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OPORTUNISMO REVELADO PELAS QUEBRAS CONTRATUAIS NA NEGOCIAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE SÃO PAULO

O capítulo trata da análise estatística realizada para verificação dos fatores que potencializam ou inibem o comportamento oportunista revelado pelas quebras contratuais nas unidades de revenda varejista de combustível no estado de São Paulo. Novamente, lembramos que metodologia utilizada está descrita no capítulo primeiro e não será reproduzida aqui.

O capítulo descreve as duas análises realizadas, segundo as bases de dados disponíveis, seguindo-se a estes dois tópicos expositivos, um tópico com as principais conclusões desta etapa de pesquisa acerca do comportamento oportunista no setor.

Inicialmente, indicamos os principais condicionantes do oportunismo avaliados segundo o que se sugeriu na literatura, na base de dados de campo e na base de dados secundários tratados nos capítulos dois, três e quatro. Segundo o levantamento realizado, pode-se avaliar a influência de sete variáveis que intervenientes nas quebras contratuais, ou em outras palavras, variáveis que podem potencializar ou reduzir o comportamento oportunista verificado nos postos varejistas, a saber:

1) Bandeira

O bandeiramento do posto aparece nos dados setoriais como fator importante na redução do oportunismo. Assim, pretende-se testar a veracidade desta prerrogativa, a partir dos resultados indicativos de que a quebra contratual é menor em postos bandeirados que em postos de bandeira branca. De fato, a existência de bandeiramento é na verdade a existência de contrato, já que não há posto bandeirado sem contrato com a distribuidora

Do ponto de vista teórico, a existência de especificidades de ativos na transação, revelada pelo bandeiramento ao posto, aumenta o risco para o distribuidor caso haja comportamento oportunista por parte do posto varejista. Desta forma, por parte dos distribuidores, o

investimento em ativos específicos, potencializa mecanismos de prevenção ao oportunismo que se bem sucedidos, irão coibir tais comportamentos lesivos à transação, prioritariamente expresso no contrato. Os resultados para esta variável testaram a veracidade desta prerrogativa.

Resultado esperado: Que o risco de comportamentos oportunistas seja menor nos postos com contratos que nos postos de bandeira branca, sem contratos.

2) Market Share do distribuidor

Supõe-se que quanto maior a participação de mercado do distribuidor, maior seu poder de enforcement (capacidade de fazer valer os contratos) e como resultado, menor a chance de quebra contratual, sob pena de cumprimento das sanções já definidas em contrato. De fato, as evidências indicam que as empresas maiores dispõem de estruturas mais organizadas, departamentos mais especializados, bem como integram organizações que exercem pressão no setor, como por exemplo, o Sindicom.

Desta forma, o objetivo é testar se de fato, maior poder mercado do distribuidor reduz o risco de comportamento oportunista por parte do posto varejista.

Resultado esperado: Quanto maior a participação de mercado do distribuidor, melhores são seus mecanismos de enforcement e menor o risco de que o posto varejista incorra em comportamentos oportunistas.

3) Tamanho da cidade

O tamanho da cidade em que o posto está situado, indica ao trabalho uma variável proxy da velocidade (giro) de vendas com que o posto convive. Acredita-se que quanto maior a cidade, maior o giro de vendas, dada menor quantidade de postos revendedores por habitante. Havendo um giro maior nas vendas, a chance de ser fiscalizado numa situação de quebra contratual (ou irregular) é menor. Desta forma, é esperado que a quebra seja maior para postos em cidades maiores que em cidades menores;

Resultado esperado: Quanto maior a cidade em que o posto se situa, maior a velocidade de circulação dos estoques, logo, maior o risco do posto incorrer em comportamentos oportunistas, já que é menor a chance de ser pego em situação irregular.

4) Tempo no mercado

O tempo de atuação no mercado é uma variável que indicaria a reputação do posto tanto junto aos seus clientes quanto junto aos distribuidores com os quais o varejista negocia. Acredita-se que esta variável se relacione negativamente com o comportamento oportunista. Postos há mais tempo no mercado, teriam tempo de desenvolver boa reputação junto a seus pares e assim, a chance de incorrer em oportunismo seria menor, já que tal comportamento, nesses casos, resultaria na perda de sua boa reputação no mercado.

