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Capítulo II – Mercado de trabalho e pobreza

2.3. Movimentos do mercado de trabalho brasileiro entre 1992 e

2.3.1 Nível de emprego

O nível de emprego de uma economia é determinado por um conjunto de fatores relacionados à oferta e demanda por trabalho. Do lado da oferta, as questões demográficas agem sobre o nível de emprego, uma vez que quanto maior a população, especialmente a População Economicamente Ativa – PEA, maior será a oferta de mão de obra. Nesse sentido, a População em Idade Ativa – PIA, indica o potencial crescimento da PEA. Assim, é necessário analisar a dinâmica de cada uma dessas variáveis – PIA e PEA – e como se relacionam entre si por meio da taxa de participação, com o objetivo de dimensionar os movimentos da oferta de mão de obra.

A ampliação da População em Idade Ativa – PIA, é um dos fatores que tende a determinar, principalmente a médio e longo prazos, a dimensão da População Economicamente Ativa – PEA. A população brasileira segue crescendo em termos absolutos e esse aumento inclui as pessoas com idade entre 15 e 64 anos. No entanto, esses dois movimentos têm ocorrido a taxas decrescentes. No Brasil, a queda continuada dos níveis de fecundidade e o aumento da esperança de vida têm, conjuntamente, determinado a redução da população de crianças e jovens e o consequente aumento da população nas faixas etárias superiores.

Gráfico 30: Estrutura Etária da População Residente, segundo Gênero - 1992; 2008; 2014

Fonte: PNAD – 1992; 2002; 2014.

* Elaboração: SPS/MPS.

Obs.: Exclusive áreas rurais da Região Norte, salvo de Tocantins.

Houve um estreitamento da base e um alargamento do topo da pirâmide etária brasileira Pode-se dizer, portanto, que o ritmo de crescimento da PIA já começa a moderar a possibilidade de expansão da oferta de trabalho brasileira.

Nos gráficos 31 e 32 é possível observar que na primeira metade da série a PIA e a PEA cresciam a taxas bastante próximas. Na segunda metade da série, entre 2002 e 2009, a PIA cresceu em média 1,7%, contra um crescimento médio de 2,2% da PEA. Entre 2011 e 2014 a última tendência se mantém, com a PIA crescendo 1,2% e a PEA aumentando 1,6%. Mas cumpre ressaltar que a dianteira da PEA se deve basicamente ao último ano da série, quando esta variável, notadamente sua parcela desocupada, cresce expressivamente. Enquanto o nível de emprego cresceu 2,4%, a população desocupada aumentou em 9,7%. De qualquer maneira, percebe-se que a taxa de crescimento da PEA é maior o que da PIA, indicando algum grau de limitação para expansão da oferta de trabalho, principalmente no período 2002 a 2014.

Já em relação aos movimentos dos grupos internos da PEA, há uma expansão de desocupados de 1992 até 2005, quando ela começa a diminuir de maneira quase contínua até 2014, com exceção do ano de 2009 que captou os efeitos da crise financeira iniciada em 2008. No que tange ao grupo dos ocupados, verificou-se uma expansão tanto de trabalhadores formais como de informais. Mas há que se destacar que no primeiro período, de 1992 a 2002, o crescimento da participação destas duas classificações de trabalhadores foi praticamente paralelo. Já em 2003, o crescimento dos trabalhadores formais começa a se dar em ritmo

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0%

Ho men s - 1992 Mulheres - 1992 Homens - 2002 Mulh eres - 2002 Homens - 2014 Mulheres - 2014 0 - 4 5 - 9 10 - 14 15 - 19 20 - 24 25 - 29 30 - 34 35 - 39 40 - 44 45 - 49 50 - 54 55 - 59 60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79 80 o u +

maior do que o crescimento dos trabalhadores informais, indicando um movimento de reestruturação do mercado de trabalho a partir daquele ano.

Gráficos 31 e 32: Evolução Absoluta da PIA, PEA, População Ocupada, População Ocupada Formal, População Ocupada Informal e População Desempregada (Em

milhões) e Base 100 = 1992 (Em %) – 1992 a 2014

Fonte: PNAD/IBGE – Vários anos; Elaboração própria. * Exclusive áreas rurais da Região Norte (salvo Tocantins).

