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Narrativas do passado; projetos de Estado e de nação

No documento A NAÇÃO COMO POSSIBILIDADE: (páginas 81-98)

2. A difusão do passado nacional: a divulgação de uma “história do Brasil” nos

2.2. Narrativas do passado; projetos de Estado e de nação

Não era apenas para defender a unidade do território que os membros da elite letrada organizavam seus textos destinados à instrução dos mais jovens, sobretudo aqueles em idade escolar. Essa defesa vinculava-se a outras questões que aparecem de maneira marcadamente constante nos manuais didáticos de José Ignácio de Abreu e Lima e Joaquim Manuel de Macedo e que confirmam o esforço de apropriação do passado como forma de construir uma narrativa – da nação – voltada para atribuir sentido às ações por eles coordenadas no presente, o da organização do Estado nacional.

Para além do aspecto territorial, a unidade implicava a própria estruturação do referido Estado, na medida em que defendê-la não era uma atitude restrita aos desejos de garantir a delimitação vigente das fronteiras nacionais, mas estava associada ao funcionamento do aparato estatal. Unidade, portanto, representava o sucesso da ordem que os setores elitistas procuravam imprimir à sociedade e à política imperiais.

E abordar o passado era buscar argumentos para a legitimação do que se fazia no presente, como se pode perceber nas palavras de Abreu e Lima ao criticar, em seu Compêndio, as ações das Cortes portuguesas, no início da década de 1820, em relação ao Brasil, ao destacar que

por uma lei datada de 24 de abril de 1821, as Cortes de Lisboa declararam independentes do Rio de Janeiro todos os governos provinciais, e sujeitos tão somente aos tribunais de Portugal. Por esta lei desorganizadora formou-se uma multidão de pequenos governos em todo o Brasil, que se negavam corresponder com o príncipe regente (...). (II, p. 03. Grifos

meus).

Ou, então, como se verifica nas considerações de Macedo a respeito da decisão da Corte de Madri, durante o período da chamada União Ibérica (1580 – 1640), no sentido de decretar a divisão da América portuguesa em dois governos gerais, entre os anos de 1608 e 1617, pois tal autor faz questão de criticar essa decisão, afirmando que

nove anos foram de sobra para que ficasse provada a

inconveniência e inutilidade dessa desmembração

administrativa que, sem a compensação de algum proveito, punha na mesma colônia duas autoridades iguais em face uma

da outra, dividia poder e forças onde o poder e as forças em tanta mesquinhez e insuficiência se mostravam ainda, e chegaria, se acaso fosse perdurável, a afrouxar os laços de uma união, que era uma das principais condições da futura importância e prosperidade do Brasil. (II, p. 45. Grifos meus).

Seja no contexto às vésperas da independência, seja à época da colonização portuguesa – ou espanhola –, as narrações do letrado pernambucano e do fluminense direcionam a atenção do leitor para a presença e a importância da unidade na história do país, fazendo dela algo inerente a essa história e, dessa forma, tornando inteligível, àqueles que lêem os seus manuais didáticos, a defesa da mesma, sobretudo, é claro, no presente por eles, autor e leitor, partilhado. A unidade territorial construída a partir da independência era, desta forma, naturalizada na versão da história construída pelos dois autores. Era como se um Brasil único sempre tivesse existido e qualquer divisão teria sido resultado de medidas administrativas artificiais da metrópole.

Desdobramento dessa posição favorável à unidade pode ser vista também na atitude dos dois escritores no sentido de promover a defesa da Monarquia constitucional.

