• Nenhum resultado encontrado

"O decreto n.23.979, de (8 de março de)1934, e o Decreto-Lei no. 933, de 7 de dezembro de 1938, aplicados pela rigorosa equipe de inspetores da ex-Dea, a SEAV do Ministério da Agricultura, marcaram um período excepcionalmente raro na história da Educação Brasileira, que foi o do fechamento de várias escolas e cursos, alguns com muitos anos de regular funcionamento e fortíssimo respaldo político. Os nomes dos funcionários, da ex- Dea, a SEAV, Newton Beleza, Carlos Taylor e Armando da Costa Coelho, entre outros, faziam tremer os pórticos das escolas de Agronomia e Veterinária da época" 52.

Em 24 de fevereiro de 1934, os alunos da ENA enviaram um telegrama ao Centro Agrícola da ESALQ, que era uma associação representante do corpo discente, porém endereçado à diretoria da escola. Face ao conteúdo do telegrama, o diretor da ESALQ, José Melo de Moraes, encaminhou uma carta ao Centro Agrícola, solicitando que os alunos agissem com critério e dentro da máxima ordem sobre o decreto que punha fim à titulação de engenheiro agrônomo no país. Procedendo desta maneira, teriam o apoio dele no "justo objetivo" de que o governo federal revogasse a 'extinção do título de Engenheiro-Agrônomo'53. Esta notícia não era novidade e já tinha sido notificada anteriormente em um jornal de Piracicaba, direto do Rio de Janeiro. O decreto federal em questão é o 23.857, que criava a Escola Nacional de Agronomia, dividindo a antiga ESAMV em três escolas Nacionais, a de Agronomia, a de Medicina Veterinária e a de Química, e estabelece:

"Art. 1. A Escola Nacional de Agronomia, com sede no Distrito Federal, criada pelo

decreto n. 23.857, de 08 de fevereiro de 1934, e diretamente subordinada à Diretoria do Ensino Agronômico, da Diretoria Geral de Agricultura, tem por fim ministrar a instrução superior,

52

O decreto 23.979 de 8 de março de 1934 referia-se à reorganização do Mnistério da Agricultura, bem como todas as suas diretorias, inclusive o ensino agrícola vinculando-o à Diretoria do Ensino Agrícola. A partir dele as escolas de caráter emendativo e assistencialistas passaram para o Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores Capdeville (1991, p. 67/8 e 80).

53

Ofício n.446, Carta de José de Melo Moraes ao engenheirando Túlio Ribeiro Rocha, Presidente do Centro Agrícola 'Luz de Queiroz, de 26/02/1934, Processo número 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de eng. Agrônomo, 1934,

profissional e técnica, referente à agronomia, diplomando agrônomos para o exercício da profissão em todo o país, de acordo com decreto de número 23.196, de 12 de outubro de 1933.

Art. 2. No que diz respeito à organização dos cursos, - disciplina, corpo docente e condições para a admissão ao primeiro ano, a ENA servirá de padrão para as demais escolas de agronomia do país, levando-se em consideração, até certo ponto, as exigências regionais de cada uma delas, afim de que possam ser reconhecidas pelo governo federal"54.

Sobre esse decreto mobilizaram-se estudantes da ESALQ, organizando uma reunião no Centro Agrícola, onde José de Mello Moraes compareceu para explicar que após ter estudado 'maduramente' o decreto chegou à conclusão que aquele não atingiria a ESALQ. Entretanto, no dia seguinte, a Congregação decidiu requisitar um parecer do consultor jurídico da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo sobre a questão. Em carta enviada ao Secretário da Agricultura, de 10 de março de 1933, José de Melo Moraes pergunta se o decreto obrigaria a ESALQ a titular agrônomos ao invés de engenheiros agrônomos, título estabelecido conforme o decreto estadual baixado por Gabriel Ribeiro dos Santos em 1925, uma vez que a escola ainda não tinha passado por um processo de reconhecimento federal. Perguntava também se os diplomas emitidos, que eram reconhecidos pelo Governo Federal até o presente momento, seriam impugnados a partir daquela data55. Por outro lado, o objetivo dessa consulta também era por "...um paradeiro nas versões que foram espalhadas em Piracicaba por alunos de agronomia do