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 PIA 89,0 90,6 94,6 97,2 98,8 101,2 105,6 112,7 114,9 117,4 119,3 121,4 123,4 125,4 127,4 129,4 133,1 134,5 136,3 138,0 PEA 63,9 65,0 68,2 68,0 70,0 71,7 75,7 80,1 82,9 84,7 87,0 89,8 90,9 92,2 93,9 95,7 95,5 96,4 97,3 100,2 Nível de Emprego 59,7 60,9 64,0 63,3 64,5 65,1 68,2 72,4 75,1 76,3 79,0 81,1 82,9 84,4 87,0 87,5 88,9 90,2 90,8 93,0 Formais 23,9 24,0 25,0 25,1 25,3 25,4 26,1 28,9 29,8 30,9 32,7 34,0 35,6 37,6 39,9 40,9 45,0 46,2 47,1 47,5 Informais 35,9 37,0 39,0 38,2 39,2 39,7 42,1 43,5 45,3 45,4 46,3 47,2 47,3 46,8 47,1 46,6 43,9 44,0 43,7 45,5 Desocupados 4,2 4,0 4,2 4,7 5,5 6,5 7,5 7,7 7,8 8,5 8,1 8,7 7,9 7,7 6,9 8,2 6,6 6,2 6,5 7,2 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 160,0 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 PIA 100% 102% 106% 109% 111% 114% 119% 127% 129% 132% 134% 137% 139% 141% 143% 145% 150% 151% 153% 155% PEA 100% 102% 107% 106% 109% 112% 118% 125% 130% 133% 136% 140% 142% 144% 147% 150% 149% 151% 152% 157% Nível de Emprego 100% 102% 107% 106% 108% 109% 114% 121% 126% 128% 132% 136% 139% 141% 146% 146% 149% 151% 152% 156% Formais 100% 100% 105% 105% 106% 107% 110% 121% 125% 130% 137% 142% 149% 158% 167% 171% 189% 194% 198% 199% Informais 100% 103% 109% 106% 109% 111% 117% 121% 126% 126% 129% 131% 132% 131% 131% 130% 122% 123% 122% 127% Desocupados 100% 95% 99% 112% 130% 155% 177% 182% 184% 200% 191% 205% 188% 183% 164% 194% 157% 146% 155% 170% 0% 50% 100% 150% 200% 250%

A taxa de desemprego assumiu tendência de alta nos anos 1990, com pico em 1999, indicando um progressivo desaquecimento da economia ao longo do período imediatamente pós-Real. Há relativo consenso de que essa deterioração dos indicadores do mercado de trabalho – combinação de aumento da desocupação e elevação da informalidade – resultou principalmente do baixo crescimento do PIB, influenciado por políticas fiscais restritivas adotadas no período e da então recente e desregulada abertura comercial e financeira vivenciada pelo país, que, como foi dito anteriormente, provocou uma reestruturação produtiva passiva, buscando reduzir os custos do trabalho por meio da flexibilização e desregulamentação das relações de trabalho.

Esse cenário, envolveu também a adoção, em meados dos anos 90, da âncora cambial que levou a sobrevalorização do Real com consequência para empresas nacionais no mercado interno em razão da competição com produtos importados, e no mercado externo, com a redução da competitividade dos preços dos produtos exportados pelo país. Esses fatores influenciaram a taxa de desemprego porque, além das empresas que adotaram estratégias defensivas por meio da precarização do vínculo de emprego, outras empresas simplesmente eliminaram postos de trabalho, seja em razão de uma racionalização do processo produtivo, seja em razão do fechamento da empresa. De fato, o cenário de competição sob a influência do câmbio sobrevalorizado resultou na eliminação de elos das cadeias produtivas (BALTAR, 2015).

Gráfico 33: Taxa de Desemprego entre da PEA com idade entre 15 e 64 anos, segundo Grandes Regiões Geográficas – 1992 a 2014

Fonte: PNAD/IBGE 1992-2014; Elaboração própria.

