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4 RESULTADOS – ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.1 Necessidades e fontes de informação

Aqui considera-se necessidade “o que um indivíduo deveria ter para seu trabalho, pesquisa, instrução...” (Line, 1974, p. 87), em contraposição às definições de desejo, demanda, uso e requerimento, do mesmo autor, referidas anteriormente. A TABELA 8 expõe, por ordem decrescente do número de indicações, as opções de necessidades de informação apresentadas aos docentes, que são: atualização em assuntos gerais; atualização em assuntos específicos; produção de novas idéias; formulação de um problema específico; ilustração de aulas; ilustração de

seminários, palestras e conferências; resolução de problemas de pesquisa; acompanhamento do progresso de áreas específicas do conhecimento; identificação do surgimento de novas áreas do conhecimento; outra(s).

Como esperado diante das características da população pesquisada, a atualização em

assuntos específicos atinge o primeiro lugar, com 91,84% (45 docentes) das indicações,

seguida dos itens: acompanhamento do progresso de áreas específicas do

conhecimento (87,76%) e produção de novas idéias (81,63%). Segue-se atualização em assuntos gerais e resolução de problemas de pesquisa com percentuais idênticos

(67,35%); identificação do surgimento de novas áreas do conhecimento (57,14%);

ilustração de seminários, palestras e conferências (51,02%); formulação de um problema específico (46,94%) e ilustração de aulas (44,90%).

TABELA 8

NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO DOS DOCENTES DE PÓS-GRADUAÇÃO DA ÁREA DE FÍSICA

NORDESTE,BRASIL, OUT./NOV.2000

NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO N %

Atualização em assuntos específicos 45 91,84 Acompanhamento do progresso de áreas específicas do conhecimento 43 87,76

Produção de novas idéias 40 81,63

Atualização em assuntos gerais 33 67,35 Resolução de problemas de pesquisa 33 67,35 Identificação do surgimento de novas áreas do conhecimento 28 57,14 Ilustração de seminários, palestras e conferências 25 51,02 Formulação de um problema específico 23 46,94

Ilustração de aulas 22 44,90

Outra(s) 2 4,08

FONTE - Pesquisa direta. Resposta múltipla, não soma 100%.

Observa-se que sete das nove alternativas de necessidades de informação apresentadas são indicadas por mais de 50% dos respondentes. E ainda que o campo “outra(s)”, deixado em aberto, é utilizado tão-somente por 4,08% (dois docentes) dos respondentes, para indicação de necessidades não constantes do questionário, tendo sido mencionadas as necessidades de informações sobre política de financiamento à pesquisa científica nos níveis

estadual e federal e de informações sobre propriedade intelectual, recebendo, cada uma

Estes resultados demonstram a variedade de tipos de informação utilizados para o desempenho da atividade docente que, necessariamente, cobrem diferentes etapas do trabalho científico. Sugerem um comportamento em consonância com o descrito nos estudos de Garvey e colaboradores, realizados no The Johns Hopkins University Center for Research in Scientific Communication, sobre atividades de intercâmbio de informação entre cientistas físicos e sociais. Referindo-se aos diversos estágios do trabalho científico, onde supõe ocorrerem diferentes tipos de processos mentais, Garvey afirma:

“Durante os estágios iniciais de qualquer iniciativa de pesquisa o cientista necessita especialmente de informações que o ajudem na percepção de seu problema e na formulação de procedimentos apropriados ao seu questionamento; procura ainda situar seu próprio trabalho no contexto de outros trabalhos em desenvolvimento ou recentemente concluídos. Em estágios intermediários suas necessidades de informação tornam-se mais específicas, por exemplo, detalhes de técnicas e métodos. Nos estágios finais suas necessidades deslocam-se para o corpo geral do conhecimento, quando ele busca interpretar completamente seus dados e integrar suas descobertas no estado presente do conhecimento científico” (Garvey, 1979, p. 263-264).

