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A Complexa Sedução Da Matrix - Augusto

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Academic year: 2021

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A complexa Sedução da Matrix

Uma Crítica Conservadora à Real

Escrito por Augusto

Augusto. A complexa sedução da Matrix: uma crítica conservadora à Real. Logaugusto, 2013. Disponível em http://logaugusto.blogspot.com.br/2013/12/a-complexa-seducao-da-matrix-uma.html

Sobre este trabalho:

A Real é um tema controverso no meio conservador. Tratando a Matrix como ilusão, temos na Real um movimento de homens que alerta para os perigos da Matrix amorosa e da ideologia feminista. O que há de errado com os relacionamentos modernos? Apresentamos neste pequeno eBook a teoria realista e analisamos até que ponto ela é útil na guerra cultura.

Diante do emaranhado de mentiras, um conjunto de ilusões a que estamos submetidos, identificar uma mentira é apenas o primeiro passo. Se uma mentira, contudo, é apenas trocada por outra, o esforço foi insuficiente. É trocar uma Matrix por outra. Pode até ser o caso de vencer uma Matrix, mas continuar preso a outra maior. A verdade liberta, mas a falsa sensação de descobrir a verdade engana.

Como lidar diante de um novo panorama? De repente começamos a ver e - dando tapa na cara em si próprio - indagar: "como eu não percebi isso antes? Era tão óbvio". Imerso em um ambiente de confusão, infelizmente, não é difícil acontecer de trocar um caminho errado por outro.

Se é verdade que a Real tem uma teoria que consegue fazer uma boa leitura dos relacionamentos amorosos modernos e um discurso de desmascaramento do feminismo, até que ponto este conhecimento está sendo usado de modo a beneficiar o homem na luta contra o feminismo? Adentrando na polêmica, tentamos responder essa importante pergunta.

Palavras Chave:

(3)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 4

1 PROPAGA-SE UM MOVIMENTO QUE DIVIDE OPINIÃO ENTRE CONSERVADORES ... 7

1.1 A DIFICULDADE DE TECER CRÍTICAS À REAL ... 8

1.2 CONTORNANDO A DIFICULDADE ... 9

2 RESUMO DA REAL ... 13

3 O ORGULHO DA REAL ... 21

3.1 POR QUE A TEORIA DA REAL FUNCIONA ... 24

3.2 MOTIVAÇÕES E EXAGEROS ... 26

3.3 NECESSIDADE DA DISCUSSÃO MORAL ... 31

3.4 A QUESTÃO MORAL DO SEXO ... 34

3.4.1 Possíveis objeções e melhores esclarecimentos ... 38

3.4.2 Acerto de contas com o Amor ... 43

4 REAL: O RESULTADO DA DIALÉTICA HEGELIANA... 50

4.1 A DIALÉTICA HEGELIANA ... 50

4.2 DIALÉTICA HEGELIANA + PRÁXIS (DIAPRAX) ... 54

4.2.1 Estruturando a dissociação cognitiva dentro da Diaprax ... 56

4.3 DORMINDO COM O INIMIGO DECLARADO... 59

4.3.1 A sutil colaboração com o feminismo ... 59

4.3.2 Filhos rebeldes de Hebert Marcuse ... 63

5 CONCLUSÃO ... 65

6 DISCUSSÃO ABERTA: CONTATO ... 67

APÊNDICE I ... 68

APÊNDICE II ... 71

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INTRODUÇÃO

Durante a época do Orkut, rede social que foi engolida pelo sucesso do Facebook, homens reuniram-se em comunidades para tratar do tema mulher. A partir disso, surgiu um movimento conhecido como Real, impulsionada, entre outras coisas, pelos livros de Nessahan Alita, por testemunhos e também inspirados por movimentos masculinistas americanos em denúncia ao feminismo.

É difícil definir o que seria a Real. Entre os participantes desse movimento, o significado de pertencer a Real assume valores subjetivos de difícil definição. Objetivamente, podemos colocar a Real no hall de propaganda anti-feminista de pessoas que, através de livros e testemunhos, opinam e teorizam acerca da dinâmica dos relacionamentos.

Quem estuda a ideologia do feminismo pode ter o conhecimento geral de que o feminismo investe em uma luta de classes do homem contra a mulher com a intenção de dividir para conquistar, servindo ao propósito de um projeto de poder político; o efeito prático do dia a dia que esta ideologia gerou dos relacionamentos, contudo, até mesmo por conta de um massivo apelo da mídia e demais investimentos culturais, não são tão óbvios à primeira vista. Neste sentido, a Real intenta realizar leitura crítica do feminismo alertando para conceitos, idéias e paradigmas propositadamente distorcidos por essa ideologia atualmente hegemônica, ou seja, já impregnado no “senso comum” das pessoas, e que estão levando o homem médio à confusão e ao equívoco.

Em geral, o encontro com a Real dá-se quando um homem, desiludido (sacaneado) por causa de uma paixão amorosa ou por conta da coleção de fracassos no “amor”, está a procura de respostas. Ao ter encontro com alguma fonte de divulgação „realista‟ (sites, blogs, fóruns, redes sociais, etc.), identifica o conteúdo propagado com seu drama pessoal, descobrindo seus erros passados. É quando o homem é convidado a sair da Matrix. Aquilo que aprendera sobre mulheres e amor, o peso do romantismo e do bom-mocismo tratava-se de uma ilusão. É hora de mudar seus conceitos, mudar sua filosofia de vida, mudar de paradigma. Desvincular-se do engano, colocar os pés no chão e encarar a triste realidade em vez de se esconder na doce ilusão.

A recepção, naturalmente, não é fácil. A verdade, ensinam as grandes religiões e filosofias, liberta; não é sempre indolor, contudo. Emocionalmente perturbado, o homem desiludido desenvolve um sentimento de revolta de modo que o conteúdo da aprendido é, em um primeiro momento, incorporado com uma ferramenta para alcançar vingança, vingança

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contra as desprezíveis mulheres. Daí que muitos reduzem a Real a um bando de homens revoltados com mulheres.

No entanto, seria injusto reduzir a Real a definições pejorativas. O conteúdo „realista‟ tem méritos e são fontes de reflexão. Objetivamente falando, a Real, pela sua teoria, consegue descrever a dinâmica dos relacionamentos modernos. O que o cidadão irá fazer com esse conhecimento, é a grande fonte de polêmica. Pode ser que a Real, consoante ao jargão „realista‟, salve vidas. Os membros mais experientes defendem a Real, em grande parte, porque possuem forte sentimento de gratidão. Foram motivados a mudar seu norte de vida e vem obtendo êxito em seu desenvolvimento como homem.

Por outro lado, é certo também que há certa propaganda que incomoda o meio conservador. Os membros da „Real‟, diga-se, são diversos. Pessoas de diferentes credos e costumes compartilham o espaço „realista‟, que também conta a presença conservadora. Daí a origem de discussão com atrito entre conservadores de fora e conservadores de dentro da Real. Este, aliás, é o contexto que motivou este trabalho.

Há no conservador uma veia crítica que não pode morrer. Além disso, o conservador atenta muito a questão moral dos problemas. A Real, por outro lado, tem na moralidade a grande fonte de suas polêmicas internas. Abrigando pessoas diferentes, opiniões conflitantes aparecem e, a fim de manter a unidade, a Real em si não toma “posição oficial”. Pode-se dizer que a Real é um movimento cuja maioria dos membros são de direita, mas certamente não se pode enquadrar como um movimento conservador, mesmo com conservadores em seu meio.

Com conservadores que criticam negativamente e com conservadores que defendem a Real, este trabalho vai tentar superar preconceitos e expor críticas a Real. No primeiro capítulo, o modo como a Real é recebida no meio conservador foi abordado. Além disso, foram feitas considerações que visam suprir o grande problema que surge quando se critica a Real: sua heterogeneidade. Sendo assim, adianta-se que este é um trabalho de conservador para conservadores. O restante, se quiser, pode continuar lendo, mas não que não se esqueça deste importante detalhe.