Obs.: Exclusive áreas rurais da Região Norte, salvo de Tocantins.

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Norte 8,0% 8,7% 8,5% 7,7% 9,9% 9,9% 11,5 9,8% 10,1 10,7 8,9% 9,8% 8,3% 9,1% 7,8% 9,9% 8,4% 7,7% 8,8% 8,8% Nordeste 6,5% 6,5% 5,6% 6,3% 7,0% 7,5% 8,6% 9,3% 8,7% 9,2% 9,5% 9,5% 8,7% 8,7% 7,8% 9,3% 8,2% 7,9% 8,2% 8,3% Sudeste 7,4% 6,7% 6,6% 7,7% 8,8% 10,7 11,3 10,9 10,9 11,6 10,6 11,0 9,7% 9,1% 7,9% 9,0% 7,1% 6,3% 6,6% 7,5% Sul 4,6% 4,0% 5,0% 5,4% 6,4% 7,5% 8,1% 6,7% 6,5% 6,9% 5,9% 6,3% 6,2% 5,9% 5,0% 6,1% 4,4% 4,3% 4,1% 4,2% Centro-Oeste 5,8% 5,3% 6,2% 7,9% 7,2% 8,7% 9,4% 8,9% 8,2% 8,9% 8,2% 9,6% 8,4% 8,0% 7,4% 7,9% 5,9% 5,3% 5,8% 5,6% BRAZIL 6,6% 6,2% 6,1% 6,9% 7,9% 9,1% 9,9% 9,6% 9,4% 10,0 9,3% 9,7% 8,7% 8,4% 7,4% 8,6% 6,9% 6,4% 6,7% 7,1% 3,5% 4,5% 5,5% 6,5% 7,5% 8,5% 9,5% 10,5% 11,5% 12,5% Taxa de Desemprego

O gráfico 33 ilustra essa situação. Pelos dados disponibilizados pela PNAD, entre 1995 e 1999, período em que ocorreu esse movimento de fragilização da estrutura produtiva nacional, a taxa de desemprego apresentou um forte movimento de alta. Nota-se que a região mais industrializada do país, a região Sudeste, apresentou um ritmo de alta na taxa de desemprego maior do que o ocorreu com a média nacional, corroborando a hipótese de que o setor industrial foi o mais negativamente atingido por esse movimento de reestruturação produtiva que marcou a década de 90.

Já a partir de 1999, após à mudança do regime cambial motivada por uma crise internacional que resultou na diminuição drástica das reservas em moeda estrangeira, observa- se que o país entra em um período de estabilidade no nível de desemprego até 2005. Já em 2009, os indicadores de ocupação da PNAD evidenciaram as consequências da crise financeira

mundial – que foi deflagrada em 200848 - sobre o nível de desemprego no país, expondo que

este indicador avançou de 7,4% para 8,6%, nos anos de 2008 e 2009 respectivamente. No entanto, há que se ressaltar que isso não decorreu de uma redução no número de postos de trabalho, uma vez que a população ocupada inclusive cresceu, mas sim em razão de um aumento no contingente de trabalhadores que passaram a procurar emprego - especialmente no período de referência da Pesquisa (Setembro/2009), dado que no segundo semestre de 2009 a economia brasileira já dava sinais de retomada do crescimento. De fato, o aumento na taxa de desemprego e o tempo de recuperação dos níveis de emprego no Brasil frente à crise financeira mundial foram positivamente diferentes do que ocorreu no resto do mundo. Segundo os dados disponibilizados pelo Banco Mundial, no caso dos Estados Unidos, epicentro da crise, a taxa de desemprego subiu de 5,78% em 2002 para 9,25% em 2009, sendo que chegou a 9,61% em 2010, quando o indicador começou a diminuir. Já no caso da União Europeia, a taxa de desemprego elevou-se de 6,49% em 2008 para 8,91% em 2009, sendo que o aumento de tal

indicador estendeu-se até 2013, quando atingiu 10,81% para, então começar a diminuir49.

