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Livro-Rizoma, Pensamento-Rizoma.

NISE Cada um de nós

Tem o todo-parte De Alcatraz, De Albatroz. Noz-moscada, Fio da estrada, Desata os nós, Tenho todo-parte De Alcatraz, De Albatroz Temos parte-todo Dedal ilhós, De Alcatraz, De Albatroz. Creo en Dios, Jung, Spinoza, Nise, una rosa, Cada um de nós.

Raulito: voz Beto Quadros: violico, vocais Lucas Andrade: violão Denilson de Paula: percussão Nise-processo: trechos de gravações desta música durante sua criação.

SALLES (2006, p. 15) sobre o processo de criação: “Um processo no qual não se consegue determinar um ponto inicial, nem final.”

Primeiro encontro com Amnéris.

Sábado, 21 de abril de 2012. Manhã chuvosa no bairro de Pinheiros, na capital paulista. Alegre estava eu, desde o encontro com o livro da Profa. Dra. Amnéris Angela MARONI (2008), pela busca na internet para contatá-la, pelo e- mail enviado e prontamente respondido com a frase, Quem és tu, jovem?, e também pela sua disponibilidade em me atender. Foram 4 encontros, quatrocentos momentos de puro deleite. Nesse primeiro contato pessoal com Amnéris, chego ao seu consultório em São Paulo, munido dos equipamentos inseparáveis: lápis, bloco de anotações e gravador, (Não gravei nossa conversa, pois fiquei acanhado na solicitação. Os outros 3 encontros foram registrados.) Acompanhou-me também dois regalos de minha criação: CD “Mandala” e o Livro/CD “Operêtanimal”. O encontro se deu entre 10h00 e 11h00 horas, intervalo em que havia uma janela na sua agenda, pois aos sábados ela também realizava atendimento com terapia JungBioniana. Abraço e beijo no rosto. Presenteio-a, e ela: Artista, hem? Observa atentamente a arte do CD “Mandala”. Oferece-me dois de seus livros: MARONI, (2008b) com a dedicatória Raulito, leia “Outras Palavras” Amnéris. No segundo livro, MARONI, (2008a) Raulito. Leia “Impossível mais que Impossível” Amnéris. Eu havia lhe falado, por e-mail, que iria trabalhar com trajetórias e narrativas.

Antes desse encontro.

Vindo de ônibus de São José dos Campos e de metrô até Pinheiros, cheguei quase 1 hora antes do horário marcado. Enquanto caminhava pelo bairro, brotavam imagens dos encontros virtuais com Amnéris. Jung juntou-se a Espinosa, conexão já estabelecida por Nise da Silveira. Ligo o gravador e sigo cantarolando. Paro, ouço e continuo compondo. Caminho, cantando e gravando. Não paro para ouvir, só os dedos nos botões, intercalando rec, stop, rec, pause, variando essa ordem. A canção, alegremente composta, foi arquivada em diversas tomadas sonoras.

Essa forma de composição esteve presente em grande parte das canções do lado B do CD, diferente das canções do lado A, em que eu compunha com violão. Meu pequeno repertório de acordes nesse instrumento, por desleixo e preguiça para ampliá-lo, fizeram que eu deixasse-o para a criação. Passei a caminhar e a observar cenas do cotidiano transportando apenas um pequeno gravador. Em termos de composição, percebi o aumento das possibilidades harmônicas nas brincadeiras com palavras melodiadas. O que faço é simplesmente dizer as palavras de formas diferentes. Experimentos com palavras melodiadas, com sons vocais, com linhas de baixo, guitarra solo e base ampliaram em muito as composições. Depois eu encontrava-me com o Lucas para tirar os acordes, que na maioria das vezes eu não sabia tocar, e para harmonizar a canção.

Depois do encontro.