Aproveitando as muitas referências, como as anteriormente apresentadas, às questões administrativas, no entender de ambos, mais relevantes ao longo da história do Brasil, Abreu e Lima e Macedo evidenciam um claro elogio à forma monárquica de governo, algo perceptível na passagem em que o primeiro, ao comentar sobre a abdicação de D. Pedro I, faz uma avaliação do período em que o primeiro imperador governou o país, apontando que

Bem que tivesse sido ineficaz e errônea em muitos pontos a administração do ex-imperador, a sua elevação ao trono foi mui provavelmente o meio de preservar o Brasil de uma anarquia ainda mais fatal do que a que tem assolado as outrora colônias espanholas. Qualquer tentativa prematura para um governo democrático teria sido seguida de uma guerra sanguinolenta e duradoura, na qual a parte ínfima da população haveria pegado em armas, e a desordem e a destruição teriam assolado a mais

bela porção da América meridional. Ainda mesmo

conseguindo-se a expulsão dos portugueses, a ignorância do povo e as comoções políticas teriam sido mais fatais do que a guerra estrangeira. O regime a que o povo estava acostumado era o monárquico, e esse foi o instrumento mais próprio para introduzir a civilização que faltava, e para se adotarem os aperfeiçoamentos sociais, que formam uma parte inerente e

essencial do sistema representativo. (II, pp. 76 – 77).

A passagem é longa, mas, a meu ver, muito ilustrativa da ação das elites no momento de organização do Estado e da nação, pois revela o posicionamento do autor diante de um dos momentos marcantes nesse processo, o da abdicação de D. Pedro I, em 1831, atribuindo-lhe um aspecto de antigüidade ao inseri-lo como parte do passado nacional, e, com isso, legitimando, com suas observações, o regime monárquico, ainda em fase de estruturação no momento em que o Compêndio era escrito e publicado, ao tratá-lo enquanto parte dos costumes do povo.

Ademais, essa passagem ganha relevância por igualmente legitimar a ação daqueles que, como o autor, procuravam instruir a população, visto que, no seu entender, a Monarquia constitucional era a garantia da civilização em lugar ainda habitado por pessoas ignorantes, pois apresentava-se como o instrumento mais eficaz de promover melhorias sociais adequadas e necessárias ao funcionamento do sistema representativo.

Aliás, sistema esse que, conforme sugeri anteriormente, assume, nos manuais didáticos de história do Brasil, as mesmas condições de antigüidade e de inerência apontadas no caso do regime monárquico, como é possível notar nas descrições de Macedo acerca dos indígenas que habitavam o território colonizado pelos portugueses na América, ao indicar que

(...) fora um erro acreditar, que esses chefes (morubixabas) exerciam poder absoluto: pelo contrário, quando se tratava de assuntos graves, como da declaração ou empenho de guerra, de alguma transmigração, da morte de algum prisioneiro de guerra, ou da paz, reunia-se a cabilda inteira na ocara, discutia- se a matéria, ouviam-se longos discursos, e a resolução era tomada pelo voto de todos. (I, p. 77).

Tanto no que concerne aos eventos mais recentes da história pátria, como a mencionada abdicação, quanto com relação àqueles que remetem aos “primórdios” dessa história, relacionados, por exemplo, à organização dos povos indígenas quando da chegada dos europeus em terras americanas no início da Idade Moderna, havia uma disposição dos autores na defesa da Monarquia e do sistema representativo.

Outro exemplo disso é oferecido novamente por Macedo, sendo que esse escritor dedica algumas páginas do segundo volume de suas Lições à

independência do Brasil, em 1822, tratando-a como resultado da ação da providência divina e enaltecendo a Monarquia como forma de governo adequada à índole e aos costumes do povo brasileiro, em detrimento da, no seu entender, anárquica e fragmentária República.

Dadas as defesas da unidade territorial, da Monarquia constitucional e do sistema representativo como temas comuns aos manuais didáticos de história do Brasil, que circularam durante o século XIX e que foram, inclusive, adotados na mais prestigiada instituição de ensino secundário existente em terras brasileiras, o Colégio de Pedro II, surge a tentação de avaliá-los enquanto peças de execução da política dirigida pelas elites e enquanto expressões de uma visão homogênea a respeito do país.