No que se refere às fontes de informação utilizadas pelos docentes, consideram-se tanto as fontes formais (primárias, secundárias ou terciárias) quanto as informais. Assim a TABELA 9 mostra as fontes utilizadas para suprir as necessidades de informação dos docentes de pós-graduação da área de física do Nordeste, arranjadas em ordem decrescente. Nota-se ali, que quatro docentes (8,16%) não respondem à questão como solicitado.

Tomando-se para análise, primeiramente, os resultados que dizem respeito aos periódicos em geral, incluindo-se serviços online e meios convencionais, vê-se que, mais do que corroborar estudos anteriores (Brown, 1999; Castro, 1986; Garcia, 1973; Kremer, 1989), os mesmos confirmam a importância do periódico como fonte de informação para os docentes/pesquisadores da área estudada. Encontram-se indicações de 91,84%, correspondente a 45 docentes, para artigos em periódico estrangeiro; 55,10% (27 docentes) para bases de dados online; 22,45% (11 docentes) para artigos em periódico

nacional; 16,33% (oito docentes) para índices, abstracts da literatura. É importante notar

o artigo de periódico estrangeiro aparece em primeiro lugar, o artigo de periódico nacional ocupa a oitava posição como fonte de informação, o que demanda discussões posteriores.

Vê-se que livros/manuais estrangeiros são indicados por 77,55% (38 docentes), enquanto os livros/manuais nacionais, apenas por 14,28% (oito docentes). Esse resultado está de acordo com o encontrado por Kremer (1989) e confirma a predominância do uso de livros-texto estrangeiros no ensino de pós-graduação na área de física. Os anais de

congressos, simpósios etc. são citados por 46,94% (23 docentes); bibliografias em artigos, livros etc., 26,53% (13 docentes); teses e dissertações, 24,49% (12 docentes). É

interessante notar que enquanto 40,82% dos respondentes, o que corresponde a 20 docentes, indica como fontes de informação contatos com colegas e profissionais de

outras instituições, somente 16,33% (oito docentes) indica contatos com colegas de sua universidade. Isto talvez se deva à uma ligação mais estreita dos primeiros com

professores das instituições onde fizeram sua última qualificação ou mesmo à participação em grupos de pesquisa interinstitucionais.

TABELA 9

FONTES DE INFORMAÇÃO UTILIZADAS POR DOCENTES DE PÓS-GRADUAÇÃO DA ÁREA DE FÍSICA.NORDESTE,BRASIL, OUT./NOV.2000.

FONTES DE INFORMAÇÃO N %

Artigos em periódico estrangeiro 45 91,84 Livros/manuais estrangeiros 38 77,55

Bases de dados online 27 55,10

Anais de congressos, simpósios etc. 23 46,94 Contatos com colegas e profissionais de outras instituições 20 40,82 Bibliografias em artigos, livros etc. 13 26,53

Teses, dissertações 12 24,49

Artigos em periódico nacional 11 22,45 Índices, abstracts da literatura 8 16,33 Contatos com colegas de sua universidade 8 16,33

Livros/manuais nacionais 7 14,28

Revisões de literatura 5 10,20

Projetos de pesquisa 2 4,08

Catálogos de fabricantes de produtos e/ou equipamentos 1 2,04

Trabalhos não publicados 1 2,04

Catálogos de editoras de livros - - Bibliografias compiladas por bibliotecários - - Normas técnicas/especificações - - Publicações de órgãos do governo brasileiro - - Publicações de órgão de governos estrangeiros - -

Relatórios de empresas - -

Outra(s) 2 4,08

FONTE - Pesquisa direta. Resposta múltipla, não soma 100%.