Explosão de alegria – aumento da potência de agir – saio em direção ao bairro de Vila Madalena, sem me ater aos passos, nem aos compassos da canção, que agora não mais escuto, sigo gravando outros fragmentos. Passeio pela feira do bairro sem me quedar para o saboroso dueto pastel com caldo de cana e seduzido pela canção. Bailo sinuosamente pelas barracas e pelos frequentadores da feira, não de segunda a sexta, mas num feriado, sábado com feira. Isso eu não pensava enquanto dançava até a estação Metrô Vila Madalena. De lá até a estação Metrô Tietê e depois no ônibus até São José dos Campos, sigo ouvindo as gravações. Se fossem disponibilizadas em vinil, eu já teria que trocar a agulha. Substituí as pilhas e em casa transferi os arquivos para o computador.

Outra feira, a do Bom Retiro.

As imagens captadas no Bom Retiro, desdobradas na canção homônima e utilizadas na criação do Microdoc, também canção homônima, e no DVD “Fractais”, foram captadas na feira desse bairro.

Dias após encontro com o Lucas, peço-lhe para tirar os acordes para o violão, tanto a harmonia como a linha de baixo que eu criara com sons vocais. Gravamos, na minha casa, uma guia com voz e violão.

Estúdio.

O Lucas grava violão-base e o violão-linha de baixo. Solicito ao Beto para incluir um instrumento de cordas entre os que ele toca: bandola, viola, violão de 6 e de 12 cordas. Volto uma semana depois e, surpresa: encontro as gravações realizadas com o violico, nome dado pelo Beto para um pequeno violão que outro músico, amigo seu, lhe emprestara. Beto me diz: coloquei-o na roda.

Lucas

Toque preciso precioso Dedos no aço

Deslizam nos trastes Amigo-Abraço

“Publicamos para não passar a vida corrigindo.” Jorge Luis Borges. In: SALLES (2006, p. 21).

Levo a gravação, em CD, dessa etapa, para minha casa. Eu e o Lucas estruturamos a canção para ter a reprodução da letra uma vez. Só que o timbre do violico, arpejado pelo Beto, tocou-me intensamente. Repetição da canção elevada à enésima potência. Retorno ao estúdio e, sorrindo, agradeço a ele pela criação e escolha do instrumento. Ouvimos juntos, agora no estúdio. Beto, que tal fazer uma montagem para que haja outra repetição na canção? Assim foi realizado. Em seguida, a brilhante criação percussiva do Denilson, da minha voz definitiva e dos vocais.

Criação em processo.

Os fragmentos da gravação, criados em Pinheiros e Vila Madalena, estavam sossegados no computador. Desalojo-os e passo a escutá-los percebendo a preciosidade conectada aos estudos da crítica genética, denominada aqui no Brasil de criação em processo, termo que passo a utilizar. Meu pensamento vinha sendo capturado por textos de SALLES (2006 e 2013) e ZULAR (2002).

Das tomadas, fragmentos, takes, gravados, seleciono 7 deles. Faço a marcação de trechos e a sua ordem. O Beto realizou a colagem da canção completa e depois as 7 tomadas. Após eu ouvir e aprovar a colagem, sugeri inverter a ordem iniciando pelos takes e, finalizando com a canção completa. O rascunho foi integrado à obra, ou melhor, a obra continua rascunhada, o Gesto Inacabado (SALLES, 2006).

“A obra não é fruto de uma grande ideia localizada em momentos iniciais do processo, mas está espalhada pelo percurso. Há criação em diários, anotações e rascunhos.” SALLES (2006, p. 36).

A canção, criada em 21.04.2012, nasceu quase toda pronta. Destaquei em áudio o processo.

Durante os anos de 2012, 2013 e 2014, além da escrileitura dos textos citados sobre criação em processo, fui escrevendo pequenos textos, destacando frases e arquivando-os. Entre outros, guardei o folder do IV Encontro de Arte & Saúde Mental: o Paradigma Estético na Clínica de Nise da Silveira, promovido pela UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro em 23 e 24 de setembro de 2010, evento em que participei. Aproveitei para visitar, neste período, o Museu do Inconsciente. Afetado por sua produção, por sua história mediante livros, vídeos, e, em especial, o livro de HORTA (2008), criei a canção e nomeei-a NISE.

