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Notícia apresentada com caráter de publicidade

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CAPÍTULO V – METRO: O JORNAL DA NOVA ERA

1.2 Categorias de Análise

1.2.2 Notícia apresentada com caráter de publicidade

Uma das características bastante comuns para a venda ou promoção de um produto é a composição do texto de uma notícia com enfoque publicitário, ou seja, a informação é apresentada com a adjetivação e a qualificação típicas de anúncios comerciais promocionais, recursos utilizados para motivar o leitor ao ato do consumo. Embora formatada dentro das técnicas elementares do jornalismo, a notícia carrega a intenção implícita e explícita da promoção mercantil.

Na verdade o conceito clássico de jornal está sendo transformado, constituindo um novo paradigma na produção e na transmissão de informações. Por pressões do mercado, cada vez mais o jornal passa a transmitir abertamente os interesses que cercam a informação e seus atores. Toda a informação está quase sempre condicionada pelo sistema econômico e cultural

que a produz, o que faz com que o jornal seja no mundo ocidental, naturalmente, um reflexo do modo de produção capitalista.

Marshall (2003) acredita que a contaminação e a deterioração do conceito clássico de jornal dizem respeito, sobretudo, “à promiscuidade existente entre informação e propaganda, em que as notícias dos jornais perdem sua missão precípua de reportar e passam a carregar os interesses de propagandear produtos, ideias ou personagens, numa radical inversão de valores”, (MARSHAL, 2003, p.41). O autor afirma ainda que essa informação publicidade se irradia e contamina os jornais impressos, telejornais, radiojornais e net-jornais. “Não mais satisfeitas em ocupar os espaços próprios para a linguagem publicitária, as propagandas chegam a “pular o muro” e invadir o território da informação, provocando uma forma mestiça de comunicação”, (MARSHAL, 2003, p.41).

Dentro dessa linha de pensamento, a mídia tem então desempenhado, principalmente, as funções de consumo e entretenimento, relegando ao segundo plano as tarefas essenciais da informação, cultura, educação e conscientização. Os jornais vêm se transformando num grande shopping de mercadorias, em que a diversão, o espetáculo e a emoção funcionam como estratégias de audiência, vencendo a concorrência com outros meios.

Para Ciro Marcondes Filho (1989), a notícia se apresenta para o receptor como forma quebrada de realidade, como pedaço do real,

de onde se abstrai somente o fato especifico que originou, e como disposição múltipla e diversificada no jornal, na televisão, no rádio, no cinema, atua no receptor participando de um jogo psíquico, em que num momento ela desencadeia processos de preocupação e, noutro, de alívio e descontração. Não as notícias isoladamente, via de regra, mas o conjunto delas, o noticiário como um todo, ou mesmo a programação noticiosa, jogam com esse duplo caráter ideológico da notícia. Trata-se da dialética da atemorização e da tranquilização, que compõe o fato noticioso. (MARCONDES FILHO, 1989, p.14).

Ainda na visão de Marcondes Filho (1989) tal ótica do jornalismo contemporâneo decorre naturalmente da própria deterioração da condição humana na sociedade do final do século XX, que instituiu um ambiente de anormalidade, em que até mesmo a normalidade pode ser encarada com estranheza. “O dito fracasso da razão e a impotência da ciência e da tecnologia para resolver a equação das desigualdades e das injustiças criaram um regime de irrealidade”, (MARCONDES FILHO, 1989, p.16).

Na segunda-feira, 09 de novembro de 2009, na editoria Diversão do Metro encontramos publicada essa notícia com enfoque publicitário:

Cinemark tem hoje filmes nacionais a R$ 2

A rede cinemark de cinemas promove hoje a décima edição do “Projeta Brasil”, evento anual em que, ao longo de um dia, praticamente todas as salas de cinema do grupo apresentam apenas filmes nacionais a preços reduzidos.

Serão exibidos filmes como “Se eu fosse você 2”, “Besouro”, Alô, alô Terezinha”, “Divã”, e “A mulher invisìvel”, com ingressos saindo a apenas R$ 2.

