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4. METODOLOGIA, TRABALHO DE CAMPO E DIÁRIOS DE EXPERIÊNCIA

4.2 NOVOS DIÁLOGOS E SEUS DESDOBRAMENTOS

Nesta seção, nos dedicaremos a introduzir nossa aproximação com o campo e os sujeitos pertencentes a este, ou seja, os adolescentes, as famílias e a escola na qual esses adolescentes estudavam e na qual as entrevistas foram realizadas. Assim, incluímos a escola através de alguns de seus representantes, ou seja, a diretora, a coordenadora e a psicóloga trazendo alguns apontamentos em relação à sua dinâmica e organização, bem como, como acolheu a nossa proposta de inserção em seu meio. A partir disso, foram estabelecidos alguns contornos à pesquisa-intervenção, sendo o presente texto um esforço de elaboração e transmissão dessa vivência através do diário de experiência (GURSKI, 2017).

Minha apresentação à diretora da escola municipal em 2018, cujos casos foram selecionados para serem entrevistados na pesquisa, foi através de uma conselheira tutelar. Era o começo de maio e nos reunimos para dar início a um encontro com a diretora e com a coordenadora pedagógica, pois solicitaram a equipe do conselho tutelar para comparecer à escola com o intuito de “repassar a situação dos alunos problemas”16

, fala da diretora. Para dar início ao encontro, não ocorreram muitas formalidades, pelo contrário, a equipe parecia querer depositar os encaminhamentos dos alunos referidos como “problemas” para o CT o mais breve possível. Na sequência, a psicóloga da escola também participou desta reunião, em que demonstrou abertura ao tratar das questões dos alunos levando em conta suas peculiaridades e subjetividades. No término da reunião, conversei com a equipe pedagógica, pontuando sobre o objetivo da pesquisa do mestrado e imediatamente, sem muitas perguntas, a diretora concordou e disponibilizou a sala de conferências

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Utilizaremos o recurso das aspas para destacar ao longo do texto alguns dos significantes que foram utilizados pelos próprios entrevistados.

da escola para uso e realização das entrevistas. Posteriormente, ao conversar com a psicóloga da escola em particular, ela demonstrou interesse em ajudar a pensar quais casos poderiam ser entrevistados. Logo em seguida, esta profissional contou que o trabalho com os adolescentes exigia muito “equilíbrio das petecas”, por toda a variedade de demandas, solicitações e questões que precisavam ser mediadas com eles a todo momento, especialmente quando se considerava a necessidade de lidar com a personalidade de cada um e o fator da vulnerabilidade social.

Dessa forma, a psicóloga enviou um e-mail com todos os alunos que foram encaminhados para o CT através da FICAI17 naquela reunião e grifou alguns nomes na tentativa de “indicar” quais casos deveriam ser “acompanhados” pela pesquisa. Cabe destacar que inicialmente as entrevistas iriam ocorrer de 15 em 15 dias, mas em virtude de inúmeras decorrências, não pude realizá-las nessa frequência.

Ressalto aqui que no início da minha inserção a equipe pedagógica ficou um pouco desconfiada com a minha presença. A equipe era dividida em dois turnos, uma diretora e uma coordenadora pela manhã e outra equipe para o período da tarde. Entretanto, como observaram que não seria uma pesquisa na contramão da escola, diminuíram suas resistências e se demonstraram dispostos a ajudar no que fosse necessário. Além disso, alguns alunos ficaram sabendo das entrevistas e perguntaram se poderiam participar. Foi pontuado que não seria aberto para todos, mas que poderíamos pensar em algo para que a escola se engajasse nas questões apresentadas por eles como gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, violência, autoridade, automutilação, tentativa de suicídio, perdas familiares e outros. Dentro dessa solicitação de alguns adolescentes para participarem da pesquisa, foi notado um desejo de falar sobre seus impasses ou atravessamentos. Muitos desses alunos ficaram curiosos sobre o trabalho do conselho tutelar e afirmaram que tinham “pavor, medo” de passar pela “frente” deste órgão, em virtude das fantasias que o CT era um órgão de punição ou até mesmo de “retirar as crianças/adolescentes de seus pais”, afirmação de uma adolescente.

