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4 – A Política de Desenvolvimento: a inserção de Políticas Públicas na aplicação de Políticas de Desenvolvimento.

4.2 O Discurso da industrialização como Modelo de Desenvolvimento

Portanto, a despeito das teses tradicionais, que atribuiam ao desenvolvimento um caráter natural, disseminando a inevitabilidade da elevação do patamar econômico dos países subdesenvolvidos, a criação da CEPAL e a popularização das premissas de sua tese, bem como as elaborações teóricas de intelectuais brasileiros e estrangeiros, propagaram e cristalizam o entendimento de que a condição do subdesenvolvimento era a especificidade histórica provinda de uma relação desigual dos países ricos com os países pobres.

Nesse sentido a CEPAL preconizava que somente a formação de uma diversificada base industrial nacional, que garantisse a generalizada exportação de produtos industrializados, inverteria a deficitária balança comercial dos países subdesenvolvidos.

A necessidade da condução deliberada do processo de industrialização substitutiva por meio da planificação constitui idéia-força, na qual se coloca grande ênfase nos primeiros documentos da CEPAL, já que tal condução é considerada um requisito indispensável para o desenvolvimento das economias periféricas (RODRIGUEZ, 1981: p. 37).

No corolário de suas interpretações acerca da relação entre países de níveis econômicos diferentes continha o binômio centro-periferia, onde se consideravam centros as economias em que adentraram primeiro as técnicas capitalistas de produção, enquanto que a periferia estava constituída pelas economias, cuja produção permaneceu inicialmente atrasada, do ponto de vista tecnológico e organizativo (Ibid, 1981).

Um dos principais formuladores das teses cepalinas foi Raul Presbish, executivo da Cepal, que ocupou importante cargo na UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e destacou-se na elaboração de textos que reiteravam a necessidade da industrialização dos países pobres para a conquista do desenvolvimento. Sua tese era que a

Despindo o estratagema das políticas de desenvolvimento territorial no Alto Sertão Sergipano: o (des)mascaramento da territorialização do capital por meio da sociabilidade reificante

industrialização desses países deveria ser promovida pelo capital nacional, salvo, se necessário, em sua fase inicial, onde é possível admitir a ajuda de países ricos nesse processo. Além disso considerava a possibilidade de convencer os países ricos a reconhecerem a industrialização retardatária dos países pobres, de modo a estabelecerem trocas comerciais mais vantajosas aos últimos. Sobre esta concepção, Paul Singer afirma:

A divisão de trabalho que está hoje em decadência, mas que ainda se mantém, foi estabelecida fundamentalmente pela diferença econômica entre paises industrializados e países que não se industrializaram. Pois bem, a divisão internacional de trabalho, proposta por Prebisch, propõe aproveitar as diferenças no grau de industrialização. Seria um reconhecimento por parte dos países industrializados, que os países não desenvolvidos estão se industrializando lentamente, que certas áreas já atingiram alguma maturidade industrial, e há que aproveitar, portanto o atraso industrial desses países para permitir que especializem nos ramos de menor densidade tecnológica (Ibid, 1971: p. 84).

Não obstante aos esforços empreendidos pela consumação do desenvolvimento via industrialização, através de financiamento interno e externo, não houve resultados que pudessem materializar esta inicial e principal proposição: elevação do país ao posto privilegiado de desenvolvido, portador de alta densidade tecnológica. A industrialização deflagrada no país não se distribuiu por todo o território nacional, gerando uma agudização das diferenças espaciais, entre as regiões brasileiras que, diferentemente de algumas compreensões (cujas quais atribuam ao denominado imperialismo interno a perpetuação dos desequilíbrios regionais) só podem ser explicadas pela

[...]concentração automática de capital, através da concorrência capitalista que se processa em forma livre, num espaço econômico nacional unificado, onde os interesses privados de maior porte não são efetivamente regionais. Há, em síntese, a concentração em um Centro Dominante, que imprime os rumos decisivos do processo de acumulação de capital à escala nacional (CANO, s/d: p. 23).

Há que se destacar que o direcionamento dos investimentos para a formação da infra- estrutura necessária à industrialização avolumou a dívida externa do Brasil, em razão da recorrência constante às quantias significativas de investimento externo. Além disso, a solução ou pelo menos atenuação dos graves problemas de ordem social – amplamente anunciadas – não se realizaram, provocando, na verdade, um efeito contrário, na medida em que se registrou um aumento na concentração de renda entre a população.

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No que se refere aos propósitos do capital a instalação e diversificação da base industrial, com maiúsculos subsídios estatais, associada aos mecanismos de controle das mobilizações populares, orquestradas pelo Estado populista permitiu uma exploração da mais-valia sem grandes dispêndios, aumentando o processo de acumulação.

Pois bem, uma nova disjuntiva política é construída no país com a erupção do golpe militar. A necessidade de preservar um modo de acumulação do capital sem os perigos de uma coalizão de classes que o Estado populista impunha, bem como conter a crise inflacionária que se instaurou na economia brasileira e que demonstrava ser de difícil solução exigia mudanças mais pertinentes no modus-operandi da condução econômica e política. A tônica desse novo período histórico será a perseguição deliberada às organizações de resistência, um amplo arrocho salarial, inclusive com mudanças na legislação do trabalho (como a instituição do FGTS que permitiu uma maior facilidade na admissão e demissão do trabalhador), um controle de preços de bens de consumo guiado pelos interesses das grandes empresas e uma política de crédito altamente estimulante àqueles compromissados com a nova meta.

Além do controle sobre o preço da força de trabalho, já descrito, o governo instituiu também um sistema de controle dos preços dos principais produtos industriais, que é aplicado pela Comissão Interministerial de Preços(CIP). Este sistema impede que pontos de estrangulamento que venham a surgir, devido a inelasticidade da demanda em áreas estratégicas da economia, impulsionam os preços a níveis muito acima dos custos. O sistema é relativamente eficaz, em parte porque não se trata de um simples congelamento dos preços (em cada caso, há uma análise de custos e o preço fixado surge de entendimentos entre o órgão controlador e as grandes firmas de cada setor) e, fundamentalmente, por causa da enorme centralização do poder político, que não deixa qualquer via de resistência aos empresários (SINGER, 1976: p. 61 e 62).

Dessa forma, a classe dominante brasileira promoveu um rearranjo de forças políticas, que permitiu um endurecimento no domínio político da nação, combinado com uma nova proposta de desenvolvimento econômico.

Emerge-se então, o desenvolvimento regional que se tornava a locomotiva das políticas públicas do período ditatorial.

Entre os anos 60 e 80, [...] o Brasil tinha como projeto básico construir um parque industrial importante e com isso entrar para o restrito elenco das principais potências mundiais. As principais metas de sua proposta eram compatíveis com os interesses do capital produtivo e do capital financeiro internacional que se dispuseram a participar delas, instalando aqui suas filiais ou financiando a construção da proposta do “Brasil Grande Potência” (ARAÚJO, 2000: p. 17).

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