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3 BASES EPISTEMOLÓGICAS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE IMAGEM DA BIBLIOTECA PÚBLICA NA ERA DA INFORMAÇÃO

3.1 NATUREZA ICÔNICA DA IMAGEM

Uma imagem é um modelo representativo da realidade pela inerência de sua natureza icônica. As imagens conforme aponta Villafañe (2009) podem ser classificadas e definidas posteriormente em função de critérios múltiplos. O nível de realidade de uma imagem expressa o grau de iconicidade ou de abstração que uma imagem possui. A natureza icônica é o elemento matriz de configuração da Teoria Geral da Imagem, é o seu objeto científico. Conforme afirma Villafañe (2009, p. 21),

A configuração da Teoria da Imagem como uma disciplina específica para o estudo da natureza icônica pode satisfazer, também, a necessidade de encontrar um modelo metodológico para a análise de imagens. É lógico pensar que se a imagem foi criada a partir do objeto científico, a Teoria que explica a natureza do referido objeto, seria mais eficaz na análise das diversas manifestações do mesmo. (tradução nossa).

Assim, é da análise da natureza icônica que implica na configuração científica da Teoria Geral da Imagem e é desse estudo que se formaliza a imagem como produto científico. A relação entre imagem e realidade apoia-se nos conceitos de Arnheim (2000) e de Aumont

(2002) que afirma que não se deve para explicar essa relação ignorar o papel que o espectador desempenha nesta relação, sobretudo, no processo de observação ou apreensão da referida imagem, no qual o mecanismo perceptivo humano se vê contaminado por outros processos da conduta que podem influenciar no resultado visual.

Para Aumont (2002), além das influências perceptivas, existe inclusive uma concepção do espaço representativo baseada em uma ideia indutiva da relação do observador com a imagem. Seguindo as perspectivas de Gombrich (2007), Aumont (2002) ressalta o papel do espectador, enfatizando que o observador constrói seu conhecimento através da percepção visual e de seu conhecimento prévio preenchendo as lacunas da representação. Por isso, Aumont (2002) conclui que a parte do espectador é projetiva, e que este tem um papel ativo neste processo. Sobre o papel dominante que tem o observador na percepção da imagem Gombrich (2007), destaca o caráter ativo, construtivo do processo, o qual por sua vez, pressupõe um conjunto de expectativas que são ratificadas ou refutadas pela percepção. É correto afirmarmos que em qualquer desses casos pode haver ideias estereotipadas, próprias da percepção humana, que se impõem ao ato de percepção da imagem. O que significa que, conforme completa Aumont (2002) o sujeito não pode ser definido de forma simples, pois sua relação com a imagem é definida pela sua capacidade de percepção, pelo conhecimento prévio, pelos valores e gostos e por sua vinculação num contexto.

Ainda baseado em Gombrich (2007), Aumont (2002) norteia sua teoria, onde a relação entre o espectador e a imagem é uma atividade recíproca: ao mesmo tempo em que o espectador a constrói, ela também o constrói. Assim, ele entra na esfera do reconhecimento, que por sua vez está ligado ao processo de recordação e recuperação da memória visual. Villafañe e Mínguez (2009) defendem que é muito difícil definir imagem, entretanto, associa a definição do seu conceito a seis variáveis específicas: o nível de realidade, a simplicidade estrutural, a concreção do sentido, a materialidade da imagem, a geração da imagem e a definição estrutural. Os autores afirmam ainda que uma definição fechada de imagem é impossível exatamente pelo caráter polissêmico e a natureza icônica. Seu conceito está, portanto, abrigado em três eixos essenciais: uma seleção da realidade, um repertório de elementos e uma sintaxe. E para Villafañe (2009) uma vez estabelecidos estes eixos, o estudo da sua natureza pode se reduzir a dois grandes processos, que são a percepção e a representação. Da percepção dependem todos os mecanismos de seleção da realidade, já a representação, pressupõe a explicitação da realidade de uma forma particular.

3.1.1 Modelização Icônica da Realidade

Villafañe (2009) parte da ideia de que toda imagem possui um referente real, independente do seu grau de iconicidade, sua natureza ou meio que a produz. Entretanto, esta assertiva pode resultar em um engano se houver redução de sua característica mais importante de sua natureza icônica, a modelização da realidade supõe a referida imagem, a uma simples escala que indique o grau de correspondência entre uma e outra. O processo de modelização icônica da realidade compreende duas etapas, conforme observa-se no esquema de modelização icônica da realidade de Villafañe e Mínguez (2009) ilustrado na Figura 13: a criação e a observação icônica.