As demais fontes de informação indicadas obtêm os seguintes percentuais: revisões de

literatura, 10,20%; projetos de pesquisa, 4,08%; catálogos de fabricantes de produtos e/ou equipamentos e trabalhos não publicados, 2,04%, cada um. Convém notar que

embora dois docentes tenham complementado o rol de fontes de informação apresentado, indicando preprints publicados na Internet, bancos de dados cristalográficos e proceedings de congressos, seis das 21 fontes apresentadas não recebem indicação. São elas: catálogos de editoras de livros; bibliografias compiladas por bibliotecários; normas técnicas/especificações; publicações de órgãos do governo brasileiro; publicações de órgãos de governos estrangeiros e relatórios de empresas.

O fato de que apenas um respondente faz referência a arquivos abertos (open archives) de preprints causa estranheza, pois o item base de dados online foi citado por 27 docentes, o que significa a possibilidade potencial de seu uso. Como visto, os preprints são muito importantes para a comunidade de físicos e o seu formato eletrônico representa um meio de reduzir a defasagem da informação científica, pois

“Ao conectar e interagir com conjuntos de dados remotos, localizados nas instituições do Primeiro Mundo, cientistas dos países em desenvolvimento tornam-se capazes de compensar, pelo menos em parte, seu isolamento do centro científico” (Russel, 2000, p. 38).

A TABELA 10 mostra as fontes de informação consideradas pelos respondentes como a mais importante dentre as citadas. Novamente tem-se os artigos de periódico estrangeiro em primeiro lugar, com 73,47% das indicações. As bases de dados online, indicadas por 10,20% dos respondentes, aqui superam os livros/manuais estrangeiros, que alcançam 6,12%, em um claro indício da importância que este tipo de fonte de informação está adquirindo na atualidade, seguindo contatos com colegas e profissionais de outras

TABELA 10

FONTES DE INFORMAÇÃO MAIS IMPORTANTES PARA DOCENTES DE PÓS-GRADUAÇÃO DA ÁREA DE FÍSICA.NORDESTE,BRASIL, OUT./NOV.2000.

FONTES DE INFORMAÇÃO MAIS IMPORTANTES N %

Artigos em periódico estrangeiro 36 73,47

Bases de dados online 5 10,20

Livros/manuais estrangeiros 3 6,12

Contatos com colegas e profissionais de outras instituições 1 2,04

Sem informação 4 8,16

Total 49 100,00

FONTE - Pesquisa direta.

Os resultados ora discutidos confirmam que “os artigos de periódicos sujeitos a avaliação e os livros científicos ainda são considerados como as publicações definitivas dos resultados de projetos de pesquisa” (Meadows, 1999, p. 166), mesmo que essa afirmação se refira especificamente às fontes estrangeiras. Sugerem ainda que, embora mais de 50% dos docentes façam uso das novas tecnologias, algumas fontes de informação são subutilizadas e outras até não são usadas. No caso dessas últimas, na maioria fontes de informação que, por sua natureza, são encontradas apenas em bibliotecas ou empresas, o resultado pode ser interpretado como indício de serviços de informação deficientes ou, no mínimo, pouco eficientes.

O que se encontra na literatura é corroborado pelos resultados expostos. Os docentes de pós-graduação da área de física, para suas atividades de ensino e pesquisa, necessitam de informação principalmente para atualização em assuntos específicos, acompanhamento do progresso de áreas específicas do conhecimento e produção de novas idéias, e suprem essas necessidades através dos periódicos científicos estrangeiros. Isto está de acordo com o pensamento expresso por um dos respondentes para quem “Os periódicos nacionais são, em geral, publicações sobre temas muito gerais, dificultando a pesquisa de assuntos mais especializados”. Tendo isto em vista, compreende-se a preocupação demonstrada por outro docente ao afirmar que:

“A atual decisão da Capes de reduzir drasticamente as verbas para a aquisição de periódicos irá prejudicar de forma avassaladora a pesquisa científica no Brasil. O acesso aos periódicos internacionais via internet pode suavizar o problema, mas não resolve o problema”.