Uma vez que se objetiva vencer preconceitos, o conteúdo da Real não poderia deixar de ser abordado. Sendo assim, um resumo do conteúdo da Real com algumas considerações foi apresentado no segundo capítulo.

A crítica a Real inicia-se no terceiro capítulo. Atenta-se que o ato de criticar aqui não representa o simples ato de falar mal ou reclamar, mas de exercício do senso crítico. O que foi julgado como positivo, foi elogiado; se negativo, reclamado. A sustentação será argumentativa, pautada pela honestidade intelectual.

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Se o senso crítico está envolvido, temos no quarto capítulo uma investigação do fenômeno que está por trás de tanta confusão moral acerca da Real. Se no terceiro a crítica foi voltada ao modo como o conteúdo da Real é encarado, no quarto capítulo, a Real é analisada sob o âmbito da guerra cultural que ela se esforça em combater.

Por último, em espírito de humildade, foi disponibilizado um canal de diálogo. Um email onde sugestões, críticas e/ou reclamações podem ser dirigidas. Não estão descartadas retificações e/ou melhoramentos em edições futuras.

A Real prega, entre outras coisas, o desenvolvimento do homem. O desenvolvimento passa pela crítica. Além disso, como o próprio nome sugere, a Real quer estar pautada na realidade. Isso significa que não há interesse em negligenciar a verdade. Sendo assim, menos do que temer, ela deve desejar o debate, inclusive com seus críticos externos.

Sendo verdade que a Real pode ser uma ferramenta para levar as pessoas ao conservadorismo, conforme argumentam conservadores „realistas‟, então a discussão moral, antes de ser evitada, deve ser incentivada. Não está previsto que sejam muitos os leitores, mas a quem se aventurou em explorar estas anotações, deseja-se que de algum modo o conteúdo possa servir de contribuição e aprendizado.

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1 PROPAGA-SE UM MOVIMENTO QUE DIVIDE OPINIÃO ENTRE CONSERVADORES

É um crítico superficial aquele que não enxerga um eterno rebelde no coração de um conservador (G. K. Chesterton)

Cresce na internet um movimento intitulado “Real”. A opinião sobre este movimento é ampla, desde a cega aceitação até a espumosa rejeição. Há presença conservadora no movimento de modo que vem se tornando freqüentes os atritos ocasionados por opiniões divergentes sobre este tema no meio de discussão conservadora.

A impressão que é que há basicamente três grupos com opiniões distintas sobre o movimento da Real no meio conservador1:

Anti-real: Conservadores que rejeitam a Real por considerarem um movimento hostil às mulheres composto por moleques carentes e revoltados;

Críticos da Real: Conservadores que rejeitam a Real por conta do seu ensinamento moral questionável.

Guerreiros da Real2: Conservadores que participam da Real, pois vêem nela

um movimento que, apesar da pluralidade de membros, possui muito ensinamento bom.

Discutiremos a postura desses três tipos classificados mais adiante, ainda neste capítulo. A observação preliminar é que se trata de uma discussão voltada ao meio conservador. Também adiantamos que não entraremos no mérito se é conservador de verdade ou não. A questão é que havendo conservadores dentro e fora da Real, parte-se da premissa de que o conservador está aberto a críticas e ao aprendizado, uma vez que, dentre os 10 princípios conservadores de Russel Kirk3, encontra-se a prudência4 e a crença em uma ordem

1

É importante fazer a observação de que se trata de uma divisão em tipos ideais (Max Webber). Observa-se na prática que esses tipos podem se misturar e até mesmo se conflitarem.

2 Há uma espécie de graduação informal dentro da Real, cujo objetivo é chegar a uma espécie graduação que é

chamada no meio como Guerreiro da Real (GDR). Assim, é importante deixar a nota de que é uma coincidência de nomes, o Guerreiro da Real deste ensaio NÃO tem o mesmo significado interno da Real. Neste trabalho, refere-se a conservadores que defendem a Real.

3 KIRK, R. Dez princípios conservadores. Tradução de Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior. Fonte:

http://www.kirkcenter.org/kirk/ten-principles.html. Disponível em: http://participatorio.juventude.gov.br/file/download/19818

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moral duradoura5. Se o “conservador” não estiver aberto à reflexão e à discussão moral, isto é, fixar-se em uma polarização e a um relativismo moral, então é correto dizer que não se trata de um conservador genuíno e, com objetivo de fazê-lo não perder um tempo que talvez seja precioso, recomendamos que sua leitura não passe desse ponto.

1.1 A DIFICULDADE DE TECER CRÍTICAS À REAL

É difícil uma discussão no Facebook no meio conservador (também ocorre em meios liberais) não conter um argumento mais ou menos com este conteúdo: a Real é muito plural, há gente de todo o tipo, não é justo criticá-la por causa de pessoas que não entenderam o que é a Real.

Esta é a primeira dificuldade em criticar a Real. Esta ponderação dos „realistas‟ é válida, em partes. A afirmação de que a Real é muito diversificada está correta. Participam da Real pessoas de diferentes religiões, credos, posições políticas, filosofias de vida, etc. Um caso emblemático foi o de John Reese. Reese, um bem sucedido homem de negócios, aplicou – como podemos dizer – os conhecimentos da Real para colocar uma garota de 18 anos que era virgem e de igreja em um plano sutil de ter sexo por dinheiro. A reação entre os „realistas‟ foi ampla em um espectro que foi desde admiração e aplausos até repulsa e desprezo. Quando o caso de Reese é trazido à tona como material para criticar a Real, há o desvio de que ele é de outro setor da Real.

Trouxemos o caso John Reese apenas para ilustrar que de fato a Real é dividida e que, portanto, parte do que podemos chamar de “estratégia sabão” é aplicável.

Outra dificuldade em discussão é que não está claro sobre o que é a Real. A definição de tal movimento é subjetiva e cada membro vê de uma forma. Alguns dizem que é sobre relacionamentos, outros dizem que é sobre o desenvolvimento pessoal, outros que é um contraponto contra o Marxismo Cultural. Não há clareza. Lawlyet Wallace está escrevendo um livro provisoriamente intitulado “Filosofia da Real” que tenta justamente suprir esta dificuldade presente em conflitos internos da Real6. Lemos o preview de 100 páginas que foi

5 A discussão moral será abordada no Capítulo 3.

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disponibilizado7 e, apesar de mudanças e reformulações a serem feitas, é nítido que se Lawlyet tenta levar a Real para o conservadorismo.

O fato da Real ser diversificada e maleável não impede que „realistas‟ critiquem conservadores que se opõe a Real. Os defensores da Real apontam o dedo para os outros, mas quando é apontado de volta, afirmam que não dá para apontar para algo que não é bem definido e diversificado (estratégia sabão).

Uma das poucas coisas que os unem de maneira efetiva é a crítica ao feminismo. No entanto, é irônico observar que este modo de resposta que os defensores da Real recorrem lembra muito a rotina que feministas usam para defender o feminismo. Tomemos o exemplo da Jornada Mundial da Juventude que ocorreu no Rio de Janeiro em julho 2013. A marcha das vadias profanou e quebrou símbolos religiosos em um claro ato de ódio e intolerância. Ao criticar o feminismo por este tipo de ação, algumas malandras recorreram ao famoso discurso: há vários tipos de feminismo.

De fato, há vários tipos de feminismo. A marcha das vadias contém feministas radicais, contudo, as radicais podem agir mais à vontade por causa do escudo que fazem as moderadas. Ao mesmo tempo em que as feministas moderadas aparentam rejeitar o radicalismo, elas tentam, na realidade, colocar os fatos em panos quentes por conta de uma bandeira em comum.

