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Domínio V Super/Hipervigilância e inibição

4. Relacionamentos Amorosos da Vida Adulta

4.1. Relações amorosas e vinculação.

4.1.1. Na adultez emergente ou jovem adultícia.

Como já se pôde verificar, se na infância, a criança precisa da família para desenvolver relações objetais e instâncias psíquicas, na adolescência, é necessário que exista uma refutação dos seus referenciais, para que aconteça uma diferenciação e autonomia, essenciais à passagem para a idade adulta. Para Knobel (1981), os pais devem estar capacitados para a árdua função de serem “espectadores ativos” das transformações dos filhos, pelas várias “identidades transitórias”, acolhendo-o nos seus instantes de grande

dependência, porém consentindo e incitando uma emancipação moderada, visto para o jovem, a dualidade entre a batalha pela independência e por ser reconhecido como adulto e, o agir com a ingenuidade de uma criança, poder causar-lhe ansiedade e conflitos internos. Estas contendas, surgem não só, pela perda dos referenciais que necessitam da orientação/apoio dos pais, mas também, pelos novos modelos de identificação (e.g., grupo de iguais) que funcionam como uma “nova família”, fornecedora de padrões de formas de pensar, agir, falar, etc. Deste modo, no final da adolescência, os pares amorosos destacam- se, as relações tornam-se mais íntimas e estáveis (Arnett, 2009) e, a reciprocidade e interdependência entre os parceiros românticos adquire nuances mais “sérias”, à medida que essas ligações vão sendo encaradas enquanto contextos de vinculação segura (Hazan & Zeifman, 1994), de afiliação e intimidade, compatibilidade, realização e satisfação sexual (Connolly, Furman, & Konarski, 2000; Kuttler & LaGreca, 2004), altruísmo reciproco e co- construção da relação (Facio, Resett, Mistrorigo, & Micocci, 2006; Furman & Buhrmester, 1992), investimento e satisfação das necessidades dos parceiros (Engels, Dekovic, & Meeus, 2002; Furman & Simon, 1999, 2006; Laursen & Jensen-Campbell, 1999; Matos, 2006). Assim, segundo a literatura, as ligações amorosas são entendidas de três formas: 1) Compensação e competição inter-relacional - em que, quanto menor for a proximidade e compromisso emocional do adolescente com os seus pais, maior será o investimento daquele na sua relação amorosa e vice-versa e, onde os pares românticos e os pais disputam o seu papel na satisfação de necessidades emocionais do adolescente (Freeman & Newland, 2002); segundo Levesque (1993), enquanto os adultos buscam relações que satisfaçam as suas necessidades sociais a longo-prazo, os adolescentes usam as suas relações amorosas (por serem menos duráveis) para satisfazer as suas necessidades no imediato, comprometendo ou competindo com as adquiridas nas relações familiares; 2) Independência inter-relacional - na qual, os jovens preferem a intimidade e compreensão mútua com os pares amorosos do que com pais (Connolly & Johnson, 1996) e, elegem uma construção romântica, baseada numa compreensão partilhada, consensual e mútua; aqui, as relações parentais têm uma função reguladora das mudanças interpessoais dos e com os filhos e, estes o dever de apreender (ativa ou passivamente) essa informação (Youniss, 1980); 3) Continuidade inter-relacional - onde se parte do pressuposto que, os MIDs da relação com os progenitores, são ativados em relações futuras de proximidade, sobretudo naquelas em que existe um sistema de vinculação formado e estabelecido (Morgan & Shaver, 1999) e, como tal, o estilo de vinculação romântico/sexual nos jovens adultos e nos adultos, relaciona-se com a avaliação retrospetiva da relação com as figuras cuidadoras/de vinculação que, dessa forma se constitui como uma base/protótipo das relações subsequentes de proximidade, em particular as de vinculação (Bretherton & Munholland, 2002; Owens, Crowell, Pan, Treboux, O’Connor, & Watérs, 1995; Rothbard & Shaver, 1994). Neste âmbito, Arnett (2004) explica que esta etapa (da adultez emergente) reveste-se de

subjetividade, pois não cabe na adolescência nem na adultez, visto pertencer a um período no qual, o jovem adulto não se considera mais adolescente, mas também não se vê como adulto, pois apesar de se tornar mais autónomo e, independente dos pais, ainda não adota papéis e responsabilidades de adulto. Por esta altura, o jovem encara diversas tarefas desenvolvimentais (Matos, 2006; Mota, 2011) nomeadamente, a separação psicológica em relação aos pais, a consolidação da autoestima e, a capacidade para a interação amorosa (Dias & Fontaine, 1996), fatores esses, indicadores de ajustamento (Brown, et al., 1999, citado por Seiffge-Krenke, 2003) e desenvolvimento, tanto ao nível das futuras capacidades familiares quanto da interdependência (Feldman, Gowen, & Fisher, 1998, cit. por Beyers & Seiffge-Krenke, 2010). Assim, se nas relações amorosas, o jovem não conseguir encontrar uma identidade adequada, poderá no futuro, ter dificuldades na formação e manutenção das mesmas para que sejam duradouras (Erikson, 1972/76), o que denota o facto de as relações românticas não afetarem só positivamente o desenvolvimento, mas também terem o poder de colocar o sujeito em risco e instabilidade pelo elevado número de escolhas com que o jovem se depara ao longo deste caminho exploratório (Furman, 2002; Meyer & Allen, 2008). Também não se pode descurar que, a adultez emergente, não está imune à invariabilidade, uma vez que, se trata de um período culturalmente construído. Segundo Arnett (2004) e Rindfuss (1991), esta conjuntura da vida é mais evidente em culturas medradas, que retardam a adoção das responsabilidades características da adultez, do que, em sociedades subdesenvolvidas, que limitam a exploração autónoma da identidade dos jovens. Neste sentido, Douglass (2005) realça que, o jovem adulto deseja uma oportunidade de aproveitar momentos de liberdade e independência, antes de se comprometer com as responsabilidades da adultez, encaradas como limitadoras e duradouras. Para Brown et al. (1999, cit. por Seiffge-Krenke, 2003), nos adolescentes tardios (que se encontram na fase do afeto), o foco incide na relação em si (como questão pessoal e relacional) e não no contexto em que a mesma ocorre e, os parceiros relacionam-se, preocupam-se, envolvem- se (emocional e sexualmente) e, comprometem-se, de forma mais profunda, assídua e ativa. Por sua vez, nos jovens adultos (que se encontram na fase da ligação/“bonding”), o grau de profundidade da relação, segue igual ao do período anterior, porém de forma mais sensata e consciente, pois os parceiros, perante a possibilidade de passarem o resto da vida juntos, encaram-se como inseparáveis apesar de continuarem a ser indivíduos distintos (Brown et al., 1999, cit. por Seiffge-Krenke, 2003). Para A. Aron e E. Aron (1997), esta é a fase de auto-expansão do self, visto o jovem, na relação amorosa, acrescentar recursos, perspetivas e identidade do outro, em si próprio. Concluindo, Gottman (2001) refere que o jovem adulto e o par amoroso, ao conhecerem e perceberem detalhadamente o outro e, as opiniões e formas de amar (de cada um), conseguem enfrentar mais facilmente, acontecimentos estressantes e situações de conflito, com o intuito de manterem a satisfação na relação.