Um dos destaques desta edição é o documentário “Mamonas pra sempre”, de Cláudio Kahns, que ainda não entrou em cartaz, mas que terá sessões de pré-estréia. Mais detalhes no site

www.cinemark.com.br.

Apesar de possuir o lead, característica da informação jornalística, a notícia traz elementos implícitos e explícitos da publicidade. Presta um serviço ao leitor ao informar os filmes nacionais ao preço de R$ 2 reais e estimular o hábito do cinema que contribui para a formação cultural do cidadão. Ao mesmo tempo, atende diretamente aos interesses da Cinemark, uma rede particular de cinema. Cita muito superficialmente o Projeta Brasil, mas não esclarece sobre o que trata e nem em que consiste.

Para ter um enfoque mais jornalístico a matéria teria de fornecer mais elementos esclarecedores, tais como, divulgar o dia que o evento ocorre, quais as outras redes de cinema que participam do Projeta Brasil, o calendário com os locais e datas dos filmes que serão exibidos. Sem falar na linguagem, que teria de ser menos de convencimento para ser mais de esclarecimento. Um exemplo é o título: “Cinemark exibe hoje filmes nacionais a R$ 2”. Não precisava falar na Cinemark logo no título; poderia ser assim: Projeta Brasil exibe hoje filmes

nacionais a preços reduzidos. Dentro do texto viria então as demais informações sobre a

Cinemark bem como os preços para assistir aos filmes. Se houvesse mais espaço e mesmo tempo para aprofundar a matéria, o jornalista poderia acrescentar ao texto uma sinopse dos filmes, por exemplo. Mas como o tempo é curto e o espaço mais ainda, segue então o endereço do site para maiores informações.

Ao analisarmos o Metro na terça-feira, dia 10 de novembro, em busca de notícias jornalísticas mas que tem predomínio da linguagem publicitária, encontramos na página 11, editoria Diversão, a seguinte notícia:

“Coleção Aplauso tem 38 novos livros”

Já conhecida por lançar biografias de grandes nomes das artes brasileiras, sobretudo do teatro, a “Coleção Aplauso”, editada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, acaba de colocar à venda 38 novos títulos, entre biografias, roteiros de filmes e coletâneas de

peças. Entre as biografias, destaques para a de Fernanda Montenegro (que completou 80 anos no mês passado), a do músico Rogério Duprat, a do diretor e ator Amácio Mazzaropi e a dos atores Tônia Carrero, Stênio Garcia, Mauro Mendonça e Débora Duarte. Entre os roteiros, destaques para os de “O Bandido da Luz vermelha” (Rogério Sganzerla, 1968) e “Leila Diniz” (Luiz Carlos Lacerda, 1987).

Por toda a nota percebe-se o caráter publicitário, ou seja, o tom de venda do produto, no caso, os 38 livros da Coleção Aplauso. Bem no começo já chama atenção a frase: “....Conhecida por lançar biografias de grandes nomes....acaba de colocar a venda 38 novos títulos....”. A nota não apenas informa, mas estimula o leitor a adquirir um livro da Coleção.

A referida nota parece uma publicidade paga, disfarçada de notícia, sem identificação de informe publicitário. Desprezando os manuais de jornalismo e a soberania da redação, a empresa jornalística vende o corpo da notícia e, em seu lugar, coloca uma publicidade disfarçada, sem identificação de que esta é um informe publicitário.

o anúncio deixa de estar ao lado ou intercalado no texto jornalístico e passa a estar dentro dele, constituindo os dois uma só unidade textual. É o desaparecimento do velho suporte misto e a emergência do suporte único, alargado da imprensa à radio e à TV. O anúncio, enquanto entidade autônoma, desaparece, o mesmo acontecendo com a notícia e a reportagem. (CORREIA, 1997, p. 120)

Mas não podemos aqui afirmar que a notícia sobre a Coleção Aplausos trata-se de um anúncio publicitário disfarçado de notícia; apenas estamos chamando atenção para esta prática que tem se tornado cada vez mais comum.