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Caso 1

O primeiro caso a ser entrevistado foi de uma adolescente de 13 anos, Maria, nome fictício, que apresentava comportamentos de “evasão escolar, fuga da instituição, ficava dias sem aparecer na instituição e agressividade com os cuidadores, professores, colegas de classe”. Ela já teve sua guarda repassada da genitora para a avó paterna e para o genitor, que é usuário de drogas. Foram realizadas duas tentativas por telefone para entrar em contato com a família, entretanto, sem sucesso. Posteriormente, ainda em maio, a conselheira tutelar recebeu uma ligação da psicóloga da escola informando que a adolescente havia retornado para a escola após algumas faltas. Cabe pontuar que a escola fica bem próxima à sede do conselho tutelar. Dessa forma, quando cheguei à sala reservada, estavam a coordenadora e a aluna e logo começamos a conversar um pouco sobre sua trajetória. Em um segundo momento, consegui entrar em contato com a avó paterna da aluna e informei possíveis horários para conversarmos sobre sua neta. Logo em seguida, a avó paterna confirma uma data/horário.

No dia escolhido pela avó materna, explico sobre a pesquisa e ela concorda que sua neta participe da entrevista. No mesmo dia, Maria foi entrevistada. Ela demonstrou fala coerente à idade cronológica, mas pontuou sobre a rejeição da escola em relação a ela, pois “provocava muitos conflitos” no ambiente escolar, além de “partir para cima” da equipe pedagógica e dos funcionários. Disse que residia com a avó paterna, mas não “parava em casa”, pois alegou que não tinha nada de “atraente” na residência e isso a motivava a ficar na “rua”. No que diz respeito à área familiar, a adolescente pontuou que ficava aos cuidados da avó e que seu pai era “usuário de drogas” e constantemente desaparecia.

Posteriormente, foi agendada outra entrevista com a avó, entretanto ela não compareceu. Sendo assim, compareceu somente a adolescente afirmando que era “pontual” e relatou que sua avó não estava passando bem (este dia estava muito quente). Maria informou que procurava ir para a escola com o intuito de obter “alimento” ou higiene pessoal, pois não tinha acesso à alimentação em casa todos os dias. Ao ser questionada sobre sua afirmativa, alegou que frequentemente passava “fome”, pois sua avó paterna não tinha “condição financeira” para sustentar a casa, pois recebia apenas um valor do programa bolsa família. Maria continuou

relatando que não se sentia confortável na escola e que “ninguém a compreendia” e constantemente a tratavam mal em virtude de seus “problemas pessoais e agressividade”. A adolescente afirmou que era agressiva, pois “todos da escola” queriam “dominá-la” e que isso não era “papel da escola”. Além disso, relatou que ao se sentir ameaçada fugia da escola constantemente. Afirmou que já havia agredido colegas de classe e que “xingava” quem a “desafiava”.

No que diz respeito à demanda da escola em relação à adolescente, esta convocava/acionava o CT com o intuito de “reorganizar Maria”, fala da própria equipe pedagógica. Em resposta a essa afirmação, conversei com a equipe pedagógica que esse não era o intuito da pesquisa, eu não estava ali para dizer o que a adolescente deveria fazer (forma normativa), mas sim possibilitar um espaço para que ela pudesse elaborar o que estava vivendo e buscar outras saídas para o seu mal-estar.

No dia 12 de julho compareceu na sede do conselho tutelar a avó paterna de Maria pontuando para a conselheira tutelar de plantão que sua neta havia conversado com a psicóloga do CT na escola e que desejava que sua neta realizasse um “tratamento”. Dessa maneira, chamei a avó paterna para uma sala na sede do conselho tutelar e expliquei que não se tratava de um tratamento/atendimento psicológico para a adolescente, mas sim de uma ferramenta de fala/escuta através de entrevistas com o intuito de compreender o contexto social, econômico, educacional e psicológico da adolescente. A avó paterna concordou que tais encontros fossem realizados na escola, mas que não seriam vinculados ao CT. Outros encontros ocorreram, posteriormente, e Maria informou que estava fora de casa há 20 dias, pois estava “cansada” das ordens da avó paterna. Cabe destacar que a adolescente durante esse período não estava indo para a escola. Ao ser perguntado o motivo, ela alegou que estava “cansada de tudo” e o que a motivou a retornar para a residência da avó foi por não ter onde “ficar”.