Rio que procuram fazer acreditar que a 'Luiz de Queiroz' deixará de conferir o título de engenheiro agrônomo, aos que freqüentam como alunos, ao final do curso"56. Desse modo, assim que a diretoria da escola obtivesse uma resposta do consultor jurídico, ela comunicaria ao Centro Agrícola para que os "engenheirandos" parassem com as constantes consultas ao diretor. A princípio ter-se-ia formado uma solidariedade entre os alunos de Piracicaba e do Rio, para que estes tivessem maior respaldo junto ao governo federal. Entretanto, com o espalhar da notícia que a ESALQ deveria se submeter ao decreto, os alunos de Piracicaba pressionavam para uma posição da diretoria em relação ao assunto, desejando contradizer as expectativas lançadas pelos alunos do Rio. Essas notícias poderiam influenciar alunos recém matriculados a abandonarem os

54

Ofício n.599, de 10 de março de 1934, do diretor Mello Morais ao Secretário da Agricultura Adalberto Bueno Netto, II.II - 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de engenheiro Agrônomo, 1934, caixa de 1933, Protocolo, ESALQ.

55

cursos, preferindo cursar Advocacia ou Medicina, ou então, ocasionar possíveis movimentos de greve que, desde 1927, antes da diretoria de José de Melo Moraes, eram constantes. O movimento de solidariedade, as possíveis greves, o abandono do curso e as constantes solicitações ao diretor foram os fatos que motivavam o diretor a escrever a Otávio Domingues57, indagando-o por quê estando em Piracicaba duas vezes não passou pela escola. Catedrático da ESALQ e emprestado ao Ministério da Agricultura desde fevereiro de 1933, a pedido de Edmundo Navarro de Andrade, ele chefiava a Diretoria do Ensino Agrícola no momento. O que poderia temer Otávio Domingues? Segundo José de Melo Moraes, os alunos já estavam pensando que a troca de títulos teria sido arranjada por ele exclusivamente, "...em virtude das cartas e ofícios que recebem do

Rio de Janeiro e asseveram que isso é reflexo da pretensão dos agrônomos, que não tiveram coragem para prestar exames de matemática, na Escola Luiz de Queiroz, como é de lei"58. De forma não tão explícita, os mesmos argumentos foram elencados primeiramente em carta ao Ministro da Agricultura Juarez Távora, pedindo ao patrício que não auxiliasse no "desmantelamento" da escola59, bem como ao Secretário da Agricultura no dia 19 de março de 1934, pedindo outro parecer jurídico sobre o decreto e que o Governo do Estado de São Paulo declarasse oficialmente que não pretendia modificar o título que a escola conferia aos seus diplomados60. Dezesseis dias depois, Eugênio Lefebvre, então Diretor Geral da Secretaria da Agricultura, encaminha o parecer do consultor jurídico, esclarecendo que o decreto não podia ser aplicado à ESALQ, porque esta ainda não tinha passado pelo processo de reconhecimento, como havia formulado José de Melo Moraes, inclusive, nos jornais de Piracicaba. Mas por esse mesmo motivo, os diplomas conferidos pela ESALQ, tanto os anteriores, como os das próximas turmas, não poderiam ser reconhecidos para o exercício da profissão no âmbito nacional, aconselhando

57

Nascido no Acre, diplomou-se pela ESALQ em 1917, Professor da cadeira de Zootecnia Geral da ESALQ. Otavio Domingues foi requisitado por Edmundo Navarro de Andrade para o Ministério da Agricultura em 2 de fevereiro de 1933. Assumiu como chefe do serviço do Fumo em 15 de fevereiro e em 11 de janeiro de 1934 assumiu a Diretoria do Ensino Agrícola, permanecendo neste cargo até 30 de setembro de 1934, quando retornou a Piracicaba.

58

Carta de José de Melo Moraes a Otávio Domingues de 17 de março de 1934. Processo n. 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de eng. Agrônomo, 1934.

59

Carta de José de Melo Moraes ao Ministro Juarez Távora de 16 de abril de 1934. Processo n. 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de eng. Agrônomo, 1934.