Contudo, se há concordância sobre o projeto mais amplo, as diferenças aparecem em função do posicionamento político de Abreu e Lima e de Macedo no decorrer do processo efetivo da sua execução. Várias eram as questões envolvidas na montagem da Monarquia constitucional, no que dizia respeito tanto aos conflitos políticos, como a questões mais estruturais, como o lugar dos partidos, o perfil da cidadania, a acomodação dos diversos setores da elite, a divisão dos poderes, por exemplo. Questões que mobilizaram estes autores em função dos contextos distintos em que escreveram, levando-os a assumir a escrita desses manuais didáticos destinados ao ensino da história pátria como mecanismo para firmar posições em virtude de suas visões políticas e, portanto, da necessidade de debater com os adversários que lhes eram contemporâneos, respectivamente entre as décadas de 1830 e 1850 e dessa década até a seguinte.

É o caso do primeiro autor, que, conforme destacado em citação anterior, ao narrar os episódios relacionados à abdicação de D. Pedro I, realça de modo negativo a atuação da imprensa, em contraposição à atitude do primeiro imperador, a qual ele elogia por conta do recurso a “palavras de moderação (proferidas em 30 de novembro por ocasião do encerramento da sessão legislativa)”, considerando tal atitude como a verdadeira salvaguarda da Monarquia em um contexto no qual aquela atuação produziu uma ameaça a essa forma de governo, pois “começou-se por pregar a federação, e acabaram proclamando a república”. (II, p. 67).

Aliás, é no mínimo curioso notar que alguém cuja trajetória foi pautada por polêmicas as mais variadas, estando muitas delas associadas a sua atuação como redator de periódicos, denegrisse o papel da imprensa, timbrando-a com a pecha de

causadora de revoltas.

Evidentemente, não se pode desprezar o fato de que tais críticas dirigiam-se aos jornais com os quais o escritor pernambucano não tinha qualquer tipo de vínculo e que se colocavam contrários a D. Pedro I, personagem por ele enfaticamente defendida neste e em outros textos.

Todavia, causa certa estranheza postura tão díspar quando se compara a ação desse letrado em uma ou outra vertente da produção escrita brasileira oitocentista; assim, enquanto a imprensa periódica era o espaço da polêmica, veículo das mais acirradas diatribes, os manuais didáticos apresentavam-se como instrumentos da defesa da “moderação” ante o “exaltamento” (sic).

Moderação que também é defendida por Macedo ao longo de sua narrativa dos vários episódios constituintes da (sua) história do Brasil e para a qual, segundo ele, eram de grande contribuição os periódicos, como aqueles que apareceram no Brasil no contexto da Revolução Liberal do Porto e do início do processo de independência da colônia portuguesa na América, destacando os mesmos como difusores do liberalismo, ao afirmar que, naquelas primeiras décadas do século XIX, “a imprensa contou com novos órgãos que pregaram idéias liberais e excitaram o espírito público” (II, p. 263.).

Além disso, é importante ressaltar também, com base nos exemplos apresentados até aqui, que tais manuais didáticos expressam a politização da história, visto que eles veiculavam, de certa maneira, um julgamento do autor em relação às personagens históricas apresentadas na narração dos episódios, deixando entrever um exercício de aproximação ou de afastamento de quem escrevia em face do comportamento atribuído àqueles que figuravam enquanto elementos do narrado.

E mesmo que de forma indireta, pois Macedo não deixou em seu manual didático qualquer referência ao episódio da abdicação de D. Pedro I, encerrando seu texto, como já mencionado, com os eventos da aclamação e coroação do primeiro imperador e da guerra de independência, torna-se válida a menção ao referido episódio, feita pelo escritor de Itaboraí, constante de seu Um Passeio pela cidade do

Rio de Janeiro, de modo a ilustrar esse tom político que os letrados inseriam na

produção e difusão de suas visões acerca da história do país.

Independente da variação quanto ao tipo de produção textual, as crônicas escritas por Macedo deixam também entrever suas posições quanto à avaliação dos

diversos episódios da história do Brasil e, por isso, ajudam a compreender certas nuances e distinções nas posturas da elite letrada diante dos mesmos, como é o caso do momento final do governo de D. Pedro I, já que, a respeito desse acontecimento, tal escritor faz as seguintes considerações:

A abdicação do primeiro imperador importou um triunfo completo do partido liberal, que lhe fizera decidida e constante oposição desde o dia da dissolução da constituinte em 1823. (...)