Em 2011, a taxa de desemprego já havia recuado, atingindo o menor patamar desde 1997. Em outras palavras, em que pese o revés sofrido entre 2008 e 2009, o mercado de trabalho brasileiro seguiu abrindo vagas e, como veremos mais adiante, remunerando melhor os

48 De modo geral, a crise financeira de 2008 se deu a partir de uma sucessão de falências de instituições financeiras,

nos Estados Unidos e na Europa, as quais participavam do complexo sistema financeiro mundial. Essa onda de falência estava relacionada ao “estouro de uma bolha imobiliária”, causada pelo fato de que o mercado imobiliário americano começou a se valorizar muito pela facilidade de aquisição de financiamentos e hipotecas, sem avaliações e garantias com o rigor necessário, resultando na sobrevalorização artificial dos bens imóveis.

trabalhadores ocupados.50 A resposta do governo brasileiro à crise financeira, por meio de uma

política anticíclica que manteve e expandiu a demanda interna, gerou resultados tangíveis e importantes na manutenção do nível de emprego (CARNEIRO, 2009). Nos anos mais recentes (2011-2013), nota-se inclusive que a trajetória de queda do desemprego é o movimento inverso ao esperado em meio à desaceleração do crescimento econômico, como o que ocorreu no pós- crise de 2008-2009.

As variações da taxa de desemprego por região geográfica revelam que o país como um todo experimentou movimentos similares ao longo do período considerado, ficando a diferença por conta do nível do indicador e da intensidade de suas oscilações. Na maior parte da série histórica, as regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste tenderam a apresentar as taxas de desocupação mais baixas, o que por diferença atribui às regiões Sudeste e Norte os piores resultados nesse quesito.

Entre 1995 e 1999, verifica-se uma tendência geral de alta, com alguma queda de taxas dentro do período no Nordeste e no Centro-Oeste. Enquanto isso, as regiões Sul e Centro-Oeste registraram as maiores elevações na proporção de desempregados, ainda que Sudeste e Norte continuassem a registrar as taxas de desemprego mais elevadas. No período imediatamente posterior, entre 2001e 2009, ocorre uma tendência geral de queda, com algum aumento de taxas dentro do período e alta importante em 2009, quando a liderança nessas variações, por pouquíssima margem, foi assumida pelo Nordeste e compartilhada com o Norte e houve um movimento de convergência no sentido e na intensidade dessas oscilações. As regiões Sudeste e Norte seguiram com as maiores taxas de desocupação, seguidas de perto pelo Nordeste, ao mesmo tempo em que a região Sul se descolou ainda mais das demais e registrou os menores valores desse indicador.

Com respeito à dimensão de gênero, bastante relevante em toda a temática trabalhista e social, os avanços identificados pelos dados também são importantes. A taxa de participação das mulheres cresceu quase que ininterruptamente no período 1992-2014, determinando a expansão da presença feminina da PEA. Nesse período, a taxa masculina seguiu o sentido oposto, reduzindo-se sistematicamente, ainda que a ritmo menos intenso que o crescimento observado entre as mulheres. O nível de atividade das mulheres ainda é significativamente

50 De acordo com estudo elaborado pelo IPEA (2012), contextualizando internacionalmente a Crise Financeira de

2008, o Brasil esteve entre os países que experimentaram os menores aumentos na taxa de desocupação entre 2008 e 2009 e que mais rapidamente conseguiram reduzir esse indicador. Ou seja, no contexto internacional, os efeitos negativos da crise teriam sido menos graves sobre o mercado de trabalho brasileiro e o país foi capaz de reverter e mais do que compensar esses efeitos até 2011, o que não teria ocorrido na maioria dos países.

inferior ao dos homens, mas os diferenciais por sexo já foram maiores (BALTAR & LEONE, 2015).

Gráfico 34: Evolução da Participação na PEA e da Taxa de Desemprego, segundo Sexo – 1992 a 2014 – Em %

Fonte: PNAD/IBGE – Vários anos. Elaboração própria. * Exclusive áreas rurais da Região Norte (salvo Tocantins).