60

Ofício n.669, Carta de José de Melo Moraes ao Secretário dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, Adalberto Bueno Netto de 19 de março de 1934. Processo n. 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de eng. Agrônomo,

que a ESALQ buscasse o reconhecimento federal61. Mais adiante, o mesmo consultor jurídico expede novo parecer, salientando que não seria conveniente requisitar ao Secretário da Agricultura uma declaração oficial sobre a não modificação da titulação oferecida pela escola, pois, no momento, isso poderia causar represálias, ainda mais, estando o Governo Federal disposto a levar em consideração exigências regionais de cada escola62.

Saindo dessa documentação de ofícios enviados e recebidos, entramos nas Atas da Congregação para identificar como entenderam o problema, quais os grupos, posicionamentos e estratégias elaboradas perante a resposta do consultor jurídico. Reunidos em 13 de abril de 1934, no salão nobre da ESALQ, Breno Arruda63 propôs que a discussão fosse tratada em dois assuntos separadamente. A divisão foi feita, não por uma questão de ordem, mas porque entendiam ser dois assuntos diferentes. Primeiramente, tratava-se da adaptação do curso da ESALQ ao da ENA, para ser reconhecida e, em segundo lugar, da conservação do título de engenheiro agrônomo. A separação da titulação do processo de reconhecimento, assuntos que estão explicitamente ligados no decreto 23.857, possibilita entendermos que alguns professores viam essa titulação como um equívoco e um retrocesso no tempo, e por isso, talvez, Orlando Carneiro64 tenha se retirado logo no início da reunião, pedindo que o diretor explicasse a sua posição para a congregação. Ele acreditava que a ESALQ estava em condições de manter a titulação de engenheiro agrônomo, possivelmente pela ação direta do Governo do Estado de São Paulo, a despeito da regulamentação federal. Entretanto, como já tinha assinalado o consultor jurídico, esta não seria uma saída oportuna. Tendo em vista que a tensão entre alunos e professores poderia se agravar, sendo entregue no mesmo dia um pedido dos alunos para que não fossem eles os engenheiros agrônomos já diplomados os prejudicados, e que, segundo Otavio Teixeira Mendes65, já estavam

61

Parecer n.536 de vinte e oito de março de 1934, enviado como anexo da carta de Eugênio Le Febvre ao Diretor da ESALQ em 4 de abril de 1934.

62

Parecer 546 de 30 de março de 1934, enviado como anexo da carta de Eugênio Le Febvre ao Diretor da ESALQ de 10 de abril de 1934.

63

Nascido em 1898 (São Paulo/SP) era Professor interino contratado da Primeira Cadeira de Física Agrícola,desde 1924 até 1931, quando por concurso foi efetivado como professor catedrático da mesma cadeira. Químico formado pela Escola Politécnica de São Paulo em 1921, fazendo um estágio de um ano nos Estados Unidos após a conclusão e obtendo o título de Químico Industrial no curso federal anexo à Politécnica de São Paulo.

64

Professor catedrático por concurso da cadeira de Matemática.

65

Nascido a 1882 (Piracicaba/SP), formado como Mecânico pela Escola Politécnica de São Paulo (1905), empregou- se em diversas firmas na capital e depois em Piracicaba, dedicando-se posteriormente às construções, como o Matadouro Municipal e parte nova da Santa Casa de Misericórdia, depois montou uma oficina de serraria, fundição e mecânica, para a fabricação de máquinas industriais e agrícolas. Por decreto, foi nomeado lente efetivo em 1909 na cadeira de Engenharia Rural e em 1931 foi nomeado professor catedrático da cadeira de Mecânica Agrícola. Atuou

responsabilizando alguns pela má vontade de outros, alguns professores propuseram que fosse feito um ofício diretamente ao Ministro da Agricultura, solicitando a conservação da titulação. Nesse ofício explicariam que o título de engenheiro agrônomo representava uma evolução da escola e que os novos agrônomos ficariam em desvantagem aos engenheiros agrônomos estrangeiros que aqui viessem revalidar seus diplomas. Porém, José Melo de Moraes66 propõe que esse ofício fosse enviado ao Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, devendo os alunos levar uma cópia ao Ministro da Agricultura. Em seguida, Phillippe Westin Cabral de Vasconcelos67 fez uma nova proposta:

"Proponho que o Doutor Diretor da Escola, traduzindo as aspirações do Corpo

Docente, oficie ao Governo do Estado, na pessoa do Dr. Secretário da Agricultura, pedindo que o Sr. Interventor Federal sirva-se levar esta representação a S. Excia. o Snr. Ministro da Agricultura, fazendo sua a presente solicitação: << Para que seja conservado o título de engenheiro agrônomo aos diplomados pela Escola Superior de Agricultura de Piracicaba e por outras escolas superiores de agricultura do país, advogando as justas pretensões dos interessados>>"68 .

