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Nova prática política: castilhismo Júlio Prates de Castilhos

As idéias de Locke penetraram no universo político luso-brasileiro na transição do século das luzes, a partir da reforma pombalina, principalmente através da análise de Verney, seguido pelo ilustrado Silvestre Pinheiro Ferreira, alimentando o amplo debate que seduziria a elite oitocentista.

Em antítese ao legado imperial, supondo-se inaugurais, traria a República ao mundo cultural brasileiro a novidade da filosofia política de inspiração positivista, baseada no pressuposto de que a sociedade caminhava inexoravelmente rumo à estruturação racional.

Do seio da desilusão que penetra os corações sinceramente brasileiros, brota uma robusta, uma pujante crença - que sem ela não podem viver as sociedades - , a crença num novo princípio, numa idéia nova, que traz em si para transmitir ao corpo social deteriorado e cadaveroso a seiva do futuro.119

Tal convicção, tanto quanto os meios necessários para sua plena realização, seriam alcançados mediante o cultivo da ciência social. Esta formulação chegaria a propor duas alternativas possíveis: empenhar-se na educação dos espíritos a fim de que o regime positivo viesse a se instaurar como fruto de um esclarecimento, ou simplesmente, impor a organização positiva da sociedade por parte da minoria esclarecida. Sustentaria a primeira atitude, mais incisivamente, o mestre Pereira Barreto (1840-1923), correspondendo sua atuação ao chamado "positivismo ilustrado"; a segunda possibilidade transformou-se na alternativa de Júlio Prates de Castilhos (1860-1903), seguido por Antônio Augusto Borges de Medeiros (1864-1961), no Rio Grande do Sul, e por José Antônio Pinheiro Machado (1851-1915) e Getúlio Dornelles Vargas (1883-1954), transposta ao nível nacional. Seria pois, ao longo da República Velha, que o pleno amadurecimento da vertente autoritária de inspiração castilhista ocorreria, então formulada abertamente como alternativa ao sistema representativo, a saber, o trânsito da prática autoritária para o autoritarismo doutrinário.

Pode-se dizer que o castilhismo estruturou-se como uma filosofia política que, inspirando-se no positivismo, substituiu a idéia liberal do equilíbrio entre as diferentes ordens de interesses, como elemento fundamental na sociedade, pela idéia da moralização dos indivíduos através da tutela do Estado. Acreditavam os seguidores desta doutrina que a falência da sociedade liberal consistia justamente em basear-se, esta, nas

119 CASTILHOS, Júlio. "Tempo de Estudante", Jornal A Evolução, em 15/05/1879, In: Idéias políticas de Júlio de Castilhos. Organizado

transações empíricas, fruto da procura dos interesses materiais. Em contrapartida, opondo-se à caracterização do governante na filosofia política de Silvestre Pinheiro Ferreira, segundo a qual os membros do Congresso, formando o organismo máximo do governo, deviam saber representar corretamente os interesses dos respectivos grupos ou classes, o líder Júlio de Castilhos impunha como condição fundamental deste governante a absoluta pureza de intenções, traduzida como desinteresse material. Portanto, a moralidade seria a nota primordial do governante, caracterizada como "imaculada pureza de intenções". Somente dessa forma poderia o dirigente da sociedade adquirir a capacidade de perceber, cientificamente, qual o sentido da racionalidade social, revelada, conforme Comte, unicamente perante as mentes livres dos prejuízos teológicos e metafísicos.

Em torno destes conceitos estrutura-se o de bem público para a tradição castilhista. Para os pensadores liberais, o bem público resultava da conciliação dos interesses individuais que se concretizavam no Parlamento, como organismo representativo dos mencionados interesses. Para Castilhos, o bem público só poderia encontrar-se onde se achasse a essência mesma da sociedade ideal, que ele entendia, [...] em termos de "reinado da virtude". O bem público confunde-se, para o castilhismo, com a imposição, por parte do governante esclarecido, dum governo moralizante, que fortaleça o Estado em detrimento dos egoístas interesses individuais e que zele pela educação cívica dos cidadãos, origem de toda moral social. 120