“Daí Chico Buarque de Hollanda afirmar que caminha a trabalho: encontra muitas soluções para problemas de obras em construção quando sai para caminhar. Diz ele ‘saio com o escritório na cabeça’.” SALLES (2006, p.57).

1960–1972. Educação pela Arte: universo sonoro e política.

Dois vizinhos, cinquentões, no início da década de 1960. Sr. Leopoldo, tocador de violão. Em mim, tocava-me seus solos nas cordas graves do violão. A canção “Nise” inicia-se com uma linha melódica, que cantarolei, sugerindo o timbre das cordas de um contrabaixo. O cancionista Itamar Assumpção muitas vezes criava suas composições desta forma. Do outro vizinho, sua presença invadia-me pelo som corporal: assoviava, assoviava, assoviava; sempre que em seu quintal estava. O som dos pássaros, engaiolados e soltos, o acompanhava. Até hoje me envolve a boniteza daquele silvo.

Pelo rádio, eu escutava o programa “Moraes Sarmento”, apresentador que batia com a palma da mão no peito, para saudar os cantantes, aniversariantes e amantes. Eu gostava também de Inezita Barroso, Chico Alves, Tonico e Tinoco. Tramas e dramas das radionovelas eu acompanhava.

Na TV, eu adorava: o programa “Jovem Guarda” e os “Festivais de Música Popular Brasileira”. Atingiu-me o Tropicalismo com a subversão da canção: textual, melódica, harmônica; a mistura do eletrônico com o acústico, da orquestra com banda de rock, através de guitarras, violões, violinos e percussão. Vozes individuais e vocais completavam as experimentações sonoras. Fisgado fui, por todo corpo, como intenso assistente e ouvinte.

Sem atormentar-me, segui em busca de mais AR.

E pus-me a tocAR: corneta, caixa, surdo e fuzileiro em duas fanfarras nos cursos ginasial e colegial, e a tocAR violão, prosseguia ouvindo o Sr. Leopoldo, e logo iniciei o aprendizado com o músico Lourival, guitarrista e membro de uma banda cover do intérprete e compositor Roberto Carlos e da banda “Renato e Seus Blue Caps”, principalmente, e de outros sucessos do movimento “Jovem Guarda”. Pedi para ensinar-me canções dos Beatles, de quem eu era devorador do repertório, primeiro através do rádio, e depois dos discos de vinil.

londrino, e eu a cantAR, cantAR, cantAR, cantAR. Recebi e aceitei o convite para fazer parte da sua banda cantando Beatles e outros rocks internacionais.

Deixei este conjunto ao conhecer o grupo “Axibitiabascumastemus”. Fascinou-me o seu singular universo sonoro. Minhas referências ampliaram-se e explodiram com o “Axibiti”, como era conhecido, e carinhosamente citado no CEPEF, em Jaçanã, escola em que todos os componentes, inclusive eu, estudavam. Encantei-me pelo seu trabalho autoral, no início da década de 1970, realizado por jovens com idade entre 16 e 18 anos. Angela, minha esposa, foi quem na época me apresentou ao grupo. Reuníamos, nas tardes dos finais de semana, para tocAR e conversAR sobre: literatura, teatro, política, música. À noite, para alguns não faltavam: jogo de baralho, cacheta, pinga com groselha, bailinhos que ocorriam nas garagens de alguns estudantes do colégio, e muito, muito, muito, muito papo. Experimentos solidários, um coletivo que me seduziu e que passei a fazer parte também como vocalista. Um voo para criAR. Passo a compor.

“Axibiti” participava, e na maioria das vezes era premiado, em Festivais Musicais Escolares de canção autoral realizados em diversas escolas estaduais. O envolvimento com grupos de teatro da capital paulista possibilitou-nos a composição de trilhas sonoras para espetáculos.

