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NECESSIDADE DA DISCUSSÃO MORAL

No documento A Complexa Sedução Da Matrix - Augusto (páginas 31-34)

A grande praga da pós-modernista é o relativismo moral, não pelo simples fato de que considera que todas as idéias têm mesmo peso e validade, mas porque também censura o debate moral.

Em tempos de relativismo, a discussão moral é movida para baixo do tapete, é vista – e este tipo de papo não escapa ao ambiente da Real – como mera “questão religiosa” que “deve ser respeitada”39

. Oras, este tipo de discurso ignora um detalhe deveras importante: a discussão moral aponta para critérios de verdade que, respeitados, visam objetivamente buscar o melhor caminho para uma ordem social.

Não esqueçamos que a justificativa “moral” de políticas esquerdistas, como bem sintetiza Saul Alynsky40, está pautada em abstrações. A mais conhecida é o famoso discurso pelo “bem comum”. A partir deste fim impreciso, todas as atitudes dos revolucionários estariam justificadas a priori. Sabemos que este tipo de pensamento não gera a ordem social, mas seu oposto. Tal ambiente relativista, portanto, preocupa-se menos com o bem estar social do que adquirir o poder subjugando uma ordem moral vigente.

Os conservadores, por outro lado, estão mais preocupados em discutir os meios para se chegar a determinado fim. Há certos valores inegociáveis, aprendidos pelo sacrifício de nossos antepassados. Além disso, devemos nos preocupar por aqueles que virão depois de nós. Resumidamente, o conservador leva em consideração o fato de sermos uma comunidade de almas.

Como o relativismo moral é, em termos práticos, uma ferramenta visa subtrair-se de culpa e/ou responsabilidade – afinal, se não há certo ou errado, verdadeiro ou falso, então tudo pode ser feito – não é meramente uma surpresa que outra característica presente na pós- modernidade seja a aplicação do sentimentalismo como critério de verdade, um ambiente fértil para colher histerias. Como observa Stanley J. Grenz:

Os pós-modernos não estão também, necessariamente, preocupados em provar que estão "certos" e os outros "errados". Para eles, as crenças são, em última análise, uma questão de contexto social e, portanto, é bem provável que cheguem à conclusão de que "o que é certo para nós talvez não o seja para você" e "O que está errado em nosso contexto talvez seja aceitável ou até mesmo preferível no seu".41

Na questão moral, este é mais ou menos o espírito das discussões „realistas‟. Não podendo, como já foi observado anteriormente, ser chamado de um movimento conservador. Uma vez que há conservadores na Real e sendo este trabalho dirigido ao público conservador, devemos rejeitar o espírito pós-moderno e abordar a discussão moral em termos racionais. Em "Inteligência e verdade", Olavo de Carvalho discorre:

O que aconteceria se, numa determinada sociedade, existisse um grande número de pessoas capazes de julgar por si mesmas e de perceber a verdade, não sobre todos os pontos, mas sobre os pontos de maior interesse para a sociedade, ou sobre os que são mais urgentes? Haveria mais sensatez, os debates levariam a conclusões mais justas, as decisões teriam um sentido mais

40 ALINKY, Saul. Rules of Radicals: A Pragmatic Primer for Realistic Radicals. New York: Random House,

1971.

