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André Urani (1995) em seu texto intitulado, Jornada de trabalho, salários e

absorção de mão-de-obra na indústria de transformação brasileira: 1981—1990, aborda

a discussão sobre a indústria em geral. A partir de então foi possível constatar que a indústria de papel e papelão em toda década de 80 empregou, em média, 2,4% do total

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A análise a seguir tem como base os dados da PNDA (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), como já observamos os dados apresentados em termos de volume de mão-de-obra não são compatíveis com os apresentados até o presente momento.

25 188 17 -44 5 98 20 -11 22 112 -1 -59

anos 60 anos 70 anos 80 total 90

administração fabricação manutenção

da população admitida na indústria nacional, embora este percentual pareça pequeno, o ramo que mais emprega possui em média 15% que é a indústria de produtos alimentares.

Este artigo de André Urani (1995) possui como apêndice um conjunto de tabelas que desmembra todas as análises da mão-de-obra na década de 80, uma das séries trata da escolaridade desses trabalhadores. Com isso foi possível compor um perfil do nível de instrução dos trabalhadores da indústria de papel e papelão.

O Gráfico 6 ilustra que a maior parte da mão-de-obra que compõe a indústria deste setor possui escolaridade entre 1 a 4 anos, esta situação se deve ao fato de que durante toda a década de 80, o maquinário utilizado por esta indústria era pouco desenvolvido tecnologicamente, ao compararmos com o nível internacional no mesmo período. Situação presente em quase todos os ramos industriais brasileiros, pois, neste período o Brasil vivenciava um momento de forte crise econômica e estagnação industrial. 0 10 20 30 40 50 60 (%) 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

menos 1 ano 1 a 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos mais de 11 anos

GRÁFICO 6 Brasil: Escolaridade dos trabalhadores da indústria de papel e papelão na década de 80 Fonte: elaborado a partir de URANI, 1995 (fonte original: PNDA )

Contudo, ao longo da década de 80, importância em termos percentuais deste tipo de trabalhador (1 a 4 anos) foi reduzida passando de 50,4% para 41,25%, uma queda de 9,15%. Embora essa mão-de-obra tenha perdido importância, cabe observar que isto não significou uma diminuição do número real de trabalhadores, ao contrário, seu crescimento foi de 11% (Gráfico 7), valor bem inferior ao crescimento total da indústria de papel e papelão, que segundo o PNDA cresceu 35%.

11 56 125 65 35 -20

menos de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos mais de 11 anos total

GRÁFICO 7 Brasil: Evolução dos trabalhadores da indústria de papel e papelão na década de 80 dividido por escolaridade em %

Fonte: elaborado a partir de URANI, 1995 (fonte original: PNDA).

Portanto neste período, a indústria de papel e papelão passou a necessitar de trabalhadores mais instruídos, diminuindo gradativamente a representatividade, em termos percentuais, dos com baixa escolaridade e, conseqüentemente, aumentando a dos trabalhadores com maior escolaridade.

A escolaridade que mais cresceu proporcionalmente foi de 9 a 11 anos (125%), crescendo aproximadamente 3,5 vezes mais que o total mão-de-obra na indústria de papel e papelão (35%).

Esta situação se deve ao fato de que já nos anos 80, verificamos a tendência ao aumento no nível tecnológico deste tipo de indústria, como afirma Oliveira (2002), Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Papel, Celulose, Pasta de Madeira para Papel e Papelão de São Paulo, em entrevista: “Houve uma maior

exigência por qualificação em 80, começou em razão da inserção de novos equipamentos” sendo assim passou a existir maior exigência por escolaridade, pois para manobrar máquinas mais modernas é necessário um maior conhecimento científico “tradicional”.

Ao compararmos os índices de escolaridade nas indústrias de papel e papelão com a média da indústria geral, notamos que segue a mesma tendência (gráfico 8), entretanto em valores são bem diferentes, pois expressa uma outra realidade e particularidades que as análises gerais sobre a indústria e grau de escolaridade não podem contemplar. -9,15 5,99 1,33 4,41 2,86 -2,62 4,46 -1,30 3,79 -10,31 menos de 1 1 a 4 5 a 8 9 a 11 mais 11 setor indutria

GRÁFICO 8 Brasil: Evolução da escolaridade na indústria de papel e papelão nos anos 80 Fonte: elaborado a partir de URANI, 1995 (fonte original: PNDA).

No setor de papel e papelão a diminuição da relevância em termos percentuais dos trabalhadores com escolaridade de 1 a 4 foi menor que na indústria em geral. Certamente isto é um reflexo do fato de que em 1981 o setor de papel e papelão possuía quase 50% do seu capital humano com este nível de escolaridade.

Observa-se que a escolaridade de 5 a 8 anos como de 9 a 11 anos teve um aumento maior no setor de papel e papelão, que na média da indústria geral. A respeito dos trabalhadores com mais de 11 anos de escolaridade, observa-se que seu crescimento foi menor que a média da indústria em geral.

Independentemente destes detalhes, percebemos no Gráfico 8 que a indústria de papel e papelão segue a tendência geral da indústria, a qual Urani sintetiza da seguinte forma: “houve uma nítida tendência a melhora do perfil educacional da mão- de-obra tanto na indústria quanto na economia em seu conjunto, com a diminuição da participação dos dois níveis de escolaridade inferiores e o aumento das demais”.(Urani, 1995, p. 13).

Além da abordagem do grau de escolaridade dos trabalhadores da indústria de papel e papelão nos anos 80, podemos verificar como foi a remuneração destes trabalhadores em relação ao resto da indústria de acordo com seu nível escolar.