Falta a Real um tipo de hombridade moral. Se um setor deste movimento faz algo discordante, teria que ser criticado por outro. É um movimento paradoxal por ser unido e divido ao mesmo tempo. Quando é conveniente, agem conforme uma irmandade concordante. Na hora de colher críticas, alegam ser indefinidos.

Lembra também a justificativa mais fajuta para a defesa do comunismo. Quando um esquerdista é confrontado em relação aos milhões de morte do regime que defende, responde que aquilo não era o verdadeiro comunismo, que ele foi deturpado.

1.2 CONTORNANDO A DIFICULDADE

7

Inicialmente o preview foi divulgado para um projeto de comunidade que Lawlyet está investindo. Como a Real começou a suscitar discussão, ele disponibilizou o livro argumentando que a Real pode ser uma ótima fonte para levar as pessoas ao conservadorismo. Confessamos que sua intenção motivou a elaboração deste trabalho.

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O objetivo deste trabalho é tecer críticas à Real. Não temos aqui a pretensão de usar falácias emotivas, espantalhos, sofismas, etc. Mas suscitar uma discussão honesta. Um esforço inicial foi realizado no sentido de catalogar correntes de opinião dos conservadores em relação ao movimento a que aqui se propõe discutir. Relembremos: Anti-real, Críticos da Real e Guerreiros da Real.

É verdade, conforme já admitido, que a Real não está bem definida quanto movimento e que sua composição de seus membros é diversificada em termos de opinião, contudo, é inverdade que seja isso motivo para inviabilizar críticas. Há na Real certa organização. Ela é divulgada e discutidas em sites, blogs, fórum, redes sociais e tem até bibliotecas virtuais onde está disponível o conjunto de material base que sustenta seu conteúdo. Trata-se de um movimento que está aberto a novos membros, com a ressalva de que não toleram apologia ao crime (apologistas do nazismo, comunismo e de crimes hediondos são banidos de suas comunidades). A Real é, portanto, assimilável. Sua análise deve ser feita, portanto, dentro de seus livros, líderes e organizadores. Sendo um movimento que motiva o homem a ocupar seu lugar de líder, não seria injusto analisar a Real com base em seus líderes e membros experientes.

O erro dos conservadores anti-realistas é criticar a real atacando com “golpes baixos”. Eles atacam os novatos do movimento ou, se preferir, no linguajar „realista‟, os juvenas. Estes são pessoas que muitas vezes aparecem com relatos bastante tristes. Pessoas que foram torturadas sentimentalmente por mulheres egoístas e insensíveis, vadias no jargão „realista‟, que, aproveitando-se do rapaz explorado, fê-lo passar por humilhações e traições. Pessoas que, por exemplo, com dificuldade, pelo duro esforço do trabalho, deram casa, comida, ajudaram nos estudos, para depois a namorada o trair com outro homem. Muito relatado também é o fenômeno da Friendzone, onde a mulher se aproveita do homem apaixonado para tirar favores e obter vantagens, dando doses suficientes de atenção e esperança de „algo a mais‟ para que o homem iludido não deixe a zona da paixão. Trata-se, em suma, de homens emasculados, carentes, ingênuos e fracos que, ao conhecer a Real, descobrem a sistemática de sua tragédia e estão prontos para esboçar reações. Do fundo do poço da dor sentimental, os juvenas entram na fase de revolta. Descobriram que as mulheres não são santas. Bastaria um pouco de fé cristã para ter conhecimento deste não-mistério, mas o fato é que entram em uma fase de revolta da qual se manifesta um sentimento de vingança e desprezo pelas mulheres.

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A revolta dos novatos é real8, é passível de crítica; não é justo, todavia, criticar o movimento por causas dos “juvenas”. A fase da revolta é característica. O conselho de membros mais experientes do movimento é feito no sentido de ajudar o jovem a sair desta fase de orgulho ferido e focar em si.

Os “juvenas” revoltados habitam os espaços da Real, sobretudo o Facebook. O tempo de duração varia de caso a caso – alguns parecendo ser irreversível – mas é fato que a Real não age no sentido de alimentar este ódio, mas de auxiliar o novato a superá-lo.

Os conservadores críticos da real, por sua vez, fazem críticas mais profundas. Geralmente são compostos por pessoas que conhecem a Real, mas discordam de pontos específicos. Suas críticas estão embasadas, principalmente, na maneira com que é retratada a mulher. Esses conservadores chamam a atenção para a dose de hostilidade na propaganda e para o teor gnóstico contido nos livros de Nessahan Alita. O que não facilita o debate entre os conservadores críticos e os defensores da real é uma certa intransigência. Um lado molda uma caricatura do movimento e o outro aplica respostas baseadas em rotulagem pejorativas com termos como “mangina”, “cavaleiro branco”, etc. Coisas de Facebook...

Outra dificuldade é que parte do debate está relacionada com conteúdo de ordem moral e da natureza humana, algo que é bastante difícil de ser discutido em uma rede social. Esta dificuldade ajuda a justificar a elaboração deste livro com vistas ao público conservador. É uma tentativa de elevar o conteúdo crítico para que as discussões possam ser feitas de maneira mais honesta.

Por último, os Guerreiros da Real que, neste trabalho, estão definidos como conservadores que defendem a Real. Conforme foi discutido anteriormente, fica claro que, dado a diversidade de membros, não é possível catalogar a Real como conservadora. É possível, contudo, catalogá-la como direita no espectro do campo político. A Real tece críticas ao gayzismo, ao feminismo, ao Marxismo Cultural em geral. Faz discurso de tolerância religiosa e defende menos interferência do governo na vida das pessoas. Este fato é deduzido de sua propaganda no Facebook, conteúdo dos blogs e sites e discussão de seus fóruns.

Eis como a Real será abordada neste trabalho: devido à falta de unidade ética e moral da Real, ela será analisada com base em sua propaganda e intenções presentes em seus líderes e membros influentes. As críticas serão dirigidas, sobretudo, aos conservadores que defendem a real, haja vista que o conservador tem por hábito visualizar as crises como resultado de desvios morais.

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Discorremos a respeito dos problemas em torno da discussão presente no meio conservador a respeito do movimento da Real. A dificuldade de crítica a este movimento será então contornada com duas considerações sólidas: honestidade para dirigir as críticas, usando como base as personalidades influentes do movimento e a não-distorção do conteúdo geral da Real e fazendo o apelo especialmente ao público conservador, favorável ou contra o movimento. Este é um trabalho de conservadores para conservadores.

Dito de outro modo: vamos ao máximo evitar esquerdar9 e esperamos postura similar do lado conservador recíproco10.

Uma vez confessado o norte ético deste trabalho, é preciso que o conteúdo da Real seja explicado para maior compreensão de conservadores que estejam alheios ao que efetivamente seja a Real. A crítica deve ser dirigida ao que o movimento seja e não ao “ouvi dizer que seja”. No próximo capítulo veremos o conteúdo chave da Real.

9 Sabemos que é impossível debater com esquerdistas, pois eles fraudam o debate. Os esquerdistas não se

interessam pela verdade – requisito essencial para haver possibilidade de debater –, mas aproveitam o espaço para fazer propaganda de suas ideologias e/ou demonizar os oponentes.

A respeito do „verbo‟ esquerdar, vale fazer uma recomendação. Luciano Ayan cataloga as fraudes e malandragens dos humanistas: http://www.lucianoayan.com.

10 Feministas, esquerdistas, libertários, juvenas da Real... Ou melhor, colocando de outro modo: odiadores do

conservadorismo e fanáticos pela Real, por favor, não percam tempo com seus possíveis nonsenses contra este trabalho. A crítica deve ser feita por gente grande. Por gente grande, interprete pessoas com juízo intelectual em ordem. Certamente há pessoas na Real capacitadas para isso, deixe isso para elas.

