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Consideramos que o processo da escolha de como os dados serão obtidos é tão importante quanto a definição do objeto, a opção metodológica e o texto que se elabora no final da pesquisa. Para Duarte (2002), as nossas conclusões somente são possíveis em razão dos instrumentos que utilizamos e da interpretação dos resultados a que o uso desses instrumentos permite chegar. Relatá-los, descrevê-los, mais do que cumprir uma formalidade, oferece a outros

a possibilidade de refazer o caminho e, desse modo, avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos.

Nessa consideração, esclarecemos que para a efetivação da coleta de dados realizamos uma pesquisa de cunho qualitativo, comumente utilizada no campo educacional e que se caracteriza por permitir explorar e estimular o pensamento livre do participante sobre o objeto da investigação. Esse percurso faz emergir aspectos subjetivos, atingindo motivações não explícitas de forma espontânea em que a “fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal” (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 48). De acordo com Moreira e Caleffe (2008) esse tipo de pesquisa é utilizada quando se quer explorar as características dos indivíduos, situações e cenários que não podem ser descritos numericamente, sendo o dado frequentemente verbal.

Enfatizamos que esse estudo, voltado para a análise da influência dos cursos de formação continuada nas representações sociais de educação inclusiva e de aluno com deficiência dos professores do ensino fundamental, exigiu técnicas de coleta de dados que possibilitassem análises de caráter qualitativo. Desse modo, na escolha de tais técnicas, verificamos meios de conciliá-las, buscando as contribuições que todas poderiam oferecer para o desvelar do objeto. Assim, tornou-se fundamental na investigação adotarmos uma combinação de estratégias que propiciassem a imersão na complexidade dos dados, favorecendo sua elucidação.

Para tanto, fizemos uso de entrevistas coletiva e individual. Além disso, utilizamos um questionário para identificação do perfil dos participantes, em que buscamos informações sobre idade, gênero, formação acadêmica, tempo de atuação e cursos que fez sobre educação inclusiva.

A entrevista se caracteriza na pesquisa educacional como uma técnica15 chave na coleta de dados, porém há uma considerável diversidade de formas e estilos. Dentre as muitas possibilidades, optamos por um tipo de entrevista padronizada denominada semiestruturada, explicada como sendo aquela que

15 Assumimos com Gil (1995) que a entrevista se caracteriza como uma técnica e não um instrumento, uma vez que

podemos entender instrumento como o aparato material utilizado na efetivação da pesquisa e, por técnica, o procedimento de aplicação desse aparato, através do qual se obtém as informações.

[...] se parte de um protocolo que inclui os temas a serem discutidos na entrevista, mas eles não são introduzidos da mesma maneira, na mesma ordem, nem se espera que os entrevistados sejam limitados nas suas respostas e nem que respondam a tudo da mesma maneira. O entrevistador é livre para deixar os entrevistados desenvolverem as questões da maneira que eles quiserem (MOREIRA e CALEFFE, 2008, p. 169).

Firma-se, portanto, nesse tipo de entrevista, uma compreensão de que o pesquisador tem certo controle sobre a conversação podendo se apropriar da argumentação. Isso possibilita estender os questionamentos caso as repostas não atendam à essência do assunto em questão. Ao participante da pesquisa, por sua vez, se permite determinada liberdade por ser um diálogo em que cada um exerce seu papel em conformidade com a função que possui.

Seguindo essa linha de raciocínio, Triviños (1987) explica que a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos dão frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes, sendo que o foco principal dá-se pelo investigador. Esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de modo mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas, havendo uma necessária interação entre pesquisador e participante. Para o seu desenvolvimento é importante que seja utilizado um roteiro com pontos previamente elaborados que devem direcionar a temática discutida. Esse instrumento, em nosso estudo, se caracterizou como semiaberto, ou seja, o preparamos considerando as possibilidades de acréscimos e/ou omissões que se fizessem necessárias durante a interlocução (DALBERIO e DALBERIO, 2009).

É válido ressaltar que o uso da entrevista nos permite duas modalidades de aplicação: a coletiva e a individual, sendo ambas utilizadas em nossa pesquisa. No que diz respeito ao caráter coletivo, Bogdan e Biklen (1994, p.138) afirmam:

As entrevistas de grupo podem ser úteis para transportar o entrevistador para o mundo dos sujeitos. Nesta situação, várias pessoas juntas são encorajadas a falarem sobre um tema de interesse. [...] Geralmente, revela-se uma boa forma de obter novas idéias16 sobre temas a discutir em entrevistas individuais. Ao refletir sobre um tópico, os sujeitos podem estimular-se uns aos outros, avançando idéias que se podem explorar mais tarde.

