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4 – A Política de Desenvolvimento: a inserção de Políticas Públicas na aplicação de Políticas de Desenvolvimento.

4.1 Na Consolidação de um Modelo de Desenvolvimento

Nos primeiros trinta anos do século XX assistimos à luta de frações da classe dominante pela hegemonia na direção econômica e política do país: os grandes proprietários de terra buscavam preservar a dominação política que mantinham como legado da projeção econômica alcançada durante a monarquia; enquanto a ascendente burguesia industrial, também com um lastro na propriedade da terra, lograva uma conformação política que lhe desse maiores rendimentos.

Essa divergência entre frações da classe dominante não produziu uma polarização que perturbasse seus interesses comuns, a saber: o aumento dos lucros, porém, isso se realizará através de um novo processo de acumulação. A síntese dessa intricada disputa foi a vitória dos interesses da nova classe urbano industrial (que se torna hegemônica com a Revolução de 1930) ministrando uma reordenação jurídico-institucional (aprovação de uma legislação trabalhista que permitiu um ajuste da exploração da força de trabalho, de forma a evitar maiores disparidades em seus custos) e econômica (expansão contraditória do capitalismo no Brasil, onde nas áreas urbanas acelerava-se o assalariamento dos trabalhadores e a apropriação da mais-valia produzida, enquanto que no espaço agrário apresentava-se um aparente paradoxo: ao mesmo tempo em que expropriava parcelas de camponeses de suas tradicionais terras, mantinha, na maior parte dos casos, outras tantas parcelas fixadas em suas terras, expropriando seus excedentes).

Despindo o estratagema das políticas de desenvolvimento territorial no Alto Sertão Sergipano: o (des)mascaramento da territorialização do capital por meio da sociabilidade reificante

A revolução de 1930 marca o fim de um ciclo e o início de outro na economia brasileira: o fim da hegemonia agrário-exportadora e o início da predominância da estrutura produtiva de base urbano-industrial. [...] a reformulação do aparelho e da ação estatal, a regulamentação dos fatores, entre os quais o trabalho ou o preço do trabalho, têm o significado, de um lado, de destruição das regras do jogo segundo as quais a economia se inclinava para as atividades agrário-exportadoras e, de outro, de criação das condições institucionais para a expansão das atividades ligadas ao mercado interno (OLIVEIRA, 2003: p. 35).

A crise em que se envereda o capitalismo em 1929, cujo desfecho foi a quebra da Bolsa de Valores nos Estados Unidos, a falência de indústrias, o desemprego em massa e a diminuição no ritmo global de acumulação de capital desvaloriza a famigerada crença no poder autoregenerativo (prescindindo da interferência estatal) do sistema sócio-metabólico do capital, ressignificando o papel do Estado e, dessa forma, ampliando a abrangência de sua atuação. No Brasil, diante da crise, se verificou a dotação do Estado de atribuições mais notáveis na formulação de políticas de desenvolvimento inspiradas num processo industrializante.

Esse quadro, de que se devem destacar as duas crises de superacumulação – do café e da indústria –, mostra que o capitalismo brasileiro já apresentava condições mínimas para desencadear um processo de industrialização, com o qual, somente, poderia marchar para etapas mais avançadas. A “crise 1929” e sua recuperação cumpriram passo importante dessa caminhada: solucionaram parcialmente o problema da capacidade ociosa, mas não teriam condições, por si sós, de fazer prosseguir a marcha. Para isso era necessário profunda reestruturação do Estado – naturalmente guardando certo equilíbrio entre as frações da classe dominante [...] (CANO, 2002: p. 106).

Ou seja, o Estado será fortalecido, elevado a condição de indutor na promoção das políticas públicas, sob inspiração do keynesianismo. Ancorado num discurso de desenvolvimento da nação o Estado brasileiro financia a expansão urbano-industrial, através da política de substituição de importações e de fornecimento creditício.

