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Segundo alguns teóricos, a base material da globalização é a revolução tecnológica ocorrida a partir da década de 70, ou como sugere Druck (1999, p.17) “para alguns estudiosos do tema, a globalização estaria sendo determinada essencialmente pela nova tecnologia”.

Ou seja, o avanço da globalização é facilitado através da computação e da microeletrônica, das telecomunicações, da biotecnologia e da engenharia genética, da inserção de novos materias. Dentre as mudanças tecnológicas que têm contribuído para o avanço do processo de globalização, a mais importante é a revolução da informação (Gorender, 1999).

Industrial contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento dos demais elementos constitutivos da globalização (concentração e centralização de capitais, mudanças no sistema produtivo, novas bases da competitividade). Como podemos perceber na passagem abaixo:

A mudança da base técnica da produção de bens e serviços, com a introdução da microeletrônica, propicia a constituição de meios de comunicação informatizados, através dos quais a realização dos investimentos acontece quase simultaneamente à tomada de decisões por parte dos capitalistas. Este movimento é mais visível no mercado financeiro, onde as operações que envolvem somas vultosas de dinheiro podem se feitas entre regiões e países de lados opostos do planeta. Qualquer investidor pode ter – através de redes informatizadas – todas as informações sobre o movimento de todos os negócios nos principais mercados financeiros do mundo (DRUCK, 1999, p. 17).

Esta maior velocidade nas transações financeira, tem contribuído para à radicalização e intensificação dos processos de concentração e centralização de capitais, através da ampliação e estruturação do crescimento de oligopólios, a intensificação de fusões e incorporações de empresas, e da simultânea difusão das micros, pequenas e médias empresas, com a formação de redes de subcontratação e terceirização ratificando a maior intensidade de acúmulo de capitais (CHESNAIS, 1996, Druck, 1999).

Singer (2000) sugere que este efeito centralizador é um dos mais controversos da “Terceira Revolução Industrial” pois, “ela parece estar descentralizando o capital” em virtude da maior flexibilidade que o computador confere ao parque produtivo (eliminando certos ganhos de escala, tanto na produção quanto na distribuição e pelo barateamento do próprio computador e de todo o equipamento comandado por ele) as grandes empresas verticalmente integradas estão sendo coagidas, pela pressão do mercado (a se desintegrar) a se separar das atividades complementares que exerciam para comprá-las no mercado concorrencial ao menor preço.

Contudo, esta aparente descentralização é apenas formal, pois, “o controle financeiro das empresas está se centralizando cada vez mais, através de sucessivas ondas de fusões e aquisições” (SINGER, 2000, p.18).

Chesnais (1996) também atenta para a idéia de que a atual fase da “mundialização” do capital inclui uma progressão quantitativa e qualitativa do movimento de concentração e centralização do capital. Para o autor no decorrer dos anos 80, aproximadamente 80% dos investimentos estrangeiros ocorreram entre países capitalistas avançados, sendo que mais ou menos três quartos das operações tinham por objetivo a aquisição e a fusão de empresas já existentes, neste sentido trata-se de uma mudança de propriedade do capital e não da criação de novos meios de produção.

Dentre os motivos que levaram as empresas a optarem por aquisições e fusões pode-se dizer que:

em muitos setores, especialmente os de alta intensidade de P&D ou de produção de massa, a evolução tecnológica reforçou o peso dos custos fixos (especialmente sob a forma de despesas elevadas de P&D) que estas empresas precisavam recuperar, produzindo para mercados mundiais; bem como as vantagens de poderem aprovi sionar à escala mundial, certos insumos essenciais, especialmente os de ordem científica e tecnológica. Em indústrias já oligopolistas no plano nacional, a única maneira de atingir eficazmente esses objetivos é penetrar em outros mercados, pelo investimento direto (CHENAIS, 1996, p. 64).

Em outros ramos industriais, no entanto, “um dos principais objetivos de uma aquisição/fusão consiste em pegar uma parcela do mercado, especialmente quanto for acompanhada pela aquisição de marcas comerciais, de redes de distribuição e de clientes cativos” (CHESNAIS, 1996, p. 64).