(13)

2 RESUMO DA REAL

As críticas aqui contidas não se aplicam às mulheres sinceras (Nessahan Alita) O ingresso na Real é fácil e hospitaleiro. Você será convidado a sair da Matrix. Esta figura de linguagem faz alusão à ilusão amorosa pelo qual o homem de coração partido está imerso. Ele será convidado a escolher entre a pílula vermelha ou azul, podendo escolher se descobre “a verdade” ou se prefere viver no conto de fadas. Optando pela Real, a leituras de livros, principalmente as obras de Nessahan Alita, serão recomendadas. Através destes livros é possível falar com propriedade a respeito do conteúdo da Real.

Em seus livros, Nessahan Alita fala sobre mulheres. Alita inspira-se em psicologia evolutiva para descrever os problemas do relacionamento moderno. Vale ressaltar que Nessahan dirige seu livro quanto ao cuidado que os homens devem ter das “mulheres vadias”, não se aplicando às mulheres sinceras (ou honradas no glossário da Real) destacando que não irá se responsabilizar pelo uso que será feito do material.

Em nota de rodapé do livro “Como lidar com as mulheres”, Nessahan Alita esclarece o sentido do termo vadia:

A palavra é aqui empregada apenas no sentido de uma pessoa desocupada e ociosa, tal como a definem os dicionários Aurélio (FERREIRA, 1995) e Michaelis (1995), e não em qualquer outro sentido. Para mim, toda pessoa que brinca com os sentimentos alheios é uma pessoa vadia, independentemente do sexo e do número de parceiros sexuais. E o que mais poderia ser alguém que brinca com a sinceridade dos outros senão desocupado por não ter algo mais importante a fazer? Aqui, a palavra tem um emprego mais ou menos próximo ao da pa lavra "megera" e também e é quase um equivalente feminino da palavra "cafajeste", muito comumente utilizada para designar homens que trapaceiam no amor. Enquadram-se neste termo aquelas pessoas que cometem adultério sem o cônjuge merecer, que induzem uma pessoa ao apaixonamento com o exclusivo intuito de abandoná-la em seguida, que retribuem uma manifestação de amor sincero com uma acusação caluniosa de assédio sexual etc. Esta palavra não é empregada com o mesmo sentido pejorativo em todos os países de língua portuguesa e nem possui somente o significado que lhe dá algumas vezes a cultura popular. Um exemplo típico de "vadia" é a personagem Teodora, do romance "Amor de Salvação", de Camilo Castelo Branco. Neste romance, Teodora, uma espertinha dissimulada e manipuladora, se aproveita dos homens que a amam e os leva ao desespero e à ruína. Afonso, uma de suas vítimas, afunda-se nos vícios e chega à beira de um suicídio, mas é salvo da destruição amorosa por sua prima, uma mulher virtuosa e sincera. 11

11

ALITA, Nessahan (2005). Como Lidar com Mulheres: Apontamentos sobre um Perfil Comportamental Feminino nas Relações Amorosas com o Homem. In: O Sofrimento Amoroso do Homem - Vol I. Edição virtual independente de 2008, p.12.

(14)

Feitos os devidos esclarecimentos prévios, vamos à sistemática da Real12:

 As mulheres possuem um “lado obscuro” de natureza hipergâmica. Isso significa que a mulher tem a tendência de buscar o homem que lhe proporcionará maior segurança – a busca do melhor homem provedor. Tal natureza é evolutivamente explicada pela necessidade inconsciente que a mulher tem em buscar a segurança de sua prole. Daí a justificativa de mulheres se atraírem por dinheiro, status, porte físico, etc.

 A mulher possui uma inteligência emocional superior à do homem. Ela utiliza esta inteligência para seduzir o preterido homem, isto é, deixá-lo apaixonado.

 O processo de apaixonamento é realizado através de jogos e apelos emocionais. São atitudes das mulheres cuja racionalidade masculina não consegue compreender, mas que almeja o condicionamento do homem aos seus caprichos. Se bem sucedida no jogo, o homem apaixonado se tornará um capacho sentimental da mulher.

 Dentre os jogos13, podemos citar o puxa-e-empurra. Primeiro a mulher mostra interesse no homem, sendo doce e carinhosa, mas repentinamente, sem motivo aparente, ela se transforma em uma fria e cruel parceira. É quando a mulher te trata de modo carinhoso em um momento e, de repente, ela passa a tratar o homem com frieza e desprezo14.

 A mulher é inclinada a agir desta forma para prender o homem sentimentalmente, mas, paradoxalmente, a mulher interpreta o homem apaixonado como um fraco, passando então a desprezá-lo como parceiro.

 O motivo das mulheres preferirem os cafajestes está no fato deste tipo de homem não se apaixonar. Ele vence os jogos emocionais, porque não os joga. Sendo a vadia do lado masculino, o cafajeste é um egoísta sentimental. Ele só pensa em si e ignora os sentimentos das mulheres, vencendo os jogos. A mulher interpreta a não-eficácia de seus jogos como sinal de que aquele

12 As considerações desta sistemática não seguem necessariamente Alita (embora seja a leitura principal dos

membros da Real). Tentamos condensar certos ensinamentos que são difundidos pela Real através de suas redes.

13

Os livros de Nessahan Alita abordam bastante os jogos emocionais. Um resumo pode ser visto em KOERICH, S. Os 5 jogos emocionais e táticas manipulativas feministas mais frequentes: como vencê-los e bloqueá-los. In: Machismo Esclarecido (Blog), 11/07/2012. Disponível em

http://machismoesclarecido.blogspot.com.br/2012/07/os-cinco-jogos-emocionais-e-taticas.html

14 Fizemos questão de trazer este exemplo porque além de ser o mais comum em relatos, também será importante

(15)

homem é forte, passando então a desejá-lo e cortejá-lo. Sendo o cafajeste difícil de ser domado, essas mulheres acabam sofrendo e culpando todos os homens por sua desgraça.

 O sexo é usado pela mulher-vadia como ferramenta de barganha. O impulso sexual da mulher é menor que o do homem, e elas sabem usar o sexo em seu favor. Por este motivo, elas rejeitam o sexo para os homens apaixonados, pois os interpretam como homens fracos, mas abrem as pernas para o cafajeste. Trata-se de uma tentativa de prender o cafajeste através do sexo de qualidade.

 O mito do amor romântico é combatido. Muito se critica a cultura do romantismo que condicionam o homem à emasculação.

 Para vencer os jogos emocionais, o homem deve treinar o desapego a fim de evitar que seja alvo dos jogos sentimentais. Esforço que visa a “morte do ego”.

 O feminismo é criticado, pois fomentou o “lado obscuro da mulher”.

 A natureza da traição do homem é diferente da mulher. O primeiro trai por ceder a seu impulso sexual. A segunda trai porque se move pela busca de fortes emoções.

 A mulher vadia procuram ter seu ego inflado. Neste sentido, elas buscam, através do exibicionismo e drama, a atenção e elogios de outros homens.

 A competição de ego também protagoniza o entendimento da famosa competição feminina. Fenômeno que se observa quando o atrativo do homem aumenta pelo fato dele ser compromissado e os famosos casos onde a mulher é traída pela melhor amiga15.

 Não se deve analisar uma mulher por aquilo que ela diz de si, mas efetivamente pelo modo como ela age.

 O homem deve focar em seu desenvolvimento pessoal, sendo as mulheres a conseqüência deste desenvolvimento.

Certamente há mais coisas que poderiam ser citadas, mas estes seriam um núcleo importante para entender o desenvolvimento do movimento. Trata-se de uma sistematização que visa explicar a dinâmica dos relacionamentos modernos e que são discutidos pelos

15 Sobre o fenômeno “as mulheres só enxergam outras mulheres” está incluso no material da Real o livro “O

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„realistas‟ através da observação do dia-a-dia, relatos e notícias que são debatidas em seus fóruns.

