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A histeria é tam velha como a humanidade, pois, como diz Bernheim, "as crises histéricas são inerentes à natureza humana e sobretudo à natureza feminina,,.

Uma tal doença apresentando tam bizarras manifestações, que, no dizer do prof. Dubois, "há qualquer coisa de demoníaco no quadro clínico desta psiconevrose; em que o funciona- mento orgânico parece por vezes tam pertur- bado que se chamou à histeria, ainda que im- propriamente, a loucura do corpo,,, por certo que em todos os tempos deveria interessar todos aqueles que se sentiam inclinados a interpretar os fenómenos da vida.

No tempo de Hipócrates e de Galeno e mes- mo anteriormente, as mulheres que cuidavam de outras conheciam já a névrose.

Para Hipócrates e para Platão, Demócrito e Celso, o útero era um animal vivo alojado na mulher e cuja função era gerar filhos. Quando se lhe não satisfaziam os naturais desejos, êle revoltava-se, abandonava o seu lugar próprio e percorria o corpo em todos os sentidos dando lugar a toda a casta de perturbações.

"Era por isso principalmente nas mulheres "que não tinham relações sexuais e antes a par- "tir de uma certa idade, que estes movimentos

"eram fáceis, porque os vasos são mais vazios

ue o útero seco é também vazio e leve. Deslo-

"ca-se, lança-se sobre o fígado, órgão cheio de "fluído, para lá encontrar humidade, adere a ||êle, dirige-se aos hipocôndrios, interceptando ||a via respiratória que está no ventre, causando "uma sufocação súbita.

"Ao mesmo tempo da cabeça desce flegma ||aos hipocôndrios humedecendo o útero que se "torna mais pesado, volta ao seu lugar e a su- focação uterina cessa.

"Pode ficar pelos hipocôndrios, produzir vó- || mitos, dores gravativas da cabeça, cardialgia, "ortopneia, trismus com a face lívida, e estes "sintomas não cessam se se não destaca do fi- ll gado o útero que lhe aderiu, empurrando-o

para baixo com a mão. „

Estas palavras sintetizam o modo de pensar sobre a histeria dos scientistas desses remotos tempos, em que a histeria era considerada como uma doença vergonhosa que se escondia.

A terapêutica então aconselhada estava de acordo com o conceito formado da doença. Hi- pócrates aconselhava o casamento — Nubat Ma et morbum efugiet — como medida profilática, às raparigas em que havia suspeitas de histeria e para as histéricas averiguadas. Alem disso em- pregavam-se os antiespasmódicos, substâncias fétidas cujo cheiro se fazia absorver à doente com o fim de afugentar o útero que era atraído para o seu lugar normal, praticando fumigações aromáticas sobre as partes genitais.

Esta teoria uterina, que nos legou o nome da doença, foi também admitida, sob um outro aspecto, por Galeno, Aétius e Paul. Para estes não era um deslocamento do útero que se ope- rava, mas produzia-se uma excitação deste ór- gão por esperma ou sangue nele retido ou então formavam-se vapores subtis que dele partiam para o cérebro.

Paré admite que a madre se desloque, não como um animal vivo, mas porque é levantada por um movimento forçado produzindo a sufo- cação. Os sintomas da sufocação poderiam pro- vir de vapores malignos produzidos na madre.

Fermel (século xvi) admite também a teo- ria uterina, conforme a propôs Hipócrates, che- gando a afirmar que sentira o útero subir, sob a sua mão, até ao estômago.

Para Sennert tudo vem de vapores subtis emanados do útero, mas não provenientes de substâncias corruptas, putrefactas.

Pinei, Lieutaud, Louyer-Willermay, Grisol- le e Landouzy, colocam ainda a histeria sob a dependência do útero — não da mesma forma como os antigos, mas julgando-a como uma ex- citação nervosa reflexa partindo do útero (e seus anexos W—Landouzy) ou como Broussais que a faz derivar das afecções uterinas.

(L) Esta intervenção dos anexos foi confirmada por Schutzen-

berger e perfilhada por Négrier — que se fundavam na possibilidade de provocar uma crise por compressão ovárica e tinham notado a frequência da ovarialgia nas histéricas.

