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2.1 ASSÉDIO MORAL

2.1.2 Nomenclaturas do assédio moral

O primeiro termo em que se considerou como ato de assédio foi mobbing, que tem a sua origem inglesa, sendo que a palavra “mob”, na linguagem romana, mostra-se equivalente à gloata, sendo esta palavra usada primeiramente pelo etólogo Konrad Lonrenz, quando descreveu o comportamento dos animais, sendo ou um grande animal ou um pequeno, em um grupo de animais. Esta analogia se baseia no fato de mostrar que esse fenômeno ocorre, quando um indivíduo recebe mais tarefas do que pode suportar, sendo ridicularizado na frente de todos, repetidas vezes, assim como um animal pequeno, dentro de um círculo de animais grandes e fortes (SANTOS e GONÇALVES, 2014).

O pioneiro na área de estudos internacionais sobre assédio moral foi o psicólogo Heinz Leymann (1996), no início dos anos 80, quando, por meio de suas observações em relação ao trabalhador nos ambientes de trabalho, pode perceber um comportamento hostilizado, que se assemelha a um ataque rústico, em que há presença de atos grosseiros, sendo responsável pela inserção do termo mobbing, relacionado a essa conduta abusiva. A partir destas observações, ele definiu que para ser considerado assédio teria que ser atacado por um ou mais sujeitos, quase que diariamente, podendo ocorrer pelo menos uma vez na semana, por, no mínimo, 6 meses (HIRIGOYEN, 1998). A sua crítica estaria voltada na comparação que ele faz com uma criança que sofre abuso sexual, não necessitando mais de uma vez para ser considerado um ato violento, assim como o assédio também deveria. (CRAWSHAW, 2009).

A nomenclatura mobbing traz o conceito relacionado ao fenômeno, no qual uma ou mais pessoas exercem a violência voltada ao psicológico, sendo esta de modo extremo, sistemático e recorrente. Há uma tentativa do agressor em destituir as redes de comunicação vinculadas à vítima ou vítimas, com intiuito de destruir a reputação do indivíduo no seu trabalho, e, em casos mais extremos, a sua saída do cargo (LEYMANN, 1990). Galperin complementa que se define por um comportamento que inclui atos negativos, com vários tipos de maus-tratos, acusações, insinuações e fofocas. Refere-se a uma ideia de um processo que envolve vários sujeitos, que lutam contra um, havendo, a partir dessa relação, perseguições coletivas (GALPERIN, 2002).

O assédio moral se torna possível, quando há uma flexibilidade advinda da organização, no referente a regras e comportamentos, o que faz com que haja uma oportunidade para a concretização do ato em si (CARRIERI, AGUIAR e DINIZ, 2013).

Há ainda muita confusão em relação ao que seria ou não caracterizado como fenômeno mobbing, havendo a necessidade também de mostrar o que não seria considerado, ou seja, as exclusões frente ao ato. Uma delas seria o estresse, já que pode estar presente no dia a dia do indivíduo, aliado à competitividade do mercado e pressões em relação a um chefe perfeccionista. Descartam-se também as tensões, episódios isolados de conflitos, pois são situações que podem vir a ocorrer devido ao fato de o indivíduo estar no ambiente de trabalho, ou seja, estar sujeito a qualquer

tipo de acontecimento desses, a qualquer hora, não sendo então visto como psicoterrorismo no trabalho (ERTURK, 2013).

Para se caracterizar assédio moral deve-se entender que ele não é ocasionado uma única vez. Há etapas que ocorrem com o sujeito humilhado, podendo até ter 5 fases, mas não havendo necessidade de passar por todas elas para se compreender que o sujeito sofre ou sofreu assédio. Na primeira, há a presença de um conflito entre as partes, que em um determinado momento se agrava, podendo haver discussões ou até agressões físicas ou verbais. A segunda constitui-se pela repetição dos ataques psicológicos, que advém do agressor, sendo tratado como o próprio ato de assédio e estigmatização. A terceira volta-se mais ao agressor, pois ele faz com que os membros da alta dirigência da empresa tenham ciência de que o causador do conflito interno foi a vítima, que possui um desempenho inferior, características essas negativas a uma organização. A quarta se destina à vítima, que já sofreu humilhações e que foi convidada indiretamente a se retirar da empresa. Pode iniciar, a partir dessa fase, a busca por profissionais como psicólogos e psiquiatras, já que este trabalhador encontra-se com sentimentos de desvalia, depressão, e, em casos mais graves, até com o desejo de suicidar-se, a fim de que todas as humilhações acabem de vez. Se não há o desejo de suicídio, há uma vontade de desligar-se do ambiente de trabalho, a fim de fugir das situações humilhantes que vem passando (LEYMANN, 1996).