No que toca ao desemprego, nos momentos de expansão desse indicador houve incremento superior na taxa de desocupação feminina, em detrimento da masculina, indicando que nos momentos de retração na desocupação, os homens mostraram-se mais protegidos contra essa condição, dada a redução mais lenta e modesta registrada entre as mulheres. A elevação da taxa de participação feminina certamente contribuiu para esses resultados e ajuda a explicar, ao menos em parte, o incremento no diferencial observado entre a proporção de homens e mulheres desempregados – quadro revertido apenas no biênio 2013-2014, quando o desemprego masculino aumentou a ritmo superior.

Ressalte-se que os fenômenos descritos nacionalmente guardam estreita relação com o comportamento do mercado de trabalho do Sudeste e do Nordeste, regiões que concentram aproximadamente 70% da população ocupada do país. Entre 1992 e 2014 houve alguma variação nessa proporção, com aumento discreto da importância das demais regiões no emprego total, mas essas duas regiões ainda são as que concentram a maior parte do mercado de trabalho brasileiro, conforme pode ser visto no gráfico 35. Em termos relativos, vale ao menos

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Participação - Homens 88,8%88,4% 87,7%85,7%86,2%85,7%85,7% 84,7%85,0%84,7%85,1%85,5%85,0%84,8%85,0%85,0% 83,4%83,2%82,7%83,4% Desemprego - Homens 5,6% 5,3% 5,3% 5,7% 6,4% 7,3% 8,1% 7,7% 7,5% 8,0% 7,1% 7,4% 6,6% 6,2% 5,4% 6,4% 5,1% 4,8% 5,2% 5,6% Participação - Mulheres 55,9%55,8% 57,4%55,2%56,4%56,8%58,5% 58,3%60,0%60,5%61,7%63,1%63,0%62,9%63,1%63,6% 60,9%60,9%60,9%62,5% Desemprego - Mulheres 8,1% 7,5% 7,4% 8,8% 10,0%11,8%12,4% 12,2%11,8%12,6%12,1%12,6%11,3%11,1% 9,9% 11,3% 9,3% 8,5% 8,7% 9,1% Participação - Total 71,9%71,7% 72,1%70,0%70,9%70,8%71,7% 71,1%72,1%72,2%73,0%74,0%73,6%73,5%73,7%73,9% 71,8%71,7%71,4%72,6% Desemprego - Total 6,6% 6,2% 6,1% 6,9% 7,9% 9,1% 9,9% 9,6% 9,4% 10,0% 9,3% 9,7% 8,7% 8,4% 7,4% 8,6% 6,9% 6,4% 6,7% 7,1% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%

mencionar a expansão da participação da Região Norte, que variou positivamente em 54,3% no período, avançando de 4% de participação em 1993 para 6,2% em 2014.

Gráfico 35: Proporção de Ocupados entre 15 e 64 anos, segundo Grandes Regiões Geográficas – 1992 a 2014

Fonte: PNAD/IBGE 1992-2014; Elaboração própria.

Obs.: Exclusive áreas rurais da Região Norte, salvo de Tocantins.

Quando a análise foca a composição do emprego total por áreas censitárias, nota-se que o emprego rural perdeu espaço no país: em 1992, 23,7% dos ocupados residiam em áreas rurais; em 2014, essa proporção chegava a apenas 13,2%. Essa queda da participação no emprego total se refere aos ocupados rurais como um todo, mas o movimento se concentrou fundamentalmente entre os rurais em ocupações agrícolas. Quando a esse cenário adiciona-se a natureza econômica das ocupações, a dicotomia urbano-rural ganha novos e mais complexos contornos. O emprego rural não-agrícola experimentou alguma oscilação ao longo da série histórica, aumentado em termos absolutos e gerando um saldo acumulado de 0,5 ponto percentual de participação no total de ocupados – um quadro que, estatisticamente, pode ser considerado estável. Nesse período, a proporção de ocupados rurais agrícolas caiu 10,1 pontos percentuais, demonstrando uma queda de forma bastante expressiva.