Esta teoria uterina ainda admitida em 1816 por Louyer-Willermay e em 1845 por Landouzy, que nessa época apresentava à Academia de Medicina uma memória em que se filiava a his- teria em excitações provenientes do útero e dos anexos, está hoje posta de parte em absoluto. Entre o vulgo ignaro subsiste ainda tal con- cepção da histeria; e, embora desgostante seja referi-lo, há médicos possuidores de um diploma autêntico que arrancham também na caravana e vá tantas vezes de fazer terapêutica hipocrá- tico no caso — nubat illa et morbum effugiet — pres- crevendo o casamento às histéricas, com a mes- ma facilidade com que se indicam as papas de linhaça, sem a menor noção dos prejuizos so- ciais que de tais ligações de nevrópatas pode- rão advir.

As teorias nervosas e cerebrais da histeria aparecem com Charles Lepois em 1618, que pela primeira vez descreveu a histeria mascu- lina, já suspeitada por Gfaleno, com Sydenham (1681) que a comparava à hipocondria e a jul- gava devida a uma desordem ou a movimentos irregulares dos espíritos animais e também por Willis.

As teorias nervosas e cerebrais da histeria não triunfaram logo; muito tempo subsistiram ainda as teorias uterinas. Georget (1821), Bra- chet (1832) e Briquet que em 1859 publicou o seu Traité Clinique e Thérapeutique de l'hystérie orien- tam o seu estudo, dando à histeria uma natu- reza nervosa, que Briquet classificava como

"uma névrose do encéfalo caracterizada sobretudo pela perturbação dos actos vitais que servem para a manifestação das sensações activas e das paixões. „

Foi Charcot e os da escola da Salpêtrière que no meio deste caos formado por todas as teorias que se tinham emitido sobre a natureza da histeria vieram lançar alguma luz e fixar a natureza psíquica da doença, cuja definição clí- nica é assim apresentada por Pitres (de Bordéus):

"Os acidentes histéricos são a consequência "de perturbações puramente funcionais do sis- "tema nervoso.

"Podem ser bruscamente provocados, modi- " ficados ou suprimidos por influências psíquicas "ou por causas físicas que não teem nenhuma "acção sobre os acidentes similares dependentes "de lesões orgânicas.

"Mostram-se muito raramente isolados; na "imensa maioria dos casos, certos estigmas la- mentes coexistem com as manifestações tumul- t u o s a s da névrose.

"Não teem evolução regular; sobreveem sem "ordem pre-estabelecida e sucedem-se sob dife- r e n t e s formas e em diferentes épocas nos mes- "mos indivíduos.

"Não teem habitualmente sobre a saúde ge- "ral e sobre o estado mental dos indivíduos que " atinge a repercussão profunda que teriam aci- " dentes similares, dependentes de uma outra "causa.,,

É ama definição clínica rigorosa, que peca somente por não explicar a patogenia dos aci- dentes histéricos.

Os da escola da Salpêtrière, Charcot à fren- te, definiram a névrose como uma entidade mór- bida perfeitamente determinada, que a despeito de se apresentar sob formas e variedades múl- tiplas conserva caracteres especiais que a dis- tinguem nitidamente da epilepsia — sendo por- tanto muito impróprio o termo histero-epile- psia— apresentando estigmas físicos e psíquicos constantes que permitem fazer o seu diagnós- tico. A historia pode coexistir no mesmo indi- víduo com outras formas neuropatológicas, mas evoluindo independentemente delas.

Para Charcot a "histeria é uma doença psí- quica por excelência,,. Partindo dos antigos trabalhos de Brodie e de Russel Reynolds con- segue mostrar que certas perturbações do mo- vimento não teem por base nenhuma de lesão orgânica do sistema nervoso, quer do sistema nervoso periférico, quer do eixo mielencefálico, mas que somente podem ser atribuídas a fenó- menos de ordem moral, psico-fisiológicos.