Após um longo tempo sem fugir de casa, Maria começou a apresentar uma fala mais calma. Pontuou que estava tentando melhorar seu comportamento em casa, mas que sua avó “não era sua mãe” para querer dizer o que ela deveria fazer ou não. Ela relatou que sentia falta da genitora (que a abandonou, pois residia com o tráfico), e que constantemente chorava por se sentir “rejeitada” pelos pais e pela escola (local

denominado pela adolescente como segunda casa, pois era um ambiente onde ela conseguia se alimentar corretamente). Foi observado que Maria estava conseguindo pontuar seus conflitos e queixas para além das ações agressivas, relatadas pela escola.

Entretanto, em um segundo momento, Maria sumiu novamente. Após alguns meses ela apareceu na sede do conselho tutelar relatando que precisava “falar com a psicóloga urgentemente” e que não iria falar com nenhum conselheiro tutelar. Entretanto eu estava realizando uma entrevista psicológica naquele momento, solicitada pelo conselheiro. Dessa forma, sugeri que a adolescente esperasse na recepção e que posteriormente conversaria com ela. Maria resolveu aguardar do lado de fora da sede do conselho tutelar. Logo em seguida pedi que ela entrasse em minha sala, pois ela estava muito nervosa. Com isso, Maria disse que havia perdido um “bebê”, mas não sabia informar quem era o pai, pois foi “fruto de uma noite no baile funk”. Relatou que estava morando na casa de uma amiga e que recorreu ao CT para “pedir ajuda”, pois um assistente social da UPA a aconselhou a ir neste órgão de proteção. A avó paterna, como sua responsável legal, foi comunicada e afirmou que não estava bem de saúde para continuar cuidando da adolescente. O pai da adolescente também foi convocado pelo conselheiro tutelar responsável pelo caso e, posteriormente, também participou de uma entrevista psicológica que foi anexada ao processo da adolescente no conselho tutelar. Na conversa foi identificado que ele era usuário de drogas e que não tinha interesse em cuidar da adolescente, pois ele “não tinha condições” para cuidar de sua filha. Atualmente Maria reside em uma instituição de acolhimento, pois não foi encontrado nenhum parente próximo para se responsabilizar por ela. Além disso, através de reunião com a escola, conselheiros tutelares, visita domiciliar realizada pela assistente social do CT e equipe técnica do CT (psicóloga e assistente social) e parecer jurídico, o genitor não tinha condições física/mental/psicológica para se responsabilizar por ela. A avó paterna também alegou que não poderia mais se responsabilizar pela adolescente.

Maria segue em acompanhamento pelo ministério público e atendimentos como assistência social, acompanhamento psicológico, avaliação médica e outros. Cabe pontuar que o CT não participa mais deste caso, pois, após ser encaminhado para

outras esferas (jurídicas e outros equipamentos de proteção à criança e ao adolescente), tal processo foi arquivado, justificando-se que o CT esgotou todas as vias de sua atuação na proteção da menor. Neste caso, foi observado que não houve uma possível conversa com a rede de apoio ao menor e com o conselho tutelar sobre a minha intervenção como psicóloga, pois a adolescente foi retirada do convívio familiar e redirecionada a uma instituição de acolhimento sem que ocorresse uma troca de informações e diálogos entre estas instituições e minha atuação, calando, assim, conhecimentos relevantes sobre as vivências e experiências da adolescente.

No que tange à minha relação com a adolescente, não foi possível dar continuidade as conversas e encontros com ela, uma vez que, após ser encaminhada para outros setores de proteção, não pude ter mais contato com a adolescente, em virtude das burocracias, pois ela seria acompanhada por outro psicólogo. Dito isso, intrigou-me o fato de não poder relatar o meu olhar e os desdobramentos para os equipamentos que acolheram a adolescente, uma vez que só solicitaram os “documentos e avaliações” referentes ao caso. Parece aqui que se confirmou a prevalência de uma prática institucional meramente burocrática, pautada pelo discurso jurídico e psicológico, calando assim a subjetividade da adolescente, seus laços sociais, inviabilizando até mesmo um novo olhar para além dos encaminhamentos preestabelecidos.