Copa do Mundo de Futebol de 1970. Brasil campeão. Vaiamos o time e a bandeira nacional.

No “Axibiti”, pude iniciar o processo de composição cancional ampliado pelos contatos com a fértil fase da Música Brasileira, com as Mostras de Teatro do “SESC Dr. Vila Nova”, atual “SESC Consolação”, com a literatura de Jorge Amado, com as sessões de cinema de Arte do “Cine Bijou”, na Praça Roosevelt. A arte apoderou-se de mim, assim como a participação política. O múltiplo, desde esta época, afetava-me, impulsionava-me e alegrava-me.

Minha Educação pela Arte foi também potencializada pela presença de dois tios: Lola, poeta concretista por quem tive fascinação à primeira vista pela síntese, pelos seus poemas e pelos meus e do amigo, de sala, Celso. Nós dois

criamos, como brincadeira, o movimento meteorítico “Celsismo e Raulitismo”. Eram poemas dadaístas, termo que, na época, não conhecíamos. O outro tio, casado com Lola, Fernando Odriozola, artista basco, premiado principalmente na 8ª Bienal Internacional de São Paulo de 1965, como melhor desenhista nacional. Com ele, adentrei o mundo das imagens: pintura, desenho e escultura. No CD compus a canção “Odriozola”.

Por eu não querer trabalhar em horários fixos, iniciei o aprendizado de pintura residencial com meu pai, que trabalhava fixo no Hospital Modelo, no bairro da Aclimação – São Paulo. Ele, algumas vezes nas noites e em finais de semana, fazia “bicos” de pintura, em apartamentos. No princípio, acompanhei- o, depois trabalhei sozinho, sob sua orientação; com tintas, massas, corantes, lixas, espátulas, pincéis, rolos, etc. Elementos e técnicas que impregnaram meu corpo.

Alcatraz Albatroz: escrita a lápis em papel amassado. ImagEncontro: capa do jornal Rascunho.

Nise-processo: tomadas de gravações desta canção durante sua criação nos:

gravadores Panasonic RR-US450 e ZOOM H4n e no programa de computador Logic Platinum (no estúdio).

Tomada 1 – Antes do encontro com a Profa. Amnéris. (Com o gravador Panasonic).

Tomada 2 – Após o encontro. (Com o gravador Panasonic).

Tomada 3 – Experimentando melodias. (Com o gravador Panasonic).

Tomada 4 – Gravação inicial do violão com Lucas Andrade. (Com o gravador Zoom).

Tomada 5 – Gravação do violão com Lucas e voz guia. (No estúdio). Tomada 6 – Gravação violico com Beto Quadros. (No estúdio).

Tomada 7 – Gravação da percussão com Denilson de Paula e vocais com Beto Quadros. (No estúdio).

(Duas) Definições das Afecções (ESPINOSA, 1979, p. 214):

“II. A alegria (Laetitia) é a passagem do homem de uma perfeição menor para uma maior.”

“III. A tristeza (Tristitia) é a passagem do homem de uma perfeição maior para uma menor.”

PAPO

Que nosso encontro Seja pleno de fato, Simplesmente pelo ato Do tato olfato, Da língua na língua, Do olho da voz, Do contato. Tête–à-tête, Sem disquete,

Como sopa no prato.

De abóbora com abobrinha, Bardana, ervilha torta, Temperos da horta, Passeemos no mato, Na praia na estrada, Sem fazer nada,

Ou só pra batermos um papo.

Raulito: voz Beto Quadros: bandola, violão, sintetizador, percussão, vocais

EXISTE

Existe um cara, existe. Existe e não é triste. Mesmo com dedo em riste,

Existe.