Uma ideia uma vez fixada no espírito, do- minando sem a crítica da razão, é capaz de ganhar força suficiente para produzir fenóme- nos objectivos, traduzindo-se por contracturas, paralisias, hiperestesias, anorexia, mutismo, etc. — fenómenos estes que é possível fazer repro- duzir por sugestão nos doentes histéricos.

psíquica dos acidentes histéricos, que foram depois seguidos de outros estudos de psicologia médica feitos por Pierre Janet em França e por Mœbius e Strùmpell na Alemanha. Para estes últimos a histeria seria uma doença de repre- sentação.

Hoje a concepção psicológica da histeria é quasi que universalmente admitida; poucos adversários conta. Entre os que querem dar à histeria uma natureza não psíquica, pelo menos em absoluto, conta-se o dr. Paul Sollier, médi- co do Sanatório de Bologne-sur-Seine, que emi- tiu uma teoria fisiológica da histeria, ou, me- lhor dizendo, psico-fisiológica.

A concepção que o dr. Sollier forma da his- teria é que se pode resumir na seguinte defini- ção: "A histeria não é uma doença física ou

"uma doença psíquica: é uma perturbação fí- s i c a , funcional do cortex cerebral, consistindo "num torpor ou num sono localizado ou gene- ralizado, passageiro ou permanente dos cen- "tros cerebrais e traduzindo-se, por isso, se- "gundo os centros atingidos, por manifestações "vaso-motoras e tróficas, viscerais, sensoriais e "sensitivas, motoras e, enfim, psíquicas e, se- "gundo as suas variações, o seu grau e a sua "duração por crises transitórias, estigmas per- "manentes ou acidentes paroxisticos. As histé- r i c a s confirmadas não são mais do que vigi- "lâmbulas, cujo estado de sono é mais ou menos "profundo, mais ou menos extenso.„

histéricas provêem de um adormecimento do centro superior respectivo. E o seu tratamento, firmado nesta concepção patogénica e cujos re- sultados por sua vez servem para a basear e para a confirmar, consiste em fazer despertar do seu letargo os centros atingidos. Claro que uma excitação forte operaria esse despertar, como faz acordar um indivíduo normal que dorme. Para o conseguir utiliza Sollier vários meios : ou provocando uma reacção geral pela mudança de meio, o isolamento, uma disciplina nova da vida, o repouso e a superalimentação, ou fazendo a reeducação da sensibilidade que respeita à função doente, por meio de exci- tações localmente aplicadas mas que na reali- dade, por via centrípeta, vão actuar sobre os centros cerebrais.

Quando tais processos são improfícuos o autor recorre então à hipnose, fácil de obter num histérico, que está já num estado de vigi- lambulismo, e então se procede à reeducação da sensibilidade — que no estado de hipnose tem, por assim dizer, um maior campo de acção, pois então os doentes teem a consciência de modificações e de formações do seu organismo (fenómenos de autoscopia interna) e até podem submeter à acção da vontade os seus músculos lisos, o que qualquer indivíduo no estado nor- mal não tem possibilidade de fazer.

Para Sollier, nestes casos nenhuma suges- tão se faz: o doente é despertado do seu tor- por mental por uma excitação, como um in-

divíduo normal desperta do sono que está dormindo quando se chama por êle.

Apresentemos agora as diferentes teorias psicológicas :

A teoria de Pierre Janet pode ser assim re- sumida: "A histeria é uma forma de depressão

"mental caracterizada pela redução do campo "da consciência pessoal e pela tendência à "dissociação e à emancipação dos sistemas "de ideias e das funções que, pela sua síntese, "constituem a personalidade„.

Esta teoria, fundamenta-a o autor no estudo analítico das manifestações histéricas, como tal consideradas e que clinicamente se podem con- siderar como características da névrose.

Assim, o autor estuda em primeiro lugar o delírio de ideias fixas de forma sonambulica co- nhecido já nos tempos antigos — o delírio de Lady Macbeth—que considera extremamente original e inconfundível com qualquer outra manifestação delirante. É um delírio extremo, acompanhando-se de uma convicção intensa, determinando acções variadas e de um desen- volvimento tam regular que "a scena da cruci- fixação e da violação se podem repetir centos de vezes com os mesmos gestos e as mesmas palavras no mesmo doente „. O delírio dá lugar a uma multidão de alucinações de vária ordem. Outro carácter notável do delírio vem a ser que durante o seu desenvolvimento o doente

nada aceita, nada ouve, nada vê fora do sis- tema de imagens da sua ideia. No final da crise delirante o doente não se recorda do que se passou, podendo a amnésia atingir alem dos factos do período delirante, a própria ideia do- minante e até acontecimentos precedentes em relação com ela.