Resultado esperado: Quanto mais tempo no mercado, mais interesse em manter sua reputação, logo, menor a chance do posto incorrer em comportamentos oportunistas.

5) Presença de usina na cidade do posto

A análise dos dados secundários setoriais indica duas possibilidades para que o comportamento oportunista esteja relacionado com a proximidade com usinas de açúcar e etanol. A primeira é que uma das maiores quebras de contrato em qualidade da gasolina é a adulteração por excesso de etanol. A segunda se refere à verificação de que compras fora do arranjo exclusivo de negociação são práticas comuns. Desta forma, esta variável tem como objetivo verificar se a proximidade com usinas favorece a compra de etanol de modo irregular, quer seja etanol anidro que serve para adulteração de gasolina ou para adição de água e revenda do “etanol molhado”, quer seja a compra de etanol hidratado de usinas para a venda direta ao consumidor26.

Resultado esperado: A proximidade com usinas de açúcar e etanol favorece acesso a compra de etanol irregular, favorecendo o comportamento oportunista

6) Preço de venda

A literatura sobre o setor (Sindicom, 2010) indica uma relação direta entre preço e qualidade, salientando que em postos de preços muito baixos é maior a chance de abastecer combustível irregular. Esta variável testará se de fato, o comportamento oportunista ocorre em postos de preços mais baixos.

Se de fato verificado que preços mais altos desestimulam o comportamento oportunista, duas justificativas para esse comportamento são possíveis. Primeiro, pode ser que a prática de preços mais elevados se relacione com repasse ao preço do combustível dos custos de monitoramento e controle da transação, evidenciando que o controle do risco de comportamento oportunista do revendedor varejista nas transações com distribuidores onera, em última instância, o consumidor final do produto.

Como uma segunda alternativa, os ganhos pela prática de preços mais elevados se justificam pela boa reputação desenvolvida pelo posto revendedor no mercado e a manutenção desta reputação desestimula exercício de comportamento oportunista, sendo o preço mais elevado, o ganho comercial correspondente à boa reputação construída.

Resultado esperado: Quanto maior o preço praticado pelo posto, menor a chance de incorrer em comportamento oportunista.

7) Localização

Os dados secundários demonstram que postos em cidades são mais fiscalizados que àqueles em rodovias em virtude da maior concentração de vendas em cidades comparativamente às rodovias. Desta forma, postos em rodovias seriam menos fiscalizados, o que aumenta a chance de incorrer em quebra contratual, pela menor chance de serem fiscalizados quando da atividade irregular.

Resultado esperado: Quanto menor a fiscalização esperada pelo posto, maior a chance de incorrer em comportamento oportunista, logo, postos em rodovias apresentam mais risco de oportunismo que os postos nas cidades.

Foram utilizadas duas bases de dados para análise do comportamento oportunista. A base mais completa, em termos de amostragem é a base de dados do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC), que engloba todos os 9.070 postos de combustível do Estado de São Paulo, cadastrados junto a ANP e suscetíveis à fiscalização mensal nos últimos 5 anos. Esta base de dados compreende o universo de postos do estado e os seguintes fatores intervenientes nas quebras: bandeiramento, market share do distribuidor, tamanho da cidade, tempo no mercado e usinas.

A segunda base de dados utilizada é do levantamento de preços e margens de comercialização de combustíveis, do programa de fiscalização da concorrência (LPMCC). Esta base é formada por uma amostra de postos revendedores, compreendendo 2.363 postos no estado de São Paulo. Os dados já coletados nesta base de dados foram pesquisados pela ANP entre os dias 13 e 19 de março de 2011. Esta base de dados fornece os mesmos fatores intervenientes da base PMQC e também os dados de preços e localização dos postos.

Dois tipos de comportamento oportunista são passíveis de análise a partir dos dados secundários disponíveis, e se aplicam tanto aos postos bandeirados quanto aos de bandeira branca, são elas:

a) Adulteração do combustível; dada pela existência de notificação da ANP ao posto por combustível não - conforme;

b) Infidelidade ao arranjo; dada pela presença de realização de compras fora do arranjo de negociação exclusiva, expressa pela não apresentação de nota fiscal de compra quando das fiscalizações e/ou apresentação de nota irregular ao arranjo. As quebras por infidelidade serão feitas separadamente para a gasolina e etanol.

5.1 – Análise 1: Inconformidade – Base de dados Programa de Monitoramento