Para Villafañe (2009) a percepção e a representação visual, responsáveis pela modelização icônica, se baseiam em uma série de mecanismos que conferem a imagem sua especificidade e a caracteriza e distingue de outros produtos comunicativos. Observe-se que a primeira fase o destaque é dado à obtenção/criação da imagem, entretanto, a segunda etapa é dada ênfase ao observador/receptor, que completa o sentido deste processo.

Figura 13 - Modelização icônica da realidade

Fonte: VILLAFAÑE; MÍNGUEZ (2009).

O esquema pré-icônico da realidade compreende a extração por parte do criador da imagem de elementos que possibilitem ao receptor a percepção e representação. Este esquema constitui um conjunto de características semelhantes às próprias características do objeto que

representa. Ele se localiza no meio do processo de percepção e representação por parte do receptor, sendo, portanto, o resultado de uma organização visual do objeto e uma seleção de um número mínimo de características necessárias a fim de representar a identidade do objeto.

A segunda fase da modelização icônica da realidade tem natureza representativa e se produz a partir da observação do receptor. É o sentido propriamente dito. Sentido esse, que define a realidade sensorial de espaço e tempo do objeto. É a dinâmica dessa operação modelizadora,

[...] que consiste na escolha de alguns elementos que reconstruam na imagem as relações que seus elementos de referência armazenam na realidade, implica em um procedimento de ordenação dos mesmos, uma sintaxe, na qual o tipo de representação que irá produzir (VILLAFAÑE; MÍNGUEZ, 2009, p. 33). (tradução própria).

A partir dessas duas etapas obtem-se uma imagem particular representativa da realidade. Sobre isto, Gombrich (2007) explica as relações entre a imagem e a realidade ao longo de toda a história da arte naturalista como um processo de correção de esquemas que giram entre o mimético e o conceitual. Para ele, o esquema tem duas propriedades, um código naturalista foi sendo modificado historicamente ao longo dos tempos pelo homem; e um reconhecimento. O que significa que,

Quando reconhecemos algo, não fazemos comparando cada detalhe do objeto e seu conceito visual armazenado na memória, muito pelo contrário, que é armazenado na memória visual é um ‘resumo’ do objeto - um esboço - que inclui um número mínimo características estruturais suficientes para preservar a identidade visual do objeto (VILLAFAÑE; MÍNGUEZ, 2009, p. 34). (tradução própria).

Depois que o receptor / observador percebe a imagem este tem acesso a uma realidade modelizada iconicamente, ou seja, uma representação icônica desta realidade. Villafañe e Minguez (2009) destacam três tipos diferentes de modelização: a representação, o símbolo e o signo. Esses três tipos de modelização por sua vez, coincidem com as três funções das imagens desenvolvidas por Arnheim (2000): a função representativa, simbólica e a

convencional.

A função representativa é quando a imagem é de forma analógica. Lembrando que a analogia é o fenômeno de homologação figurativa entre a forma visual e o conceito visual correspondente (VILLAFAÑE; MINGUEZ, 2009). É importante destacar que a função representativa tem duas características importantes. A primeira é que a representação é

independente do grau de semelhança que a imagem tem com a realidade a que o objeto se refere, e a segunda, que a representação é sempre mais abstrata que o seu referente.

A função simbólica é quando atribui ou descreve uma forma visual a um conceito. Sua característica mais importante é existência de um referente figurativo e outro de sentido. E a função convencional se produz quando a imagem atua como um signo substitui a realidade sem refletir nenhuma de suas características visuais. Esta função demonstra um caráter arbitrário, uma vez que utiliza propriedades visuais inexistentes em sua própria realidade, um exemplo dessa função é o semáforo, cujas cores representam respectivamente, verde, pode passar; amarelo, atenção; e vermelho, pare, perigo.

Na realidade, essas cores isoladamente, fora desse contexto, não representam esses signos visuais. Arnhein (2000) constata que as imagens são representações na medida em que retratam coisas localizadas em um menor nível de abstração que elas mesmas, neste sentido a analogia icônica é o elemento principal que transpõe essa condição a imagem modelizada. Gombrich (2007) atribui à analogia icônica uma característica dupla, uma que funciona como um espelho e outra como um mapa. O espelho registra o aspecto que representa ou pretende representar e o mapa funciona como uma seleção e esquematização de informações capazes de estruturar o objeto como um todo.