• Nenhum resultado encontrado

2.5 Qualidade na educação e fatores de desempenho

2.5.2 Nível Socioeconômico

Nível socioeconômico é um construto teórico que resume as características dos indivíduos em relação a sua renda, ocupação e escolaridade. O interesse pela discussão sobre o NSE nas pesquisas educacionais se dá principalmente pela forte correlação existente entre os resultados escolares e o NSE e cultural das familias (ALVES; SOARES, 2012). Para Soares e Alves (2003), o NSE representa o fator que mais impacta no desempenho escolar dos alunos. Segundo os autores, o indicador deve ser analisado com critério para o caso brasileiro. Para Soares e Alves (2003),

[...] o tamanho da influência da média do nível socioeconômico no Brasil deve ser destacado. O país possui hoje um sistema de educação básica muito segmentado, com a maioria dos estudantes de nível socioeconômico mais alto freqüentando escolas privadas. [...] A interação entre rede e nível socioeconômico médio da escola é significativa e mostra o especial privilégio dos poucos brasileiros que freqüentam escolas privadas, onde o nível médio socioeconômico é alto (SOARES; ALVES, 2003, p. 156).

Os primeiros estudos empíricos que destacaram a influência do NSE no desempenho dos alunos surgiram nas décadas de 1950 e 1960, entre eles está o conhecido Relatório Coleman. Segundo Brooke e Soares (2008), o Relatório Coleman foi uma pesquisa realizada nos Estados Unidos cujo objetivo era conhecer as razões da falta de disponibilidade educacional igual para indivíduos por razão de raça, cor, religião ou naturalidade, em todos os níveis das instituições públicas educacionais. Segundo os autores, a pesquisa investigou mais de quinhentos mil alunos norte-americanos matriculados em escolas primárias e secundárias. A amplitude da amostra, que também inclui Professores, gestores escolares e pais de alunos, permitiu que fossem descritos aspectos relacionados ao desempenho dos alunos, medido através de testes padronizados, especialmente os que envolvem leitura e matemática (BROOKE; SOARES, 2008).

Para Brooke e Soares (2008), os resultados do Relatório Coleman foram surpreendentes, principalmente por evidenciar que o NSE dos alunos foi o fator que melhor contribuiu para o seu desempenho escolar, em detrimento da estrutura das escolas, de seus processos internos e da qualificação de seus Professores. Para Soares (2004), uma das principais conclusões do

Relatório Coleman é expressa na polêmica frase “As escolas não fazem diferença”, essa

afirmação destaca a irrelevante influência da escola no desempenho dos alunos americanos. Soares e Andrade (2006) complementam afirmando que o Relatório Coleman atribui o

desempenho escolar dos alunos apenas à sua origem social e às práticas culturais de sua família, ou seja, a escola apenas reproduziria as diferenças socioeconômicas já existentes na sociedade.

Segundo Brooke e Soares (2008), a divulgação dos resultados de Coleman causou grande inquietação na comunidade científica, que não aceitavam suas conclusões como um ponto final para a discussão sobre a contribuição da escola. De acordo com os autores, a principal justificativa era a de que embora os efeitos do NSE dos alunos não sejam desprezíveis, não se pode admitir que a escola fizesse pouca ou nenhuma diferença no desempenho escolar de seus alunos.

Em decorrência de tais resultados, iniciou-se um profundo debate entre acadêmicos, políticos e a sociedade em geral, sobre a efetiva contribuição dos recursos escolares para o aprendizado dos alunos (FIPE, 2007; ALVES; SOARES, 2008). Desde então surgiram diversos estudos, alguns buscando justificar a influência da escola no desempenho cognitivo dos alunos (RUTTER et al.,1979; LEE, 2000; TEDDIE; REYNOLDS, 2000) e outros que corroboraram com as afirmações do Relatório Coleman (PLOWDEN et al., 1967; GAMORAN; LONG, 2006).