Raulito: voz Beto Quadros: percussão, vocais, sintetizador Lucas Andrade: violão, guitarra

“Tudo é encontro no universo, bom ou mau encontro {. . .} Os afectos são devires: ora nos enfraquecem na medida em que diminuem nossa potência de agir, e decompõem as nossas relações (tristeza), ora nos tornam mais fortes na medida em que aumentam a nossa potência e nos fazem entrar num indivíduo mais vasto ou superior (alegria). Espinosa não cessa de se espantar com o corpo. Não se espanta por ter um corpo, mas com aquilo que pode o corpo. DELEUZE &PARNET (2004, p. 78).

Que nosso encontro. . .

A terceira palavra. Terceiro: onde desponta o encontro. A canção PAPO: terceira nos Envelopes-Canções, primeira no CD e a décima oitava no DVD.

seja pleno de fato. . .

Ano 2005: viajei, sozinho de automóvel, entre Florianópolis e São José dos Campos. Saí da capital catarinense de madrugada para passar uma semana junto com Angela. Durante o trajeto, eu cantava músicas de vários artistas e composições minhas, concluídas, ou em processo.

Em Curitiba, uma grande placa sinalizava 400 km de distância até São Paulo. Mais 80 km, eu estaria na nossa residência.

Simplesmente pelo ato

Encontro da letra e melodia vira canção, como água e pó vira espuma de sabão. Canção, composição.

Durante os quase 500 km, fui meditando as palavras que formaram a letra de Papo. As placas, em ordem decrescente, sinalizavam: 282, 113, 83, 52, 16. Surge a rodovia Presidente Dutra; São José dos Campos, a 83 km. 80, 78, 55, 52, 25, 12, 8, 4, 3, 2, 1, mais 2 km fora da rodovia, o encontro.

Na manhã seguinte, escrevo a letra, na cama desarrumada, mel caliente, aromatizada. Tudo acomodado para a melodia ajeitar-se e tomar, por todo corpo, o texto. Presença do violão e meus dedos repousam no acorde Lá, atento à letra, deslizo-os para Mi, Ré, Sol e Dó. Todos os cinco acordes, maiores. A melodia aproxima-se e apodera-se das palavras, sem nada a refazer.

Do tato olfato, da língua na língua, do olho da voz, do contato. Tête–à-tête. . .

Os processos criativos na Arte são simples e misteriosos. De onde surgem as imagens? Quando emergem processos coletivos, mais indecifrável e surpreendente a criação é. Gera o acaso do encontro.

De abóbora com abobrinha, bardana, ervilha torta, temperos da horta . . .

Na minha dissertação de mestrado (GUERRA Filho, 1998), observei, entrevistei e conversei com crianças que, através dos seus brinquedos e brincadeiras, transformaram-me, principalmente no respeito à multiplicidade cultural.

Passeemos no mato, na praia na estrada, sem fazer nada. . .

Eugenio BARBA, (1991), diretor do grupo teatral “Odin Teatret”, criou uma metodologia do encontro, através das trocas de manifestações culturais entre seu grupo e as pequenas comunidades onde eles levavam seus espetáculos.

Em Operêtanimal (GUERRA Filho, 2007), criei uma história a partir do encontro do feminino Borboleta com o feminino Bandola.

A multiplicidade dos encontros alegres aumentando a potência de agir. Esta possibilitou e ampliou encontros:

 Com outr@s parceir@s-letristas,  Com sons-imagens e palavras,

 Com artistas do som, da imagem e da palavra,  Com a palavra: escrita, falada, cantada,

 Com livros, textos, espetáculos artísticos,

 Com a Arte, com a Educação formal e não-formal, com a Saúde,  Com linguagens expressivas, materiais e objetos diversos,  Com o inusitado, o invisível e o misterioso,

 De instrumentos acústicos e eletrônicos,  Da cidade com o campo,

 Do caos-cosmos, chronos-kairós, dionísio-apolíneo, consciente- inconsciente, alegria-dor,

 . . .

Encontro como espaço para experimentação, criação, invenção, descoberta, desdobramento, junção, colagem, sobreposição. . .

