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O nazismo não foi nada mais do que uma autodefesa das velhas instituições contra o comunismo Os próprios nazistas

No documento o Judeu Não-judeu (páginas 54-58)

sentiam que seu papel consistia nisso; a sociedade alemã inteira

os via dessa forma e o judaísmo europeu teve de pagar o preço

da sobrevivência do capitalismo; o preço do sucesso do capita lismo ao defender-se contra a revolução socialista. Êsse fato certamente não pede revisão da teoria marxista clássica, pois, ao contrário, a confirma. Mostrando-se a um médico um tipo de câncer caracteristicamente perigoso, êle certamente não sen tiria necessidade ou justificação para rever a ciência médica. O destino dos judeus não enfraquece minhas convicções mar xistas. Ao contrário, apóia o meu Weltanschauung  marxista.

O marxismo, como método e uma concepção materialista da história, ajuda na análise das fôrças que moldam a sociedade. Aquêles que usaram êsse método tiveram o pressentimento — e, no caso de Trotski, uma extraordinária visão — da selvageria que ameaçava engolfar a Europa. Mas, todo o horror, a dege- nerescência e o caráter patológico da teoria e das práticas nazistas desafiavam a imaginação humana normal e sadia.

É uma verdade, trágica e macabra, que o maior “re-defini- dor” da identidade judaica foi Hitler e êste é um dos seus maio res triunfos póstumos1. Auschwitz foi o terrível berço da nova consciência e da nova nação judaica. Nós, que tantas vêzes rejeitamos as tradições religiosas, agora pertencemos àquela comunidade negativa dos que, tantas vêzes através da história, e mesmo bem recentemente, e de forma tão trágica, foram escolhidos para a perseguição e o extermínio. Para aquêles que sempre perseguiram os judeus, e tudo aquilo que com êles se relacionava, é amargo e estranho pensar que o extermínio de seis milhões de judeus desse nôvo alento ao judaísmo. Eu preferiria seis milhões de homens, mulheres e crianças vivos e a extinção do judaísmo. Das cinzas de seis milhões de judeus, ressurgiu a Fênix do judaísmo! Que ressurreiçãol

E, agora, esta nova e tràgicamente ressurrecta identidade exige que a definam, que a localizem na realidade despedaçada por um passado recente. Êsse esforço será infrutífero, se feito com o intuito de uma aproximação de todos os judeus. Quem é que se propõe à la recherche de son identifé juive:  Sir Isaac

1 Com a criação do Estado de Israel, os judeus se nazificaram chegando a usar contra os Estados árabes métodos hitleristas de con quista de espaço vital e na imposição do seu Israel über alies  ( N. do T .)

Wolfson ou Mendès France? Ben Gurion ou Lazar Kaganovich? O rabino-chefe na Grã-Bretanha ou eu mesmo?

A comunidade judaica, para mim, pessoalmente, ainda per manece negativa. Nada tenho em comum com os judeus, diga mos, do  Mea Shaarim  ou com qualquer outro tipo de naciona lidade israelense. Sinto-me atraído pelos marxistas da ala esquerda de Israel, mas também me sinto ligado àqueles que assim pensam seja na França, na Itália, Grã-Bretanha ou Japão, ou àquelas multidões de americanos às quais me dirigi em Washington e São Francisco, cm vastos comícios de protesto contra a guerra do Vietnã. Vamos agora aceitar as idéias de que sejam laços raciais ou “vínculo sangüíneo” que faz a co munidade judaica? Não seria outro triunfo para Hitler e sua degenerada filosofia?

Se não é a raça, que é então que faz um judeu?

Religião? Eu sou ateu. Nacionalismo judaico? Sou inter- nacionalista. Dessa forma, em nenhum dos dois sentidos sou  judeu. Sou judeu, entretanto, pela fôrça de minha incondicional solidariedade aos perseguidos e exterminados. Sou judeu por que sinto a tragédia judaica como a minha própria tragédia; porque sinto o pulsar da história judaica; porque daria tudo que pudesse para assegurar aos judeus auto-respeito e segu rança reais e não fictícios.

A diferença de background, nas condições de vida, de Wel tanschauung,  que separam, por exemplo, Sir Isaac Wolfson ou o Rabino-chefe da Grã-Bretanha de mim ou do meu amigo do Distrito de Muranov, em Varsóvia — cujo retrato esbocei propositadamente — sublinha a incongruência de uma aproxi mação total dos judeus do problema que nos preocupa. A definição de um judeu é tão artificiosa precisamente porque a Diáspora expõe os judeus a uma tremenda variedade de pres sões e influências e, também, a grande diversidade de meios que êles tinham para defender-se da hostilidade e da persegui ção. Minha participação em assuntos judaicos, na Polônia de antes da guerra, sem dúvida alguma seria chamada de subver siva, herege e completamente antijudaica por qualquer congre gação das sinagogas de New York, Paris ou Londres.

Falar de uma “comunidade judaica” como se fôsse associa ção envolvente não faz sentido e, muito menos, para um marxis

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grego go e e o o latimlatim. . FicarFicaremos clássicos. emos clássicos. AAs gerações futuras lerãos gerações futuras lerão minhas sátiras como atualmente lemos e estudamos Horácio minhas sátiras como atualmente lemos e estudamos Horácio e Ovídio.

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O paradoxo formulado por Nadir tornar-se-ia realidade O paradoxo formulado por Nadir tornar-se-ia realidade e

e de de forma forma mmuito uito mamais triis triste do que êle iste do que êle imaginaria. maginaria. Apesar deApesar de sua aparente ou fingida indiferença pelo destino de sua língua, sua aparente ou fingida indiferença pelo destino de sua língua, Nadir teria tentado àvidamente achar meios de partilhar, com Nadir teria tentado àvidamente achar meios de partilhar, com os leitores de língua inglêsa, todo o sabor da poesia e da prosa os leitores de língua inglêsa, todo o sabor da poesia e da prosa iídiche e

iídiche e trantransmsmitir-lheitir-lhes s a riqueza dessa a riqueza dessa heraherança litnça literária. erária. MMas,as, êle sabia que, apesar da inteligência, ternura e amor dedicado êle sabia que, apesar da inteligência, ternura e amor dedicado àquele trabalho, haveria certo ranço de pesquisa arqueológica, àquele trabalho, haveria certo ranço de pesquisa arqueológica, de trabalho de restauração e de apresentação de fragmentos de trabalho de restauração e de apresentação de fragmentos de

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cultura ou literatura vivas. cultura ou literatura vivas.

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