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Periódicos científicos brasileiros mais significativos – características que

4 RESULTADOS – ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.3 Uso de periódicos científicos brasileiros

4.3.4 Periódicos científicos brasileiros mais significativos – características que

Verifica-se a ocorrência de características que interferem no uso dos periódicos investigando-se os periódicos científicos brasileiros mais significativos da área de física, selecionados conforme descrito na metodologia. São eles: Brazilian Journal of Physics e

Revista Brasileira de Ensino de Física. Os resultados desta investigação, realizada

através da aplicação do formulário anteriormente descrito, encontram-se no QUADRO 6. Vê-se ali que ambas são publicações correntes de natureza científica – mais de 50% de artigos assinados resultantes de investigação científica (Braga; Oberhofer apud Targino, 2000), com mais de duas décadas de existência e editadas pela SBF. Têm em comum várias características, porém também se distinguem de modo bastante claro.

QUADRO 6

CARACTERIZAÇÃO DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS BRASILEIROS MAIS SIGNIFICATIVOS

Título do periódico

BRAZILIAN JOURNAL OF PHYSICS REV. BRAS. DE ENSINO DE FÍSICA Cidade/Estado de publicação

São Paulo/SP Natureza do periódico

Científico

Natureza da instituição/editora responsável Sociedade científica

Comissão/corpo editorial

Parcialmente nacional Nacional

Sistema de árbitros Sim

Restrição a autores O periódico não explicita restrições

Tipo de artigo publicado Resultados originais de trabalhos científicos e

revisões na área de física

Artigos originais sobre materiais e métodos instrucionais, desenvolvimento de currículo, pesquisa em ensino, história e filosofia da física,

política educacional e outros temas pertinentes. Periodicidade

Trimestral Indexação ISI/Science Citation Index/

INSPEC/PhysicsAbstracts INIS/Atomindex

Sem informação

Idioma de publicação

Inglês Português (admite artigos em outras línguas)

Tiragem

Sem informação 1600 exemplares

Responsabilidade da distribuição/circulação SBF

Tempo de vida (data do primeiro número) Março de 1992

(inicia em 1971 como Revista Brasileira de Física ) Janeiro de 1979 Situação do periódico Corrente Apresentação Impresso e online Disponibilização Assinatura/Anuidade da SBF Fontes de financiamento MCT/ CNPq/FINEP/SCT-PR CNPq/FAPESP

Destacam-se, entre as características comuns, aquelas que resultam na facilidade de acesso aos periódicos, como apresentação nas formas impressa e online e disponibilização, através de assinatura e da anuidade da SBF, feita pela própria instituição. E, também, as que estão associadas à credibilidade dos periódicos, como a existência do sistema de árbitros (referees) e a natureza da instituição responsável - uma sociedade científica. Por outro lado, a periodicidade trimestral, para ambos os títulos analisados, evidencia o baixo nível de atualização para os artigos publicados tanto de um quanto de outro.

As distinções entre estes periódicos são ainda mais importantes para o propósito de investigar as características que afetam seu uso, pois a posição do Brazilian Journal of Physics é bem diferente daquela da Revista Brasileira de Ensino de Física, como visto nos resultados anteriores. A primeira grande diferença que deve ser notada é que, enquanto o

Brazilian Journal of Physics publica artigos da área de física em geral, a Revista Brasileira de Ensino de Física é voltada especificamente para a subárea ensino de física. Isto faz com que seus públicos sejam também diferenciados, razão para comentários do tipo: “Para pesquisa na área de Física, há apenas um periódico de relevância: o Brazilian Journal of Physics” e “Acho que deveríamos priorizar a Revista Brasileira de Ensino de Física, a qual me parece ser mais importante para a comunidade de físicos do Brasil”, feitos pelos respondentes.