Antes de continuar, gostaria de destacar uma característica marcante nas atas da congregação da ESALQ: a colocação das palavras dos docentes como transcrições de bilhetes, relatórios ou ofícios e, neste caso, contendo a indicação exata da referida documentação. Esta característica também pode ser notada nas outras escolas, porém, em menor freqüência, na seguinte ordem decrescente: ENA, EAB, ESAV. Normalmente, essa estratégia visava dar clareza à opinião, principalmente na ESALQ, cujo secretário e relator das atas eram os próprios com três filhos e uma filha na revolução constitucionalista, dedicou-se também ao problema da instrução secundária e profissional elementar e membro do Partido Republicano Paulista.

66

Nascido em 1891 (Piracicaba/SP), formado pela ESALQ em 1909, especializando-se na Universidade de Halla a/s Salle, e de Leipzig na Alemanha, professor assistente da ESALQ desde 1910, professor catedrático da cadeira de Química Mineral, Orgânica e Analítica da ESALQ em 1918, transferindo-se posteriormente para a cadeira de Química Agrícola.

67

Nascido em 1892 (Santa Rita do Passa Quatro/SP), diplomado pela ESAQ em 1912, trabalhando no Instituto Soroterápico Butantan, Laboratório de Química Mineral e Orgânica, Instituto Agronômico de Campinas, professor auxiliar de Agricultura Geral na ESALQ em 1919, catedrático interino de Economia Rural em 1920, professor auxiliar efetivo por concurso na cadeira de Agricultura Geral e Especial e Horticultura em 1922, professor catedrático efetivo por concurso de Horticultura em 1931.

professores escolhidos pelo presidente da seção. A mesma organização ocorria na ENA, enquanto nas demais existiam secretários para aquela tarefa, aparecendo, por sua vez, a necessidade de retificar omissões, declarações resumidas ou equivocadas existentes nas atas anteriores. Buscavam com isso o consenso e a verdade, de forma que todos, ainda que expressando opiniões adversas, apresentassem atitudes razoáveis. A contenção dos ânimos como a máxima expressão da razão, tal como razão científica, era um atributo extremamente requisitado e louvado, quando presente. Essa inspiração à sabedoria deveria expressar-se também fora das congregações, em outras esferas da vida dos docentes. Quando isso não acontecia, era necessário buscar elementos externos à congregação, o que ocorria passando-se à esfera hierárquica superior ou buscando uma consultoria jurídica. Assim, a ESALQ e a EAB recorriam constantemente ao Secretário da Agricultura, enquanto na ENA, antes da SEAV, recorria freqüentemente ao Ministro da Agricultura. Na ESAV, depois de 1931, os assuntos eram tratados de forma a evitar tanto uma consultoria jurídica externa como a intervenção da própria Junta Administrativa. Por outro lado, a cautela requisitada pelo Governo do Estado de São Paulo e contestada por alunos e provavelmente alguns professores da ESALQ era uma conseqüência da conjuntura política que vivia o Estado de São Paulo, logo após a Revolução Constitucionalista de 1932 e com o término da República Federativa, não sendo propício enfrentamentos dessa natureza fossem levados adiante. Posturas cautelosas pelos mesmos fatores políticos também foram encontradas na ESAV, como veremos mais adiante.

