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CAPITULO 2 EMPRESA – ORGANIZAÇÃO E INSTITUIÇÃO

2.5 A EMPRESA FORMADORA – PAPÉIS SOCIAIS E PEDAGOGIAS

2.5.1 A Noção de Sujeito, Agente, Ator e Autor nos Espaços de Formação

Até aqui foi feita uma incursão enfática no campo da organização e da instituição. Este é momento de uma reflexão no espaço micro organizacional, no mundo das pessoas. Em torno delas giram estatutos, funções, competências e papéis. Quem é o sujeito dessa práxis? Quem é o ator? E o agente? E o autor?

Luc Ridel, professor da Universidade Paris VII, ressalta o papel do sujeito que exerce um papel de formador nas organizações, exercendo um “duplo pertencimento” (LICKERT apud RIDEL, 2004) e uma dupla representação. Por um lado, este sujeito tem de responder aos objetivos e exigências de sua organização ou de sua direção, e, de outro, às expectativas dos educandos. A função desses formadores consiste em tentar dialetizar e integrar essas diferentes dimensões.

O processo educacional, em qualquer espaço formativo, deve possibilitar a emergência do sujeito no universo social, como também possibilitar ao indivíduo o acesso aos mecanismos inconscientes que perpassam a relação educativa, de forma que ele possa realizar uma reflexão crítica e deliberativa sobre os mesmos. O indivíduo torna-se sujeito à medida que, pela reflexão sobre tais conteúdos, se coloca em condições de escolher lucidamente – ou com o máximo possível de lucidez – os instintos/pulsões e as idéias/representações que buscará efetivar ou atualizar na relação (ARDOINO, 1998). Para Ridel (2004), “o indivíduo se torna sujeito, a partir da capacidade de se representar e de se ver de outra maneira”.

Retomando a questão do sujeito vista por Castoriadis (1986) como uma “questão do ser humano em suas inumeráveis singularidades e universalidades”. Para Ardoino, ressaltando que a Sociologia das Organizações francesa, com Michel Crozier e com Alain Touraine, desenvolveu uma teoria em que aponta, através da idéia de ator social, um retorno ao sujeito na Sociologia. Então, o ator seria uma personalização, uma subjetivação na Sociologia (ARDOINO, 1998).

Falar de “sujeito em formação” remete, por um lado, ao indivíduo, como ser inacabado, de outra parte, à maneira pela qual uma formação para adultos poderia participar do desenvolvimento do sujeito. Ser sujeito, com efeito, é procurar vir a sê-lo, sem jamais consegui-lo completamente.

Outros papéis são encontrados no espaço social das organizações, como o ator, o agente e o autor. Ardoino afirma a necessidade de acrescentar ao díptico agente-ator uma terceira representação, uma terceira maneira de ver: o autor. O autor é o criador, o fundador, se situa na origem de seus atos, comportamentos, decisões, intenção, capacidade e legitimidade de ser co-autor, sem ignorar os determinismos sociais e psicossociais (ARDOINO

O ator social “interpreta seu papel, ele tem iniciativa, ele tem estratégias e contra-estratégias, ele tem acesso a uma negatricidade. Então, há um progresso na passagem do agente ao ator” (ARDOINO apud MARTINS, 2000). O ator é um ser de consciência e de iniciativa, é capaz de elaborar estratégias, age intencionalmente, considerando “os determinismos de campo quanto ao peso das macro-estruturas”. O ator executa, toca e interpreta sua partitura ou seu texto. A categoria ator corresponde a uma reintegração sociológica da concepção de sujeito advinda da Psicologia. “Ao mesmo tempo, o ator é reconhecido como co-produtor de sentido”, sentido este que advém da perspectiva hermenêutica, mais mecanicista (ARDOINO apud BARBOSA, 1998). A noção de ator designa, então, aquele que trabalha para modificar seu ambiente social e material e que, por sua intencionalidade, se reconhece parte integrante da situação significativa na qual se acha mergulhado e que ele pretende modificar, em função das representações e dos valores, por seu trabalho, sua atividade ou seu engajamento (LUC RIDEL apud CÓRDOVA, 2007).

Outro papel é o de agente, como elemento de um sistema, com funções definidas, num modelo mais mecanicista e determinista: “O agente na organização é como uma parte de uma engrenagem; ele se define pelas suas funções por suas competências e por suas tarefas, ele não tem iniciativa, ele não interpreta. É uma peça de um conjunto, e o modelo subjacente, é o modelo mecânico” (ARDOINO apud MARTINS, 2000).

O autor é aquele, por exemplo, que cria uma peça teatral e o ator é um outro que representa tal peça. O que faz a diferença entre os dois é que o autor reconhece a si mesmo e é ao mesmo tempo reconhecido pelos outros como estando na origem de alguma coisa, esse não é o lugar do ator. O lugar do autor – na medida em que se reconhece e é reconhecido – é o lugar da responsabilidade - a responsabilidade por sua criação, por sua palavra. “Então o problema importante aqui é como, nas situações sociais, o indivíduo se torna autor no sentido etimológico [da palavra], se torna ele mesmo, autor daquilo que ele faz, criador daquilo que ele faz, governante daquilo que ele faz” (ARDOINO apud MARTINS, 2003).

Cabe salientar, no entanto, que ninguém é somente autor de si mesmo; é, na maioria dos casos, co-autor porque há autores anteriores que são os pais, e também há outros autores laterais que são os outros, ou seja, a autorização se dá a partir da relação, sob a influência dos outros – a autorização implica alteração. Em outras palavras, tomar a autorização como finalidade da educação significa possibilitar ao indivíduo o exercício da

capacidade de fazer de si mesmo o seu próprio autor, de tornar-se o autor de si mesmo, de sua vida, e é nisso que a educação pode contribuir para o desenvolvimento dos indivíduos.

Sujeito, agente, ator e autor não podem ser considerados como uma forma de

progressão de um ao outro. Trata-se, antes, de leituras ou de olhares diferentes. Para Ardoino, o ideal não é a distinção, mas a compreensão do tríptico: agente-ator-autor (ARDOINO apud BARBOSA, 1998), que estaria associado à finalidade do projeto individual ou social a que estivesse vinculado.

A abordagem multirreferencial ao aproximar várias linguagens, concepções, vários campos do saber contribui para a compreensão da complexidade e da heterogeneidade que caracterizam os fenômenos educacionais, sem se reduzirem uns aos outros, permite apreender, interrogar e elucidar o objeto deste trabalho, através de um processo de escuta e diálogo com os atores sociais da organização Banco do Brasil, no cotidiano de sua Universidade Corporativa.