Janet resume os caracteres do delírio, di- zendo que "é uma ideia, um sistema de ima- gens e de movimento que escapa ao exame e mesmo ao conhecimento do conjunto dos ou- tros sistemas que constituem a personalidade».

Depois faz o estudo das perturbações da linguagem : notam-se às vezes crises de logor- reia em que o doente fala continuamente, a propósito e a despropósito de tudo, sem conse- guir deter o discurso nem produzir a palavra voluntariamente. Estas crises de logorreia ma- nifestam-se também pela palavra escrita.

Os fenómenos de mutismo histérico são para o autor muito próximos destas crises de logor- reia, não constituindo mais do que o seu rever- so. Nelas também o doente não pode volunta- riamente dispor da função da linguagem, sem que, no entanto, esta função tenha sido abolida, pois, a palavra manifesta-se ainda durante os sonhos do sono normal e nas crises de sonam- bulismo. "A linguagem está fora da consciên- cia pessoal e já não existe ao mesmo tempo que esta consciência „.

Enfim, estudando as diferentes perturbações de motilidade, de sensibilidade e das funções vis-

cerais — em todas como nas precedentes se no- tam os mesmos caracteres fundamentais: exa- geros ou abolições aparentes da função, desen- volvendo-se sem o exame dos outros sistemas que constituem a personalidade.

Da mesma maneira, o estudo dos estigmas mentais, que para Janet são a sugestionabili- dade, a distractividade e a alternância bizarra dos sintomas vem em apoio da sua teoria. Com efeito, a sugestionabilidade não é mais do que a falta de reacção mútua entre as diversas ideias que residem na consciência, de modo que uma ideia ou um sistema podem desenvol- ver-se desmesuradamente e tornar-se dominan- te. Daí a sugestão.

A distractividade é também uma consequên- cia da desagregação da consciência: o esqueci- mento fácil das percepções, das recordações que não estão em relação directa com o pensamento actual, explica-se pela predominância dessa ideia actual, como que isolada das outras ideias, que estão suprimidas na consciência. "Podia dizer-se um pensamento em que falta a penumbra e que fica reduzido à ideia clara, crutral, sem nenhum cortejo de imagens incompletas a cercá-la,,.

A alternância bizarra dos acidentes é tam- bém uma natural consequência do estado de desagregação da consciência; nela um facto, uma ideia, dão lugar a outras sem transição.

Todos estes factos mostram que na histérica existe uma redução do campo de consciência — definido por Janet como "o número maior de

"fenómenos simples ou relativamente simples "que podem ser reunidos em cada momento, "que podem ser simultaneamente ligados à "nossa personalidade numa mesma percepção "pessoal,,.

Desta redução do campo da consciência, em que um sistema predomina sobre todos os ou- tros, a tal ponto que outros fenómenos, outras percepções não podem ser aceites pela consciên- cia, acarreta naturalmente uma dissociação das ideias, uma dissociação das funções.

Esta dissociação das funções é particular- mente nítida nas perturbações visuais, em que a histérica parece decompor a visão nas suas funções elementares.

Esta dissociação das funções não acarreta perturbação alguma à função; esta permanece incólume. Do que a histérica ó incapaz é de fa- zer a reunião, a síntese das funções de que re- sulta a constituição da personalidade.

Assim justifica o autor a sua maneira de vêr. Grasset admite uma teoria muito próxima da de Janet. Grasset explica esta dissociação da consciência pela desagregação suprapoligonal, ou seja a separação dos dois psiquismos, o psiquis- mo superior e o psiquismo automático.

Este automatismo superior ou psiquismo in- ferior (correspondente ao automatismo psicoló- gico de Janet) é, segundo o autor, "uma função

"automática que não é o arco reflexo ordinário "porque produz actos coordenados, inteligen-

"tes, espontâneos dentro de um certo limite. É "uma função psíquica cujos centros estão na "substância cinzenta do cortex e que deve ser, "porém, cuidadosamente distinta da função "psíquica superior, sede da intelectualidade su- perior, da personalidade plena e verdadeira, "da consciência inteira e moral, da liberdade e "da responsabilidade,,.