Havia no castilhismo uma suposição de que esta acepção de bem público representava uma situação de privilégio frente ao liberalismo. E justamente a novidade em Castilhos passaria a consistir no fato de que sua retórica laborava por demonstrar que existia uma identidade diferenciada real, fundamentada numa ciência social cuja tese principal é a revelação desta ter descoberto o curso da humanidade, indicada por sua marcha ascensorial, inelutável e determinada no sentido da positividade, isto é, de uma sociedade não maculada pelo "interesse", porquanto equivalente à própria instauração da moralidade. Esta crença de algo diferente e novo, porque "puro", renderia aos adeptos a paixão pela doutrina, ao mesmo tempo, conduzindo ao caráter missionário e sacerdotal de que teria se revestido o longuíssimo exercício do governo castilhista, conforme apreciação do liberal Assis Brasil.

O adversário é estímulo e ponto de apoio para o aperfeiçoamento das boas instituições; o amigo incompetente e fanático é perene elemento de perturbação interior e, por isso, mais temível. Neste caso deve ser incluído o grupo de republicanos oriundos da seita religiosa fundada por Augusto Comte. São bem poucos no Brasil os dessa espécie, mas a sua situação moral encerra muitos dos caracteres que a experiência mostra como capazes de produzir vasta influência. São homens consagrados com ardor fanático ao cultivo de um ideal; os atritos da vida de ação não os conspurcaram ainda; a opinião reputa-os exemplares de pureza individual, e com muito fundamento, porque todo o apóstolo convencido é incarnação duma doutrina, é uma espécie de ser impessoal e, portanto, extreme dos vícios que não abandonam facilmente a humanidade profana; nada mais

120 RODRIGUEZ, Ricardo V. Castilhismo: uma filosofia da república. Porto Alegre: Escola Superior de teologia São Lourenço de

natural do que o grande ascendente moral que homens tais ganham desde logo sobre todos os espíritos a que conseguem tomar simpáticas as suas doutrinas. O governo presidencial dos Estados Unidos não mereceu mais simpatias ao ilustre filósofo francês que o parlamentar na Inglaterra. Ambos os sistemas são representativos, e tanto basta para que não possam estar na concepção que o mestre formulou na sua última fase filosófica. Mas, no Brasil, os néscios gritam que o presidencialismo é a ditadura. Por outro lado, os positivistas religiosos, como espíritos ardentes e bem intencionados, devem ser grandes patriotas e compreendem o mal que nos adviria de um regresso ao passado. Essas razões os levam a não ocultarem a sua preferência pelo sistema presidencial atual, ainda que como transição para seu ideal, que é a verdadeira ditadura. Ninguém ignora quantas prevenções têm nascido na opinião pública pelo fato de termos merecido para o nosso sistema a honra dessa preferência. Há mesmo quem diga que a nossa constituição, democrática e representativa, foi obra dos positivistas religiosos, que são inimigos da democracia e do representativismo. Devem lisonjear-nos, mas é preciso que aceitemos com reservas, apoios dessa ordem. O ideal do nosso sistema é governar o Brasil pelo melhor modo de o fazer feliz e próspero; até hoje não mostra a história um só caso de se conseguir esse resultado pela aplicação de doutrinas sistematicamente extremadas. A sociedade quer, deve e só pode ser governada segundo a média da sua opinião, que, por enquanto, é democrática e representativista. 121

Logo, a moralização da sociedade conduziria, inevitavelmente, o governante ao exercício da tutela social, moldada pela incessante procura do bem público, quando surgiriam a elaboração dos mecanismos constitucionais e legais adaptados à instauração desta mesma tutela moralizadora do Estado sobre a sociedade. Logo, pode-se situar as idéias principais da filosofia política de inspiração positivista sob os fundamentos sistematizados no discurso de Castilhos, qual sejam, a contestação radical, segundo seu ponto de vista, do pensamento liberal, de inspiração lockeana, do filósofo português Silvestre Pinheiro Ferreira, através da ação política moralizadora do indivíduo pela educação positiva e da comunidade pela tutela do Estado.