Acreditamos que agora esteja mais fácil compreender a revolta que é ocasionada quando um homem pisado e cruelmente machucado descobre a dinâmica dos relacionamentos pela ótica da Real. Há quase que uma inevitável polarização. A mulher passa a ser odiada e todas passam a ser vistas como vadias. E o impulso de vingança e de “vencer o atraso” são explícitos. Os anti-real não estão errados em suas reclamações quanto ao ódio contra as mulheres que pode ser visto nas correntes da Real16.

Viktor Frankl reconhece esta natureza humana. Preso e maltratado nos campos de concentração nazista, Frankl relatou momento de revolta onde os explorados gostariam de se transformar nos carrascos para pagar na mesma moeda. Contudo, o psiquiatra que criou o logoterapia salienta que este sentimento deve ser superado e focalizado na busca do seu sentido da vida, que, segundo a logoterapia, é uma resposta que de depende de um diálogo honesto consigo: o descobrimento de seu sentido. Escreveu em “Em Busca do Sentido”:

Por longo tempo, durante meio século a psiquiatria tentou interpretar a mente simplesmente como um mecanismo, e consequentemente a terapia da doença mental simplesmente foi encarada como uma técnica. Eu acredito que esse sonho acabou. O que está despontando agora no horizonte não são os contornos de uma medicina psicologizada, mas antes, de uma psiquiatria humanizada.

Um médico, entretanto, que continuasse entendendo o seu próprio papel principalmente como o de um técnico, confessaria que não vê em seu paciente mais do que uma máquina, em vez de enxergar o ser humano que está por trás da doença!

O ser humano não é uma coisa entre outras; coisas se determinam mutuamente, mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo. Aquilo que ele se torna - dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente - é ele que faz de si mesmo. No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; qual ser concretizada, depende de decisões e não de condições. Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele de fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz; mas ele é também aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça erguida, tendo nos lábios o Pai-nosso ou o Shem Yisraet. 17

16 Elas concentram-se principalmente no Facebook, onde os „realistas‟ mais experientes admitem que possuem

pouco controle e que usam esta rede social com objetivo de propaganda, incentivando as pessoas a buscarem seus fóruns e sites.

17 FRANKL, V. E. Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. Porto Alegre: Sulina,

(17)

Longe de querer comparar a Real com uma espécie de terapia, mas é necessário elogiar a preocupação de membros mais velhos em orientar os novatos revoltados. Entretanto, este trecho não é apenas importante para compreender a revolta de certos membros revoltados, mas também questionar a Real sobre a busca do sentido dela. Às vezes eles tentam debater sobre isso, contudo permanece tudo junto e misturado. A Real pode não ter seu sentido definido, mas os mais experientes orientam que o sentido certamente não pelo caminho da vingança e o do ódio.

Não queremos com isso sugerir que os “juvenas” da Real devem ser poupados de críticas, muito pelo contrário. Os “juvenas” da Real devem ser identificados e confrontados. A Figura 1 ilustra a abordagem carinhosa que deve ser empreendida com esses tipos18. O que não se recomenda é o “jogo baixo” comentado anteriormente, que seria nivelar toda a Real como sendo composta inteiramente de “juvenas”.

Figura 1 – Início de diálogo com um “juvena” da Real.

A Real também faz críticas de cunho político e compartilha conteúdos que visam esclarecer a respeito do Globalismo e do Marxismo Cultural. Quanto aos dois últimos, iremos fazer críticas à postura prática da Real mais adiante, por enquanto estamos nos limitando a escrever um resumo e comentar alguns aspectos da Real. No livro que Lawlyet Wallace está escrevendo (“Filosofia da Real” que foi mencionado no capítulo anterior), ele tenta colocar a Real como um movimento em busca da verdade, não ignorando algumas fases que devem ser vencidas:

(18)

1. Conhece a real e busca estudar honestamente seu material; 2. Passa pela fase da revolta;

3. Percebe, em algum momento, que há algo errado em toda essa revolta; 4. Não se entrega. É travada uma luta pela verdade e pelo próprio crescimento; 5. Passa a entender que não deve forçar a Real, que não deve agir de forma mecanizada. Passa a buscar a internalização da Real, tornando-a uma extensão de si mesmo;

6. Deixa de se preocupar com o que transmite e com o que os outros pensam. Sua preocupação não é mais causar impressões, mas em ser uma pessoa autência, respeitando a própria individualidade, sendo capaz de amar e valorizar a si mesmo;

7. Ele já não estuda mais a Real buscando algum interesse. Nem mesmo pelo crescimento pessoal. Ele passa a estudar a Real pelo amor e prazer que tem nessa atitude. Seu objetivo agora não é descobrir como se beneficiar com a Real, mas entender verdadeiramente a Real e, se possível, dar sua contribuição. 19

Wallace não é unanimidade da Real e não é possível fazer grandes previsões a respeito de como seu livro será recebido no meio. De certo alguns irão concordar, outros rejeitar, entretanto não dá para saber é em qual proporção isso vai acontecer e quão discutível e transformador será o material no meio „realista‟20. Estamos em um capítulo onde propomos fazer um resumo da Real e este trecho do Wallace foi trazido por dois motivos. Primeiro porque é uma tentativa honesta de descrever os passos até se alcançar em uma meta dentro da Real, o que já seria um sentido. Não vamos discutir quão precisos ou certos estão esses passos, apenas destacamos que há uma tentativa honesta de síntese de alguém que pertence ao meio „realista‟. O segundo motivo, mais importante que o primeiro no contexto deste trabalho, é que o primeiro passo começa em conhecer a Real. Pode parecer óbvio, mas é importante explicitar, uma vez que o que nos interessa é adentrar no motivo que leva as pessoas a conhecerem a Real.

Na imensa maioria das vezes, as pessoas são levadas ao conhecimento da Real por conta de problemas que tiveram no relacionamento amoroso. A porta de entrada consiste em estudar os relacionamentos sobre a ótica da Real e para isso recomendam materiais como os de Nessahan Alita. Mesmo abordando temas políticos e culturais, a porta de entrada está em sua propaganda em relação à dinâmica dos relacionamentos – os articuladores da Real têm consciência disso e procuram potencializar esta entrada. Neste sentido, é importante esclarecer o cunho teórico da por trás dessa principal abordagem da Real:

19

WALLACE, L. Filosofia da Real. Preview 04-10-2013, p. 13.

20 A abordagem de Lawlyet Wallace é mais voltada ao conservadorismo. Chesterton é bastante citado no preview

(19)

Costuma-se falar de má vontade sobre a maldade feminina. A tendência comum é evitá-la, evadindo-se. Por outro lado, denunciar as várias e inegáveis crueldades do homem é algo comum, visto pelas pessoas como natural, pois, como é comum ouvir-se, "os homens não prestam mesmo". Os homens bons, então, dão um sorriso amarelo e fingem achar graça, ainda que no fundo saibam que as coisas não são assim tão simples. Daí a necessidade de trilharmos o caminho oposto para esclarecer o que falta, encarando frontalmente o problema que todos evitam e denunciando-o como fazer as feministas justas com os vícios masculinos. Se é verdade que os machos humanóides animais são maldosos com relação às fêmeas, cobiçando-as, valorizando-as pela beleza exterior e possuem segundas intenções sexuais, não é menos verdade que as fêmeas também são maldosas, valorizando-nos por nossa posição social, nossa atratividade em relação às mulheres bonitas, nosso dinheiro, nossa fama etc. não nos amando desinteressadamente. São totalmente utilitaristas e não nos amam pelo que somos, mas apenas pelos benefícios práticos e emocionais que possam proporcionar. As segundas intenções masculinas são sexuais: o macho quer copular. As segundas intenções femininas são práticas e calculistas: ser invejada pelas rivais, transformada em princesa, ter um escravo, chamar a atenção, ser protegida, ser conhecida, etc. Portanto, não somente os homens são os vilões da história. 21

Este prisma auxilia no entendimento do porquê alguns conteúdos da Real são muitas vezes interpretados como hostis às mulheres por alguns conservadores. A Real está preocupada em alertar os homens sobre os ardis perversos das mulheres que são pouco abordados na cultura vigente. Denunciam a parcialidade cultural onde a mulher é moldada como inocente e boa, enquanto os homens são perversos e malvados. Denunciam o condicionamento cultural que está levando o homem a perda de sua virilidade, principalmente sobre o mito do amor romântico que faz o homem enxergar as mulheres como seres divinos e imaculados. A hostilidade da Real em relação às mulheres é, na verdade, em relação às mulheres vadias que tiram proveito deste ambiente cultural bagunçado. Há um inegável pessimismo que molda as ações da Real, uma vez que o crescimento da vadiagem/promiscuidade é visível a céu aberto. A Real não nega que há problema no homem, mas sua preocupação está mais voltada a criticar as vadias, alertando sobre seu “o lado obscuro” desperto e ativo.

