

Os conselhos são identificados como espaços públicos de elaboração político-democrática, de reivindicação de direitos, compartilhamento de idéias e aspirações, negociações e confrontos, com possibilidades de fazer face às medidas constrangedoras impostas ao País pelos governos apoiados no ideário neoliberal que inflige medidas restritivas às políticas públicas.

Os caminhos de formação dessa esfera comum são estabelecidos pelo discurso e pelas ações dos sujeitos sociais que estabelecem uma interlocução pública e deliberam, coletivamente, sobre o destino do coletivo dos sujeitos. A base dessa esfera pública é o reconhecimento do direito de todos à participação (RAICHELIS, 1998).

As conferências, instâncias de deliberação da Política de Assistência Social, têm como papel fundamental avaliar a política nos três níveis de governo, o que

possibilita o desnudamento das distorções, das dificuldades que se apresentam para os órgãos competentes na execução das ações socioassistenciais. As conferências são espaços políticos democráticos e, como tais, abrigam grupos de interesses diversos que podem interagir, organizadamente ou não, com outros protagonistas, como delegados, convidados e participantes, propondo diretrizes e influenciando decisões. Neles, os sujeitos emergem para o debate, a discussão para, então, decidir e deliberar pelo voto. Esses espaços públicos de organização política oferecem possibilidades de transparência e de fortalecimento das idéias do conjunto da assistência. Esses fóruns privilegiados devem articular propostas que possam contribuir para reaver a cidadania dos indivíduos e famílias que se encontram à margem ou excluídos de uma vida digna. A assistência social já realizou cinco conferências nacionais, com participação de professores, observadores, convidados e delegados, eleitos a partir dos municípios, obedecendo, também, a diretriz da descentralização71.

3.7.2 Instâncias de articulação: possibilidades de ampliação democrática

na Política de Assistência Social

Ao longo desses anos de lutas pela democratização da Política de Assistência Social, surgiram vários fóruns articuladores da política. Eles marcam presença e garantem espaços de participação em comissões, eventos, conselhos e reuniões. A seguir relacionamos alguns deles:

• FONSEAS - Fórum Nacional de Secretários de Estado da Assistência Social. Reúne os secretários estaduais de assistência social, visando a discutir, negociar e pactuar ações, propondo-se a avaliar e acelerar o processo de descentralização e participação na política; objetiva a eficiência das ações assistenciais para evitar a fragmentação e a dispersão; contribui para consolidar a política nos estados. Esse fórum participa da formulação da política, garante espaços em outras instâncias, como

71 A I Conferência foi realizada em 1995 com o tema a “Assistência Social Direito do Cidadão, Dever

do Estado”; a II em 1997, o “Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Social: Construindo a Inclusão, Universalizando Direitos”; a III em 2001 denominada “Política de Assistência: Uma Política de Avanços e Desafios”; a IV realizada em 2003, teve como tema “A Assistência como Política de Inclusão: Uma nova agenda para a cidadania – 10 anos LOAS”; a V Conferência ocorreu em 2006 foi nomeada “Plano 10 – Estratégia e Metas para implementação da Política Nacional de Assistência Social”. No ano de 2007, ocorrerá a VI Conferência Nacional, com o tema “A Efetivação do Plano Decenal de Assistência Social”.

conselhos e fóruns de outras políticas sociais, e participam das comissões CIT e CIB.72

• CONGEMAS73 - Colegiado Nacional de Gestores da Assistência Social.

Compreende os gestores municipais para defender a assistência social como política de seguridade social; desempenha papel importante na garantia da municipalização da assistência; à semelhança do FONSEAS, participa da formulação da política, dos planos, programas e projetos; busca coletar dados, sistematizá-los para divulgar junto aos gestores municipais, tendo como funções consolidar e informar aos gestores municipais acerca da política e colaborar na formação dos gestores.

• Fórum Nacional de Assistência Social. Fundado em agosto de 1999, em reunião ampliada do CNAS em Salvador. Entre seus objetivos, o fórum visa a contribuir para consolidar a política de assistência, articulando a sociedade civil no exercício do controle social; para isso, formula estratégias e opções, apresentando propostas que contribuam para sedimentar e fortalecer a assistência social como política de seguridade social74.

Existem outros fóruns estaduais e municipais de assistência social no País que funcionam com objetivos semelhantes, como, por exemplo, o Fórum Estadual de Assistência Social (FOEAS – Ceará), criado em março de 1996, e que, no exercício de suas atribuições, busca a consolidação da política no âmbito do Estado, colaborando na formação técnica e política dos conselheiros.

É importante assinalar que o Fórum Nacional de Assistência Social, bem como o FOEAS-CE, surgiram na década de 1990, período em que, como vimos em capítulo anterior, a Política de Assistência Social ainda não havia se consolidado, até mesmo pelo seu não-reconhecimento pleno pelo Poder Executivo. Naquele contexto, estava evidente o propósito do governo de privatizar empresas e políticas

72 Consulta feita à página do FONSEAS na internet, onde é possível verificar a organização e a forma

de trabalho (www.setras.ba.gov.br).

73 O FONSEAS - Fórum Nacional de Secretários de Assistência Social é uma instância de articulação

da Política de Assistência Social das secretarias ou congêneres; CONGEMAS é uma associação civil, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, representativa dos municípios brasileiros, que tem, entre outras finalidades, assegurar a perspectiva municipalista da assistência social. Esses fóruns têm importante papel no processo de descentralização e da participação social, pois são capazes de articular, discutir, pactuar no seu âmbito de ação.

74 O Fórum Nacional de Assistência Social possui uma carta de princípios desde 1999, na qual

expressa seus objetivos e lutas. É possível acessar a página via internet; <www.forumnacional.ezhostring.com.br>

estatais, numa avassaladora devastação da ‘coisa pública’ e aberta aliança com o receituário neoliberal.

A contribuição maior desses fóruns é a de aglutinar instituições da sociedade civil para afiançar as conquistas no campo público da assistência social, desempenhando, portanto, papel importante na defesa da política.

Essas considerações acerca das instâncias de deliberação, pactuação e articulação apontam o avanço democrático da Política de Assistência Social. Faz-se necessário não esquecer o papel do Estado, cujo dever primordial é implementar medidas de proteção social para aqueles que não têm como prover sua existência, e/ou que demandem serviços e benefícios para o seu bem-estar. Cabe, pois ao Estado assumir seu dever público junto à sociedade, enquanto aos órgãos mencionados reivindicar, pressionar e vigiar as ações na dimensão do direito.

A garantia da assistência social, porém, como prevista no sistema descentralizado e participativo, só se efetiva se contar com recursos financeiros próprios e suficientes para desenvolver as ações socioassistenciais, previstas nos instrumentos legais que lhe dão sustentação, e que, juntamente com a gestão e o controle social, constituem eixos estruturantes do sistema descentralizado da assistência social. Assim, é preciso articular a descentralização política, administrativa e financeira para que ocorra a assistência social pública.