Para se caracterizar este fenômeno, no plano individual, deve-se haver a compreensão das 45 formas de comportamentos, descritas no Inventory of Psychological Terrorization (LIPT), em 1990, dividido em categorias como a) ataques a vítimas por meios organizazionais; b) ataques às relações sociais da vítima, procurando ter como objetivo final o seu isolamento; c) ataques à vida privada da vítima; d) violência física; e) atacar atitudes advindas da vítima; f) agressões verbais; g) rumores em relação à reputação que a vítima possui dentro da empresa. Além dessa aplicação, há a necessidade, também, de uma entrevista psicológica, a fim de obter mais dados e confirmar os já existentes (PASQUALI, 1999).

As escalas mais utilizadas para medir o grau de assédio no trabalho, que estão sendo usadas na Europa e em países de língua inglesa, seria a escala utilizada por Leymann, a Leymann Inventory of Psychological Terrorization (LIPT),

que avalia os 12 meses de exposição a 45 tipos de bullyng e (NAQ), Negative Acts Questionnaire e seu successor, a Negative Acts Questionnaire-Revised (NAQ-R), usado por noruegueses, que por um período de 6 meses de avaliação, haverá a avaliação de 22 itens, considerados os facilitadores do ato e o grau de intencionalidade, trazendo resultados sobre a prevalência do ato e os impactos psicológicos causados (MORENO et al., 2013).

Matthiesen e Einarsen (2001) complementam que o diagnóstico de Leymann está correto, mas que há uma limitação frente às diferentes personalidades das vítimas, pois cada uma reagirá de modo diferenciado, frente à uma situação de assédio.

Em um processo de mobbing, segundo pesquisas realizadas por Di Martino (2002), houve um aumento do estresse no vitimado, assim como uma interferência negativa no seu bem-estar, levando-o a apresentar diversos sintomas, ou seja, cada vítima reagirá de um modo: podendo ser agressivo ou depressivo, isolar-se frente aos outros ou situações, ansiedade, prejuízo nas relações interpessoais, sintomas psicossomáticos, fazendo com que este sujeito venha a apresentar consequências desastrosas no seu ambiente de trabalho, como falta de concentração, dificuldade de resolver os problemas dentro da organização, sendo então a abertura para que o processo de perversidade só aumente (GALPERIN, 2002).

Em 1998, Hirigoyen, psiquiatra e psicanalista francesa, publicou um livro sobre o tema, intitulado “Assédio moral: a violência perversa no cotidiano”, em que trouxe conceitos de vitimologia, sendo a sua visão baseada no sujeito que sofre o ato. Ele considera que entre o assediador e o assediado, o único doente seria o sujeito que realiza o assédio, pois o ato se inicia antes da reação do sujeito vitimado, frente a situações de autoritarismo do chefe ou de quem pratica o ato (HELOANI, 2004).

Segundo este mesmo autor, Hirigoyen (1998) estudou o assédio trazendo como foco de relevância a ética, considerando então a influência da Psicologia e o Direito, através da moral, o que mostra aí uma dualidade entre o ser bom e o mal, ou seja, o que é permitido realizar em sociedade e o que é considerado proibido. Portanto, assédio moral, no referente à vítima, tem como relevância o desprezo, juntamente com atitudes humilhantes dirigidas a ela e ao agressor, a

intencionalidade de ver o outro sofrer danos e prejuízos. Seria, segundo Zilfran e Feitosa (2015), uma relação de coisificação do empregado, que estaria relacionada ao período em que o indivíduo perde a motivação em realizar as suas atividades, o que acarreta em baixa produtividade e pode vir a interferir na qualidade do serviço realizado.

Ferreira, Mendes e Calgaro (2006) já definem a violência moral como sendo uma ação intencional, realizada deliberadamente por perversos, estes cujo comportamento baseia-se no narcisismo. Quando há a escolha pela vítima, o objetivo será a de impedi-la de viver.

No ato do assédio há um objetivo de obter controle e dominação do oponente, apropriando-se do seu psíquico, com o intuito de feri-lo, e não somente uma descarga de agressividade, devido a um ato isolado de um episódio de raiva. (HIRIGOYEN, 2015).

Segundo versa Hirigoyen (2006) há um jogo de poderes entre a vítima e o agressor, sendo que no início essa relação será estabelecida por neutralizar a capacidade de defesa da vítima, procurando toli-la, em relação a realizar ações, conforme a sua vontade. Haverá aí um jogo maléfico, uma violência fria, com a presença de ameças e depreciações, mas sempre com o uso da sedução, a ponto de conseguir inverter o jogo, fazendo um teatro de culpabilização por parte da vítima, enfraquecendo-a e a deixando confusa frente às suas ações.

Esses sujeitos são intitulados de perversos, devido a apresentarem caracterísiticas de frieza, não havendo crise de consciência, sendo então geralmente recrutados para ocuparem cargos estratégicos e de alto nível, já que não se intimidam por sensibilidades emocionais (FREITAS, HELOANI e BARRETO, 2008).