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4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.3 NOVO X OBSOLETO

O par paradoxal do “Novo X Obsoleto” parece ser o que mais se avizinha das questões tecnológicas. O WhatsApp, como recente Modalidade Instrumental - mecanismo, sistema de vigilância com dispositivo material (FOUCAULT, 1995), colocou outras ferramentas no caminho da obsolescência. A predileção por uma ferramenta em detrimento de outra, aparentemente, se dá pelo seu uso, na medida que facilita o dia a dia. Durante as entrevistas, outras opções de ferramentas de comunicação também foram lembradas, mas o aplicativo de mensagens WhatsApp, desde o seu surgimento em 2009, galga um espaço significativo, e na instituição pesquisada não foi diferente.

Sobre a modernização das ferramentas de comunicação S10, S13, S14, S16 e S16 acreditam que o e-mail não atende plenamente as rotinas de trabalho, e que o WhatsApp facilita a troca de arquivos, além de permitir o envio de áudios, que ficam gravados para serem acessados posteriormente; agilizar a comunicação; permitir manter um histórico de conversas para consulta; e poder replicar conversas e arquivos para várias pessoas da lista de contatos. Tratam-se, esses usos, do estabelecimento de novas produtividades geradoras de mais rapidez e agilidade nas relações de trabalho.

Essas funcionalidades parecem ter ganhado ainda mais importância para o trabalho ante as medidas de isolamento social, durante a pandemia do COVID-19. Mais do que nunca o WhatsApp foi utilizado entre os servidores da instituição para manutenção das rotinas diárias, inclusive para contato com os discentes.

Apesar de a exclusão digital ser uma realidade no Brasil, a instituição está inserida em um estado com boa cobertura de internet, e conseguiu manter boa parte das atividades a distância, inclusive com os alunos. Muitos materiais foram/são enviados pelo WhatsApp, onde o consumo do pacote de dados é relativamente menor do que outras plataformas ou ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). Outras iniciativas para acesso à internet, principalmente em relação aos alunos em vulnerabilidade social, foram adotadas, e outras propostas continuam sendo estudadas. Para Rosmala (2012), é preciso reconhecer que tecnologias, como o WhatsApp, desenvolvem um papel social importante, inclusive na educação.

Resky e Biazzin (2017) esclarecem que, com o advento dos aplicativos e da internet, a comunicação assumiu novos padrões de velocidade e qualidade na troca de informação, que impulsionam o desempenho das atividades práticas e operacionais, e que as “Formas de Institucionalização” também foram avançando, mesmo que de forma não declarada.

Para uma parte do grupo dos servidores, as novas dinâmicas da comunicação impostas por aplicativos são tidas como inexoráveis: “Eu acho que dinamizou e a gente está na fase da sementinha, daqui a pouco a gente vai regulamentar tudo isso, acho que daqui a um bom tempo, mas vai" (S13).

De modo geral, para os entrevistados, o WhatsApp foi uma novidade que se alastrou rapidamente e aderiu a cultura institucional, mas que, mesmo assim, continua merecendo uma reflexão. Sobre esse aspecto, S1 e S2 declaram que:

O WhatsApp foi um aplicativo de comunicação que se disseminou muito rapidamente e isso se inseriu na cultura organizacional muito rapidamente. Eu acho que a instituição ainda não parou para refletir sobre o uso dessa ferramenta de comunicação. Acho que a instituição deveria parar e analisar a utilização desse aplicativo de comunicação e, inclusive, avaliar os pontos negativos e positivos (S1).

Uma coisa que eu percebi aqui e que foi bem impactante para a minha entrada no serviço público foi que todo mundo utilizava o WhatsApp no computador, todos. E eu passava nos corredores e eu pensava: ‘Nossa! Mas o que eles estão fazendo? Não estão trabalhando?’ E era até um preconceito meu de achar isso, mas não, depois que eu me incluí nesse meio, eu percebi que, na verdade, era usado para se comunicar e quase não se usa o telefone fixo hoje, que tudo é no WhatsApp para se comunicar e mandar documentos (S2).

A “Condução das Condutas” através da realidade do que é novo e do que está se tornando obsoleto na comunicação pode ser, estrategicamente, aproveitado pela instituição para ordenar o “governo das coisas”, a exemplo da comunicação com os alunos:

Essa nova geração de alunos, ela não tem hábito de olhar e-mail, está ficando obsoleto já. E nós é mais aquela questão de trâmite, processual, organização, acho que diferencia, sim. Os professores que eu tenho contato são mais os professores gestores, mas também têm os não gestores, aí eu peço para eles avisarem os alunos, porque eles nunca olham e-mail, aí eles já divulgam o folder e utilizam muito o grupo e é uma coisa incrível como a adesão aumenta (S13).

Fruto da rapidez entre novidades e obsolescências tecnológicas são os excluídos digitais. Introduzir uma novidade tecnológica sem se preocupar se as pessoas estão preparadas para aquilo, é a isso que Veiga-Neto (2001) se refere como “incluir para melhor excluir”.

Contudo, como já mencionado anteriormente, a tecnologia é paradoxal e, por isso, gera distintas produtividades. Foi oportuno constatar, por meio da observação participante, que servidores surdos (e possivelmente alunos também) se beneficiam do uso do WhatsApp para melhorar a comunicação com seus pares e promover uma autoinclusão nas rotinas institucionais.

Na ocasião da observação participante, identificou-se uma chefe de setor surda, que estava no câmpus e encaminhava suas dúvidas e demandas para a reitoria, preferencialmente, pelo WhatsApp. Como poucos servidores possuem domínio da Língua Brasileira de Sinais - Libras, as reuniões presenciais precisavam contar com um intérprete, que nem sempre estava disponível. O uso de chamadas telefônicas também não atendia a necessidade da servidora, e, talvez, o e-mail ou outros sistemas não se mostrassem tão dinâmicos e instantâneos, o que, possivelmente, orientava sua predileção pelo WhatsApp.

Esse fato corrobora o estudo de Rocha (2015), que indica que o avanço da comunicação e das tecnologias digitais colabora para a integração das pessoas surdas à sociedade. Dentre essas tecnologias, destaca-se o próprio WhatsApp, mostrando quanto o seu uso tem viabilizado a comunicação a distância entre indivíduos surdos e ouvintes.

Por meio deste aplicativo é possível trocar, em tempo real, mensagens de texto, fotografias, vídeos e outros tipos de arquivos, favorecendo a mistura e a inter-relação de linguagens e culturas. Em consequência, o WhatsApp torna-se uma ferramenta colaborativa com o processo educacional dos

surdos e atual, ainda, como um importante instrumento de inclusão social (ROCHA, 2015, p. 7).

Assim, as novas tecnologias fornecem ao usuário os benefícios mais recentes do acesso ao conhecimento (MICK; FOURNIER, 1998), promovendo, como positividade, uma reação de inclusão para tornar o sujeito mais produtivo (FOUCAULT, 1995). No limite, como foi indicado na superação do que possa ser considerado atraso, a nova tecnologia gera produtividades que vão da integração institucional, comunitária etc. às formas mais sofisticadas de exclusão por meio da inclusão.