No que se refere à escola, ao ser relatado por mim sobre o destino da adolescente, a equipe pedagógica verbalizou que foi “o necessário a se fazer”, visto que para eles a fam lia “não tinha condições f sicas/econômicas” para cuidar da adolescente. lém disso, não foi observado um desejo da escola em saber sobre o destino da adolescente, pois foi através da minha ida à escola que a equipe pedagógica soube do desdobramento deste caso, ou seja, a escola não solicitou um feedback para a rede de apoio ou para o conselho tutelar. Além disso, foi notado também que a escola não se pronunciou em relação à transferência da aluna para outra escola, parecendo que desejava apenas repassar este “mal-estar” que a adolescente apresentava em cena escolar.

Caso 2

Marina (15 anos), nome fictício, presenciou muitos conflitos familiares, sendo o padrasto muito agressivo com a genitora da infante. Ela teve uma queda no rendimento escolar, começou a apresentar traços de depressão, baixa autoestima e perda de interesse em coisas que anteriormente se dedicava.

A escola pontuou que a adolescente era uma boa aluna, mas estava faltando às aulas (evasão escolar), não entregava as tarefas solicitadas e apresentava fala ríspida com a equipe pedagógica (agressividade). A escola solicitou então a presença da genitora da infante em outubro para uma conversa na tentativa de entender o que estava acontecendo. A mãe alegou que estava passando por problemas financeiros e familiares. Foi proposto então que ela permitisse que a adolescente participasse das entrevistas realizadas por mim. Nota-se aqui, a convocação da escola ou até mesmo uma intimação para que a genitora permitisse que sua filha fizesse parte desta pesquisa.

Na primeira conversa com Marina, ela apresentou fala coerente à idade cronológica e muito comunicativa. Relatou que “adorou” quando a diretora afirmou que ela iria ser “entrevistada por uma psicóloga”. Ao descobrir que seria por uma psicóloga do conselho tutelar, a adolescente me contou que gritou para a diretora: “vou sair correndo hein! (risos), mas que iria na entrevista “para ver” no que daria.

No decorrer da conversa a adolescente começou a chorar pontuando sobre a postura do padrasto, que era muito agressivo verbal e fisicamente com a genitora. Contou que já havia experimentado maconha com alguns amigos da escola, mas que atualmente não estava mais “usando”, pois negociou com sua genitora que iria parar caso a mesma “se posicionasse” em relação às agressões do padrasto. Marina alegou que não tinha muito contato com o genitor e que ele apenas depositava a pensão. Ele residia em outro estado.

Em uma segunda entrevista, a adolescente pontuou que não tinha mais desejo de ir para a escola e que se sentia “perdida” em relação ao futuro, pois para ela seria mais “fácil desistir de tudo” do que “encarar” sua realidade. Afirmou também que se cortava com frequência, pois para ela era “mais fácil lidar com as dores físicas do que as dores emocionais”. Conversamos então sobre possíveis caminhos para além

de cortes e se ela havia conversado com alguém sobre as automutilações. Imediatamente a adolescente relatou que sua mãe tinha consciência do que estava ocorrendo, mas apenas “brigou” e “tirou” o seu celular.