Sobre os determinantes da evolução espacial da ocupação, segundo regiões censitárias, GROSSI et al (2001) argumentam ter havido, nos anos 1992-1999, uma diminuição bastante significativa no ritmo de queda da população rural, embora o emprego rural agrícola tenha passado a diminuir rapidamente. A explicação para essa aparente contradição residiria na expansão do emprego rural não-agrícola e, em menor grau, no volume de desempregados e

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Centro-Oeste 7,1% 7,0% 7,0% 7,0% 7,3% 7,5% 7,4% 7,4% 7,4% 7,4% 7,5% 7,5% 7,5% 7,6% 7,7% 7,8% 8,0% 8,0% 8,0% 8,1% Sul 17,5% 17,3% 17,0% 17,0% 17,0% 17,0% 16,8% 16,8% 16,7% 16,7% 16,7% 16,4% 16,3% 16,4% 16,0% 16,2% 16,1% 15,9% 16,1% 15,9% Sudeste 44,2% 44,3% 44,3% 44,6% 44,1% 43,7% 43,8% 44,1% 43,9% 43,6% 43,5% 43,7% 44,1% 44,1% 44,2% 44,2% 44,4% 44,4% 44,2% 43,9% Nordeste 27,2% 27,2% 27,4% 27,1% 27,3% 27,4% 27,5% 26,5% 26,8% 26,9% 26,7% 26,8% 26,6% 26,4% 26,4% 26,1% 25,5% 25,5% 25,6% 25,9% Norte 4,0% 4,1% 4,2% 4,3% 4,4% 4,5% 4,6% 5,2% 5,3% 5,4% 5,5% 5,6% 5,6% 5,6% 5,7% 5,8% 6,0% 6,1% 6,1% 6,2% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

inativos, particularmente de aposentados, residentes nas áreas rurais. Em termos mais gerais, o

êxodo rural teria sido suplantado pelo êxodo agrícola.51 A participação de trabalhadores rurais

não-agrícolas no emprego rural total passou de 23,2%, em 1992, para 38,2%, em 2014 - em razão de um efeito da combinação de queda absoluta no emprego rural agrícola, incremento no rural não-agrícola e redefinição de áreas censitárias - com os avanços mais significativos sendo alcançados nos últimos 8 anos da série histórica considerada, período que coincide com o aumento do grau de formalidade no mercado de trabalho.

Portanto, esse incremento na ocupação rural não-agrícola está possivelmente relacionado a uma intensificação da interiorização da economia, marcada pelo surgimento de novos polos econômicos no interior das unidades da federação. Segundo estudo do IBGE (2010), essa interiorização ocorrida na última década foi influenciada de forma significativa pela expansão das cadeias produtivas de carne, grãos e algodão em direção ao Centro-Oeste e ao Norte, fenômeno que, dentre outros efeitos, estaria elevando o grau de urbanização nacional e modificando a densidade e a mobilidade populacionais. Isso tudo ao mesmo tempo em que houve uma aparentemente litoralização do país, tanto em razão da exploração de petróleo, e de atividades relacionadas, como a instalação de estaleiros, quanto de atividades relacionadas ao turismo. O resultado foi o aumento da urbanização e o adensamento da população nessas proximidades, fenômeno que alterou a composição espacial e setorial da ocupação.

De modo geral, essa dinâmica se mostrou verdadeira para todas as regiões do país, ainda que em intensidades distintas. A composição espacial e setorial do emprego varia regionalmente e sofreu mudanças diferenciadas ao longo do horizonte de tempo considerado. As atividades urbanas não-agrícolas seguem preponderantes e assumindo proporção crescente do volume de postos de trabalho ocupados, com consequente perda de espaço das atividades agrícolas e das ocupações no meio rural. A evolução da urbanização se fez sentir em todas as regiões geográficas, mas em particular naquelas até então menos desenvolvidas nesse sentido, onde havia naturalmente mais espaço para avanços. As ocupações não-agrícolas cresceram de maneira particularmente grande no Nordeste, onde entre 1992 e 2014, saltou de 50,8% para 67,6%, respectivamente, e no Sul foi de 63,8% em 1992 para 81,8% em 2014. Nessas regiões, o peso ocupações não agrícolas no emprego regional aumentou intensamente.