Procuramos neste capítulo resumir o conteúdo-chave da Real e entender a abordagem „realista‟ para ingresso de novos confrades22

. Nossa abordagem foi mais descritiva evitando qualquer juízo de valor. Se houve impressão de ataque ou defesa da Real em certo momento deste capítulo, alegamos que não tivemos a intenção. Recomendamos uma releitura do

21 ALITA, Nessahan (2005). A Guerra da Paixão: As Artimanhas e os Truques Ardilosos das Mulheres no

Amor. In: O Sofrimento Amoroso do Homem - Vol. III. Edição virtual independente de 2008. p. 60.

22

Em termos „realísticos‟, confrade é o modo como os „realistas‟ dirigem-se entre si. É análogo ao „companheiro‟ dos petistas, ao „camarada‟ dos marxistas-hardcore, ao „colega‟ entre pessoas de mesma profissão, etc.

(20)

capítulo com espírito de imparcialidade. Se mesmo assim permanecer tal impressão, avisamos que não descartamos reescrever ou adicionar notas explicativas em edições futuras a fim de corrigir esse possível problema. No próximo capítulo, vamos analisar a eficiência da Real de um modo crítico.

(21)

3 O ORGULHO DA REAL

Para opinar racionalmente contra algum mal é preciso colocar-nos intelectualmente acima dele, não apenas escolher uma das posições que ele mesmo criou; isto só faz agravar a situação (Olavo de Carvalho).

Por que a Real possui relativo sucesso? Por que seus membros são seguros de si? A investigação dessas questões mostra-nos o que é a maior força da Real, mas também a possível origem de sua fraqueza.

O sucesso da Real pode ser explicado por dois motivos. Primeiro porque a Real trata da temática dos relacionamentos amorosos, tema que desperta grande audiência. O segundo motivo, ligado ao anterior, é que de fato a Real conseguiu construir uma teoria acerca da dinâmica dos relacionamentos amorosos que apresenta uma precisão apurada em nossa sociedade.

Grande parte da temática da Real está condensada na discussão sobre sua teoria acerca dos relacionamentos. É importante reconhecer que não se trata de mero lero-lero, a Real está envolta em uma aura de estrutura científica (informal). Para evidenciar isso, recorramos às considerações que Gustavo Corção presta à estrutura e aos métodos da ciência:

Desde a Idade Média, e principalmente desde Santo Tomás, sabemos que convém distinguir, no cabedal científico a que damos vários nomes, conforme seus objetos materiais, duas coisas:

a) O acervo dos dados observados e trazidos por observações e experimentações à prova da evidência sensível. Demos a este principal património, e principal critério das ciências o nome de "dado fenomênico" ou de "fenômenos observados", ou ainda lembremos o nome que lhe davam os escolásticos: "apparentia sensibilia" onde o termo "apparentia" não quer dizer "o que parece ser..." e muito menos "o que parece ser, mas não é", e sim "o que é evidente para o conhecimento sensível".

b) A segunda coisa é a síntese interpretativa feita de teorias destinadas a propor uma explicação conexa aos vários elementos dispersos do dado observado.

E aqui cabe um reparo importante: a teoria interpretativa, apesar de seu talhe imponente, é cientificamente sujeita ao observado, aos fenómenos, e só se mantém enquanto suas articulações e a costura de seu tecido de hipóteses explicativas conseguem dar conta dos dados observados.23

Em meio em uma cultura de massa onde o ponto de vista do feminismo é hegemônico, a Real, principalmente impulsionada pelos livros de Nessahan Alita, organizou-se

(22)

primeiramente nos espaços do Orkut para discutir a temática dos relacionamentos. Os diversos relatos, notícias e debates criaram um acervo de dados. A teoria presente em seus livros é a síntese interpretativa dos eventos observados, resultando na formulação de uma teoria que tanto os orgulha. O movimento está sustentado na observação da realidade.

A Real consegue explicar os problemas dos relacionamentos modernos por meio de sua teoria interpretativa, permitindo que o homem possa se defender em um ambiente onde a informação geral se contextualiza sob a regência de uma hegemonia feminista. Daí que a expressão “sair da Matrix” signifique levar ao homem a entender sua posição de engano cultural e lutar para sair de sua situação precária. A teoria da Real, em suma, possibilita que o homem vença a guerra do “amor”, que deixe de ser enganado pelas “vadias”.

Naturalmente que por se tratar de observações limitadas ao campo de ação humana, sua teoria não possui abrangência universal. Fazer tal consideração seria cair na tentação cientificista que resultaria na ruptura da síntese interpretativa24. Alguns „realistas‟ exaltados podem cometer este grave erro, mas a Real em si25 limita a eficácia de sua leitura às vadias de ambos os sexos26.

Fazemos estas considerações porque há uma frase recorrente que corresponde a uma espécie de axioma da Real: não existe mulher exceção. É uma frase imprudente, pois pode ser facilmente mal-interpretada por quem não está suficientemente interado no assunto (creio que a maioria dos conservadores). Em uma ótica distorcida, a afirmação de que “não existe mulher exceção” pode ser entendida como “todas as mulheres são vadias” e, sendo todas vadias, a Teoria da Real pode ter abrangência universal.

Na realidade, a interpretação da não-existência da mulher exceção está no entendimento de que todas as mulheres possuem “um lado obscuro”, isto é, não são perfeitas. Isso não é propriamente uma novidade no meio conservador (princípio da imperfectibilidade do homem) e cristão (somos todos pecadores). Assim como não existe a mulher exceção, inexiste também o homem exceção. A polêmica frase é utilizada com objetivo de “dar um tapa” nos novatos da Real que, ainda imersos na Matrix, permanecem iludidos pelo mito do amor romântico, carregando consigo a credulidade sobre a lenda da pureza e santidade feminina e acreditando que a melhor estratégia é ser bondoso, submisso e romântico (miguxo no jargão ridiculatório dos „realistas‟; paspalho, no provocativo) com vistas a conquista da

24

CORÇÃO, G. O Século do Nada. Rio de Janeiro: Record, 1973. p. 124.

25 Lembrando que estamos mais preocupados em analisar seus membros mais influentes. 26 A vadia-homem é o cafajeste. Na Real, é comumente referido de modo abreviado: cafa.

(23)

doce, bela, única e bondosa lady.O trágico e lúdico fenômeno da Friendzone (Figura 2) é um bom exemplo dessa desconfortável situação.

Figura 2 – Friendzone, onde a „amizade‟ é estranha.

Observar a realidade e elaborar uma teoria interpretativa racional é um mérito da Real. É donde provém sua força e explica o motivo do seu sucesso. Sob a ótica da sua teoria, determinados comportamentos enigmáticos passam a compreensíveis. Este sucesso, contudo, também revela uma fraqueza da Real: a arrogância.

Porque a Teoria da Real é funcional, ela desperta admiração e agradecimentos de membros que conseguiram reverter sua situação de capacho em relação às mulheres. Se fossem fazer uma apresentação, a Real teria vários exemplos de “case de sucesso”.