Para a filosofia liberal clássica, sintetizada na Corte por Silvestre Pinheiro, como foi visto, é fundamentalmente o interesse na preservação da vida e da propriedade que faz o homem entrar em sociedade, pois sob o estado de natureza, isto se faria impossível. Esse interesse, por sua vez, é comum a todos os que compõem a sociedade e expressa a finalidade que os homens perseguiram ao constituí-la, sendo ainda esta considerada a primeira manifestação da justiça social. Contudo, o interesse comum que conforma a sociedade não é alguma coisa que se dê sem esforço. Pelo contrário, somente será alcançado quando houver conciliação das opiniões e interesses professados pelos diversos membros da sociedade, alcançando obter o consenso que evite a guerra civil e conduza à felicidade possível.

Tanto para Locke quanto para Silvestre Pinheiro, este processo se constituiria no único meio viável para superar a turbulência política, pois encerrava ele a fórmula apta a dar estabilidade a um governo constituído, deixando para trás as lutas que viabilizaram sua efetivação, a exemplo das décadas de vinte e trinta, tanto no Brasil quanto em Portugal. Para o publicista lusitano a finalidade de todo mandato que confere poder político era representar certas ordens de interesse, por isso, devendo haver tantos mandatos quantos fossem os interesses a

serem representados, a fim de assegurar que os conflitos internos da sociedade fossem superados de modo adequado. Daí a importância da consolidação do instituto da representatividade política dos diversos seguimentos passíveis de sê-lo, permitindo ao Segundo Reinado a extensão de sua vida política.

Se para os liberais ilustrados do Império o elemento fundamental na organização da sociedade era o equilíbrio de interesses, a Auguste Comte, o que realmente importava era a organização moral desta mesma sociedade. Para o filósofo francês a crise da sociedade liberal devia-se fundamentalmente ao fato de que mais importância era dada ao jogo de interesses políticos que à reforma das opiniões e dos costumes, enfatizando a afirmação de que não poderiam nunca ser satisfeitos plenamente os interesses populares, sem se ter em conta, como elemento de primeira ordem, uma reorganização espiritual da sociedade. Para a filosofia positiva, tal jogo de interesses materiais da sociedade liberal tornava-se obsoleto e ultrapassado na medida em que desconhecia a dimensão espiritual das necessidades humanas.

Parecia, portanto, lógico ao movimento político tornar-se primeiro uma filosofia que elaborasse princípios com o intuito de regenerar espiritualmente a sociedade, impondo assim a difusão de regras para uma conduta moral de acordo com a harmonia universal, alicerçada na educação do espírito positivo, à luz da ciência e da própria filosofia positiva. O que setornava explícito com tais práticas era a intenção maior da doutrina, sua principal aplicação, a saber, ser a verdadeira teoria da humanidade, condição dogmática privilegiada, resultante de sua aptidão espontânea para sistematizar a moral humana, principalmente através do conceito de virtude do governante.

Ao supor que a racionalidade social não se encarna na projeção da razão individual, concretizada num órgão representativo de governo onde se estabeleça o consenso entre indivíduos, como entendia o liberalismo, mas na obra moralizadora de um Estado autocrático, o castilhismo se situa do lado das múltiplas reações conservadoras que a partir da Revolução Francesa condenavam as conquistas da ilustração, no que respeita ao papel atribuído à razão individual. E ao propugnar uma sociedade moralizadora em torno de idéias, recusando o regime de negociações entre interesses individuais, alcançado pelo sistema liberal, o castilhismo procurava uma volta à sociedade feudal, na qual o móvel inspirador dos cidadãos era a procura da virtude. Nessa rejeição à razão individual, como no desprezo pelo interesse individual e material, reside o caráter conservador do castilhismo.122

Em contraste com a condição de possibilidade da filosofia política de Silvestre Pinheiro, onde o Congresso, organismo máximo do governo, deveria saber representar corretamente os interesses dos grupos ou classes existentes na sociedade, Júlio de Castilhos atribuía como condição ao bom governo a absoluta pureza de intenções de seu governante, traduzida numa total ausência de interesses materiais. A moralidade do governante assume valor de primeira magnitude, único mérito do verdadeiro estadista.

