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CAPÍTULO 2 – A CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA CULTURAL PARA

2.1 O Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura de São Paulo

2.1.4 O novo organograma da Prefeitura

A mudança administrativa realizada pela gestão do prefeito Fábio Prado foi além da instalação do Departamento de Cultura e Recreação. Na gestão municipal do prefeito Antonio Carlos Assumpção (1933-1934), todas as decisões administrativas passavam pelo chefe do município. A partir do mandato do prefeito Fábio da Silva Prado a prefeitura criou departamentos e divisões com o poder decisório, para melhor gerir os assuntos da cidade. Essa perspectiva administrativa que instala uma nova burocracia administrativa pode ser observada nos dois organogramas abaixo.

Figura 2.2 – Expediente da Prefeitura na gestão do prefeito Antonio Carlos Assumpção (O Estado de S. Paulo,

1 mar. 1936, p. 5)

Como vemos na imagem acima, a Prefeitura de São Paulo tinha uma estrutura administrativa enxuta, representada em seu organograma. Destacamos que o expediente do prefeito era responsável direto pelos setores, como, por exemplo, Diretoria de Obras, Junta de Alistamento, Procuradoria Judicial, Protocolo/Arquivo, Inspetoria Pública, Almoxarifado, Intendência Geral dos Mercados, Teatro, Patrimônio, Zeladoria,

Contabilidade, Diretoria Sanitária, Polícia, Receita, Procuradoria Fiscal e Biblioteca. A partir da disposição radial do organograma administrativo da Prefeitura de São Paulo na gestão do prefeito Antonio Carlos Assumpção, podemos inferir que não havia na cidade uma política que integrasse os diversos setores administrativos com atividades de trabalho semelhantes, como, por exemplo, a Receita e a Contabilidade.

Com relação à área da cultura, por meio dessa representação vemos que não há uma política que integre os setores de modo a otimizar os serviços, assim como pensar conjuntamente ações para serem desenvolvidas na cidade. No que cabe especificamente aos equipamentos culturais, vemos o arquivo, o teatro e a biblioteca em uma configuração espacial que não apresenta relação administrativa e de comunicação entre si. Além disso, vemos projetado em planos cartesianos que colocam em quadrantes opostos, por exemplo, a biblioteca e o teatro, o que configura uma não relação administrativa dos setores na Prefeitura de São Paulo.

Sobre o setor de Bibliotecas, vemos uma subordinação direta com o expediente do prefeito. Tal relação demonstra que não havia na cidade um setor administrativo autônomo, capaz de gerir esse equipamento cultural sem a interferência do chefe em exercício na cidade. Além disso, a imagem mostra que no período não havia uma rede de bibliotecas públicas na cidade de São Paulo. O que podemos inferir a partir dessa imagem é que nela está representada a única biblioteca pública da Prefeitura. Talvez por isso não fosse necessário um setor administrativo, como, por exemplo, a contabilidade com instituições ramais.

Para corroborar tais apreciações com relação às definições de política cultural apresentadas no Capítulo 1, vemos a falta de uma estrutura burucrático-administrativa (MILLER; YÚDICE, 2004; REIS, 2011) que coloque os equipamentos culturais em plano comum de comunicação e trabalho. Com isso, constata-se uma dificuldade para que o Estado realize programas de intervenções, sistemáticas ou conjuntas (TEIXEIRA COELHO, 2004; GARCÍA CANCLINI, 1987; RUBIM, 2007), de modo a integrar os setores. Por meio do organograma da Prefeitura não podemos discutir com exatidão as questões relacionadas a necessidades culturais e as metas (TEIXEIRA COELHO, 2004; RUBIM, 2007) a serem atingidas por essa política com relação à cultura, na gestão do prefeito Antonio Carlos Assumpção. O que podemos inferir é que existem lacunas nessa representação gráfica que interferem na realização de uma política cultural a ser realizada na cidade de São Paulo.

Figura 2.3 – Expediente da Prefeitura na gestão do prefeito Fábio Prado (O Estado de S. Paulo, 1 mar. 1936,

No organograma da Prefeitura de São Paulo na gestão do prefeito Fábio Prado vemos uma estrutura administrativa mais complexa se comparada à imagem anterior. Destaca-se aqui a criação dos seis departamentos: Departamento de Obra e Serviços; Departamento do Expediente e Pessoal; Departamento de Higiene; Departamento da Fazenda; Departamento Jurídico e Departamento de Cultura e Recreação. Interessante notar que em cada quadrado que representa um departamento, encontramos na parte inferior a denominação “Gabinete do Diretor”. Com isso, observamos que os diversos setores da Prefeitura estavam agora subordinados por níveis hierárquicos. Ou seja, o prefeito não respondia de forma direta pelos departamentos da Prefeitura. Tal mudança explicita um caráter discricionário com relação à administração pública na cidade de São Paulo. Dessa forma, o prefeito delegava poderes a diretores dos departamentos que, por sua vez, delegavam poderes aos chefes das divisões.