(24)

Provavelmente provém deste identificável sucesso certa arrogância em relação às críticas que vêm de fora. Os críticos são interpretados como pessoas que estão presas na Matrix e, portanto, em estado inferior aos „realistas‟ que saíram da lastimável situação. Quem os critica são catalogados automaticamente como manginas, cavaleiros brancos, matrixianos, miguxos, etc.

Não sabemos se é por causa deste hábito defensivo, ou se é porque a rotulagem pejorativa é regra nos debates virtuais, ou se é por causa dos dois, mas é interessante observar que esta tática de rotulação também está presente nas discussões internas da Real, principalmente quando um assunto descamba para o campo moral.

É no campo moral que reside a problemática da Real. De fato a Real trabalha com sua ciência informal que tem seus pés fincados no chão, mas a ciência em si é amoral. Um conhecimento pode ser usado para o bem ou para o mal. Neste aspecto, cada membro é livre para fazer o que quiser, contudo, tal saída não condiz com os outros objetivos da Real que busca combater o esquerdismo no campo político e o Marxismo Cultural no campo cultural.

Como conservadores, devemos rejeitar o “niilismo realista”. Se a Real almeja fins nobres de mudança, ela não pode ignorar este tipo de debate. O conservador enxerga que as crises são causadas por problemas morais.

Reconhecemos aqui que a Real fez uma boa leitura em torno da dinâmica dos relacionamentos amorosos da modernidade. O diagnóstico da Real é bom. É uma ferramenta funcional ao que tange seu campo de ação. Entretanto, como bem pondera Michael Oakeshott27, a ferramenta para a execução de trabalho é justamente onde está o cerne da preocupação conservadora.

3.1 POR QUE A TEORIA DA REAL FUNCIONA

Discutimos anteriormente a teoria da Real e admitimos que ela possui êxito em explicar a dinâmica dos relacionamentos modernos. Ponderamos, contudo, que seu range não é universal, limitando-se principalmente – como bem esclarece autores influentes do material como Nessahan Alita e Esther Vilar – às mulheres vadias.

(25)

A partir disso, podemos fazer a seguinte afirmação: quanto maior for o índice de vadiagem da sociedade, maior será a abrangência da Real. Nesta afirmação, não estamos excluindo a vadiagem masculina, simbolizada na figura do cafajeste.

Então emerge a pergunta: por que a teoria da Real obtém sucesso? Nessahan Alita não esconde sua sustentação pela psicologia evolutiva. Alita elucida que o comportamento “vadio” é decorrente do ser humano estar voltado ao seu comportamento mais animalesco.

O filósofo Olavo de Carvalho em artigo intitulado “A moral do Brasil” aponta para a Teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg (grifos nossos):

Se você quer entender e não tem medo de perceber em que tipo de ambiente mental está metido nesse nosso Brasil, nada melhor do que estudar um pouco a Teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg. Enunciada pela primeira vez em 1958 e depois muito aperfeiçoada, ela mede o grau de consciência moral dos indivíduos conforme os valores que motivam as suas ações, numa escala que vai do simples reflexo de autopreservação natural até o sacrifício do ego ao primado dos valores universais.

Kohlberg, que foi professor de psicologia na Faculdade de Educação em Harvard, desenvolveu alguns testes para avaliar o desenvolvimento moral, mas os críticos responderam que isso só media a interpretação que os indivíduos testados faziam de si mesmos, não a sua motivação efetiva nas situações reais. Essa dificuldade pode ser neutralizada se em vez de testes tomarmos como ponto de partida as condutas reais, discernindo, por exclusão, as motivações que as determinaram.

Os graus admitidos por Kohlberg são seis. No mais baixo e primitivo, em que a conduta humana faz fronteira com a dos animais, a motivação principal das ações é o medo do castigo. É o estágio da ―Obediência e Punição‖. No segundo (―Individualismo e Intercâmbio‖), o indivíduo busca conscientemente a via mais eficaz para satisfazer a seus próprios interesses e entende que às vezes a reciprocidade e a troca são vantajosas. No terceiro (―Relações

Interpessoais‖), os interesses imediatos cedem lugar ao desejo de captar

simpatia, de ser aceito num grupo, de sentir que tem ―amigos‖ e distinguir-se dos estranhos, dos concorrentes e inimigos. No quarto (―Manutenção da

Ordem‖), o indivíduo percebe que há uma ordem social acima dos grupos e

empenha-se em obedecer as leis, em cumprir suas obrigações. No quinto (―Contrato Social e Direitos Individuais‖), ele se torna sensível à diversidade de opiniões e entende a ordem social já não como um imperativo mecânico, mas como um acordo complexo necessário à convivência pacífica entre os divergentes, No sexto e último (―Princípios Universais‖), ele busca orientar sua conduta por valores universais, mesmo quando estes entram em conflito com os seus interesses pessoais, com a vontade dos vários grupos ou com a ordem social presente.

Essas seis motivações refletem três níveis de moralidade: os dois primeiros expressam a ―moralidade pré-convencional‖; os dois intermediários a ―moralidade convencional‖, os dois últimos a ―moralidade

pós-convencional‖.

Se não atentamos para os discursos, mas para as escolhas reais que as pessoas fazem na vida, não é preciso observar muito para notar que os indivíduos que nos governam, bem como os seus porta-vozes na mídia e nas universidades, não passam do terceiro estágio, o mais baixo da moralidade convencional, em que a identidade, a coesão e a solidariedade interna do grupo prevalecem sobre a ordem social, as leis, os direitos dos adversários e quaisquer valores universais

(26)

que se possa conceber (e que desde esse nível de consciência são mesmo inconcebíveis, embora nada impeça que sua linguagem seja macaqueada como camuflagem dos desejos do grupo). 28

Embora o artigo esteja voltado para uma crítica ao esquerdismo, a teoria de Kohlberg auxilia na explicação sobre o êxito da teoria da Real: o nível moral da sociedade está baixo, próximo aos instintos animalescos que Nessahan Alita comenta. Podemos dizer que a sociedade está se bestializando. Ao traçar os instintos bestiais do homem e da mulher, a Real consegue êxito teórico na abordagem dos relacionamentos modernos.

Alguns conservadores incomodam-se com o vocabulário presente em sites e blogs „realistas‟, porque as expressões macho e fêmea são empregadas. Contudo, tais termos são coerentes com bestialização social, sendo os mais apropriados para explicar a teoria da Real. O núcleo explicativo da Real está no macho e fêmea, isto é, seus instintos animais inconscientes e que representam bem a baixeza do nível moral a que tais termos se referem.

Em suma, podemos concluir que a Real funciona porque estamos diante de uma cultura que demonstra baixo nível moral, que não ultrapassa o terceiro nível de Kohlberg. Há uma correlação inversamente proporcional entre nível moral e funcionalidade da Real, isto é, quanto maior o nível moral da população, menos eficiente será a leitura social da teoria „realista‟.

Aqui jaz novamente o motivo para que este trabalho se dirija, em especial, ao público conservador. Uma vez que os conservadores encaram a ordem moral com um princípio importante para o bem estar social, a não-hipocrisia obriga-os a buscar com sinceridade as virtudes humanas, ascender aos níveis morais Kohlberg, posicionando moralmente acima de qualquer esquerdista, vadia ou cafajeste.

3.2 MOTIVAÇÕES E EXAGEROS

A abordagem da Real em sua propaganda é de ataque às mulheres vadias. Existe a preocupação de alertar o homem sobre a hegemonia feminista que é crescente. A Real coloca-se com a pretensão de combater o feminismo, um dos principais males do Marxismo Cultural.