Na entrevista com a mãe de Marina, no mesmo dia, ela alegou que tinha consciência “dos males” que causava na filha. Pontuou que seu companheiro quando ingeria bebida alcoólica ficava muito “agitado” a agredia “muitas vezes” na frente de seus filhos e que na última agressão ele a acertou com uma “garrafa de vidro” (mostrou as cicatrizes na nuca e nas mãos). Entretanto, informou que ele era “um bom homem”. A genitora pontuou chorando que não queria que seus filhos “vivessem” e “presenciassem” tanta agressividade, mas que não tinha “forças” para sair de tal “situação”. Foi proposto então que ela procurasse o CEAM (Centro Especializado de Atendimento à Mulher) para que pudesse ter acesso aos seus direitos. A mesma verbalizou que “nunca” tinha escutado sobre este equipamento e que pretendia buscar ajuda. Posteriormente, em outra entrevista com Marina, ela estava mais sorridente, afirmando que sua mãe estava mais “compreensiva” em casa e que havia “conversado com o padrasto” sobre seu comportamento ao beber. Logo em seguida foi pontuado sobre suas faltas escolares, em que a adolescente afirmou: “eu não quero ser mandada para o conselho tutelar, por favor” e riu. Continuou dizendo que não estava mais “matando aula” e que estava se dedicando às tarefas escolares, informando: “saindo daqui da nossa conversa eu vou direto para a aula de história tá? Olha que eu não gosto nada daquele professor de história rabugento, mas eu prometi para minha mãe que iríamos tentar mudar algumas coisas. Então prometo pra você também que vou tentar”. Nesse dia nos despedimos e a adolescente perguntou: “até semana que vem né? Não se atrase!” e riu, pois eu cheguei 15 minutos atrasada para a entrevista.

Em nosso último encontro, Marina relatou que a coordenadora havia conversado com ela, que seu comportamento estava melhorando e, com isso, ela poderia “interceder” por ela no conselho de classe, pois a adolescente estava com notas baixas em três disciplinas. Ela verbalizou que estava se “dedicando” aos estudos e informou: “às vezes eu saio da linha (risadas), poxa sou uma adolescente né? Tenho direito de errar às vezes, mas estou indo muito bem no meu papel”. Nesse momento, perguntei qual era esse papel e a mesma relatou: “papel de ser uma adolescente com saúde, vida... eu quero viver bem sabe? Quero passar de ano

também! Gosto muito da diretora X, ela é maravilhosa comigo, mas eu quero terminar logo pra conseguir sair da escola”. Conversamos então sobre seu olhar em relação à escola, e ela verbalizou que “curtia muito”, mas já havia reprovado duas vezes e não queria “perder” mais um ano, pois seus amigos estavam “saindo da escola” e ela estava “ficando para trás”. Dessa forma, nos despedimos e ela perguntou como poderia fazer para que eu a atendesse no conselho tutelar, visto que pontuou seu desejo de “falar mais” e ser acompanhada por um psicólogo. Com isso, dialogamos sobre quais os caminhos ela em conjunto com sua família poderiam buscar com o intuito que ela pudesse vislumbrar um acompanhamento psicológico pela rede. Este foi nosso último encontro.

Em dezembro, ao receber seu resultado escolar, Marina foi ao conselho tutelar com sua mãe para me contar sobre sua conquista, mas não era meu dia na sede do CT. Com isso, a mesma deixou um bilhete com a recepcionista solicitando que ela me entregasse, pois não estaria mais estudando na mesma escola, já que esta só contemplava até o ensino fundamental II. Tal bilhete dizia: “Consegui finalizar! Terminei a escola, obrigada! Beijo, Marina”.

Notamos aqui um novo interlocutor em cena, em que a adolescente teve a possibilidade de promover um novo endereçamento e destino ao mal-estar que apresentava perante a visão da escola. Através desse espaço de fala, realizado pelas entrevistas, a adolescente pôde formular um novo percurso e endereçamento para suas questões que escapavam ao olhar escolar. Posteriormente, após meu retorno à escola, a equipe pedagógica relatou sobre as mudanças apresentadas pela adolescente em sala de aula, com os colegas e com a equipe escolar, pontuando que ela “soube aproveitar a oficina oferecida” por minha intervenção.

equipe pedagógica alegou também que gostaria de “tentar” realizar algumas palestras e possíveis oficinais com alguns alunos e seus familiares que apresentassem questões relacionadas à vulnerabilidade social e conflitos familiares, pensando em um poss vel “fortalecimento” de diálogo entre a escola e a fam lia em parceria com o conselho tutelar. Entretanto, foi verbalizado pela equipe pedagógica que tal tentativa seria um “desafio” para eles, pois a demanda era grande diante das “muitas exigências” a serem cumpridas no teor da grade curricular.

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