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2. COMUNICAÇÃO PÚBLICA: NAVEGANDO NUM MAR ABERTO DE ÁGUAS

3.2 NOVO CÓDIGO PARA UM NOVO CENÁRIO

Com o desafio de aliar o crescimento da agropecuária em consonância com uma produção sustentável, respeitado o patrimônio ambiental, a polêmica acerca das alterações no texto do Código Florestal voltou à cena no final da década de 199071. Diante da nova

realidade mundial, impunha-se a necessidade de criar um novo conjunto de leis estruturado no tripé ambiental, social e econômico. As discussões colocaram em lados opostos a agricultura e o meio ambiente, ao mesmo tempo em que motivou polêmicas entre ruralistas, produtores, empresários do setor, governos estaduais e federal, associações agrícolas, pesquisadores, cientistas e ativistas de movimentos em defesa do meio ambiente, como as ONGs Greenpeace, WWF-Brasil, S.O.S Mata Atlântica além da Organização das Nações Unidas, ONU.

O Código Florestal brasileiro é a lei que regulamenta onde e como o território pode ser explorado para todo tipo de prática agrícola e determina onde, quanto e como devem ser as áreas protegidas. A fundamentação do Código Florestal está, basicamente, em dois instrumentos: Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (APPs).

A primeira corresponde às áreas dentro de uma propriedade rural onde é permitida a exploração econômica dos recursos naturais para produção de alimentos ou turismo rural, desde que feita de maneiras sustentável. As áreas de Reserva Legal também ajudam na conservação ecológica e na conservação da biodiversidade ao servirem de proteção para a fauna silvestre e flora nativa. A extensão varia de acordo com a região do bioma onde está localizada a unidade de produção, sendo 80% para Amazônia Legal (livre para exploração comercial), 35% para o Cerrado e 20% para demais regiões e biomas (Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal)72.

A Reserva Legal não inclui as Áreas de Preservação Permanente. As APPs, como o nome sugere, referem-se aos espaços de preservação nas propriedades urbanas ou rurais, com ou sem a cobertura de vegetação nativa, tais como faixas à beira do curso d’água natural permanente e intermitente, áreas ao redor de lagos e lagoas naturais, manguezais, restingas e áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação, nos termos conforme estabelecido no artigo 4º da Lei do Código Florestal (12.727 de 25 de maio de

71 O primeiro Código Florestal brasileiro foi criado durante o governo de Getúlio Vargas, em 1934, mas foi

revogado pela Lei 4.771, de 1965. Esta última foi substituída pela Lei 12.727, aprovada em 25 de maio de 2012.

2012). Têm elas a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a biodiversidade, de manter a estabilidade geológica, de proteger e garantir o bem-estar da população humana. Estes locais não podem ser desmatados, pois apresentam altos riscos de erosão e deslizamento. Dessa forma, percebe-se que o conjunto de leis que regem as ações agrícolas estão diretamente ligadas às causas ambientais.

As tensões que marcaram a disputa sobre o teor da nova lei concentraram-se em três pontos: as Áreas de Preservação Permanente, a Reserva Legal e a anistia para produtores rurais que desmataram ilegalmente estas áreas até 22 de junho de 2008. Sobre as APPs, discutia-se a redução da metragem de faixas de matas ciliares protegidas, além da autorização para exploração de culturas nas áreas em altitude superior a 1.800 metros, o que poderia ser entendida como desmatamento.

Com relação à Reserva Legal, o embate era sobre a não recomposição dessas áreas em imóveis de até quatro módulos fiscais73, a incorporação das APPs em sua área (o que levaria a uma diminuição das áreas protegidas podendo ocasionar problemas ambientais) e também sobre a autorização para sua exploração econômica.

Com o objetivo de pluralizar as discussões, foi criada em 2009, pelo então presidente da Câmara, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), uma Comissão Especial do Meio Ambiente. O grupo era composto de parlamentares das bancadas ruralista74 e ambientalista75.

Após dois anos de extensas conversas e negociações entre políticos, cientistas, ruralistas, ambientalistas e demais envolvidos, em maio de 2011 a Câmara dos Deputados levou à votação o texto final do novo Código Florestal. A redação proposta pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) – que na ocasião ocupava o cargo de relator da Comissão Especial do Meio Ambiente da Câmara dos Deputados para analisar o Código – foi aprovada em 24 de

73 A metragem do módulo fiscal varia conforme a dimensão territorial de cada município, de acordo com a Lei

6746 de 10 de dezembro de 1979.

74 A bancada ruralista ou Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) é um grupo pluripartidário composto por

mais de 200 parlamentares. A FPA atribui como seu principal objetivo “estimular a ampliação de políticas públicas para o desenvolvimento do agronegócio nacional”. É considerada a bancada mais influente do Poder Legislativo. Disponível em: <http://www.fpagropecuaria.org.br/fpa>.

75 Também recebe o nome de Frente Parlamentar Ambientalista (FPA). Também é um grupo pluripartidário, com

mais de 200 parlamentares (deputados federais e senadores) têm o “compromisso de atuar, conjuntamente com a sociedade civil, no sentido de apoiar iniciativas governamentais e não-governamentais que visem alcançar padrões sustentáveis de desenvolvimento”. Disponível em: <http://www.frenteambientalista.com/frente- parlamentar-ambientalista/>.

maio de 2011, por 273 votos a 182. Mas ainda assim a questão gerava divergências e a votação ocorreu sob protestos de manifestantes de movimentos ligados à questão ambiental.

Após mais de 10 anos de debate entre setores envolvidos e a tramitação do Projeto entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, o novo Código Florestal foi aprovada em 25 de maio de 2012, pela presidente Dilma Rousseff, com 12 vetos e 32 propostas de alterações. Apesar de trazer mudanças para a Lei, a aprovação não encerrou o debate e, tampouco, a briga de braço entre os ruralistas e ambientalistas que consideram que o novo Código Florestal é, na verdade, um retrocesso à preservação ambiental.