41 GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo: Vila

realista. Agora, numa sociedade onde todos estão se persuadindo uns aos outros de coisas de que eles mesmos não estão persuadidos, onde todos estão procurando se enganar, ou onde todos estão procurando ajuda dos outros para se enganar mais facilmente a si mesmos, todas as discussões versam sobre fantasmas, as decisões se esvanecem em meros sonhos, as frustrações levam o povo a um estado de exasperação do qual ele procura fugir mediante novas fantasias, e assim por diante. Isto acontece no campo religioso, político, moral, econômico e até no campo científico. Podemos partir para uma outra definição, e dizer que um país tem uma cultura própria quando ele tem um número suficiente de pessoas capazes de perceber a verdade por si mesmas, e que não precisam ser persuadidas por ninguém. Estas pessoas funcionam como uma espécie de fiscais da inteligência42 coletiva. Em nosso país o número de pessoas assim é escandalosamente reduzido. As pessoas encarregadas de perceber a verdade por si mesmas devem ter uma inteligência treinada para isto, devem ter uma inteligência dócil à verdade e ser as primeiras a perceber e compreender o que se passa. Isto é que constitui uma inteligência nacional, uma intelectualidade nacional. A intelectualidade autêntica não é constituída necessariamente pelas pessoas que exercem profissões ligadas à cultura ou à inteligência, mas sim pelas pessoas que, exercendo ou não essas profissões, realizam as ações correspondentes a elas. Não é preciso ir muito longe para dizer que a sorte global de um país depende de que haja uma camada de pessoas assim, para poder, nos momentos de dificuldade, dar esta contribuição modesta que é simplesmente dizer a verdade. No Brasil temos um número assombroso de pessoas que trabalham em atividades culturais, escritores, professores, artistas, em geral subvencionados pelo governo, mas que nem de longe pensam em cumprir as obrigações elementares da vida intelectual; tudo o que fazem é apoiar-se uns aos outros num discurso coletivo, reafirmar as mesmas crenças de origem puramente egoista e subjetivista, expressar desejos e preconceitos coletivos e pessoais, promover a moda. Essas pessoas vivem reclamando de que neste país há poucas verbas para a cultura. Mas, para fazer isso que elas chamam de cultura, já recebem muito mais dinheiro do que merecem. Os cineastas, diretores de teatro, etc., constituem uma casta privilegiada, que é estipendiada pelo governo para exibir em público emoções baratas, afetar indignação e posar como "pessoas maravilhosas" em apartamentos da av. Vieira Souto.43

Sendo assim, a discussão moral não pode ser construída em torno da enganação; mas da verdade. Além disso, é sensato que se aborde os interesses mais urgentes da sociedade. Dado tais pressupostos, a temática da Real certamente é relevante, pois retrata a dinâmica dos relacionamentos amorosos. Além disso, o movimento visa fazer um contraponto político e cultural. Discutiremos então aquilo que hoje é um tabu invertido em nossa sociedade pós- moderna: a sexualidade. Como este trabalho não é direcionado a esquerdistas ou pessoas incorporadas do espírito relativista pós-moderno, recordamos que não há receio quanto a rótulos do tipo “careta”, “retrógrado”, “fanático”, etc.

42

Definição de inteligência: a potência de conhecer a verdade por qualquer meio que seja.

43 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e verdade. Apostilas do Seminário de Filosofia. 1994. Disponível em

Rejeitando qualquer relativismo ou sentimentalismo, a discussão moral vai ser empreendida por critérios racionais visando uma ordem moral duradoura para a sociedade. Nossa sociedade moderna pode ter esquecido a existência do certo e errado e da importância da hierarquia de valores, mas isso não justifica colaborar com tal inércia, pelo contrário, desafiar esta censura pós-moderna é fundamental para a sobrevivência do nosso valor humano e ascensão de nossa inteligência. Como explica Olavo de Carvalho:

Se definimos a inteligência como a capacidade humana de captar o que é verdade, também entendemos que o essencial do ser humano, aquilo que o diferencia dos animais, não é o pensamento, não é a razão, nem uma imaginação ou memória excepcionalmente desenvolvidas, embora tudo isto haja efetivamente no ser humano. Pois pensar, um macaco também pensa: ele completa um silogismo e até encadeia silogismos num raciocínio relativamente perfeito. Imaginação, até um gato possui: os gatos sonham. Por este caminho não encontraremos a diferença específica humana, aquilo que nos torna homens em vez de bichos. E, se é importante arraigar o homem no reino animal, para não fazer dele um ser angélico sem pés no solo, também é importante saber distingui-lo de uma tartaruga ou de um molusco por alguma diferença que não seja meramente quantitativa e acidental.

O que nos torna humanos é o fato de que tudo aquilo que imaginamos, raciocinamos, recordamos, somos capazes de vê-lo como um conjunto e, com relação a este conjunto, podemos dizer um sim ou um não, podemos dizer: "É verdadeiro", ou: "É falso". Somos capazes de julgar a veracidade ou falsidade de tudo aquilo que a nossa própria mente vai conhecendo ou produzindo, e isto não há animal que possa fazer.44

No documento A Complexa Sedução Da Matrix - Augusto (páginas 31-34)