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Novos agricultores e organizações para agroecologia

2 AGRICULTORES E O MERCADO

4.1 O CASO DA FEIRA DE PRODUTOS AGROECOLÓGICOS EM LARANJEIRAS

4.1.2 Novos agricultores e organizações para agroecologia

A entrada de novos agricultores para o grupo passa por algumas condições. Por exemplo, para o grupo de agricultores que trabalham com agroecologia no Assentamento 8 de Junho, a entrada de novos agricultores tem como requisito um processo de transição agroecológica.

Desse modo, é necessário que novas famílias devam optar pela produção orgânica para se juntarem ao grupo. No caso do acesso à feira, as famílias produtoras de agroecológicos têm de acesso a uma das bancas no novo mercado municipal do agricultor, a qual está sujeita a organização de seu grupo. Não está clara a procura pelo acesso por outras famílias. Esse espaço é condicionado a gestão pública do espaço municipal, a qual define a distribuição dos agricultores segundo os horários e posicionamento das bancas.

Pela Entrevista AG01, compreende-se que a situação das famílias no assentamento envolve as razões próprias dos agricultores para a escolha do modo, e das variedades a serem produzidas. O modo de produção convencional é resultado de processo hegemônico (REIS, 2012) na agricultura é fruto de uma trajetória de implementação e adoção de práticas com endosso tecnológico (FAGUNDES, 2013). As consequências desses processos tecnológicos, que resultam da modernização da agricultura estão sendo mais bem conhecidos agora, mas sua contestação remonta a história dos diversos movimentos de agricultura alternativa desde meados do século passado (KHATOUNIAM, 2001). Pela agricultura agroecológica, serão conhecidas algumas razões para sua adoção a partir das falas dos agricultores em item posterior.

Por aqui cabe o olhar do nosso Entrevistado AG01, o qual lança sua visão pessoal sobre o setor e o aspecto psicológico que envolve o agricultor:

[...] para o agricultor é muito mais cômodo ele plantar o convencional que está dando resultado financeiro, do que trabalhar com a agroecologia que é um pouco mais complexo, não é uma coisa simples. Então eu diria assim, é um momento difícil de trabalhar com a questão da agroecologia, mas passando essa fase, e isso a gente sabe que não vai longe, já vai ter uma crise grande nisso, aí sim, nesse momento de crise que você consegue organizar as famílias. Enquanto está tudo ótimo você não consegue organizar nada. Isso está claro em qualquer setor da sociedade. Na agricultura ninguém está reclamando, estão valorizados os produtos, então é difícil trabalhar a questão da agroecologia, mas eu acredito que não vai durar muito tempo e nós vamos conseguir retomar forte isso. [...] Se deu resultado financeiro, se o teu vizinho está indo bem você irá querer fazer o que ele faz também. Então eu diria isso começou a dar resultado. Talvez mais um ou dois anos para os outros começarem a ver que de fato aquelas famílias estão melhor, e aí sim talvez virão para a agroecologia. Eu sou contra esse discurso demagogo de que tem que vir para a agroecologia, porque tem que parar de produzir veneno e cresce se dar lucro ou não dar. As famílias precisam sobreviver, ou dá resultado financeiro ou ninguém ficará. Eu sempre fui muito adepto a isto.

Chegamos a um ponto importante que se refere ao papel das organizações na construção da identidade do agricultor para uma agricultura ecológica, sustentável e correta. Tomemos como referência a constituição do acampamento Recanto da Natureza. Este acampamento, o qual já se visualiza como um assentamento, já que os agricultores têm residências e instalações, também fôra visitado e surpreende pela paisagem preservada e ausência de cercas e o cenário parece uma volta no tempo. Isto é dito, porque a comunidade segue algumas normas internas que foram criadas no inicio da ocupação e estabelecem importantes relações para o modo de vida comunitário e a preservação do meio ambiente que os rodeiam. Entre as normas está a proibição da venda e do arrendamento de áreas, a proibição do cultivo de soja e de qualquer espécie de transgênico, a proibição à caça e por fim ao desmatamento ou a derrubada de qualquer árvore da área de reserva sem consentimento da comunidade. Estas instituições surgiram dos princípios do próprio Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra e foram com estas normas que a comunidade estabeleceu o patrimônio natural como valor central para a qualidade de vida do conjunto. Entende-se que com este passo a comunidade estabeleceu a base para o dialogo sobre agroecológicos e a adesão de metade do grupo de 26 famílias, no acampamento, à proposta (Entrevista A06). Outra perspectiva sobre a organização dos grupos ocorre

por parte do trabalho que é coletivo ou em cooperação, o qual as famílias ligadas pela produção de agroecológica realizam em conjunto. Um reflexo dessa perspectiva, ilustra-se pela fala do Entrevistado A04:

Temos o trabalho de cooperação internamente, que as famílias que trabalham com orgânico-agroecológico, eles trabalham juntos num sistema de cooperação, pra se ajudar, pra você tirar as máquinas e o dinheiro, quanto uma ferramenta também forte que ajuda na produção e que num curto espaço de tempo você consegue atender um trabalho, uma atividade que você tem. E a unidade entre as famílias, esse é o fundamental, que garante, suporta qualquer situação. Porque se você está sozinho, você é presa fácil, mas se você está reunido, você fica mais resistente, mais forte.

Entre as famílias de assentados, que já conquistaram a posse da terra, é comum duas situações conforme o Entrevistado AG01. Um, as famílias procuram não mais se identificar como “sem terra”, e assumem uma identidade camponesa, ou relacionada à agricultura familiar, e em certos casos se desvenciliam do movimento. Ou, como no caso envolvendo algumas famílias do assentamento, a comunidade mantém sua ligação com o Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra, e da mesma forma também se identificam com as categorias de agricultores. A persistência da ligação e identificação com o movimento social tem razões próprias do histórico e do enraizamento social dos atores com estas organizações. De acordo com o entrevistado, podemos citar o reconhecimento do movimento pelo histórico de luta que resultou no assentamento das famílias, a ideologia e o apoio à causa do movimento e da reforma agrária como a luta política pelo direito do acesso ao fator de produção terra, e também podemos dizer em função da estrutura de apoio e suporte aos assentados, como pela inclusão em projetos, acesso a canais de comercialização, assistência, e a manutenção dos laços através da continuidade de participação em eventos do movimento. Pela integração, como colocados por Rendueles (2015), as organizações sociais podem envolver os atores em relações comunitárias mais estreitas. Desse modo o enraizamento ou a imersão social nestas organizações podem definir a persistência ou a continuidade por estas relações.

Por fim aparece a questão ligada ao imbricamento, como justaposição, da agroecologia. Pela fala dos diferentes atores é comum aparecer alguma formação ligada a sistemas de produção agroecológicos, o papel da comunidade e da atuação de

liderança de alguns agricultores junto a seus grupos, e também casos em que a relação com orgânicos são principiadas por familiares. O desenraizamento, como colocado por Goodman (2003), do modo de produção convencional, ou globalmente difuso, é promovido, neste caso envolvendo a maior parte dos atores entrevistados, situações envolvendo envenenamento ou intoxicação do próprio agricultor ou algum familiar. Também aparece a mudança de perspectiva da comunidade ao imergirem na realidade ao se estabelecerem na terra. Cumpre-se destacar e reforçar que o presente item deve ser aprofundado e complementado, segundo o olhar dos agricultores, no capítulo posterior, inclusive sobre que diz respeito às demais organizações neste processo.

4.2 ORGÂNICOS RIO DE UNA: UM CASO DE TRANSIÇÃO PARA ORGÂNICOS