Na edição de quarta-feira, 11 de novembro, editoria Motor, página 12, encontramos a seguinte matéria:

“Citroën lançará novo elétrico C-Zero em 2010”

Não é novidade que o segmento de veículos elétricos vem gerando investimentos e disputas entre os fabricantes franceses. E o mais recente exemplo é o anúncio do novo modelo movido a eletricidade da Citroën, o C-Zero. Ele é mais um fruto da parceria entre o grupo PSA Peugeot Citroën e a Mitsubishi Motors Corporation, anunciada em setembro – o modelo anterior é o iOn, da Peugeot. Tanto o C-Zero, quanto o íon são baseados no elétrico i-MiEV, da Mitsubishi. Nos últimos dias, a Renault anunciou a produção dos protótipos elétricos Zoe, Kangoo e Twizy. Previsto para ser lançado no último trimestre de 2010, o C-Zero terá motor capaz de gerar potência de 47 kW(equivalente a 64 cavalos). O torque máximo alcançado é de 18,3 kgfm entre 0 (zero) a 2000 rpm. O motor é alimentado por baterias do

tipo íon-lítio de 330 V alocadas no centro do veículo e formadas por 88 células de 50 Ah (energia embarcada de 16kWh). As baterias levam seis horas para carregar quando ligadas a uma tomada de 220 V, o que confere autonomia de 130 quilômetros. Na recarga rápida, as baterias podem chegar a 80% em meia hora. Como não utiliza combustível, o painel de instrumentos mostra o nível da carga da bateria. Além de não emitir poluentes, o modelo elétrico da Citroën é silencioso. Ao dar partida, um bip avisa ao condutor que o veículo está ligado.

A matéria fala de um carro que a Citroen está lançando, movido a eletricidade. A linguagem do texto é bem publicitária, enfatizando, por exemplo, que as baterias que fazem o carro funcionar levam apenas 6 horas para serem totalmente carregadas. Fala ainda que “ele não emite nenhum tipo de poluente” e que é “silencioso”. O condutor só sabe se o carro está funcionando porque, “ao dar a partida, um bip avisa que o veículo está ligado”.

Este caráter publicitário das notícias pode ser caracterizado como um processo que contribui para a quebra dos paradigmas do jornalismo. Não apenas pela notícia apresentada acima; mas pela grande ênfase dada à publicidade em quase todos os textos do Metro. E que além dos textos jornalístico-publicitários existe os anúncios de fato, que são muitos, afinal, eles bancam o Metro, já que o jornal é gratuito.

E dentro dessa lógica, a notícia perde o seu compromisso com a sociedade, com o interesse público e passa a defender o interesse privado.

a notícia deixa de apresentar informação e passa a oferecer persuasão. No fim, esvai-se a força do jornalismo como espaço de interesse público, já que este passa a ser loteado e mercantilizado. Tal estratégia acaba consagrando a mentalidade empresarial pós-moderna em derrubar o muro que separa as parte redatorial e publicitária e tornar os jornais um produto total de marketing. (MARSHALL, 2003, P. 122)

Ao analisarmos a edição do dia 12 de novembro de 2009, quinta-feira, encontramos a editoria Conexão que circula sempre nesse mesmo dia da semana. Ela traz as novidades do mundo das novas tecnologias. Ocupando meia página, chamou atenção a matéria intitulada:

“Notebooks devem superar os desktops”. Segue na íntegra:

A venda de notebooks no país deve ultrapassar a de computadores de mesa em 2010.

A previsão foi de um executivo da Samsung no lançamento dos primeiros computadores portáteis da empresa no país. Neste ano, devem ser vendidos cerca de 11 milhões de PCs no Brasil no total,

sendo 6,3 mi lhões de computadores de mesa e 4,7 milhões de portáteis.

Quem pretende comprar um PC portátil neste Natal deve ficar atento a duas novidades do setor: a chegada do Windows 7, novo sistema operacional da Microsoft, e a multiplicação de ofertas dos netbooks, máquinas mais simples, pequenas e leves (não confundir com notebook, denominação genérica de PCs portáteis).