O Gráfico 9 demonstra a média do diferencial entre a remuneração dos trabalhadores do subsetor de papel e papelão e o resto da indústria na década de 80 e, como observamos, em média, os com menos de 1 ano de escolaridade gozaram de melhores rendimentos, em contra partida, os que possuem mais de 11 anos de escolaridade obtiveram piores rendimentos, em relação a média da indústria em geral.

17,65

11,25

0,42 37,53

-1,32

menos 1 ano 1 a 4 5 a 8 9 a 11 mais de 11

(%)

GRÁFICO 9 Brasil: Diferencial de remuneração entre os trabalhadores das indústrias de papel e papelão e o resto da indústria na década de 80

Fonte: elaborado a partir de URANI, 1995 (fonte original: PNDA).

De um modo geral, o setor pagou melhor do que o resto da indústria, em virtude das características próprias deste tipo de indústria, já observadas, mas os trabalhadores com mais escolaridade se beneficiaram menos desta situação, visto que entre 9 a 11 anos de escolaridade os rendimentos foram em média 0,42% e os

trabalhadores com mais de 11 anos ganharam -1,3%, em comparação ao total geral da indústria.

Certamente os trabalhadores que mais se beneficiaram dessa situação foram aqueles com menos de 1 ano de escolaridade, ganhando em média na década 37% mais que a média geral da indústria, mas os trabalhadores de 1 a 4 anos também não foram tão mal pagos.

Constata-se nas indústrias de papel e papelão nos anos 80, a seguinte situação: quanto menor o nível educacional melhor remuneração em relação ao resto da indústria. Já quanto maior o nível de instrução seu rendimento é pouco ou, muitas vezes, até inferior ao valor pago no resto da indústria.

Esta situação se deve ao fato de que a produção de papel e papelão ainda durante a década de 80 dependia muito mais de sua mão-de-obra do que atualmente, havia a necessidade de um trabalhador especializado com experiência na função adquirida com inúmeros anos de exercício da mesma. Ou seja, a qualidade da produção do papel e papelão dependia dos conhecimentos que o operador da máquina detinha sobre aquela função, como confirma Oliveira (2002), pois ele afirma que a diferença dos anos 80 para os 90 em termos de produção é que “era no manuseio deles, era a visão deles, era a audição deles, entendeu, para uma boa performance do papel, para a qualidade do papel, então, tinha intervenção da mão-de-obra quase constante em todas as fábricas”.

Como veremos mais adiante nos anos 90, a tendência por uma melhor qualificação vai se acentuar e isto se refletirá na renda destes trabalhadores. A partir disto pretendemos entrar na análise da produção de celulose e papel na década de 90.

ANÁLISE DA PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL NA DÉCADA DE

1990

Levando-se em consideração o objetivo central desse trabalho, nota-se a importância de uma análise da produção deste setor, deste modo, este capítulo destacará alguns acontecimentos mais gerais no setor de celulose e papel mundial e no Brasil, procurando apresentar a evolução da produção, a distribuição geográfica, a trajetória dos preços entre outros aspectos que envolvem a produção e o mercado de celulose e papel.

Contextualizar o mundo na década de noventa certamente não é uma tarefa que possa ser realizada em poucas linhas, contudo nos parágrafos abaixo estaremos ressaltando de forma específica o assunto.

De um modo geral, o período de 1990/99 foi marcado em grande parte pela estabilidade política e pelo crescimento econômico dos Estados Unidos e da Europa ocidental. “Estes países, responsáveis pelo consumo de quase dois terços dos papéis produzidos no planeta, alavancaram a economia mundial ao longo dos anos 90” (BNDES, 2000b, p. 3).

No entanto, na Europa, a década de 90 inicía-se com o aprofundamento das conseqüências da dimensão política dos países do Leste Europeu, o que implicou na reintegração de alguns deles junto a economia ocidental e ainda no desmantelamento da unidade política e econômica da antiga União Soviética, promovendo drásticas alterações nas relações de produção e consumo.

Na Ásia, até meados da década, o Japão com o vigor de sua economia, e os “tigres asiáticos” (Coréia do Sul, Singapura, Taiwan, Tailândia e Indonésia), com índices elevados de crescimento econômico, se destacaram como importantes centros de

produção e consumo. No entanto, a economia japonesa teve forte diminuição em seu ritmo, passando por reajustes que tiveram reflexos na economia dos tigres que enfrentaram forte desvalorização de suas moedas, freadas no crescimento de seus PIB’s, retração do consumo, etc.

Como conseqüência os fluxos de capitais para investimento cessaram ou diminuíram significativamente e alguns países com Indonésia e Tailândia que não conseguiram retomar o padrão de crescimento anterior à crise, enquanto outros (Coréia do Sul e Cingapura) tentaram, paulatinamente, se reestruturar. Nesse cenário a China prossegue na abertura de sua economia, mantendo altos índices de crescimento econômico e um consumo crescente de celulose e papel, como será observado com maiores detalhes adiante.

Na América Latina procurou-se desenvolver medidas que favorecessem sua inserção no contexto da nova economia mundial. Ao lado da abertura política e econômica surgiram tentativas de formação de blocos regionais como Nafta, Mercosul, Aladi, etc.

Em muitos países da África continuaram as disputas pelo poder local, impossibilitando, para uma grande parcela da população, o acesso a condições mínimas de bem-estar.

Vale ressaltar que a análise seguinte está calçada em estudos já realizados para o setor, sendo a maior parte extraída de estudo do BNDES (1996, 2001, 2000b e 2000c), bem como de outros estudos complementares como os do Estudo setorial... (2001).