O movimento de centralização e concentração, de acordo com Chesnais (1996), vem se desenvolvendo desde meados dos anos 70, e apesar de ser facilitado pela revolução tecnológica, o que realmente o tem favorecido são as facilidades

políticas de liberalização, de desregulamentação e de privatização. Afirmando esta idéia Druck (1999, p.17) ressalta que

se é verdadeiro que a revolução tecnocientífica tem um papel fundamental nesse novo momento de globalização da economia, não se pode tomá-la como um sujeito do processo” pois, “esta revolução é resultado de decisões políticas e econômicas e assim, tem um conteúdo social que não pode ser ignorado. Sob este novo contexto de mudanças tecnológicas e aumento no movimento de concentração e centralização de capitais, vemos desenvolver-se novas bases da competitividade. As visões econômicas tradicionais que definiam a competitividade como uma questão de preços, custos (especialmente salários) e taxas de câmbios estão superados. E em largos traços duas são as constatações feitas pelos vários estudos efetuados nos países da OECD Coutinho (1995).

A primeira é de que hoje a competitividade tem uma “dimensão sistêmica”, ou seja, não se sustenta exclusivamente no dinamismo e agilidade gerencial e inovacional da empresa privada. Muito embora, não deixou de ser o veículo-chave de concretização da inovação tecnológica, vale dizer, da ampliação comercial em escala econômica e de avanços científicos traduzidos em novos processos e produtos.

A inovação tecnológica “flui com maior dinamismo nas economias onde a presença de fatores externos benignos combina-se com a interação acentuada entre empresa privada e as instituições públicas de ciência e pesquisa aplicadas (universidade, instituto, centro de pesquisa)” (COUTINHO, 1999, p. 116).

Como conseqüência desta situação, a capacidade de inovação empresarial tende a ser potencializada pela existência de ambientes favoráveis e estimulantes, (conforme perceberemos mais adiante no setor de celulose e papel), onde prevalece a interação sistemática e espontânea entre os centros públicos e privados de pesquisa

pura e aplicada, onde teremos uma maior necessidade de pessoal qualificado e a presença de uma infra-estrutura adequada de equipamento e rede de comunicações (COUTINHO, 1995).

A outra constatação feita por Coutinho (1999, p. 117) que em parte fundamenta a primeira,

é o reconhecimento de que a competitividade, em larga medida, independe da dotação de fatores e de recursos naturais e tende a ser cada vez mais um resultado deliberado de estratégias privadas e/ou políticas de investimento com inovação. Em outras palavras, as vantagens comparativas, além de serem essencialmente dinâmicas, tendem a ser vantagens construídas, exercidas, e dependem de um esforço continuado para serem mantidas.

Sendo assim, Coutinho (1999, p. 119) conclui que a competitividade hoje

não advém simplesmente da dotação de fatores e recursos e dos preços relativos, muito embora possa (e deva) valer-se destas condições. Resulta, sim, das estratégias empresariais deliberadas de investimentos, baseadas na capacidade tecnológica endógena e sistêmica, para produzir com eficiência máxima e para introduzir novos processos e produtos. Estes, por sua vez, quando transitarem da fase de lançamento de produto para a de produção em massa precisam atravessar, com a velocidade possível, a etapa de acúmulo de conhecimentos, ajustes, avanços e aperfeiçoamento incrementais, em vários níveis, até alcançar um regime de produção em elevado rendimento (yield) físico.

Como último elemento a ser destacado devemos falar sobre as mudanças na esfera produtiva, as quais sofrem as influências diretas de todos os outros elementos apresentados, pois, se “as extraordinárias possibilidades tecnológicas abertas por uma verdadeira terceira Revolução Industrial favorecem a constituição de novas formas de produção, mais flexíveis e adaptadas às oscilações do mercado e à diversificação da demanda” (MATTOSO e POCHMANN, 1998, p. 215), o movimento de concentração e centralização do capital acaba contribuindo para a criação de forma direta para mudanças na base organizacional da produção, e não devemos esquecer que as novas bases da competitividade tendem a provocar efeitos negativos em termos de emprego e salários.

Entendemos que as mudanças no sistema produtivo são pautadas em novas formas de organização empresarial e alteração nos processos produtivos, além disto, são frutos diretos da crise de acumulação da década de 70, embora seus reflexos sejam percebidos com maior intensidade na década de 90, ela vem se desenvolvendo desde de 1970, assim, é necessário um aprofundamento desta discussão, que procuraremos realizar no próximo item.

Ressaltamos ainda que a divisão realizada entre elementos apontados como decorrentes da globalização deve-se a uma questão muito mais metodológica que real, pois acreditamos que estes estão intimamente ligados onde um passa a influenciar o outro.

1. b. AS TRANSFORMAÇÕES NO CAPITALISMO E SUAS CONSEQÜÊNCIA PARA O