Todavia é somente após a Segunda Guerra Mundial (a partir de 1945) que o Estado manifestará, através de discursos e de programas governamentais sua política do desenvolvimento.

Abre-se espaço para a ascendência de uma nova proposta de desenvolvimento nacional, com base no fortalecimento da industrialização sustentada pelo Estado getulista. Um programa nacional de desenvolvimento com a utilização da política cambial, fiscal e creditícia. Era um processo que se realizava protegendo o mercado nacional, por meio das altas tarifas sobre os bens importados e no seu controle direto, além do acesso a bens de produção, como máquinas, equipamentos e matéria-prima necessária à modernização da base de produção industrial (LISBOA, 2007: p. 67).

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O evolucionismo serviu como cimento ideológico dessa perspectiva uma vez que difundiu em seu bojo a idéia etapista de desenvolvimento, ou seja, os países considerados ‘pobres’ deveriam cumprir, como receita infalível para o alcance do desenvolvimento auferido pelos países ricos, um amplo investimento estatal na modernização de sua agricultura e no fomento do crescimento industrial.

A continuada monopolização da economia mundial e a formação da polarizada disputa mundial entre capitalistas e comunistas exigiu uma redefinição das políticas internas dos países considerados subdesenvolvidos, como forma de evitar contestações de caráter popular e assegurar a continuada reprodução do capital.

Esse rearranjo interno ensejou-se pelos propósitos do capital de integrar países periféricos a um capitalismo que se internacionalizava, aprofundando seu papel na divisão territorial do trabalho. Para tanto se elegerá o desenvolvimento como o fulcro desse processo, na medida em que será ostensivamente usado como objetivo final dos esforços da nação. O capital mediado pelo Estado captura o desenvolvimento e o inscreve em uma política de caráter nacional, exortando toda a população a contribuir no alcance do mesmo, sob a impoluta justificativa de melhorias gerais.

Nos anos iniciais do desenvolvimento, ao longo das décadas de 1950 e 1960, a escala operativa para os programas de desenvolvimento promovidos pelos organismos internacionais (especialmente o Banco Mundial) foi a escala nacional. A confiança num Estado-nação forte que, no âmbito de um paradigma de política econômica Keynesiana, assumia funções diretas, tanto na promoção econômica como na providencia de serviços sociais, marcou o contexto dos primeiros passos da institucionalização do desenvolvimento (GÓMEZ, 2006: p. 262).

Como forma de endossar e facilitar a aceitação do discurso do desenvolvimento nacional é modificada a conformação estatal revestindo-a de uma aparência com teor policlassista, por meio do Estado populista. A eficiência dessa forma de Estado reside na proporção direta de sua capacidade de fazer-se representar como elo intermediário entre classes antagônicas. Assim transmite-se a possibilidade de um desenvolvimento de caráter nacional que supere as históricas divergências classistas, formando uma matriz produtiva, supostamente independente das aspirações estrangeiras.

O pacto populista era a forma da hegemonia burguesa, uma hegemonia que se afirmara sem liquidar com o seu antigo contendor, a oligarquia agrária cafeicultora; uma hegemonia que se afirmara dirigindo poderosamente a ação e a intervenção do Estado como sustentáculo e mola de sua expansão; uma

Despindo o estratagema das políticas de desenvolvimento territorial no Alto Sertão Sergipano: o (des)mascaramento da territorialização do capital por meio da sociabilidade reificante

hegemonia que se afirmara utilizando o Estado para vigiar o proletariado urbano sem necessariamente ser repressor ostensivo (OLIVEIRA, 1981: p. 88);

Procurava-se fazer acreditar que o insucesso das primeiras tentativas de desenvolvimento antes da Segunda Guerra era derivado de uma orientação na política econômico-social estatal, que não reconhecia a dualidade (espaços modernos e atrasados no território nacional) a qual estavam submetidos os países pobres e não garantia uma maior autonomia das nações subdesenvolvidas, nas transações comerciais capitalistas.