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Natureza Jurídica das Centrais Sindicais

BRITO FILHO alerta para os significados distintos que envolvem o conceito de Central Sindical se observados os sistemas jurídicos existentes, podendo-se entender como sinônimo de sindicatos, por exemplo, se considerado o caso espanhol. No Brasil, as Centrais não integram o sistema confederativo, não possuindo, portanto, as prerrogativas das entidades sindicais.549

Acerca das Centrais, são estas entidades civis que podem congregar um número ilimitado de pessoas jurídicas, como sindicatos, associações profissionais por ramos de trabalho, associações pré-sindicais, associações de categorias sem sindicatos, federações e confederações. Centrais Sindicais são organismos de coordenação de entidades sindicais ou não, de atividades ou de categorias profissionais diversas, que não integram a hierarquia das associações sindicais, por isso, além de não serem uma espécie de confederação, podem se multiplicar com base no princípio da liberdade de associação, o que se costuma ocorrer com algumas centrais de trabalhadores.550

Conforme NASCIMENTO são as Centrais Sindicais:

(...) organizações intercategoriais, numa linha horizontal, abrangentes de diversas categorias. Delas são aderentes não os trabalhadores diretamente, mas as entidades de primeiro grau que os representam ou as de segundo grau que integram os sindicatos. Portanto, representam os sindicatos, federações e confederações de mais de uma categoria. Atuam numa base territorial ampla, quase sempre todo o país.551

548 Idem. p. 339.

549 BRITO FILHO, José Cláudio de. Direito Sindical. São Paulo: LTr, 2000. pp. 129;135.

550 MACIEL, José Alberto Couto. Papel das Centrais Sindicais. In: FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord).

Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa. São Paulo: LTr, 1998. p. 122.

Enquanto no regime brasileiro a representação se da por categoria econômica e profissional, as Centrais Sindicais representam congregações ou grupos de sindicatos representando a categoria profissional, sem correspondente correlação econômica, caracterizando-se mais órgãos de negociação com o governo, sem que haja possibilidade de negociação entre representantes patronais e profissionais. Nota-se também que as Centrais Sindicais são sociedades civis, e por tal motivo estão proibidas de representar qualquer categoria profissional ou patronal, por impedimento constitucional.552

Assim, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o papel das Centrais Sindicais na área jurídica trabalhista está reduzido, mas é politicamente que elas exercem sua maior função, defendendo os trabalhadores, em todos os níveis e esferas do governo e da sociedade. Apesar das Centrais Sindicais não possuírem investidura sindical e não terem legitimidade jurídica para representarem os trabalhadores, são atualmente uma realidade nacional, com maior força do que diversos sindicatos, fomentando e comandando greves, atuando com muito mais eficácia e discutindo as questões trabalhistas com maior ênfase do que qualquer confederação, conseguindo alguns resultados eficazes e contando com o reconhecimento dos Poderes Legislativo e Executivo, demonstrando que no direito de trabalho o costume supera a lei, que a realidade se sobrepõe à norma legal, impondo mudanças, tanto que existem projetos de lei para regularizar as centrais sindicais no Congresso Nacional, e além disso, se propaga com muito mais força uma reforma constitucional para que se altere o princípio da unidade sindical.553

Não obstante, o legislador admite as atuações das Centrais Sindicais, dando eficácia ao disposto no art. 10 da Constituição Federal, que assegura a participação dos trabalhadores e empregados nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.554

Nota-se também, que a concretização das Centrais Sindicais está amparada pelo caput do art. 8º, da Lei Maior, ao assegurar a liberdade de associação profissional, isto é, apesar de as Centrais Sindicais não constituírem uma organização sindical, em razão da vedação

552 MACIEL, José Alberto Couto. Papel das Centrais Sindicais. In: FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord).

Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa. São Paulo: LTr, 1998. p. 122.

553 MACIEL, José Alberto Couto. Papel das Centrais Sindicais. In: FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord).

Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa. São Paulo: LTr, 1998. pp. 125-126.

expressa no inciso II, do mesmo diploma, são associações profissionais, ou seja, a existência de tais entidades é perfeitamente compatível com a nova Constituição, apenas não gozando de representação legal. Apesar de não exercerem atividade sindical, como associação profissional e não sindical, de fato exercem as Centrais inequívoca influência sobre essa atividade sindical, pois têm como essência de ser a superação dos interesses setoriais das categorias, em favor dos interesses globais dos trabalhadores, o que justifica o fato de o governo estar preferindo o diálogo com elas do que com as próprias confederações sindicais, por causa de uma maior eficácia que resulta do diálogo, como na questão do desemprego em que há interesse comum de todos os trabalhadores e não só de uma categoria isolada.555

Acredita-se que a natureza jurídica de tais entidades nada mais é do que a de associações civis que abrangem diversas entidades sindicais ou meramente profissionais, sendo, pois, evidente o “enquadramento” do perfil de tais entidades ao modelo de sindicalismo propugnado pela Organização Internacional do Trabalho, que busca o fortalecimento do movimento sindical como garantidor e fiscal da tutela jurídica dos trabalhadores, e também, negociador de condições de trabalho compatíveis com as transformações que acompanham a globalização.556

Tratam-se, pois, de entidades associativas de direito privado, tendo por natureza a associação de sindicatos. Sendo assim, as Centrais Sindicais são pessoas jurídicas de direito privado, sendo, assim, associações civis. Note-se ainda que as Centrais Sindicais são órgãos de cúpula, intercategorias, situando-se acima das confederações. São, pois, órgãos nacionais, às quais possuem como filiados os sindicatos, federações e confederações. Neste aspecto, de se ressaltar ainda que não se constituem como Centrais Sindicais as organizações sindicais de empregadores.557

Para MARTINS, a Constituição não proíbe expressamente a criação das Centrais Sindicais, de forma que não integram o sistema confederativo previsto constitucionalmente, e não estão inseridas, ademais, dentro o sistema de categoria constitucionalmente estabelecido.558

Não possuem as Centrais Sindicais natureza sindical, não fazendo parte ainda do sistema confederativo, pois vieram “horizontalizar a estrutura rígida da organização sindical”.559

555 Ibidem. p. 130.

556 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Centrais Sindicais e Sindicalização por Categorias. In: PRADO, Ney (coord).

Direito Sindical Brasileiro. Estudos em Homenagem ao Prof. Arion Sayão Romita. São Paulo: LTr, 1998. p. 346.

557 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 722. 558 Idem. p. 722.

Como pessoas jurídicas de direito privado, NICACO aponta que as Centrais Sindicais apenas passa a ter existência legal após ato constitutivo de inscrita no respectivo registro, nos moldes do art. 45 do Código Civil. Ademais, passa com o registro a ter personalidade jurídica, isto é, capacidade de direitos e deverem na ordem civil (CC. art. 1o).560