Voltando à análise do posicionamento da congregação da ESALQ, imediatamente após a sua aprovação unânime nomearam uma comissão de professores para acompanhar os alunos ao Ministério da Agricultura, enviar o referido ofício do Interventor Federal e tratar do reconhecimento da Escola. Para acompanhar Philippe Westin Cabral de Vasconcelos, Otávio Teixeira Mendes indicou Salvador Toledo Piza69, mas este recusou-se a participar, dizendo que não seria um defensor apaixonado da questão, pois afirmava ter uma visão mais 'afastada" dos demais professores. Mais próximos dele, parece se expressar Silvio Tricanico70, dizendo que naquele momento não convinha falar em superioridade de currículos, tal como expôs Otávio

69

Nascido em 1898 (Capivary/SP), diplomando-se pela ESALQ em 1921, nomeado ajudante do gabinete de zoologia em 1922, especializou-se na Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Berlim, professor auxiliar em 1925 da mesma cadeira, doutor Honoris causa em Agronomia pela Academia Agronômica de Berlim, pelas pesquisas científicas com animais de importância econômica, professor catedrático interino nomeado e depois por concurso em 1931 da mesma cadeira.

Teixeira Mendes, tendo em vista que Otávio Domingues achava que o título de agrônomo era superior. Neste caso, nota-se um afastamento diferente do afastamento físico de Otávio Carneiro, que absteve-se das discussões retirando-se da reunião, como se não concebesse as outras alternativas discutidas pela congregação. Assim, Salvador Toledo Piza sugere em seu lugar Francisco José de Oliveira Ratto71, que havia estado recentemente no Rio e tinha conversado com Otávio Domingues pessoalmente, o qual dizia estar pronto para reconhecer a escola em “24

horas” desde que esta abdicasse do título de engenheiro agrônomo e do termo superior em seu

nome. Esta teria sido uma verdadeira "bomba de dinamite" nos ânimos, conforme escreve José de Melo Moraes em carta à Navarro de Andrade, que havia garantido a manutenção do título anteriormente72. Enquanto isso, José de Melo Moraes escreveu à Prudente de Moraes Filho salientando a decisão unânime da congregação pela manutenção do título de engenheiro agrônomo, requisitando o apoio de paulistas no Rio para interceder pela causa da “tradicional

escola de Piracicaba” e dizendo que Philippe Vasconcelos e Oliveira Ratto estavam oficialmente

representando os interesses da congregação nessa missão73. José de Melo Moraes pedia ao Secretário da Agricultura passes ferroviários para toda a comitiva e tudo o que lhes fosse necessário para obterem êxito. De fato, todas estas regalias já tinham sido dispostas pelo Secretário da Agricultura em conversa particular com o diretor, antes mesmo da reunião da congregação 74.

Na ata da reunião seguinte, de 2 de maio de 1934, nota-se que a comitiva foi bem sucedida em mobilizar o Interventor Federal e o Secretário da Agricultura a favor da causa da ESALQ, mesmo que essa não representasse a opinião pessoal do Secretário. Mesmo assim, este achou melhor não se opor ao corpo docente, pois a manutenção do título havia sido uma decisão

71

Nascido em 1911 (Santos/SP), diplomando-se pela ESALQ em 1931, executou trabalhos de topografia para particulares em Santos e de drenagem para o cultivo de bananas em Itanhaém/SP, sendo nomeado catedrático interino da cadeira de Engenharia Rural em substituição ao professor João Bierrenbach Lima em 1934.

72

Comunicando sobre à ida da comissão, José de Melo Moraes acredita que o apoio de Edmundo Navarro de Andrade devia prevalecer sobre os caprichos de quem quer que fosse, ao manter os diplomas para exercício da profissão no país e na esperança de que a escola fosse reconhecida imediatamente, conforme o decreto, já que deixa margem para tanto. Ao despedir-se de Edmundo Navarro de Andrade na carta, José de Melo Moraes deixa claro que procedendo desta maneira sua reputação e admiração seriam mantidas pelos docentes e alunos da ESALQ. Carta de José de Melo Moraes a Edmundo Navarro de Andrade de 16 de abril de 1934. Processo n. 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de eng. Agrônomo, 1934.

73

Carta de José de Melo Moraes ao Secretario dos Negócios da Agricultura, Industria e Comércio, Adalberto Bueno Neto de 14 de abril de 1934. Processo n. 64 - Rio de Janeiro, Alunos ENA, Pedindo apoio aos alunos da ESALQ para protestarem contra ato do Governo Federal pela extinção dos títulos de eng. Agrônomo, 1934.

unânime. No Rio de Janeiro, a comissão, por "dever de lealdade", foi procurar primeiramente