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2.3 Paradigmas Contemporâneos

2.4. Novos sistemas para habitação

Com as mudanças comportamentais na sociedade, a análise sobre a habitação contemporânea propõe uma discussão acerca das novas formas de habitar e dos novos sistemas de habitação que suportem as diferentes necessidades impostas pelos usuários. Na década de 1990, a flexibilidade se tornou condicionante projetual e conceito desejável para o desenvolvimento, por exemplo, de espaços habitáveis que atendam à mutabilidade contextual do habitante médio contemporâneo. Outros aspectos da vivência contemporânea também devem ser considerados: os diferentes modos de vida e estruturas comportamentais, as novas estruturas

densidade, multifuncionalidade e a tecnologia – ferramentas que se tornaram indispensáveis para se pensar a adequação dos espaços residenciais às novas demandas contemporâneas (MEDRANO, 2000).

Manuel Gausa (2002) escreve a respeito de novos dispositivos, pensando a exploração dos próprios limites do projeto contemporâneo e propondo a “invenção da forma”, apoiada tanto no que ele defende como construção de universos plásticos insólitos – autônomos, individuais, subjetivos –, como na definição de esquemas conceituais mais abstratos em relação direta com a própria interpretação do espaço físico e cultural contemporâneo. Gausa ainda aponta como essencial que esses dispositivos de projeto sejam capazes de favorecer processos também dinâmicos, descritos como “câmbios de escala”, os quais são associados a projetos concebidos como sínteses pontuais da cidade, que definem o novo espaço urbano contemporâneo.

A rigidez, a previsibilidade e a permanência da própria cidade "clássica"- e dos parâmetros associados a ela (controle, configuração, estabilidade...) – tem cedido, na verdade, dada a indeterminação e mutabilidade da cidade contemporânea mais receptiva, em contrapartida, a mecanismos abertos com capacidade de evolução e perturbação. A substituição no projeto contemporâneo, da ideia fechada de composição (definição exata e concepção das partes), pelo "sistema" (mecanismo “aberto” ou ideograma vetor suscetível para promover múltiplas combinações e manifestações formais diversas) constitui, com efeito, um dos maiores expoentes da mudança de paradigmas que caracterizam a disciplina hoje (GAUSA, 2002, p. 11)18.

Dentro desse contexto, Gausa (1993) propõe a constituição de espaços habitáveis coerentes à condição contemporânea da qual fazem parte, levando em consideração a condição de mobilidade e de comunicação própria do território atual e ainda capazes de unir lugares e acontecimentos singulares e insólitos. Os sistemas habitacionais propostos pelo autor refutam qualquer modelo apoiado em pressupostos baseados na ideia de repetição tipológica, construtiva,

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No original: “La rigidez, previsibilidad y permanência propias de la ciudad “clásica” – y de los parâmetros de proyecto a ella asociables (control, figuración, estabilidad...) – han cedido, em efecto, ante la indeterminación y mutabilidad de la ciudad contemporânea más receptiva, por el contrario, a mecanismos abiertos com capacidad de evolución y perturbación. La substitución, en el proyecto contemporâneo, de la idea cerrada de composición (definición exacta y diseñada de las partes) por la de “sistema” (mecanismo “abierto” o ideograma vector susceptible de propiciar múltiples combinaciones y manifestaciones formales diversas) constituye, de hecho, uno de los mayores exponentes del cambio de paradigmas que caracteriza hoy la disciplina”.

de traçado, imagem ou uso, definindo a utilização de elementos ou soluções convencionais como um pragmatismo mal-entendido. O termo HOUSYS (HOU.SYS – palavra composta do inglês HOUSE = casa + SYSTEM = sistema) refere-se a sistemas abertos, os quais geram diversidade no setor habitacional. Alguns arquitetos e escritórios de arquitetura, tais como NL Architects, MVRDV, Ben Van Berkel, entre outros, priorizam suas propostas projetuais buscando mecanismos e tecnologias que colaboram na produção de habitações heterogêneas e flexíveis. A autêntica dimensão contemporânea provém no sentido de encarar essa “condição paradoxal” exposta por Gausa como propulsora para criação de novos meios, sistemas e mecanismos que tenham como objetivo o desenvolvimento de habitações mais eficientes e coerentes com os paradigmas contemporâneos da sociedade.

Tomando o conceito de sistemas, Montaner (2008) estabelece uma estrutura de leitura de cidade e do edifício em si, inscrevendo toda obra dentro de escalas maiores e menores, mapeando, dessa maneira, os objetos arquitetônicos desde a crise do sistema moderno até a contemporaneidade.

Entendo, portanto, que um sistema é um conjunto de elementos heterogêneos (materiais ou não) de diferentes escalas, que estão inter-relacionadas, com uma organização interna que tenta adaptar-se estrategicamente à complexidade do contexto e tudo o que constitui um todo não é explicável pela simples soma de suas partes. Cada parte do sistema está em função de outra, não existem elementos isolados. Dentro dos diversos sistemas que podem ser definidos, a arquitetura e o urbanismo são sistemas funcionais, espaciais, construtivos, formais e simbólicos (MONTANER, 2008, p. 11). 19

Gausa (2002) propõe sistemas enquanto mecanismos abertos que definem novas espacialidades e que atendem às diferentes estruturas urbanas e sociais pertinentes ao século XXI, enquanto que Montaner (2008) utiliza sistemas para explorar a questão de escala da cidade, tomando esse conceito como ferramenta para inscrever cada obra dentro de escalas maiores e menores; assim, cada estrutura acessível à análise subscreve-se sempre dentro de outros sistemas de ordem superior. Em ambas as definições, o sistema subordina-se ao entendimento das transformações da percepção e dos usos do espaço, considerando novas alternativas e novos

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No original: “Entiendo, por tanto, que un sistema es un conjunto de elementos heterogêneos (materiales o no), de distintas escalas, que están relacionados entre si, com una organización interna que intenta estratégicamente adaptarse a la complejidad del contexto y que constituye un todo que no es explicable por la mera suma de sus parte. Cada parte del

pressupostos para pensar a construção deles – ou referente à escala a que pertencem. Dessa forma, Gausa (2002, p. 11) define: “a arquitetura não pode limitar-se, realmente, a ‘estender’ o corpo, sendo que deve ser um suplemento ativo e funcional, um mecanismo autônomo e receptivo a um tempo, estranho e sensível ao particular, capaz de vigorar por si mesmo e, ao mesmo tempo, sustentar e impulsionar o anfitrião”20.

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No original: “La arquitectura no puede limitarse, en efecto, a “extender” el cuerpo, sino que debe ser un suplemento activo y funcional, un mecanismo autônomo y receptivo a un tiempo, “extraño” y a la vez sensible a lo particular, capaz de regirse por si mismo y, al mismo tiempo, sostener y potenciar al anfitrión”.