O triunfo do partido liberal deu incremento a novas idéias. Os pensamentos tomavam outra direção, mas os tumultos e as rusgas que se foram logo sucedendo faziam estremecer os estabelecimentos organizados e as instituições de diversas naturezas.

Os três primeiros anos depois da abdicação foram de grandes lutas, de grandes receios e de grandes dedicações.

Não haverá jamais um historiador imparcial e justo que não reconheça e proclame os serviços relevantíssimos e o patriotismo do partido liberal moderado, que salvou a monarquia constitucional e a integridade do império nessa época difícil.110

É interessante notar a diferença na percepção dos dois autores a respeito da abdicação do primeiro imperador não somente por conta dos indícios, dela oriundos, do engajamento diverso de ambos no contexto da política imperial, lembrando que Abreu e Lima anunciou mais de uma vez seus vínculos com os caramurus enquanto Macedo foi membro do partido liberal. Tal diferença também é instigante para refletir justamente sobre a inserção desses autores e de suas obras em momentos distintos do período imperial.

Diferença que pode ser verificada por meio de exemplos extraídos dos textos de Abreu e Lima e de Macedo, como em passagens, citadas anteriormente, nas quais esses dois letrados narram a atuação dos partidos políticos no Brasil, deixando entrever distintos posicionamentos de ambos na forma de encarar certas questões relevantes para a política imperial.

Também nos manuais didáticos destinados ao estudo da história pátria, José Ignácio de Abreu e Lima e Joaquim Manuel de Macedo debruçam-se sobre o tema da ação partidária, sinalizando olhares diferentes a respeito da mesma, já que, por um lado, aquele alude, ao longo das páginas de seu Compêndio, a tal ação freqüentemente de maneira negativa, por exemplo, ao destacar, em referência ao

110

governo de D. Pedro I, que

a nomeação de novos ministros foi seguida de uma mudança na política do governo que não agradou aos liberais, e desde então a tribuna e a imprensa tornaram-se a arena, onde acrimoniosamente combatem os dois partidos. (II, p. 32).

Tratando do contexto em que se iniciava a organização do Estado nacional, em torno dos debates envolvendo a elaboração da primeira carta constitucional do recém-independente país, o escritor pernambucano atribui o fechamento da Assembléia Constituinte não a certo autoritarismo do imperador, mas à ação dos partidos que, por meio da própria Assembléia e da imprensa, geraram problemas sérios e “obrigaram” o imperador a promover tal fechamento, em novembro de 1823.

Por outro lado, além das menos freqüentes referências de Macedo ao tema da atuação dos partidos na política brasileira, é curioso notar como, ao invés de criticá-la, o letrado fluminense, elabora uma crítica, na verdade, às ações que procuram anulá-la, como se pode depreender da leitura do trecho de suas Lições em que ele, analisando a situação anterior à proclamação da independência, aponta que

nas lutas de partidos ou de opiniões que essencialmente divergem, desagrada a um e outro quem procura agradar a ambos: a política do príncipe (regente, D. Pedro) não satisfez portanto nem aos portugueses, nem aos brasileiros (...). (II, p.

271).

Interessante ainda é sublinhar que os comentários de Abreu e Lima e de Macedo remetem à participação de uma mesma personagem na política brasileira: o primeiro imperador, D. Pedro I.

Seja já na condição de monarca, seja desempenhando a função de príncipe regente na ausência de seu pai, o rei D. João VI, que retornara para Portugal, as narrações dos dois letrados acerca da atuação do mesmo, embora em contextos distintos, já assinaladas nas citações sobre suas formas de enxergar, e transmitir – é claro –, o episódio da abdicação, revelam mais do que simpatias ou antipatias pela personagem presente na narração, indicando maneiras diversas de compreender e de difundir o passado nacional.

Outro elemento representativo dessa observação percebe-se na maneira por meio da qual os dois escritores relatam um mesmo – e importante – episódio verificado ainda na fase colonial, mas já muito próximo do momento da proclamação da independência: a revolta ocorrida em Pernambuco no ano de 1817.