Quem só precisa de um computador para criar textos, planilhas, navegar na internet e armazenar fotos e músicas pode encontrar boas opções de netbooks com Windows XP, a partir de R$ 1,2 mil. Já quem quer um computador mais sofisticado, seja para editar vídeos, jogar videogames ou assistir a filmes de alta definição, deve procurar equipamentos com o Windows 7 e fugir daqueles que ainda vêm com o Vista, sistema que deixa os computadores muito lentos.

Outra boa opção neste segmento são os Macintosh que rodam o sistema da Apple.

Na matéria, escrita pelo jornalista e editor da secção, Ricardo Anderáos, existem várias dicas que visam orientar o leitor na hora de comprar um computador portátil. No decorrer do texto o jornalista discorre sobre alguns modelos, os mais vendidos e faz uma propaganda implícita e explícita de um modelo Windows 7, apresentado com muitas vantagens.

Por toda a matéria percebe-se a intenção de venda do novo modelo de notebook. E logo mais na página 17 aparece um anúncio da Itautec Shop, apresentando os mesmos modelos de computador sugerido pelo jornalista na matéria publicada na página 10.

A perfeita sintonia ente os setores comercial e jornalístico das empresas de comunicação de massa provoca muitas vezes uma espécie de casamento ente notícias e anúncios publicitários. No processo de negociação, a empresa vende o espaço publicitário para a apresentação de um anúncio e oferece como bônus a divulgação da mesma mensagem da publicidade, ou de outro tema relativo ao cliente, em espaço editorial contíguo. Em outras palavras, o anunciante ganha uma ou até mais notícias como brinde no fechamento de uma operação comercial.

Já faz parte da retórica comercial de muitas empresas jornalísticas oferecer a produção de uma notícia como plus em uma negociação. Caracteriza-se assim, de forma clara, a subjugação do departamento jornalístico aos interesses dos setores comerciais da imprensa. A notícia torna-se um mero apêndice de uma negociação comercial, perdendo seu sentido como produto do interesse público. (MARSHALL, 2003, p.127)

Não podemos afirmar que a matéria sobre a venda de computadores publicada na coluna Conexão seja resultado de uma barganha comercial da empresa anunciante de

computadores, no caso a Itautec Shop; pode ser que seja apenas uma coincidência. Mas é importante atentar para esta prática de casamento entre notícia e publicidade que vem se tornando uma prática comum na nova era.

Sexta-feira, dia 13 de novembro de 2009, ao analisarmos o Metro encontramos a seguinte matéria, que se assemelha a um anúncio pago de divulgação de uma festa em São Paulo. Intitulada “SP tem maratona eletrônica – Em sua 13ª edição, o festival XXXperience é

ecologicamente correto”, a matéria, escrita pelo jornalista Bruno Ghetti, traz todas as

novidades da noite ecologicamente correta. Logo no início do texto, Bruno define o festival como sendo “o principal evento de música eletrônica brasileiro”. No meio da matéria, o autor diz que a festa será “ecologicamente correta, pois todo o festival terá sua emissão de carbono neutralizada”. No fim o jornalista indica onde os ingressos são adquiridos. Fica clara, ao longo do texto, a predominância da linguagem publicitária e o leitor é intimado a comparecer ao festival. Segue na íntegra:

Completando 13 anos em 2009 e com o status de principal evento de música eletrônica brasileiro, o festival XXXperience promete levar os apreciadores do gênero à loucura, com uma maratona musical que começa amanhã, na fazenda Maeda, próximo à cidade de Itu (a 100km de São Paulo). Serão quatro palcos distintos, com nomes tão curiosos quanto promissores, como Castelo dos Sonhos, Portal das Luzes, Jardim das Energias e Bolha Mágica. O line up inclui sets de nomes badalados do cenário eletrônico, como Adam Freeland, Ellen Allien, Database, Booka Shade, Gui Boratto, Mau Mau e Renato Cohen.

Ecologicamente correto(todo o festival terá sua emissão de carbono neutralizada), o evento deve contar com 30 mil pessoas. Ingressos podem ser adquiridos em lojas Chilli Beans e na internet. Mais informações podem ser obtidas no site www.mun

doxxxperience.com.br

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