“Eu conheço somente as misturas de corpos, e somente conheço a mim mesmo pela ação de outros corpos sobre o meu, e pelas misturas” (DELEUZE, 2009, p. 36).

“III. Por afecções entendo as afecções do corpo, pelas quais a potência de agir desse corpo é aumentada ou diminuída, favorecida ou entravasada, assim como as ideias dessas afecções.” (ESPINOZA, 1979, p. 178).

“Além disso, uma vez que a alegria (pelo mesmo escólio da proposição 11 desta parte) aumenta ou favorece a capacidade de agir do homem, demonstra-se facilmente, pela mesma via, que o homem afetado de alegria não deseja senão conservar essa alegria, e isso com um desejo tanto maior quanto maior é a alegria.” (idem, p. 199).

A canção EXISTE nasceu em outubro de 2008 na capital paulista. Surgiu primeiro como trilha sonora, entre outras, para o Projeto Expresso Lazer que eu desenvolvia, no momento, junto ao Departamento de Lazer da Prefeitura de Santo André/SP.

Na época eu participava, como aluno, de um curso denominado “Palhaço para curiosos” na ONG “Doutores da Alegria”, ministrado pelas palhaças-professoras: Thais Ferrara, Roberta Calza e Soraya Saide.

Um mantra. Quase Tanka. Tanta gente nos automóveis, e eu alegremente descendo a Avenida Rebouças. Na cabeça os exercícios que vivenciara, em grupo, nas aulas anteriores. A espera em um farol vermelho permite-me mirar, com os olhos ncerrados, os autos que, pouco a pouco, vão se aquietando; os motores não. De repente seus condutores de terno e gravata, vestido, saia, sapato de salto alto, bolsa, mochila deixam os volantes e as vestimentas, e um a um, só com nariz vermelho vão juntando-se. Os carros somem. Mulheres e homens dançando, cantando, brincando. Um devir mundo-palhaç@.

Continuo nesse clima na aula, depois na volta, pela Rua Teodoro Sampaio, até o Metrô “Clínicas”. Canto o mantra bailando como um dervixe.

1973–1982. Arte–Educação.

Na Faculdade de Educação Física de Guarulhos – FIG, no período de 1973 a 1975, iniciaram-se minhas inquietações relativas ao ato de criar através de metodologias desenvolvidas por dois docentes:

O Prof. Waldir Beltrame, na disciplina “Rítmica”, introduziu o conceito de ritmo: grupal e individual, sendo este último como forma de expressão livre e criativa, sem as marcações ordenadas através das palavras, contagens numéricas, música ou ritmo externo que eram vivenciados, até então, em outras matérias do curso.

O Prof. Luiz Lorenzetto trouxe, em uma das aulas da disciplina “Educação Física Infantil”, cones e bolinhas velhas de tênis para brincarmos livremente. Depois, com sugestões abertas, sugeridas por ele, fomos experimentando, tanto individualmente, como em duplas e em pequenos grupos, uma gama de atividades que pareciam não ter fim. Alegria intensa.

Este mesmo professor, em outra aula, propôs uma atividade denominada “Quebra Canela”, em que os participantes, em círculo, saltavam uma corda que era passada junto ao solo por um aluno que ficava no centro desse espaço. Saia do jogo quem não conseguisse saltar, até o último, sendo declarado campeão. Alguns alunos ficaram fora do jogo, com a função de marcar: o tempo total da atividade, o tempo de atividade e o número de saltos de cada eliminado. Surpreendeu-me o resultado após quase dez minutos de atividade: os excluídos, de 1º ao 5º, não conseguiram dar nenhum salto. O vencedor e os últimos tiveram a oportunidade de saltar muitas vezes, enquanto os outros, sentados, assistiam. A conversa, proposta por Luiz, no final da atividade, pautou-se por análise dos dados. A quase totalidade do grupo relacionava o jogo à vida; “se a vida é competitiva, o jogo também deve ser”. Em seguida, o

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