Curioso, de antemão, mostra-se o tom, a meu ver, excessivamente dramático, atribuído a tal episódio na narração feita por Abreu e Lima, pois, ao anunciar àquele que lê seu texto o próximo tópico constante de seu Compêndio, esse escritor destaca que lhe caberá, a partir daquela linha,

relatar um acontecimento desgraçado, cujo sanguinolento desfecho derramou luto sobre uma província inteira, paralisando por muitos anos sua crescente prosperidade, e arruinando muitas famílias, que ainda hoje (em 1843, data da

publicação de Compêndio da História do Brasil) sofrem a

conseqüência da bárbara legislação daqueles tempos. (I, p.

272.)

Curiosidade aumentada através da constatação de que esse escritor,

ferrenho crítico das ações revolucionárias, como se pode notar da leitura de outra obra sua, citada anteriormente, – o Bosquejo histórico, político e literário do Brasil – não se abstém de intervir na simples narração dos fatos referentes ao episódio, para enxertá-la de comentários bastante positivos e, até mesmo, elogiosos, como se observa na seguinte passagem:

É para louvar, e talvez coisa nunca vista em nenhuma outra revolução, a boa ordem que guardavam os oficiais e soldados de linha, respeitando a propriedade e o asilo de todos os cidadãos: nenhuma casa violada, nem um roubo se perpetuou.

(I, p. 279.)

Ordem, cidadania e respeito à propriedade emergem do relato de Abreu e Lima na condição de elementos associados à chamada Revolução Pernambucana de 1817, características que são totalmente compreensíveis, como já sugeri na avaliação de outra passagem da narrativa de tal autor sobre episódio distinto, na pena de alguém que propaga moderação enquanto comportamento modelar, mas que, evidentemente, não se encaixam bem no contexto de uma luta dita revolucionária. Algo estranho, afinal.

E mais. Maior estranheza surge do contato com os trechos selecionados acima quando se estabelece a comparação entre esse olhar de Abreu e Lima acerca do referido episódio e a narrativa proposta por Joaquim Manuel de Macedo para o mesmo, sendo que, ao narrar os acontecimentos relativos à chamada Revolução Pernambucana de 1817, esse autor pondera que

refletindo friamente nesse movimento ilegal e violento, reconhece-se que ele não tinha as condições necessárias para

triunfar; e que foi tão imprudente como contrário às conveniências futuras do Brasil. (II, pp. 254 – 255).

Uma referência exterior aos textos talvez seja um importante indício para elucidar tamanha diferença de olhares a respeito do mesmo episódio. Ela corresponde ao fato de que Abreu e Lima, escritor natural de Pernambuco, palco do movimento revolucionário descrito pelos dois autores, teve sua vida diretamente atingida pelos eventos relacionados ao mesmo, tendo em vista que, como mencionei anteriormente ao abordar partes da sua biografia, ele foi preso às vésperas da eclosão das disputas entre grupos da província e setores ligados à Corte do Rio de Janeiro. Além disso, lembremos que seu pai, o famoso, à época, Padre Roma, participante da tal Revolução Pernambucana de 1817, acabou preso e foi condenado à morte por conta de sua participação, pena, inclusive, aplicada diante do olhar do próprio filho, José Ignácio.

Dessa forma, enquanto para Macedo tal episódio era apenas algo pertencente ao passado da nação que ele deseja construir e difundir, e na qual não cabiam ações turbulentas como as de uma revolta, ainda mais nesse caso, marcado pelo questionamento ao controle político da dinastia de Bragança – naquele momento representado por D. João VI –, para Abreu e Lima era assunto tanto de ordem geral, do conjunto nacional, quanto de cunho individual, ou seja, do seu próprio passado, incrustado nas suas exclusivas memórias.

Por conseguinte, a disposição de Abreu e Lima para “relatar um

No documento A NAÇÃO COMO POSSIBILIDADE: (páginas 81-98)