Dentre os que corroboraram com o resultado do Relatório Coleman está o estudo de Gamoran e Long (2006) que ao fazer uma revisão do relatório reforçaram a conclusão de Coleman (1966) de que os fatores determinantes para o desempenho escolar dos estudantes em ordem de importância eram primeiramente a família, seguido pelos colegas, enquanto que a escola apresentou apenas uma singela relevância. De acordo com os autores, o impacto dos recursos escolares no desempenho dos alunos foi modesto em comparação com o impacto do contexto familiar dos alunos.

Gremaud, Felicio e Brondi (2007) destacam que as diversas pesquisas que surgiram após o Relatório Coleman tentaram aprimorar a explicação da relação entre a qualidade da escola e o aprendizado dos alunos, passando a considerar também as características dos alunos, bem como suas famílias, os Professores e Diretores e os insumos escolares. Dentro deste contexto, no Brasil se destacam os trabalhos realizados por Soares e Andrade (2006), Soares e Alves (2003) e Soares (2004).

Soares e Andrade (2006) alertam que não se deve desconsiderar o NSE dos alunos nos estudos sobre a realidade educacional brasileira. Entretando, os autores destacam que atualmente se reconhece que os fatores que determinam o desempenho dos alunos pertencem a três categorias: a estrutura escolar, a família e as características do próprio aluno. De acordo com os autores, as melhores análises incorporam todos esses fatores ao invés de se apoiar em apenas uma área, ou seja, nem os fatores extraescolares conseguem explicar sozinhos os desempenhos dos alunos, nem a escola faz toda a diferença.

Soares e Andrade (2006) em seu estudo sobre o NSE, qualidade e equidade das escolas de Belo Horizonte concluíram que algumas escolas, públicas e privadas, conseguem, por meio de suas políticas e práticas pedagógicas, fazer a diferença no desempenho de seus alunos mesmo quando esses são socioeconômicamente desfavorecidos. Segundo os autores, essas escolas podem ser estudadas no sentido de identificar as melhores práticas, ou seja, aquelas que realmente fazem a diferença.

Embora o NSE seja um determinante fundamental no desempenho dos alunos, conforme visto na literatura, Soares e Alves (2003) afirmam que ainda não há consenso sobre como medir o NSE para estudos de desempenho escolar. Segundo os autores se, por um lado, considera-se que o índice deva incluir indicadores de renda, educação e prestigio ocupacional dos pais, não é claro como cada um desses indicadores deva ser construído.

Para suprir essa lacuna e criar um índice de medida que expresse as variações socioeconômicas entre as famílias, Alves e Soares (2009) apresentam uma metodologia para medir o NSE, realizada por meio da Teoria de Resposta ao Item e utilizando como referência empírica os dados da Pesquisa Longitudinal da Geração Escolar de 2005 (GERES) do pólo de Belo Horizonte, que segundo os autores, consiste em um estudo que acompanha cerca de vinte mil alunos a partir do primeiro ano do ensino fundamental em mais de trezentas escolas (públicas e privadas) de cinco cidades brasileiras. O resultado obtido foi uma escala hierárquica que mede o NSE a partir de uma combinação ponderada das diferentes combinações dos fatores escolaridade, ocupação e renda.

A criação de escalas e índices que categorizam o NSE das famílias é fundamental para o desenvolvimento de pesquisas que buscam identificar os fatores que contribuem para que

grupos de alunos ou escolas com características socioeconomicas semelhantes possuam desempenho diferente em avaliações de larga escala. Isso pode ser evidenciado mediante a afirmação de Alves e Soares (2009) de que uma escola é eficaz ao proporcionar um conhecimento suficiente ao aluno para que o seu desempenho ao final de cada etapa escolar seja acima do esperado para um aluno de seu NSE, ou seja, mediante a categorização do NSE em classes é possível comparar o desempenho dos alunos que se encontram em situações socioeconômicas similares, matriculados em escolas diferentes.