Somente os puros, os desambiciosos, os impregnados do espírito público deveriam exercer funções de governo. Seria, pois, na concepção castilhista, o Rio Grande o arquétipo do bom governo, espaço da República identificado como o "regime da virtude".123 Assim, o bem público se tratava, para Castilhos, de um postulado moral, alicerce do Estado tutelar, conduzindo necessariamente ao desinteresse do governante.

Na rigidez que o contexto impõe, o bem público seria entendido como o fortalecimento do Estado, a fim de viabilizar o caminho para o reto cumprimento de sua função moralizadora e chegar, desta forma, à instauração do regime da virtude. Parece dispensável insistir que outro teor não poderia fundamentar a legislação castilhista, tendo-se em conta que o papel de legislar seria essencialmente do líder, pois para a mentalidade castilhista era claro que todo o esforço legislativo e administrativo do governo deveria nortear-se pela procura do bem público, visto identificado com a própria segurança do Estado, sempre acima dos direitos do indivíduo.

A preocupação com o bem público, entendido como a procura da segurança do Estado, devia guiar a gestão presidencial, o que inevitavelmente conduziria ao presidente convocar extraordinariamente a Assembléia e organizar a força pública do Estado, na melhor intenção de mantê-lo. Da mesma forma, justificava-se a reeleição do presidente e a própria escolha de seu vice, ainda as normas que regulavam o trabalho dos funcionários oficiais, tudo em nome da idéia de assegurar a continuidade administrativa requerida pelo bem público.

As leis castilhistas seriam alicerçadas explicitamente na firme intenção de buscar a segurança do Estado, como por exemplo, a instituição do voto a descoberto, que ratificava a aversão desta doutrina ao governo representativo; a organização da justiça e a conseqüente criação do ministério público; a elaboração do Código de Processo Penal e a organização policial do Estado; e ainda o cerceamento às liberdades de pensamento e expressão.

Portanto, pode-se concluir que o fundamento teórico desta doutrina política

é o de que a sociedade caminha inexoravelmente para a sua estruturação racional. Atingem-se esta convicção e os meios necessários para a sua realização através do cultivo da ciência social, privilégio de personalidades carismáticas, que devem impor-se nos meios sociais onde se encontram. Quando uma personalidade esclarecida pela ciência social assume o governo, pode transformar o caráter de uma sociedade que levou séculos para constituir-se. A ação política de Castilhos inscreveu-se neste contexto: não consultou a opinião do povo, nem sequer indagou as condições de receptividade do meio para a sua ação, porque, impelido por um móvel poderoso - visão científica da sociedade e da missão que nela lhe corresponderia - soube aproveitar o concurso dos fatores determinantes e, de acordo com eles, influir nas multidões, sendo seguido "com a inconsciência e a instintividade de reflexos dos quais (ele) era o centro e (atuava) sob a inspiração de um poder superior". A crise do governo representativo, para o regime castilhista, provém daqui: se a única alternativa para a estruturação racional da sociedade é a imposição do governante esclarecido, qualquer outro tipo de organização social que não for o seu torna-se necessariamente caótico. Daí a feroz crítica que o castilhismo desatou contra o sistema

parlamentar - sistema para lamentar, segundo um deputado castilhista - como expoente número um do governo representativo.124

Como tudo passaria, necessariamente, pelo bem público, a conseqüência mais legítima é que a guarda deste dependia menos das leis escritas que do zelo e esclarecimento específicos do governante, por sua vez, iluminado pela ciência social e ornado com uma "pureza de intenções", que lhe permitia superar o proveito individual em prol da coisa pública. Neste sentido, a questão do bem governar ou mal governar não dependeria das constituições, mas sim dos governantes, forçosamente os melhores dentre todos. Logo, depreende-se que ao castilhismo mais valeria uma constituição defeituosa, mal redigida, nas mãos de um homem honesto, bem intencionado, patriota e puro, que a mais bela das composições escritas do liberalismo, entregue a um ambicioso, degenerado e corrupto, capaz de rasgá-la no primeiro momento de impulsividade para satisfação de interesses inconfessáveis.

