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4.2 A ANÁLISE DE DADOS

4.2.2 Análise das entrevistas

4.2.2.2 O que não se entende por assédio

Essa categoria surgiu devido ao fato de procurar entender a visão que os entrevistados tinham em relação ao que seria ou não assédio, já que muitos conflitos, segundo a Procuradoria Municipal, são considerados assédio pelos servidores, trazendo uma visão distorcida do ato, fazendo com que os casos, muitas vezes quando abertos processos, sejam indeferidos. As respostas encontradas se basearam em conflitos isolados, tensões, tendo que realizar o que lhes é demandado, de acordo com o cargo que ocupa, tendo a diferença que nenhuma situação dessa se repete mais de uma vez ou se prolonga por meses ou anos, como no caso do assédio moral. Os discursos analisados foram:

E1: Situações isoladas, sem querer. Quando percebe que a pessoa não tem malícia, não planejou, cuidar para não acontecer de novo. Ela não vai tentar abusar da fragilidade do outro.

E2: Olha, conflito não é assédio, até porque o assédio tem que se repetir os episódios. O que não caracteriza é perder a cabeça e discutir com alguém uma vez só e depois se arrepender. Quando você percebe que não há perversidade. Seria alguma cobrança legal dentro do que é previsto no desempenho das funções de forma razoável, não humilhante, um tom moderado. Cobrar, mas sem exageros. Eu acredito que se um funcionário não cumpre o que o chefe pediu, de modo ríspido, acredito que possa ser assédio.

E3: Uma crítica que pode ser construtiva. Críticas nos fazem crescer.

E4: É uma hierarquia, é você seguir uma hierarquia, né? Isso não é um assédio pra mim, né?

E5: Uma chamada de atenção, de um modo cautelar. Um conflito somente. Algo mais pontual, sabe? E6: Aquilo que você faz, que tem um retorno. Que é para um crescimento profissional…

E7: Pode ser um conflito, uma chamada de atenção, mas para construir algo, não para destruir. As pessoas estão muito sensíveis. Qualquer coisinha acham que já é assédio.

E8: Você fazer o seu trabalho, o que lhe mandam, mas sem perversidade, entende?

Nesta categoria notou-se que há confirmação da literatura com os discursos trazidos pelos entrevistados, pois todos eles entenderam que para não ser considerado assédio haveriam situações isoladas, ou seja, não haveria uma constância do ato humilhante. De acordo com o E1, E2 e E5, a visão se fundamentou mais em conflitos e situações isoladas, e caso houvesse uma certa rivalidade no ambiente, pedir desculpas já demonstraria que o ato não foi proposital. Já E3 entendeu que uma crítica construtiva auxiliaria para que o desenvolvimento do trabalho melhorasse cada vez mais. Já E5 e E8 perceberam que a hierarquia seria um processo que o servidor deveria seguir e que não se caracterizaria como o ato de assédio em si, assim como também não deve ser levado em consideração chamadas de atenção, devido à insuficiência de um trabalho de qualidade, pois são as críticas construtivas que servem para auxiliar no crescimento do indivíduo, não tendo o objetivo de destruí-lo, assim como pensa E6 e E7.

De acordo com a literatura pesquisada e os relatos percebe-se que há congruência entre essas informações, pois segundo Storti, Domingues e Bueno (2016), o que não se caracteriza assédio seriam os conflitos isolados e as ausências de repetição. Essas ideias ficaram bem evidentes para todos os entrevistados. O E1 já tem essa percepção de ser uma atitude isolada; já o E2 entende como ausência de repetições e expressa que se for realizada uma discussão e logo em seguida um pedido de desculpa da parte que agrediu, não vê como sendo assédio, pois não

houve a intenção de prejudicar. E3, E6 e E7 já entendem como críticas que são construtivas, ou seja, que são percepções do outro, para melhorar a comunicação e deixar melhor o ambiente de trabalho, que não tem o intuito de destruir. E4 e E8 veem como seguir uma hierarquia, ou seja, respeitar o que o chefe lhes impõe, já que, muitas vezes, o servidor confunde o executar de uma ordem como assédio. Já o E5 percebe que uma chamada de atenção isolada não se caracteriza por um ato de assédio, tendo também a visão de um conflito isolado.

A literatura de Soboll (2006) aborda os quatro elementos que devem estar presentes para que o ato de assédio ocorra, que seriam as humilhações, a habitualidade, a intenção e pessoalidade. Cada entrevistado apresentou um discurso que traz essas 4 características em ausência. Quando o E1 discute no seu discurso que situações isoladas, que não têm intencionalidade e não se repetem, percebe-se que entendeu sobre os elementos que devem estar presentes para que seja caracterizado assédio. E1 trouxe sobre a percepção de não haver malícia, ou seja, compreende que o assédio advém de um ato perverso, em que há intenção de humilhar a vítima, e mesmo existindo o elemento pessoalidade, ou seja, que se dirige a uma única pessoa. Já E2 obteve um entendimento frente à necessidade de repetições, e que se for realizada uma cobrança devida, não seria assédio; E3 e E6 veriam essas, como sendo construtivas, pois elas trariam somente melhoria no trabalho. Já E4, E5, E7 e E8 se complementam, pois E4 percebeu que respeitar uma hierarquia seria uma obrigação de qualquer funcionário e que, como haveria este respeito, teria a presença de chamadas de atenção, no ato da execução de um trabalho, como pensa E5 e baseado nessas obrigações, caso o funcionário quisesse obter melhor qualidade no seu trabalho, teria que seguir o que lhe é imposto, assim como pensam E7 e E8, pois veem as chamadas de atenção apenas como situações do dia a dia de um trabalhador e que por isso devem ser seguidas, devido à presença de uma hierarquia.

De acordo com a literatura de Erturk (2013), os entrevistados entenderam que quando há presença de tensões e estresse, mas não diariamente e nem com a intenção de provocar este tipo de comportamento, o ato não poderia ser caracterizado. Cobranças devidas, discussões, sem intencionalidade, poderiam trazer tensões e estresse, mas como verbalizou E1, há uma intenção de não abusar

da fragilidade do outro. Um conflito sem repetição, como pensam E2 e E7 pode gerar uma situação de estresse, embora momentâneo, a ponto de não fragilizar a pessoa, já que não haveria a presença dessas duas características.