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CAPÍTULO 2 – CONHECENDO A ÁREA DE ESTUDO

2.3 Micromosaicos de Áreas de Proteção Ambiental municipais no interior do

2.3.1. Núcleo Alto Jequitinhonha

As APAMs pertencentes a este núcleo são: Rio Manso, Felício, Serra do Gavião, e Barragem de Extração, as quais estão inseridas nos respectivos municípios: Couto Magalhães de Minas, Felício dos Santos, Rio Vermelho e Diamantina.

Os municípios pertencentes a este núcleo estão localizados na microrregião Alto Jequitinhonha, definida pelo IBGE na divisão geográfica do Brasil. Consiste no

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agrupamento de municípios limítrofes que tem por finalidade planejar e integrar interesses comuns. Por esse motivo, convencionamos nomear este núcleo dessa forma.

Do ponto de vista quantitativo, as APAMs que compõem o núcleo Alto Jequitinhonha estão integradas ao maior complexo de áreas protegidas existente no Mosaico do Espinhaço, totalizando 10 unidades de conservação. Constituem APAMs contíguas a outras mais restritivas, configurando um adensamento de UCs, como pudemos observar na Figura 4.

Ao contrário do que acontece nos núcleos Serra do Cabral e Sempre-Vivas, não há sobreposição de APAMs em relação a outras categorias de manejo, com exceção da APAM Barragem de Extração que está inserida no interior da APAEAV. Essas UCs também são as que possuem menor extensão territorial em relação às demais unidades de conservação instituídas no território do Mosaico, como pode ser observado na Tabela 3.

Observamos a partir das leis de criação das APAMs deste núcleo que a proteção dos recursos hídricos e melhoria na qualidade ambiental local foram os motivos que justificaram a instituição dessas áreas.

Com base em Franco et. al. (2018) percebemos que as condições estruturais e de gestão das APAMs de Felício e Rio Manso tem se mostrado melhores do que as outras APAMs (Serra do Gavião e Barragem de Extração) inseridas neste núcleo. No que se refere à infraestrutura de apoio à gestão das APAM de Felício, ela dispõe de placas indicativas de atrativos e de sensibilização ambiental (como mostra as Figuras 5 a 7) e manutenção de estradas de acesso.Ademais, a APAM de Felício é a única do Mosaico que possui plano de manejo, o qual é utilizado como suporte na elaboração do plano operativo anual de ações da área.

Figura 5: Placa indicativa de atrativos na APAM de Felício

Fonte: Da autora, 2018

Figura 6: Placas indicativas de atrativos na APAM de Felício (versão anterior e atual)

Figura 7: Placa de sensibilização para a proteção ambiental no município de Felício dos Santos

Fonte: Da autora, 2018

A pequena extensão territorial de seus municípios e das APAMs de Felício e Rio Manso, associadas à pró-atividade dos atores institucionais e de moradores locais tem contribuído para que essas elas consigam alcançar frutos positivos no que se refere à conservação local. Outros fatores como conselho ativo, ações de proteção e educação ambiental com moradores, programas com as comunidades inseridas no interior da UC, realização de oficinas participativas, a criação de cartilhas e material de apoio informando sobre a existência da UC e sua importância socioambiental, mostram que as APAMs constituem uma prioridade na agenda municipal, como apresenta a Figura 8.

Figura 8: Cartilha educativa sobre APAM Rio Manso distribuída aos moradores do município

Fonte: Instagram da APAM Rio Manso, 2019

Na APAM Rio Manso, por exemplo, declararam possuir sede administrativa, trilha, portaria, sinalização e sanitário. Nessa UC especificamente, a existência de sede própria pôde ser verificada durante trabalho de campo da pós-graduação em geografia do IGC13 em que a pesquisadora participou. O local onde está localizada era uma escola e foi cedido pela prefeitura para servir de instalações da área. Quanto à sinalização dos atrativos naturais, não condiz com a realidade observada em campo.

Outro ponto positivo observado é que os órgãos gestores dessas áreas estabelecem parcerias e realizam trabalhos conjuntos com outras secretarias do município, especialmente a de turismo e cultura. Os atores entendem que essa aproximação fortalece todas as áreas e que as mesmas não podem ser vistas dissociadas.

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Trabalho de campo realizado em outubro de 2017 em que o grupo de pós-graduandos em geografia realizou travessia entre a Área de Proteção Ambiental Águas Vertentes à APAM Rio Manso.

Por exemplo, para que o turismo sustentável aconteça, faz-se necessário que as condições ambientais estejam boas e que os órgãos responsáveis por planejar a atividade tracem estratégias para minimizar os impactos na área em questão.

Em contraponto, as APAMs Serra do Gavião14 e Barragem de Extração, não possuem nenhuma iniciativa de gestão, pois não se encontram inseridas no cadastro de unidades de conservação de Minas Gerais por pelo menos desde 2006, como é o caso da APAM Serra do Gavião.

A APAM Barragem de Extração nunca esteve cadastrada e existe somente no seu ato de criação, que data de 2004. Esta é a menor UCdo Mosaico, possui apenas 79 ha e fazsobreposição com a APAEAV, como demonstra a Figura 4. Por seu nome, acreditamos que esta UC tenha de fato suas coordenadas geográficas compreendidasnas imediações do povoado de Extração, também conhecido pela população local como Curralinho, e não na área sobreposta à APAEV. Neste povoadoexiste uma barragem construída para fins de mineração de diamantes no início do século XX e após sua desativação tem sido utilizada pelos moradores para banho e lazer15.A Gruta do Salitre e Ponte do Acaba Mundo, importantes atrativos naturais do município de Diamantina também estão inseridas nessa região, o que nos mostra a relevância de estimular o poder público municipal sobre a gestão dessa área.

Assim como ocorre nos demais núcleos, existem embates que incidem diretamente na qualidade ambiental local dessas UCs, como a pressão de agentes econômicos, sobretudo em relação ao reflorestamento de eucalipto, que vem ganhando maiores proporções nestes municípios, inclusive no interior delas. A extração ilegal de cristais do tipo ―rola16‖ é praticado por moradores locais para compor a fonte de renda familiar em uma das APAMs.

Essas áreas também têm atraído o olhar de pesquisadores. Estudos arqueológicos (FAGUNDES, et. al., 2017)17, sobre a flora (VIANA, et. al, 2008)18 e de pequenos mamíferos (GEISE, 2008)19 são alguns dos exemplos.

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Embora não esteja inserida no cadastro estadual de área protegidas de Minas Gerais, o conselho consultivo do Mosaico do Espinhaço tem um representante institucional dessa UC. Possivelmente estejam sendo empreendidas ações que possibilitem o restabelecimento dessa área no cadastro e sua consolidação gerencial com vistas ao atendimento dos objetivos previstos na sua lei municipal de instituição.

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Disponível em: http://vivadiamantina.com.br/a-cidade/os-distritos/extracao/ 16

Segundo conta morador local esse cristal tem como peculiaridade a existência de uma espécie de pelo em seu interior.

17FAGUNDES, M.; FILHO, H. B.; SILVA, A. C.; GRECO, W. S.; D‘ÁVILA, M. A., GALVÃO, L. G. O sítio arqueológico Sampaio, Alto Vale do Araçuaí, Felício dos Santos, Minas Gerais: paisagem,