Nos actos psíquicos inferiores, automáticos, inconscientes só entrariam em acção os cen- tros psíquicos inferiores que formam o polígono AVTEMK, independentemente do centro O — centro psíquico superior, da personalidade consciente, da vontade livre, do eu responsável situado no lóbulo prefrontal.

Nos actos psíquicos superiores, conscientes todos os centros colaborariam, tanto os que for- mam o polígono, como o centro superior O.

As manifestações da histeria, seriam para o autor actos psíquicos inferiores, executando-se independentemente do centro O.

Para Beruheim a única manifestação histé- rica é a crise. Todas as outras manifestações ou sejam tomadas como estigmas da névrose ou como acidentes (anestesias sensitivas e sen- soriais, contracturas, perturbações da visão, etc.), são para o autor fenómenos da mesma ordem da crise histérica — são psiconevroses.

Bernheim define as psiconevroses assim: "perturbações nervosas de origem emotiva, susceptíveis de ser conservadas ou reproduzi-

das por uma representação mental ou de ser cria- das d'emblée por representação mental emotiva,,.

A crise histérica seria assim uma psicone- vrose.

iComo se produz a crise histérica? Bernheim admite que a crise não é mais do que o exagero de um fenómeno habitual de ordem psico-fisio- lógica de origem emotiva.

Uma emoção qualquer pode provocar num indivíduo normal perturbações que recordam as crises histéricas, que não são mesmo outra coisa do que crises histéricas em miniatura.

Estas perturbações, este modo de reacção ao choque emotivo é variável com o indivíduo. Uma emoção da mesma ordem provocará em diferentes indivíduos perturbações diversas.

E o que o autor exprime assim: "cada orga- nismo reage com a sua diátese„.

As reacções emotivas são, portanto, nor- mais. Mas "quando elas se amplificam em in- tensidade e duração, quando o sindroma geral "nervoso provocado por uma emoção especial, "em lugar de se resolver espontaneamente, "como na maioria dos casos, degenera pelo "contrário em crise intensa ou prolongada, dis- "pneica, estrangulatória, convulsiva, delirante, "résolutiva, pseudo-sincopal, esta reacção cons- t i t u i o que se costuma chamar uma crise de "histeria,,.

Ora quando o indivíduo reage ao choque emotivo que sofreu por uma crise nervosa é porque é um histerizável, em suma, um histérico.

"Um histérico, diz Bernheim, é um indivi- duo que exagera certas reacções psicodinâmi- cas e as traduz sob a forma de crises ; é um in- divíduo apto a fazer crises de histeria,,.

Como o próprio autor diz, o que aí fica não é uma definição, é uma constatação clínica, de observação e de experiência.

Não é qualquer emoção que provoca crises em todos os histéricos; alguns há em que tal sucede; mas noutros é como que necessário uma depressão orgânica prévia ou uma emo- ção especial, por assim dizer específica — como se o doente tivesse as suas idiosincrasias morais. A crise provocada pelo choque emotivo é al- gumas vezes única.

É a histeria simples ou acidental.

Outras vezes não é única, repete-se : ou uma nova emoção análoga ou a recordação emotiva da primeira crise, isto é, uma auto-sugestão po- dem reproduzi-la. E reproduzir-se há tanto mais vezes quanto a doente fôr mais histerizável.

Esta aptidão do organismo para produzir crises histéricas vai-se educando com o hábito constituindo-se uma verdadeira diátese histé- rica que se poderá tornar numa verdadeira doença.

Em resumo, para Bernheim :

A única manifestação histérica é a crise, provocada por um choque emotivo (que pode ter mesmo como causa uma doença orgânica, nervosa, infecciosa, tóxica, constituindo a his- teria um epifenómeno da doença) ;

A crise não é mais do que uma reacção psi- co-dinâmica normal exagerada nos histéricos;

O histérico é o indivíduo portador de um aparelho histerogénico, isto é, de um fundo ner- voso especial, que o torna capaz de fazer crises

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