51 A Previdência Rural, notadamente em razão dos benefícios pagos a Segurados Especiais (nos termos

estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, que ampliou os direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores rurais), pode ter contribuído para essa redução do êxodo rural, dado que garantiu rendimentos a idosos rurais que, de outro modo, dificilmente lograriam custear um benefício previdenciário pelos moldes tradicionais. A elevação dos rendimentos destes indivíduos e, principalmente, seus reflexos no rendimento familiar, podem ter reduzido a pressão migratória sobre os centros urbanos (ANSILIERO, 2013).

Gráficos 36 a 41: Proporção de Ocupados entre 16 e 59 anos, segundo Clientelas (Urbana e Rural) do RGPS e Ramos de Atividade (Agrícola ou Não-Agrícola) – BRASIL e Grandes Regiões

Geográficas – 1992 a 2014

Fonte: PNAD/IBGE 1992-2014; Elaboração própria.

Obs.: Exclusive áreas rurais da Região Norte, salvo de Tocantins.

A parcela do emprego concentrada em áreas rurais decresceu em todas as cinco regiões durante todo o período considerado. Em outros termos, a queda na proporção de ocupações rurais que se manifestou mesmo em números absolutos, acusando uma redução no volume de

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Região Norte

Rural Agrícola Rural Não-Agrícola Urbana Agrícola Urbana Não-Agrícola

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Região Nordeste

Rural Agrícola Rural Não-Agrícola Urbana Agrícola Urbana Não-Agrícola

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Região Sudeste

Rural Agrícola Rural Não-Agrícola Urbana Agrícola Urbana Não-Agrícola

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Região Sul

Rural Agrícola Rural Não-Agrícola Urbana Agrícola Urbana Não-Agrícola

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Região Centro-Oeste

Rural Agrícola Rural Não-Agrícola Urbana Agrícola Urbana Não-Agrícola 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 BRASIL

ocupados rurais, variou negativamente 36,0% no Nordeste, onde essas regiões censitárias ainda assumem peso considerável, a 55,7% no Norte. A redução das ocupações agrícolas foi de 41,8% no Nordeste a 60,3% no Sul. As demais regiões também tiveram quedas expressivas das ocupações agrícolas, como pode ser observado nos gráficos 36 a 41.

Quando essas duas dimensões, espacial e setorial, são superpostas, as diferenças em relação à estruturação regional do mercado de trabalho se intensificam. Com respeito às ocupações rurais não-agrícolas, houve queda ou estabilidade relativa em quatro das cinco regiões, exceção feita à região sul, mas ocorreu um registro de aumento absoluto em todas, o que se traduz em aumento no volume de ocupados rurais não-agrícolas. Na Região Sul houve aumento de 5,8% para 6,1% na proporção de ocupados em atividades não-agrícolas em áreas rurais, enquanto no Nordeste o cenário é de aparente estabilidade relativa. Esse tipo de ocupação cresceu no país, mas teve sua evolução ofuscada pela expansão das ocupações não-agrícolas urbanas e pela própria evolução da classificação de situação censitária, a qual certamente se alterou entre as duas metades da série história, por ocasião do Censo Demográfico 2010.

Dadas as diferenças no nível de atividade, ocupação e desocupação, bem como de formalidade, por ramos de atividade econômica, cuja classificação também sofreu alterações no contexto da PNAD, as alterações na composição do emprego e, consequentemente, na estrutura do mercado de trabalho brasileiro são fundamentais para a compreensão dos fenômenos e indicadores apresentados nesta seção e também para qualquer tentativa de prever e estimular as condições de inserção laboral dos trabalhadores brasileiros, especialmente aqueles com perfil ocupacional menos consistente. As alterações metodológicas imputadas à PNAD dificultam análises mais profundas da dimensão setorial do emprego, em razão da limitação temporal da série histórica, mas a relevância do tema para a discussão em foco estimula o esforço nesse sentido.

Com o intuito de contornar essas restrições metodológicas, optou-se uma vez mais pelo