Nessa representação gráfica vemos que houve um ordenamento dos diferentes setores da Prefeitura em determinados departamentos. Na Fazenda, por exemplo, estão juntas as Divisões de Contabilidade, Receita e Patrimônio – separadas no organograma anterior. Dessa forma, a nova organização dos setores da Prefeitura possibilitou que áreas com atividades comuns estivessem relacionadas em um mesmo nível de trabalho e comunicação. Um dos princípios básicos da Administração é organizar. Para Stoner e Freeman:

Organizar é o processo de arrumar e alocar o trabalho, a autoridade e os recursos entre membros de uma organização de modo que eles possam alcançar eficientemente os objetivos da mesma. (STONER; FREEMAN, 1995, p. 6)

Com isso, vemos que a nova organização dos setores apresentada pela Prefeitura buscou uma forma de melhor atingir os objetivos da política que estava sendo colocada em prática na cidade.

Outro destaque dessa imagem cabe aos novos setores criados pela Prefeitura, como, por exemplo, as divisões de Urbanismo, Obras Públicas, Vias Públicas, Engenharia Sanitária, Saúde, Procuradoria Administrativa, entre outras. A criação de novos setores da administração pública na cidade de São Paulo revela como a Prefeitura estava desempenhando uma nova natureza no modo de governar. As mudanças sociais, econômicas e culturais da cidade influenciaram diretamente a criação dessa nova estrutura administrativa. Para tanto, a Prefeitura estabeleceu uma nova ótica de trabalho

de modo a absorver os avanços com relação ao desenvolvimento econômico da cidade, bem como da população que crescia cada vez mais devido ao desenvolvimento das atividades de comércio com o café e industriais, além da chegada dos imigrantes à cidade.

Com relação à cultura, a criação do Departamento de Cultura e Recreação demonstra uma maior preocupação com essa área por parte da Administração Pública da cidade de São Paulo. Abaixo, vemos a imagem com o detalhe específico para esse setor:

Figura 2.4 – Detalhe do organograma do Departamento de Cultura e Recreação (O Estado de S. Paulo, 1 mar.

1936, p. 5)

A partir da imagem observamos que, no projeto político da Prefeitura, o Departamento de Cultura dispunha de quatro divisões: Documentação Histórica e Social, Educação e Recreio, Bibliotecas e Expansão Cultural. Já mencionamos os seus respectivos responsáveis quando tratamos do ambiente político da época. O que vale destacar é a demonstração de quão complexa essa área se organizou com as quatro divisões, dez seções e dois serviços.

Na recuperação dos conceitos de política cultural, vemos aqui um ordenamento

do aparelho burocrático (TEIXEIRA COELHO, 2004) realizado por meio do Estado

de intervenções (GARCÍA CANCLINI, 1987) poderia ser realizado, uma vez que o

ordenamento dos setores trouxe uma aproximação das atividades de trabalho na área da cultura. Com relação às necessidades culturais, vemos que o organograma traz uma instituição fundamental para discutir tal problema, que é a Documentação Histórica e Social com a Subdivisão de Documentação Social. Essa subdivisão era a responsável por realizar uma série de estudos e levantamentos na cidade de São Paulo. Segundo o prefeito Fábio Prado:

[...] cabe a essa divisão, por suas subdivisões – a de Documentação Social – promover e realizar levantamento das situações sociais, econômicas, comerciais, industriais de S. Paulo coligindo e publicando mapas, dados estatísticos, gráficos que permitam o conhecimento de situação do desenvolvimento do Município, em todos os campos de atividade. (O Estado de S. Paulo, 4 mar 1936, p. 4)

Esses estudos eram concebidos a partir de pesquisas como, por exemplo, a disposição dos parques na cidade, as áreas com maior número de populações e as rendas de cada região. Dessa forma, a divisão tinha uma preocupação estratégica importante para a criação das atividades do Departamento de Cultura. Sabemos que existe uma ampla discussão sobre as necessidades culturais, mas vemos que o Departamento de Cultura procurou tratar dessa questão a partir da realização de pesquisas e estudos nas várias regiões da cidade.

Com relação à Divisão de Bibliotecas, a mudança da palavra “biblioteca” para o plural, no organograma, mostra que haveria uma expansão desse equipamento cultural na cidade. Não fica claro no documento o que são as seções 201 e 202 dessa divisão. Provavelmente essa numeração corresponderia a outro documento que explicava melhor cada legenda expressa na imagem. Em uma aproximação com os conceitos de política cultural, vemos que a maior preocupação da Prefeitura de São Paulo com as bibliotecas públicas marca um posicionamento político com relação à atuação desse equipamento cultural na cidade. As bibliotecas passaram a figurar no Departamento de Cultura com o caráter de Divisão. Dessa forma, exerceram um papel maior no que diz respeito à administração pública, uma vez que para que essa divisão realizasse as suas atividades era necessário preocupar-se com as questões de orçamento, normas jurídicas,

contratações e elaboração de programas e projetos (TEIXEIRA COELHO, 2004;

Assim, as alterações realizadas no organograma da Prefeitura de São Paulo nas gestões de Antonio Carlos Assumpção e Fábio Prado demonstram um aprimoramento da máquina municipal paulista nos dois momentos. A não intervenção direta do prefeito nas instituições, a criação de divisões com seus respectivos diretores e, por fim, a ordenação de setores comuns de trabalho nas divisões apresenta um projeto político que foi colocado em prática na gestão do prefeito Fábio Prado.