Também existem diferenças que necessariamente afetam a visibilidade destes periódicos para a comunidade internacional – fator negativo mais importante para uso de periódicos nacionais apontado pelos respondentes – quanto:

¾ ao corpo editorial – enquanto o Brazilian Journal of Physics tem um corpo editorial com participação de físicos dos Estados Unidos da América do Norte, do Reino Unido e de Portugal, o Conselho Editorial da Revista Brasileira de Ensino de Física, além de bastante reduzido (cinco membros apenas), é formado totalmente por físicos brasileiros;

¾ à indexação – feita no SCI (ISI), no INSPEC (Physics Abstracts) e no INIS (Atomindex), somente para o Brazilian Journal of Physics;

¾ ao idioma de publicação - inglês para o Brazilian Journal of Physics e português para a Revista Brasileira de Ensino de Física, embora esta admita artigos em outras línguas, principalmente espanhol.

Merece comentários adicionais a questão do apoio de órgãos de fomento a essas publicações. Atualmente ambas as revistas contam com o apoio do CNPq através do Programa de Apoio a Publicações Científicas, conforme divulgação feita na homepage deste órgão (www.cnpq.br/bolsas/pesq-cientifica/aprovados2000.htm). O Brazilian Journal of Physics é subvencionado também pelo MCT e FINEP, além da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Paraná. A Revista Brasileira de Ensino de Física conta com o apoio parcial da FAPESP. No entanto, esta postura de apoio financeiro, na opinião dos respondentes, não é suficiente. Nota-se um certo ressentimento pelo não reconhecimento da qualidade destas publicações, expresso em posicionamentos como os que seguem:

“O maior problema do periódico nacional é sua falta de reconhecimento pelo sistema nacional de C&T”;

“... os organismos institucionais (CAPES, CNPQ) também não dão muito crédito nas publicações em periódicos não indexados. Desta forma a procura por periódicos estrangeiros indexados é mais atrativa”;

“Uso bastante a Revista Brasileira de Ensino de Física. Possui alto padrão e deve ocupar um bom espaço na comunidade latino americana. É lamentável que os órgãos de fomento (CNPq) não considerem como importante os artigos lá publicados. Estimulam um desprestígio a nossa Revista. Similar política de publicação o CNPq implementa até com relação ao Brazilian Journal of Physics. As duas posturas acima são alimentadas por parcelas da comunidade científica, que sofre de ‘Mazomba aguda’ com relação ao que é de fora. Esquecem que o papel das Revistas é a disseminação de cultura”.

Por outro lado, alguns docentes também reclamam que “Os periódicos nacionais continuam sofrendo do mesmo problema de muitos anos: falta de regularidade, tempo muito longo para os autores obterem as respostas dos árbitros, baixo parâmetro de impacto em nível internacional, etc” e da “Falta de organização no serviço de editoração”. Isto corrobora os resultados obtidos por Stumpf (1997), citados anteriormente. Aponta-se, como exemplo das observações feitas acima, a ausência de informações básicas como tiragem da revista, instruções para autores e até mesmo o preço e a forma de obtenção da assinatura, nos fascículos trabalhados do Brazilian Journal of Physics.

Por fim, diante do exposto, ressalta-se o conhecimento demonstrado por alguns dos respondentes sobre a problemática que envolve os periódicos científicos nacionais e a falta do consenso necessário ao desenvolvimento de uma política de incentivo ao seu crescimento e uso. Enquanto um reconhece que:

“O periódico científico nacional, e aqui estou considerando que ‘nacional’ significa que não é indexado internacionalmente e escrito em português, tem grande importância em estabelecer uma tradição em ciência, divulgação científica, divulgação de experiências bem sucedidas, e no desenvolvimento da capacidade de escrever, a qual é pobre entre os cientistas”,

outro entende que “Se você publica mais em periódicos nacionais, ainda que em inglês e ainda que divulgue o trabalho internacionalmente, por Internet, sairá perdendo, em caso

de concursos ou pedidos de bolsa, para colegas que publicam mais em revistas internacionais”. Isto indica que outros fatores, além do escopo deste trabalho, estão envolvidos no uso dos periódicos nacionais, o que justifica a crença de um dos respondentes de que:

“... o uso do periódico científico nacional só virá a se tornar importante quando a comunidade científica brasileira se conscientizar da necessidade de criar raízes mais sólidas para a nossa ciência. Isso só será realizado quando os nossos melhores, e mais experientes, pesquisadores tomarem como tarefa criar uma tradição editorial científica nacional”.