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CAPÍTULO 3 CASOS DE ESTUDO

3.5. Notas conclusivas dos casos de estudo

Analisados os diferentes casos de estudo de Hortas Urbanas permite constatar existirem diferentes definições, métodos e abordagens para definir, instituir e manter Hortas Urbanas, ainda que o objetivo pelo qual são implementadas seja comum. Pode-se ainda realçar que todos os casos aqui estudados surgem com um objetivo primordial - a alimentação da população em períodos de inquietação e que, com os novos desenvolvimentos sociais, culturais e económicos, foram sendo introduzidas novas estruturas e funções a estes espaços de cultivo no meio urbano.

No que diz respeito às abordagens estruturais e funcionais aplicadas em cada horta urbana verifica-se não haver padrão comum. Cada Horta Urbana segue instrumentos legislativos e regulamentares em vigor em cada país de origem, que dirigem não só o modo como devem funcionar e ser geridas, como também fazem referência ao tipo de elementos e estruturas que nelas se podem desenvolver. No entanto, apesar desta diversidade de contextos, formas e funcionamentos, estes espaços desenvolvem-se em torno de um objetivo comum – produção de alimentos aliado ao recreio e lazer em espaço ao ar livre.

Com efeito, nos países correspondentes aos casos analisados, verifica-se que a legislação e os regulamentos vigentes têm um papel importante na implementação e perenidade destes espaços no solo urbano. As leis, apoiadas por regulamentos regionais, locais ou individuais de cada Associação (WRA, Dr. Schreber e. V., De Runde Haver), ou em a título individual (QEHRG, Prinzessinnengarten), garantem que as Hortas Urbanas se possam expandir e manter as suas funções urbanísticas, socias, económicas, ecológicas e culturais.

No Reino Unido, é possível observar dois tipos de organização de Hortas Urbanas. No caso da WRA, em Birmingham, é observável uma estruturação da horta que privilegia os espaços de produção, mas que não desvaloriza a existência de espaços de recreio e lazer. Este facto é constatado pela existência de estruturas e elementos que proporcionam aos seus utilizadores a prática de cultivo, ao mesmo tempo que proporciona a oportunidade de conviverem e desfrutarem de espaços de lazer e recreio, onde é possível valorizar o sentido de comunidade. Este sentido de comunidade é reforçado pelo facto da WRA ser um espaço que pode ser frequentado pelo público em geral. No entanto, apesar de toda a multifuncionalidade aliada a este espaço de produção e lazer, é de notar a rigidez com que são estruturadas as áreas de cultivo.

No que diz respeito ao Queen Elizabeth Hall Roof Garden, que se trata de um espaço que se adequou à atual estrutura consolidada da cidade de Londres, é possível observar um espaço de horta urbana na cobertura de um edifício. Com a análise deste caso, é possível observar que apesar da sua localização, é possível obter-se um espaço de cultivo e lazer que promova atividades em muito

75 semelhantes às de uma horta urbana implementada em solo permeável. Neste espaço, observa-se a existência de estruturas recreativas e estruturas de cultivo, ainda que organizadas de forma distinta. Este caso demonstra que, apesar da localização e de todas as condicionantes associadas à utilização de coberturas de edifícios, é possível a existência de espaços de produção e recreio que promovam biodiversidade em áreas improváveis.

Em relação às Hortas Urbanas na Alemanha, estas possuem um papel multifuncional, sendo espaços de cultivo mas também de lazer e convívio. Contudo, a possibilidade de usufruir de espaços de recreio é apenas oferecida aos proprietários das parcelas, tornando as associações de hortas em espaços exclusivos. No entanto existem exceções como é o caso da Associação Dr. Schreber e.V., porque se trata de uma associação de hortas constituida por estruturas e elementos que possibilitam o acesso ao público em geral, uma vez que lhe é atribuido um caráter histórico e turístico. No que diz respeito à estruturação da parcelas, estas apresentam uma estrutura geométrica quanto à distribuição no espaço. Esta geometrização também se verifica nos elementos presentes em cada parcela individual, podendo por vezes ser excessivos. Porém, a geometrização estrutural advém da legislação e das regras de funcionamento que são extremamente limitadoras quando à organização do espaço.

No que diz respeito à Prinzessinnengarten, é possível observar o elevado esforço feito para valorizar o sentido de comunidade existente, reforçado com a presença constante de espaços de recreio e lazer. De facto, após a realização da análise, pode-se verificar a existência de diversas estruturas que promovem atividades recreativas, mostrando como esta Horta é um bom exemplo de espaço de cultivo no contexto urbano aberto à comunidade. Da análise também é possível observar que no espaço existem estruturas e elementos semelhantes aos encontrados em outras Hortas Urbanas, sendo diferente na sua organização espacial. Uma vez que todos os elementos se podem modificar sem um modelo aparente, pode gerar alguma confusão na estruturação do espaço.

Por último, De Runde Haver, em Naerum, na Dinamarca, apresenta-se como um ótimo exemplo de intervenção, tanto pelo desenho formal optado, que quebra o tradicional modelo observado em Hortas Urbanas, como pela adição de áreas comuns de recreio e lazer unificadas às parcelas individuais. Após a análise, conclui-se que a criação de um espaço que não tenha como prioridade a maximização da área de parcelas transforma o espaço hortícola num local com elevado nível estético sem menosprezar a sua função fundamental - produção, promovendo simultaneamente áreas livres de recreio. Verifica-se ainda que, apesar desta mudança do desenho formal, é possível oferecer ao local as estruturas e elementos essenciais para ter espaços de produção com recreio e lazer de qualidade, que promovam não só o valor social, como também tornam a horta urbana numa referência cultural e de valor para a paisagem local.

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