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A compreensão do comportamento das firmas, que são por definição as organizações produtivas do sistema capitalista tem sido tema recorrente na ciência econômica (SILVA FILHO, 2006).

Para a teoria neoclássica a firma é considerada como uma função de produção otimizadora, trabalhando segundo uma base tecnológica dada. Os preços são dados pelos mercados e há plena informação. Adicionalmente, os agentes são dotados de racionalidade e há completa capacidade cognitiva de avaliar e realizar a opção maximizadora. Sob esta perspectiva, as transações se dão “instantaneamente” sem a incidência de qualquer custo de transação. As decisões da firma se dão com base nos seus custos de produção, considerando tamanho ótimo e maximizador de lucros.

A firma, considerada pela economia neoclássica é uma caixa preta, da qual não se sabe muito sobre sua estrutura organizacional, apenas que é uma estrutura maximizadora de lucros. Autores como Arrow (1999:602) enfatizam a necessidade de compreensão das estruturas internas das firmas:

“Qualquer teoria econômica padrão, não apenas neoclássica, começa a partir da existência de empresas. Normalmente, a firma é um ponto ou pelo menos uma “caixa preta”. (...) Mas as empresas não são palpavelmente pontos. Eles têm a estrutura interna. Esta

estrutura interna deve surgir por algum motivo”6.

Coase (1992) também reforça sua crítica a firma clássica considerada pela teoria econômica mainstream como uma "caixa preta". Segundo o autor, chama atenção o fato de que, dado que a maioria dos recursos em um sistema econômico moderno são empregados dentro das empresas, a forma como esses recursos são usados dependem das decisões administrativas e não diretamente da operação do mercado. Consequentemente, a eficiência do sistema econômico depende em grande medida de como estas organizações conduzem seus negócios, em particular, naturalmente, as grandes corporações modernas.

Para abrir esta caixa preta e observar os processos complexos que ocorrem na firma, é necessário lançar mão de ferramental teórico que possa abranger as decisões da firma, mais precisamente em seu ambiente microeconômico, onde seja priorizada a interação da firma com seu ambiente institucional dinâmico.

É fato que a tradição neoclássica de considerar a firma como um mero agente maximizador de lucros, com o único objetivo de obter o maior excedente possível dada a expectativa dos agentes e as condições de mercado é extremamente útil na simplificação do trabalho de pesquisa e elaboração de modelos de equilíbrio e crescimento econômico, contudo, Silva Filho (2006) argumenta que esta simplificação em pouco tempo se tornou incapaz de lidar satisfatoriamente com realidades mais complexas, tais como as estruturas olipolistas e as imperfeições de mercado.

Desta forma, a escola institucionalista surge fundamentalmente como uma crítica ao tratamento dado aos fenômenos econômicos pela economia neoclássica. Ressaltando a

6

Citação original: “Any standard economic theory, not just neoclassical, starts from the existence of firms. Usually, the firm is a point or at any rate a black box. (...) But firms are palpably not points. They have internal structure. This internal structure must arise for some reason.”

incompreensão e subestimação da importância do papel das instituições que regulam o ambiente econômico.

A Nova Economia Institucional (NEI) tem sua origem nos trabalhos de Coase (1937) em “The Nature of the firm” e desenvolvido posteriormente nos anos 70 e 80. As maiores contribuições se concentram nos trabalhos de Oliver Williamson, Douglas North, Claude Mènard seguidos por outros (MÈNARD e SHIRRLEY, 2005). A análise de Coase (1937) parte de uma pergunta simples, porém fundamental na ruptura com a economia neoclássica: Por que uma empresa internaliza atividades que poderia obter (ao menos no plano teórico) a um custo inferior no mercado, supondo os ganhos de eficiência provenientes da divisão do trabalho? A raiz da resposta introduz conceito fundamental da NEI que são os custos de transação. (SILVA FILHO, 2006). Segundo Pondé (1994):

“custos de transação nada mais são que o dispêndio de recursos econômicos para planejar, adaptar e monitorar as interações entre agentes, garantindo que o cumprimento dos termos contratuais se faça de maneira satisfatória para as partes envolvidas e compatível com sua funcionalidade econômica”

Autores como NORTH (1990), enfatizam o surgimento dos custos de transação como resultado dos custos de informação, uma vez que a informação é assimétrica entre as partes envolvidas na transação, e também porque qualquer que seja a forma desenvolvida pelos atores na criação de instituições que estruturem as interações humanas, resultará sempre em algum grau de imperfeição dos mercados.

Considerando que, ao contrário da suposição neoclássica, não há um mercado livre de qualquer distorção e que existem falhas de mercado geradas pela incerteza com respeito ao futuro, assimetria de informação, comportamentos oportunistas, contratos incompletos e toda uma série de elementos que afastam o sistema econômico de seu funcionamento ideal, existem custos para efetivação das trocas e, portanto, se torna fundamental para análise econômica a compreensão do funcionamento do aparato institucional que provê a sustentação das relações de mercado, segundo Williamson (2000):

“A necessidade era de ir além da analiticamente conveniente (e às vezes adequada) concepção da firma como função de produção (que é um construção tecnológica) a considerar a empresa como uma estrutura de governança (que é uma construção organizacional) em que a estrutura

interna tem finalidade econômica e efeito. De forma geral, a necessidade de identificar e explicar as propriedades dos modos alternativos de governança - mercados à vista, contratos incompletos de longo prazo, empresas hierárquicas etc – as quais diferem em discretas formas

estruturais”7

A partir das contribuições de Coase (1937) que ficaram “esquecidas” por cerca de 30 anos, Williamson (1985) avançou na formatação da teoria considerando a firma como um complexo de contratos que tem, como variáveis relevantes, a soma dos custos de transação e de produção, o desempenho do produto ou serviço, o contexto sócio-cultural onde se dão as transações e o papel das instituições e organizações, afetando a coordenação dos sistemas produtivos. (REZENDE e ZYLBERSZTAJN, 2008).

Podem-se distinguir duas correntes de análise complementares da NEI: Ambiente institucional, analisando as macroinstituições e instituições de governança, para a análise das microinstituições. As duas se complementam, pois o ambiente institucional, dependendo de como está formado, pode reduzir ou aumentar os custos de transação das organizações (WILLIAMSON, 1996).

Sob a ótica das macroinstituições, autores como North (1990), indicam que as instituições são as “regras do jogo”, quer sejam formais, ou informais, sendo assim, o ambiente institucional, segundo Williamson (1993) pode ser definido como um conjunto de regras que estabelecem as bases para o mercado, como as regras que definem entre outros, os direitos de propriedade e direito de contrato.

Já no âmbito das instituições de governança, as microinstituições, a Economia dos Custos de Transação (ECT) considera que as transações são governadas na estrutura que mais se alinhe às características da transação, a saber: grau de incerteza, frequência e especificidade de ativos (ZYLBERSZTAJN e FARINA, 1999). A depender do perfil desses atributos, a firma decide qual estrutura de governança utilizar: mercado, hierarquia ou arranjos híbridos em meio aos pressupostos comportamentais preconizados pela NEI tema do próximo tópico.

7 Citação original: “The need was to get beyond the analytically convenient (and sometimes adequate) conception

of the firm as production function (which is a technological construction) to consider the firm as a governance structure (which is an organizational construction) in which internal structure has economic purpose and effect. More generally, the need was to identify and explicate the properties of alternative modes of governance – spot markets, incomplete long term contracts, firms, bureaus, etc. – which differ in discrete structural ways”