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Nova redação do art 3º da Lei 8.666/1993 dada pela Lei 12.349/2010

3 FUNDAMENTOS JURÍDICOS DAS LICITAÇÕES SUSTENTÁVEIS

3.4 Nova redação do art 3º da Lei 8.666/1993 dada pela Lei 12.349/2010

A Lei 12.249/201035 foi incorporada ao ordenamento jurídico pátrio alterando as Leis 8.666/1993, 8.958/1994 e 10.973/2004. Merece destaque a alteração realizada na Lei de Licitações e Contratos, como adiante se verá.

O texto literal da Lei 8.666/93 foi modificado pela Lei 12.349/2010, principalmente em seu art. 3º, que passa a ter o desenvolvimento sustentável como um das finalidades do processo licitatório, senão vejamos:

A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

Com a nova redação, tem-se de forma explícita que a licitação se destina não somente a garantir o princípio constitucional da isonomia e da seleção da proposta mais vantajosa para o poder público, mas também a promoção do desenvolvimento nacional sustentável. Cabe aqui, trazer novamente o conceito, já comentado no início do presente trabalho, de desenvolvimento sustentável, que nada mais é do que o desenvolvimento que responda às necessidades da presente geração, sem, no entanto, comprometer as possibilidades das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades.36

35 BRASIL. Lei n. 12.249, de 11 de agosto de 2010, institui o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste - REPENEC; cria o Programa Um Computador por Aluno - PROUCA e institui o Regime Especial de Aquisição de Computadores para Uso Educacional - RECOMPE; prorroga benefícios fiscais; constitui fonte de recursos adicional aos agentes financeiros do Fundo da Marinha Mercante - FMM para financiamentos de projetos aprovados pelo Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante - CDFMM; institui o Regime Especial para a Indústria Aeronáutica Brasileira - RETAERO; dispõe sobre a Letra Financeira e o Certificado de Operações Estruturadas; ajusta o Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV; altera as Leis n. 8.248, de 23 de outubro de 1991, 8.387, de 30 de dezembro de 1991, 11.196, de 21 de novembro de 2005, 10.865, de 30 de abril de 2004, 11.484, de 31 de maio de 2007, 11.488, de 15 de junho de 2007, 9.718, de 27 de novembro de 1998, 9.430, de 27 de dezembro de 1996, 11.948, de 16 de junho de 2009, 11.977, de 7 de julho de 2009, 11.326, de 24 de julho de 2006, 11.941, de 27 de maio de 2009, 5.615, de 13 de outubro de 1970, 9.126, de 10 de novembro de 1995, 11.110, de 25 de abril de 2005, 7.940, de 20 de dezembro de 1989, 9.469, de 10 de julho de 1997, 12.029, de 15 de setembro de 2009, 12.189, de 12 de janeiro de 2010, 11.442, de 5 de janeiro de 2007, 11.775, de 17 de setembro de 2008, os Decretos-Leis n. 9.295, de 27 de maio de 1946, 1.040, de 21 de outubro de 1969, e a Medida Provisória n. 2.158-35, de 24 de agosto de 2001; revoga as Leis n. 7.944, de 20 de dezembro de 1989, 10.829, de 23 de dezembro de 2003, o Decreto-Lei n. 423, de 21 de janeiro de 1969; revoga dispositivos das Leis n. 8.003, de 14 de março de 1990, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 5.025, de 10 de junho de 1966, 6.704, de 26 de outubro de 1979, 9.503, de 23 de setembro de 1997; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Execuitivo, Brasília, DF, 14 set. 2010, p. 1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12249.htm>. Acesso em: 23 maio 2012.

36 COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Carlos Chagas, 1991, p. 46.

Ricardo Alexandre Sampaio, assim discorre sobre a alteração do art. 3º da Lei de Licitações e Contratos:

A atribuição de mais essa finalidade legal ao procedimento licitatório permitirá a edição de atos voltados à implementação de ações correlatas ao processo de contratação, principalmente medidas voltadas à celebração de contratações sustentáveis. Será esse o fundamento legal que legitimará a edição de atos infralegais com o objetivo de fazer constar nos editais exigências voltadas à sustentabilidade das contratações públicas. Ao inserir a promoção do desenvolvimento nacional sustentável como uma das finalidades legais da licitação, legitima-se, também, o uso do poder de compra do Estado como ferramenta voltada à difusão de políticas públicas. Com isso, mais do que apenas satisfazer as necessidades da Administração, o contrato administrativo também servirá como indutor de políticas públicas, em especial aquelas voltadas ao fomento e ao desenvolvimento de segmentos econômicos reputados estratégicos37.

Do exposto acima, vemos que o autor discorre sobre licitações públicas sustentáveis como sendo não somente um processo de contratação pública, mas também como um instrumento de políticas públicas, uma vez que fomentará o desenvolvimento de segmentos econômicos que respeitem o princípio da sustentabilidade ambiental.

Neste sentido, concorda Marcos Weiss Bliacheris, onde em seu artigo ensina serem as ecoaquisições políticas públicas, possuindo fundamento na própria Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, caput, que dispõe, de forma resumida, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo. Continua ainda, citando o art. 170 do mesmo diploma constitucional, também como fundamento, que coloca a defesa do meio ambiente como um dos princípios da ordem econômica.38

Faz-se oportuno trazer a este trabalho, a fim de enriquecê-lo, o conceito trazido por Jessé Torres Pereira Junior e Marinês Restelatto Dotti, sobre políticas públicas:

[...] as definições convergem para a compreensão de que as políticas públicas envolvem ações e programas que almejam dar efetividade aos princípios, normas, valores e escolhas conformadores do sistema juspolítico modelado pela ordem constitucional de determinado Estado nacional. Em outras palavras, são as ações empreendidas pelos poderes públicos com o fim de implementar o sistema que lhes cabe operar, com o fim de tornar realidade a Constituição no cotidiano dos cidadãos.39

37 SAMPAIO, R. A. A nova Lei nº 8.666/93. A Lei nº 12.349/10 e a indução de políticas públicas para promover o desenvolvimento nacional sustentável. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2813, 15 mar. 2011 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/

18687>. Acesso em: 28 maio 2012.

38 BLIACHERIS, M. W. Licitações sustentáveis: política pública. In: SANTOS, M. G.; BARKI, T. V. P. (Coord.). Licitações e contratações públicas sustentáveis. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 141.

39 JUNIOR; DOTTI. Políticas públicas nas licitações e contratos administrativos, p.27 apud BLIACHERIS, 2011, p. 141.

Portanto, temos que de fato as licitações positivas são políticas públicas, uma vez que através das mesmas o Estado visa dar efetividade aos valores consagrados na Carta Política de 1988, sobretudo, os valores insculpidos no art. 170 e 225 dessa Carta.

Por fim, percebe-se que a Lei 12.249.2010 ao alterar o art. 3º da Lei 8.666/93 veio explicitar a obrigatoriedade, sempre que possível, de critérios sustentáveis nas licitações públicas, atribuindo, portanto, essa finalidade à licitação, afastando, por conseguinte, qualquer eventual dúvida sobre a legalidade e legitimidade das licitações verdes40.

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