Segundo Soares e Alves (2003), diminuir as diferenças entre a condição socioeconômica e cultural dos alunos de um sistema de ensino, através de políticas sociais, terá impacto direto nos resultados cognitivo dos alunos. Alves e Soares (2007) corroboram com essa afirmação ao concluir que em qualquer contexto os alunos de melhor NSE têm maior probabilidade de se beneficiar de suas vantagens extraescolares e de apresentar melhores resultados.

2.5.2.1 Background Familiar

Segundo Suliano e Oliveira (2011), um ambiente familiar favorável ao aprendizado é extremamente relevante para a ampliação do conhecimento. Menezes-Filho (2007) destaca que as variáveis que mais explicam o desempenho escolar dos alunos estão relacionadas ao

background familiar e características do aluno, tais como a educação da mãe, cor, atraso

escolar e reprovação prévia, número de livros e presença de computador em casa e trabalho fora de casa. Dentre essas váriaveis, a que mais impacta o desempenho escolar do aluno, segundo o autor, é a escolaridade da mãe, de modo que, uma mãe mais instruída aumenta a pressão sobre a escola para melhorar a qualidade do ensino, além de acompanhar e cobrar melhores resultados escolares de seus filhos, criando assim um ambiente favorável para o desenvolvimento do conhecimento e gerando motivação ao Professor, que encontra maior facilidade para ensinar em uma sala com um alto nível de background familiar.

Suliano e Oliveira (2011) apontam que, em relação ao rendimento escolar no Brasil, a estrutura familiar é responsável por até 70% da variação no desempenho dos alunos, sendo isso um indicativo de que boa parte do que se conhece hoje sobre diferença de desempenho escolar é algo que já vem com os próprios alunos, não sendo determinado em sala de aula. Conforme Marturano (2006), o interesse dos pesquisadores no estudo da influência familiar

sobre o aprendizado escolar aumentou a partir dos anos 1950, sendo que, a partir da década de 1960, passou-se a investigar também, além das variáveis socioeconômicas, a influência de processos da vida familiar sobre o desempenho escolar. Os resultados dessas pesquisas indicaram que a família pode influenciar positivamente o aprendizado escolar, a motivação para os estudos e competências interpessoais para um bom relacionamento com Professores e colegas.

Segundo Riani e Rios-Neto (2008), no Brasil muitos estudos sobre determinantes educacionais têm dado destaque ao papel da família na educação dos filhos, entre eles se destacam os trabalhos de Silva e Hasenbalg (2002) e Barros e Lam (1996), mostrando que os fatores de background familiar, com destaque para o nível de educação dos pais, possuem impactante influência no resultado educacional.

Suliano e Oliveira (2011) concluíram em seu trabalho o quanto o background familiar é importante para o nível de aprendizado do aluno ao obter o resultado que apontava que o fato da mãe possuir ensino médio completo juntamente com acesso a internet em casa aumentava significativamente o desempenho do aluno, enquanto uma mãe que trabalha fora contribui negativamente no desempenho escolar do filho.

Ferreira e Barrera (2010) afirmam que quanto mais o ambiente familiar apresenta recursos culturais e a presença de um adulto capaz de mediar esses recursos, melhor será o desempenho escolar dessa criança, e isso desde a educação infantil. O autor conclui dizendo que quanto mais escolarizada for a mãe, mais direcionados são os recursos do ambiente familiar para influenciar positivamente nas questões educacionais, isso porque a figura da mãe é sempre mais presente no dia-dia da criança.

Para inúmeros estudiosos o background familiar é imprescíndivel para um bom desempenho escolar dos alunos, no entanto, Ferreira e Barrera (2010) concluem que não basta culpar a família quando esta, muitas vezes, tenta e cumpre, de acordo com suas possibilidades, com o seu papel de apoiar a criança em relação a questões escolares. É preciso, segundo os autores, incentivar o trabalho conjunto entre família e escola, buscando uma maior aproximação desses contextos educacionais, com vistas à obtenção de metas e objetivos em comum que possuem um único propósito que é a criação de um ambiente cultural rico que proporcione a criança um melhor desempenho escolar.