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2.2 Sistema Educacional Brasileiro

2.2.6 Secretaria Municipal de Educação (SME)

A SME é a grande responsável pela gestão da educação no município sendo uma de suas atribuições à criação de condições adequadas para o desenvolvimento educacional dos alunos. Segundo Cerqueira et al. (2009), os municípios e as SMEs passaram a ganhar autonomia na gestão educacional a partir da LDB nº 9.393/96 com a descentralização do poder de decisão da União, podendo desta forma, definir as ações a serem realizadas e os objetivos a serem atingidos, de acordo com as peculiaridades nas diferentes localidades do país. Dentro deste contexto, as SMEs se tornaram fundamentais na construção de uma educação de qualidade, principalmente devido as suas atribuições no que se refere à gestão das políticas públicas educacionais do município.

A SME deve desenvolver um planejamento estratégico detalhado que implica em estabelecer objetivos e metas para produzir decisões e ações fundamentais com foco no futuro (UNDIME, 2012). Entretanto, esse é um grande desafio para a SME, vendo que, projetar o futuro exige um planejamento que parta de um diagnóstico atual e do estabelecimento de estratégias que venham a intervir no presente e na tomada de decisões que assegurem o fim maior da educação: que é o acesso, a permanência e a aprendizagem de todas as crianças da sua rede ou sistema de ensino. O Fundescola et al. (2006) afirma que a SME deve se estruturar e oferecer condições adequadas para o bom funcionamento de todo o sistema municipal de educação, para isso:

[...] As secretarias municipais de educação devem se estruturar para proporcionar às escolas condições adequadas de funcionamento. Cabe às secretarias, por exemplo, estabelecer padrões educacionais de desempenho que mostrem o que o aluno deve saber ao concluir cada série ou ciclo; desenvolver um sistema de avaliação que permita avaliar a implementação desses padrões; desenvolver mecanismos que permitam às escolas ter mais autonomia e responsabilidade pelos serviços que prestam; fortalecer os profissionais do magistério, capacitando-os e proporcionando-lhes condições adequadas de trabalho e desenvolver medidas que promovam a equidade (FUNDESCOLA et al. 2006, p. 10).

A UNDIME (2012) destaca que, de maneira resumida, o trabalho de uma SME deve objetivar a melhoria da qualidade do ensino em seu território de abrangência, recorrendo à indicadores de desempenho para medir os resultados obtidos a partir da execução de seu planejamento.

2.2.6.1 Critério para matrícula de alunos

No Brasil, a escolha do estabelecimento de ensino que o aluno será matriculado é definida pelo sistema público e pela família, dependendo da rede de ensino (privada ou pública). Segundo Resende, Nogueira e Nogueira (2011), na rede privada a escolha é feita exclusivamente pelos pais, baseado nas leis de mercado (oferta e demanda), em que as famílias com maior poder aquisitivo tendem a matricular seus filhos nas escolas com maior prestigio e qualidade. Enquanto no sistema público, a escolha está relacionada ao desejo dos pais e a proximidade da residência familiar à escola (DELGADO; MACHADO, 2007). Entretanto, segundo Setúbal (2010), no estado de São Paulo, não são os pais, mas as secretarias que possuem o poder final sobre as matrículas, ou seja, a SME pode mudar a localização de matrícula dos alunos de acordo com os seus próprios critérios.

Para Resende, Nogueira e Nogueira (2011), a escolha da escola em que o filho irá estudar está relacionada diretamente com o perfil da família, de modo que:

Os pais menos escolarizados e de nível socioeconômico mais baixo tendem a privilegiar critérios práticos ou funcionais, tais como: proximidade da residência, facilidade de transporte, infraestrutura física, presença de outros filhos na escola. Em contrapartida, as famílias socialmente mais bem posicionadas tenderiam a utilizar critérios internos ao processo educativo, tais como o desempenho do estabelecimento nas grandes avaliações sistêmicas, a filosofia e os métodos pedagógicos adotados, as atividades complementares oferecidas e, de modo geral, o clima da escola (RESENDE; NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2011, p. 956).

Resende, Nogueira e Nogueira (2011) destacam ainda que os pais de menor poder aquisitivo não possuem muitas alternativas para matricular seus filhos, pois os custos que envolvem a escolha da escola, que vão desde o gasto financeiro que pode significar o deslocamento da criança a uma escola um pouco mais distante, até o tempo que se precisa investigar

pesquisando e visitando diferentes escolas, contribuem para que os pais matriculem seus filhos em escolas indicadas pelo poder público.

Setúbal (2010) corrobora com os autores acima ao destacar que os pais dos alunos com menor poder aquisitivo tendem a colocar seus filhos nas escolas mais próximas de sua casa, pois o conjunto de instabilidades que envolvem sua vida impossibilita uma preocupação que lhes exija mais tempo para levar seus filhos a uma escola localizada distante da sua residência.

Deste modo, para a maioria das escolas o seu local de instalação acaba determinando o tipo de aluno que será atendido, criando assim, uma desigualdade de condições entre as escolas localizadas nas periferias e as escolas localizadas na região central das cidades. Soares (2004) corrobora com essa constatação ao afirmar que as escolas situadas nas periferias urbanas e que, portanto, atendem predominantemente alunos de NSE mais baixo, apresentam frequentemente piores condições materiais, corpo docente menos qualificado e experiente do que as escolas públicas localizadas na região central das cidades.

Dentro deste contexto, o NSE das famílias acaba sendo um fator determinante na escolha das melhores escolas, o que contribui ainda mais para o aumento da desigualdade social, de modo que:

A escolha do estabelecimento de ensino pelas famílias revela-se, assim, como um fenômeno por meio do qual se pode observar, de forma bastante clara, o peso das desigualdades sociais na determinação das trajetórias escolares. As famílias que possuem recursos econômicos e culturais mais elevados detêm melhores condições de escolher, são mais propensas a fazê- lo, serve-se de critérios academicamente mais relevantes, obtêm mais informações e são mais aptas a utilizá-las. Essas famílias tendem, assim, a escolher a melhor escola possível para os filhos, o que constitui uma vantagem adicional para eles, comparativamente aos alunos oriundos de meios socialmente desfavorecidos (RESENDE; NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2011, p.957).

Desta forma, a esperança de uma educação de qualidade mais equitativa encontra-se, de acordo com Setúbal (2010), na preocupação prioritária de alguns pais pertencentes às camadas médias e pobres da sociedade, com a educação de seus filhos, que sabe qual é a melhor escola do bairro e se esforçam para assumir os custos e os trabalhos implicados no deslocamento diário entre o local de sua moradia e a escola.