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140 Nas primeiras décadas do século XX, já eram muitas as revistas

No documento VOLUME 2 APRESENTAÇÃO (páginas 140-144)

GÊNERO, SEXUALIDADE E MEIOS DE COMUNICAÇÃO: UMA REFLEXÃO SOBRE A SEXUALIDADE

140 Nas primeiras décadas do século XX, já eram muitas as revistas

dirigidas às mulheres. Mas foi principalmente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial que elas assumiram papel de destaque nas mudanças ocorridas no jornalismo. Foram elas que começaram a ouvir o leitor, a pesquisar quais os temas de maior interesse para o seu público alvo. Elas que ajudaram a aprofundar tendências e a registrar e cristalizar novos hábitos e atitudes, novas formas de agir e de pensar. O aproveitamento dos modernos recursos gráficos se fez mais intenso nas revistas femininas, integrando definitivamente texto e imagem. [...] (MAIA, 2002, pg. 04)

Conforme o jornalista Leonel Kaz (2002 apud MAIA, 2002), a história das revistas “femininas” começa em 1827, com Pierre Plancher, que criara o Jornal

do Commercio no Rio de Janeiro e logo depois O Espelho Diamantino. Pierre,

segundo Kaz (2002 in MAIA, 2002), assim escreveu na apresentação de sua quinzenal O Espelho Diamantino: “Pretender conservá-las em estado de estupidez, pouco acima dos animais domésticos é uma empresa tão injusta quanto prejudicial ao bem da humanidade.” Pierre trazia contos europeus, comentário sobre arte e literatura e culinária.

Levando em conta o que Kaz em Maia (2002) trouxe sobre a taxa de alfabetização da época, podemos pensar que eram poucas as mulheres que realmente acabavam tendo acesso realmente a informação, a cultura, e isso era expressivo na presença feminina em teatro, saraus, etc. Todavia, as mulheres que tinham consciência disso começavam a elaborar os primeiros movimentos, como Jornal das Senhoras, de 1852. A intenção era “cooperar com todas as forças para o melhoramento social e a emancipação da mulher”, dizia-se no editorial (KAZ 2002 apud MAIA, 2002). A reação masculina se apresentou sob a forma de cartas indignadas à redação, mas a proprietária, a professora argentina Joana de Noronha, não recuou. Apenas tomou a cautela de deixar de identificar as autoras dos artigos mais inflamados.

A revista Sexo Feminino Kaz (2002 apud MAIA, 2002), de Francisca Diniz, com 800 assinaturas em Minas Gerais, e que questionava o papel da mulher na sociedade brasileira. Após veio revistas, que cada vez mais incluíam além de beleza, culinária, também comportamento, política, economia, moda, etc. A Família, lançada por Josefina de Azevedo, irmã do poeta Álvares de Azevedo. Tratando a leitora como “eleitora”, Josefina – militante abolicionista e feminista – era também ferrenha defensora do divórcio; A Cigarra e Frou-Frou

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passaram a dar grande repercussão às novidades do cinema, dos esportes, da moda e beleza e bastidores dos eventos sociais (incluindo bailes). Foi em 1918 que nasceu a Revista Feminina. (KAZ, 2002 apud MAIA, 2002).

Na década dos 50, o mundo ficou de pernas para o ar. E elas, as pernas, começaram a ser mais bem tratadas, delineadas, lipoaspiradas. Para aprender tudo isso, foi necessário meio século de revistas femininas práticas, prestadoras de serviço, repletas de conteúdo e qualidade de informação. Leitoras se tornaram, década a década, mais exigentes. De lá para cá foram importantes, numa sequência mais ou menos cronológica A Cigarra, Jóia, Manequim, Claudia, Desfile, Setenta, Mais, Nova, Vogue, Criativa, Elle e Marie Claire, fazendo correr em paralelo, no campo das fotonovelas, Grande Hotel, Capricho, Sétimo Céu, Ilusão e Noturno. [...] (KAZ, 2002, pg. 08 apud MAIA, 2002)

Em contrapartida ao desenvolvimento de revistas voltadas, ou ditas femininas nos anos 50 e adiante, mais especificamente em 19531 nascia a Play

Boy, uma revista de Hefner Hugh, que propunha conteúdo adulto, sobretudo,

imagens de mulheres nuas. Diferente das revistas destinadas as mulheres da época, a Play Boy predominantemente publicava imagens para serem apreciadas por homens, e para que eles pudessem desfrutar do gozo e da sua sexualidade, seu auto-erotismo, propósito que, em nossa visão, se mantém até hoje. A parte textual era pequena, e uma folha ou outra trazia alguma informação sobre política, economia, cultura, etc. Podemos dizer que é uma revista com o propósito oposto das revistas ditas feita para mulheres.

Conclusões

Entendemos que ao longo da construção do feminino muitas coisas ocorreram, primeiro a mulher era tratada de forma desigual por conta do seu corpo, pois ele não era “tão forte” como o homem e, por isso, a mulher foi considerada inferior até a revolução industrial. Podemos considerar que a partir do desenvolvimento maquinário e da expansão industrial homens e mulheres começaram a equivaler-se, pois o trabalho braçal, no sentido mais significativo social da época, foi trocado por instrumentos que já não necessitava de tanta força e sim apenas de capacidade de aprender e operar.

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Sem autor específico, conteúdo disponibilizado no site da empresa em http://www.playboyenterprises.com/about/history/

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Na revolução sexual, na ascensão do feminismo, que pregava direitos iguais para homens e mulheres, das quebras de alguns tabus para as mulheres, como falarmos de sexo se ainda vivemos essa conflitiva? Como falar de sexo quando ainda ele é considerado pecado, e meninas ainda são vistas como “mulheres-da-vida” quando elas também podem decidir as leis do seu corpo, podem viver seu auto-erostimo? Qual a implicação das mulheres sobre essa cultura, quando ela fica omissa em relação aos seus desejos, sustenta a indústria de imprensa que a todo momento diz nas entrelinhas que ela deve ser isso, deve ser aquilo e assim por diante? O que sustenta nossa posição de buscar ideias de ser seres humano? Questões que consideramos importantes para refletirmos.

Nas revistas femininas o assunto sexo é corrente, mas em sessões pequenas e tratadas de maneiras breve, o tema sexo e dividido com outros assuntos e geralmente associado ao romantismo das relações, porque não poderia ser visceral como uma Play Boy? O que nos parece é que, alguns meios de comunicação querem formar uma única forma de ser mulher, longe da sua sexualidade, para aprender a ser esposa, mãe, dona de casa.

As mídias sociais sempre vendendo uma imagem de que mulheres devem fazer o que a revista propõe porque elas sempre estarão sendo assistidas. Um exemplo seriam essas campanhas com modelos, que implicitamente dizem “tenha esse corpo para ser desejada”, “tenha o corpo como essa famosa aqui” para fantasiarmos que temos o mesmo poder que elas, ou botar metas, às vezes, inviáveis sobre as vidas humanas.

Por que cultuamos o fato de meninas terem que brincar de bonecas, tentando prepara-las para ser mãe, donas de casa, se meninos também poderão estar presentes nesse processo de doméstico? Assim, impomos a invisibilidade da mulher, acreditando que elas devem ser algo pré-estabelecido, quando na realidade a existência de cada um é particular e um continuo processo de se fazer. Ao finalizar este trabalho entendemos que muitas questões estão foram levantadas e muitas outras não tiveram espaço neste momento diante da complexidade da temática.

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PSICOLOGIA ESCOLAR E A DESMISTIFICAÇÃO DO ESTIGMA

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