16 Sic.

Tratando ainda da amplitude proporcionada pelas entrevistas coletivas, utilizamos as explanações de Freitas; Souza e Kramer (2003, p. 64-67) ao determinarem alguns objetivos que demarcam esse tipo de entrevista:

Como estratégia metodológica, os objetivos das entrevistas coletivas são: identificar pontos de vista dos entrevistados; reconhecer aspectos polêmicos (a respeito do que não há concordância); provocar o debate entre os participantes, estimular as pessoas a tomarem consciência de sua situação e condição e pensarem criticamente sobre elas. Em uma palavra: entrevistas coletivas podem clarificar aspectos obscuros colocando-os em discussão, iluminando, portanto, o objeto da pesquisa. [...] podem também ajudar a identificar conflitos sem esconder idéias17 divergentes ou posições antagônicas.

As discussões proporcionadas pela entrevista coletiva permitem, portanto, a troca de informações, o incentivo a participação, o ímpeto à fala na relação e correlação de ideias. Essa realidade, entretanto, pode ser mais especificada quando a pesquisa exige peculiaridades que o coletivo pode mascarar. Por este motivo, neste trabalho resolvemos utilizar tanto esse caráter grupal, mais amplo e diversificado, quanto o individual, centrado em posicionamentos ímpares e pontuais.

A opção pela entrevista individual detém-se, então, na perspectiva de alcançarmos uma maior aproximação com cada um dos entrevistados e perceber suas ideias próprias e as subjetividades advindas de suas expressões no decorrer dos posicionamentos realizados. Dessa forma, características e definições diluídas nas falas coletivas podem ser mais bem apreendidas por meio das afirmações e opiniões singulares, fato este que permite uma sistematização mais significativa dos dados, tornando-se, portanto, um recurso de extrema valia para nossa investigação (BOGDAN e BIKLEN, 1994).

Nesse processo, a entrevista foi utilizada inicialmente de forma coletiva (apêndice 2) tendo como finalidade o levantamento das necessidades formativas docentes para a partir disso pensarmos o curso de formação continuada então almejado. Para isso, os participantes foram reunidos e as questões do roteiro puderam ser explanadas evidenciando desde a concepção de educação inclusiva até os conteúdos considerados necessários para a efetivação do curso. Em

outro momento, utilizamos o mesmo roteiro de modo individual (apêndice 4), buscando nuances que, por ventura, não tivessem sido reveladas. Além disso, retomamos a entrevista coletiva (apêndice 5) e a entrevista individual (apêndice 6) ao final do curso com os objetivos de avaliar as contribuições/lacunas do processo de pesquisa-ação desenvolvido e identificar novas necessidades de formação dos professores no tocante à educação inclusiva, para que, em conjunto, novas possibilidades fossem aventadas para futuras ocasiões.

Conforme explicitado anteriormente, o questionário nos serviu como o mecanismo para obtenção de dados definidores do perfil dos participantes, proporcionando-nos a coleta de informações complementares à pesquisa e, embora não tenha se constituído no foco central do levantamento de dados, contribuiu significativamente para a completude destes. Sobre isso, Dalberio e Dalberio (2009) afirmam que o uso do questionário evita dúvidas ou incompreensões, ao passo que produz respostas curtas, objetivas e precisas, possibilitando a obtenção de informações com exatidão. Em vista dos elementos necessários ao nosso estudo, optamos por elaborar o questionário com questões fechadas, que permitiram obter respostas precisas, e também algumas abertas, que nos forneceram respostas livres, caracterizando de modo singular os posicionamentos dos participantes18.

Desse modo, abordamos itens como nome, gênero, idade, escolaridade, tempo de serviço como docente, tempo de serviço na escola, tempo que atua com alunos com deficiência no ensino regular, tipo de vínculo empregatício e principais atividades de formação profissional que participou nos últimos cinco anos.

Com a decorrência e uso dessas técnicas e instrumentos, portanto, que alcançamos a totalidade dos dados referentes ao grupo de participantes de nossa investigação e, mais que isto, as bases necessárias para um olhar acurado do objeto investigado. De posse desse material, resta- nos, de ora em diante, esmiuçar o construto dele componente, ação esta que constitui o item que segue, quando nos voltaremos a análise de conteúdo (BARDIN, 2011) para tal realização.