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Narrativa transmídia na TV: The Walking Dead e as telenovelas da Rede Globo

No documento 2017VagnerEbert (páginas 66-70)

2.3 EXEMPLOS DE NARRATIVA TRANSMÍDIA

2.3.3 Narrativa transmídia na TV: The Walking Dead e as telenovelas da Rede Globo

A TV surgiu há alguns anos e, desde então, tem passado por diversas mudanças ao longo de sucessivos avanços tecnológicos. Entre os diferentes tipos de conteúdo e produções para esta mídia de massa, as séries (ou seriados) vêm ganhando cada vez mais espaço nas emissoras e o interesse do público.

The Walking Dead, “Os mortos que caminham”, em uma tradução livre da língua

inglesa, é uma série sobre zumbis que iniciou em 2003, por meio das histórias em quadrinhos escritas por Robert Kirkman, e que relata episódios que acontecem em um planeta Terra pós- apocalíptico dominado por essas criaturas morto-vivas.

Como descreve Guedes (2016, p. 60),

A franquia TWD [The Walking Dead] é introduzida nos novos processos de construção de conteúdo da indústria de entretenimento apropriando-se de suportes diferentes para explorar o seu universo ficcional. Entre os quadrinhos, séries de TV, livros, jogos eletrônicos, e episódios para web, a história desenrola-se afim de fazer com que o público contemple a narrativa de maneira seccionada, podendo, assim, vislumbrar pontos de vista diferentes, expandir seu entendimento sobre a história.

A adaptação dos quadrinhos para um seriado televisivo aconteceu em 2010 e, apesar de os dois suportes possuírem o mesmo enredo, o seriado tem certa autonomia a ponto de fazer algumas modificações, “como modificar a personalidade dos personagens, criar personagens não existentes nos quadrinhos, bem como não adaptar alguns personagens que existem na HQ para TV, além de barganhar outros eixos narrativos para televisão” (GUEDES, 2016, p. 63).

Em TWD, os zumbis são o segundo plano da narrativa que foca, principalmente, nos conflitos entre as personagens que precisam sobreviver no planeta arrasado. Na narrativa “o apocalipse zumbi funciona como cenário para o desdobramento de diversos eixos narrativos

diante de um mesmo universo ficcional, a partir disto, a história permuta e adapta-se a plataformas midiáticas diferentes” (GUEDES, 2016, p. 64).

The Walking Dead ramifica-se, portanto, em diferentes suportes, sendo estes: a história

em quadrinhos (HQ), o seriado para a TV, os livros, os jogos eletrônicos (videogames), os

webisodes14 e a série spin-off15 “Fear The Walking Dead”. Mas, por mais que existam diferentes narrativas em diferentes suportes, nem todas são transmídia, uma vez que “[...] a transição da HQ para o seriado é um processo crossmídia, pois a série de TV é uma adaptação e não um desdobramento dos quadrinhos” (GUEDES, 2016, p. 64).

Não são apenas as narrativas fantásticas que se desenvolvem transmidiaticamente. No Brasil, a Rede Globo tem inovado cada vez mais em suas telenovelas, explorando o potencial da internet para envolver os telespectadores que desejam ir além das histórias televisivas. São três os exemplos que mais se destacam neste caso.

De 14 de setembro de 2009 a 14 de maio de 2010, a telenovela Viver a Vida foi exibida no horário das 21h. Na trama, a personagem Luciana, interpretada pela atriz Aline Moraes, tornou-se paraplégica em um acidente de trânsito e passou a enfrentar as limitações, os desafios e as superações causados pelo acidente. A fim de compartilhar as experiências, a personagem, no dia 26 de janeiro de 2010, passou a alimentar com postagens o blog Sonhos de Luciana (Figura 10).

O blog saiu da ficção televisiva e tornou-se realidade em 8 de fevereiro, sendo constantemente alimentado com textos, imagens e fotos até o dia 15 de maio de 2010, um dia após a exibição do último capítulo da trama. Através desse espaço a personagem e seus fãs puderam dialogar; um diálogo possibilitado pela ficção que teve início em outro suporte, a TV.

14 “Os webisodes são mini-episódios, de tramas dentro do universo ficcional da série de TV, produzidos e

disponibilizados no site da própria AMC” (GUEDES, 2016, p. 65, grifo do autor).

15 “Nos meios de comunicação, um spin-off é um programa de rádio, programa de televisão, vídeo game ou

Figura 10 – Blog Sonhos de Luciana

Fonte: GSHOW, 2010.

Seguindo o mesmo padrão, a telenovela I Love Paraisópolis, exibida pela Rede Globo de 11 de maio a 6 de novembro de 2015, às 19h, também contou com um blog para uma de suas personagens. Danda, personagem de Tatá Werneck e irmã da personagem principal, relatou suas aventuras no blog #dandices (Figura 11), que, diferentemente do blog da trama anteriormente citada, tem destaque maior para as fotografias dos acontecimentos da narrativa, como a viagem que as duas irmãs realizaram para a cidade de Nova Iorque.

Figura 11 – Blog #dandices

O que existe em comum entre os dois blogs é que a última postagem é uma despedida da personagem para seus fãs, justificando que o afastamento e encerramento do blog se dá devido à necessidade de se dedicaram à sua “nova vida” de casadas e/ou mães.

O terceiro exemplo, a telenovela Totalmente Demais não construiu um blog para uma de suas personagens, mas utilizou a internet para ampliar a própria narrativa televisiva de duas maneiras: com um capítulo introdutório e uma série spin-off chamada “Totalmente Sem Noção Demais”.

A trama, que foi ao ar às 19h, entre os dias 9 de novembro de 2015 e 30 de maio de 2016, substituindo a novela I Love Paraisópolis, teve o seu “capítulo 0” divulgado na internet no dia 03 de novembro de 2015, apresentando as personagens principais da trama – Eliza, Arthur e Carolina – antes mesmo da telenovela começar.

Não bastasse o capítulo teaser, isto é, a introdução do que aconteceria na trama televisiva de Totalmente Demais, a Rede Globo, após o término da novela – em uma segunda- feira, contrariamente ao habitual encerramento às sextas-feiras – lançou, durante o mês de junho de 2016, episódios spin-off na internet, continuando a trama das personagens Cassandra e Carolina nos webisodes de “Totalmente Sem Noção Demais” (Figura 12).

Figura 12 – Episódios de Totalmente Sem Noção Demais

Fonte: GSHOW, 2016.

Blogs e capítulos para a internet são alguns exemplos das possibilidades transmidiáticas que a TV vem desenvolvendo a partir de 2010. Seja através do diálogo entre personagem e fã nos blogs ou dos episódios extras da trama que conquistou o público, o que se percebe é essa tendência das narrativas de transitar para outros suportes, proporcionando ao público mais entretenimento e mais histórias.

No documento 2017VagnerEbert (páginas 66-70)