28 CARVALHO, Olavo de. A Moral do Brasil. Diário do Comércio, 19/10/2003. Disponível em:

(27)

Se o objetivo é de mudança e de quebra de uma hegemonia, tem-se desde Gramsci (um dos pais do Marxismo Cultural) que a disputa é pela mudança do “senso comum”. Como bem observa Olavo de Carvalho, a ironia de Gramsci é que ele defende uma ideologia coletivista, mas não ignora que esta mudança deva ser feita do modo a mudar a percepção a nível individual. O objetivo do gramscismo é mudança cultural, uma completa inversão de valores em benefício de uma força revolucionária:

Para a revolução gramsciana vale menos um orador, um agitador notório, do que um jornalista discreto que, sem tomar posição explícita, vá delicadamente mudando o teor do noticiário, ou do que um cineasta cujos filmes, sem qualquer mensagem política ostensiva, afeiçoem o público a um novo imaginário, gerador de um novo senso comum. Jornalistas, cineastas, músicos, psicólogos, pedagogos infantis e conselheiros familiares representam uma tropa de elite do exército gramsciano. Sua atuação informal penetra fundo nas consciências, sem nenhum intuito político declarado, e deixa nelas as marcas de novos sentimentos, de novas reações, de novas atitudes morais que, no momento propício, se integrarão harmoniosamente na hegemonia comunista. 29

Daí que do ponto de vista estratégico da mudança, não está errada a motivação que os líderes „realistas‟ dão para o fato de que a Real precisa ser internalizada. Isso significa que o homem deve treinar o “desapego” (blindar-se contra a sedução feminina que tenta provocar uma paixão irracional)30, focar no desenvolvimento pessoal (trabalho, saúde e finanças31) e voltar-se para a “honra”.

Colocamos aspas na honra, porque embora muito seja dito a respeito de motivar o homem a ser honrado, a definição disso não é clara, justamente porque a maior fonte de divergência „realista‟ dá-se no campo moral. Talvez a maior convergência no campo da honra seja a instrução de, caso estar em um relacionamento sério, não trair a parceira.

Um Guerreiro da Real não pode ignorar que a honra passa pela autocrítica masculina32. Muito a Real critica a mulher vadia e o feminismo, mas pouco se aprofunda sobre a moralidade do homem diante de uma cultura cada vez mais feminista. É daí que pode

29 CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. Disponível

em http://www.olavodecarvalho.org/livros/neindex.htm

30

O conceito de desapego em seu campo de atuação não está aprofundado. Se isso é bom ou ruim, quando é positivo e quando é negativo, será tratado mais a frente.

31 Livros voltados à administração, à aplicação financeira e dicas de exercícios físicos são compartilhados entre

realistas.

32 Se ignorar, não é por certo um conservador. Lembrando que Guerreiro da Real neste trabalho é o conservador

(28)

ser origem da crítica sobre a Real ser um feminismo com sinal trocado33. É bastante relembrado que a Real não é sobre pegar mulher, mas sua teoria ensina que o cafajeste é um imã para atraí-las. Tira-se que uma das autocríticas ao homem é que ele não se torne um cafajeste. Sendo este conselho pouco difundido, a crítica sobre o sinal trocado não pode ser totalmente negada.

Outro detalhe relevante é a crítica pela crítica em relação às mulheres feministas. O comportamento de vadia deve ser atacado, mas tão importante quanto metralhar, é formar. O que a Real tem a dizer a respeito da mulher honrada, o oposto da mulher vadia? Pode haver aqui uma objeção de que, mesmo falando pouco, fala-se sobre a mulher honrada e a importância da família – não negamos –, mas falamos a respeito de uma abordagem visando a conversão.

Há certo pessimismo na Real. A hegemonia feminista impregnada no “senso comum” assusta a quem saiu da matrix. A conversão de uma vadia famosa é vista sob a ótica negativista. Transparece certo sentimento de “uma vez vadia, sempre vadia” que é o resultado de levar às últimas conseqüências o conceito de “lado obscuro feminino”34

.

Um processo de conversão certamente não é fácil, mas se algo é difícil, significa que deve ser deixado? Logo na introdução de “Filosofia da Crise”, o filósofo Mario Ferreira dos Santos assinala:

Cavamos abismos, quando já os temos dentro de nós. E eles surgem da nossa desesperança.

É a desesperança que cava abismos. E o homem desesperado, quando não mais espera o que esperava, precisa encontrar o que não tem. E o desespero, que está virtualizado no crente fiel, actualiza-se no homem que duvida. Cavam abismos os que duvidam.

Mas, dirão, é possivel crer mais? Mas pode, acaso o homem deixar de crer? Ele procura uma crença no desespero, ele procura uma crença ao aprofundar o abismo, crença até não crer mais em nada.

E quando não crê e procurar crer, fanatiza-se. (...)

E esta desesperança trouxe a inversão dos valores mais altos, a inversão nas hierarquias. E desde aí começou a avassalante marcha da ascensão dos tipos mais baixos, para cuja ascensão o capitalismo colaborou, e daí, como decorrência, surgirem o primarismo, a improvisação, a auto-suficiência dos medíocres.

(...)

Mas, é preciso ter muito cuidado para que não nos ofereçam, com o rótulo de concreção, velhas visões unilaterais, sectárias, geradoras de novas brutalidades, que apenas vão repetir a velha monódia da brutalidade humana.

33

Ponto que vai ser aprofundado no próximo capítulo.

34 O “lado obscuro feminino” é um ótimo conceito para fins didáticos, mas não deve sobrepujar o livre-arbítrio,

(29)

Cuidado com as pseudo-sínteses, com os inóculos substitutos de Deus, como nos propõem os nossos "religiosos" da matéria e os "religiosos" da existência, ou outros que julgam que ao substituir os símbolos, substituem os velhos simbolizados.35

Muito vale refletir este trecho de Mario Ferreira dos Santos. É profundo e possui um alerta importante: a desesperança e o desespero podem levar à fanatização que procede daqueles que não crêem, mas procuram crer. Então se encaminha a perigos que resultam na inversão de valores e a ascensão dos medíocres. Um quadro oposto ao que um conservador deseja. Além disso, o filósofo faz um alerta que não pode deixar de ser destacado: é preciso ter muito cuidado para que não nos ofereçam, com o rótulo de concreção, velhas visões unilaterais, sectárias, geradoras de novas brutalidades, que apenas vão repetir a velha monódia da brutalidade humana.

O filósofo vem a colaborar com uma crítica à Real que é bastante pertinente: ser um feminismo com sinal trocado. Há uma mobilização no sentido de usar o conhecimento da Real para fins de vencer uma guerra usando o conhecimento do inconsciente animalesco do homem e da mulher. Com a Real, pode agora o homem vencer a barreira onde a vadia lhe tinha na mão: sexo. O velho sonho de apostar em relacionamentos sérios é, dentro do pessimismo da Real, convertido no desejo de fazer as mulheres abrir as pernas.

Ao não buscar uma elevação moral, a Real fica naturalmente presa à cultura do hedonismo que a própria hegemonia feminista ajudou a promover. A teoria da Real alerta o homem para o famoso jogo do puxa-empurra: a mulher altera seu humor de modo imprevisto (qual mulher não é bipolar? Pode questionar-se em tom de humor) e isso consegue afetar o homem de tal maneira que ele se torna um capacho apaixonado. Se o humor não funciona, a mulher pode usar a variante do sexo. Alternar entre sexo de boa qualidade e censura ao sexo como forma de controlar o homem.

É um ardil bem interessante que a Real pescou. Vale reforçar ainda que o condicionamento de estímulos positivos e negativos como forma de controle não é propriamente algo novo no âmbito da engenharia social. Em “Jardim das Aflições”, Olavo de Carvalho é categórico quanto a isso:

Quem disse que buscar o prazer e evitar a dor nos liberta do determinismo? Pavlov dizia exatamente o contrário: o binômio dor-prazer é o comutador que aciona os reflexos condicionados, por meio dos quais um animal ou um homem pode ser governado desde fora. O budismo diz a mesma coisa: que só alcança a liberdade quem se coloca para além da dor e do prazer. Aristóteles o confirma,

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