Se para o pensamento liberal do Império o conceito de bem público resultava da preservação dos interesses do indivíduo, referentes à propriedade e à liberdade, bem como das chamadas liberdades civis, para o castilhismo este mesmo conceito ultrapassava os limites dos interesses materiais de cada um, para tornar-se um algo impessoal e espiritual. Seria pois, fruto de uma sociedade moralizadora, sustentada por um Estado forte que, por sua vez, dispondo de uma sólida burocracia oficial, viria a impor o desinteresse individual em benefício do bem-estar da coletividade.

É justamente nesta reação anti-individualista e antimaterialista do castilhismo onde podemos descobrir um dos seus traços mais significativos, que o tornam uma filosofia política conservadora. Ao estabelecer, como ponto de partida, que a racionalidade da sociedade encarna-se não na projeção da razão individual, concretizada num órgão representativo onde se pudesse alcançar o consenso, nos moldes do liberalismo, senão na obra moralizadora de um Estado autocrático, o castilhismo nada mais fazia do que situar-se do lado das múltiplas reações conservadoras que com Maistre (1753-1821), Burke (1727-1797), Comte (1798-1857), de Bonald (1754-1840), etc, condenavam as conquistas da ilustração, no relativo ao papel atribuído à razão individual. E ao propugnar por uma sociedade moralizadora em torno de ideais espirituais, em aberta rejeição ao regime de negociações entre interesses materiais conseguido pelo sistema liberal, Castilhos procurava uma volta - inconsciente, talvez - a uma sociedade de tipo feudal, na qual o móvel inspirador dos cidadãos fosse a procura da virtude.125

Tanto sua rejeição à razão individual, como seu desprezo pelo interesse material, apontam no pensamento de Castilhos a intenção de retorno a um passado pré-liberal, caracterizando suas idéias como sistematizadas dentro de um prisma, senão conservador, ao menos descolado da modernidade de inspiração

iluminista. Pode-se assinalar inclusive que este comportamento o induziria a uma resistência à teorização, em cuja atitude foi seguido regiamente por seus adeptos ilustres: Borges, Pinheiro Machado e Getúlio Vargas. Destes todos, incluindo o patriarca, pouco se têm de uma obra teórica, que pudesse fazer-se como contraponto intelectual à metafísica liberal de Silvestre Pinheiro Ferreira.

No período que transcorre de 1898 a 1903, segundo observa Othelo Rosa, apenas quatro documentos públicos produziu Castilhos. Ultrapassada a fase da propaganda e das árduas refregas políticas, em que a sua pena não conhecia repouso, tornara-se ele o "grande silencioso", ausente dos jornais e dos comícios, embora ativíssimo na discreta tarefa de chefe partidário. Entretanto, nos poucos documentos que divulgou nessa última fase de sua vida, foi que desnudou com perfeita clareza seu pensamento filosófico, assumindo quase a atitude de apóstolo do positivismo comtista.126

Se para o mestre Pereira Barreto o melhor meio de moralizar a sociedade era um acertado processo pedagógico, o marcado anti-individualismo castilhista levava o líder político a cultivar desconfianças quanto aos benefícios da razão individual, inviabilizando, portanto, esta proposta de uma educação moral. Para Castilhos deveria dar-se a única educação cívica possível, aquela imposta pela força do líder carismático e promovida pelo Estado, que consistia na imposição político-institucional de suas próprias idéias. De outra parte, qualquer discussão, manifestação ou forma de organização da sociedade alheia à sua proposta, era necessariamente descartada a priori, sob o argumento de contrariedade à reta razão e à moralidade pública. A única ação moralizadora seria o exercício autocrático do poder. A única atitude do dissidente, uma sincera penitência.

O castilhismo pode ser analisado enquanto uma filosofia política que inspira um governo autoritário, não-representativo, que submete a liberdade e as garantias individuais ao supremo interesse da segurança do Estado, portanto assume um caráter tutelar, moralista e conservador. Sustentando ainda todo o sistema, encontra- se a figura do líder carismático, que sabe, pela iluminação positiva, para onde guiar os destinos da sociedade, ao